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Microrganismos no campo: revolução silenciosa que recupera solos e fortalece lavouras
Com respaldo legal e científico, produtores ganham autonomia para fabricar seus próprios bioinsumos e impulsionar uma agricultura mais eficiente, sustentável e menos dependente de insumos químicos.

Os microrganismos são utilizados com sucesso em uma ampla variedade de aplicações. São empregados como fixadores de nutrientes (microrganismos que têm a capacidade de fixar nitrogênio do ar circundante para ser utilizado pelas plantas); como solubilizadores (que possuem a capacidade de solubilizar alguns macros e micronutrientes, tornando-os disponíveis para uso das plantas); como entomopatógenos (possuem a capacidade de controlar pragas que afetam plantações, intoxicando-as ou invadindo e parasitando seus corpos); como antagonistas (eles têm a capacidade de controlar e dominar outros microrganismos patógenos); e como promotores (microrganismos que possuem a capacidade de promover o desenvolvimento das plantas).

Os microrganismos são também mundialmente conhecidos por seus efeitos positivos no solo. A utilização de microrganismos combinada com outras práticas agrícolas, como plantio direto, rotação de culturas, uso de remineralizadores e plantas de cobertura, regenera significativamente a biodiversidade, especialmente a diversidade microbiológica do solo, restaurando a saúde da área de cultivo que é o verdadeiro capital do agricultor.
A interação biológica é diferente da interação de insumos químicos. Os microrganismos produzem excelentes efeitos nas lavouras, visíveis mesmo a curto prazo e com benefícios no médio e longo prazo. Persistir no uso dos microrganismos e na reconstrução do solo recompensará muito o agricultor. Um solo saudável é a base para plantas saudáveis com melhor imunidade e resiliência.
Em geral, para manter e ampliar a produção em solos agrícolas já esgotados, o uso cada vez mais intensivo de agrotóxicos e fertilizantes químicos foi durante muito tempo apresentado como única opção viável. O impacto dessa receita foi o empobrecimento da vida do solo, tornando-o cada vez mais dependente dos produtos químicos.
Nas últimas décadas o uso de insumos biológicos, ou bioinsumos, cresceu substancialmente no Brasil, seguindo uma tendência mundial.
Em 2009, o presidente da República publicou o Decreto nº 6.913, de 2009, que modificou o Decreto nº 4.074, de 2002 (que regulamentava a antiga Lei de Agrotóxicos) para nele inserir diversos dispositivos, sendo um deles o artigo 10-D e seu § 8º, que estabeleceu a isenção de registro para os produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica quando produzidos exclusivamente para uso próprio pelos agricultores em suas propriedades. Os produtos fitossanitários são, por exemplo: bactérias, fungos, insetos predadores, feromônios, extratos e óleos de plantas.
Produção própria de bioinsumos
Verifica-se, portanto, que desde 2009 os agricultores brasileiros são autorizados pelo Poder Executivo a produzirem seus bioinsumos para uso próprio em suas propriedades.

Em 2021, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) reconheceu que a produção de bioinsumos para uso próprio tem potencial para contribuir para a sustentabilidade e competitividade da agricultura brasileira e apresentou três princípios básicos que devem ser observados na produção de insumos biológicos por produtores (produção on-farm), sendo: multiplicar apenas microrganismos que constam das listas oficiais do Ministério da Agricultura ou que sejam adquiridos em bancos de germoplasma reconhecidos como oficiais pelo Ministério; ter o cadastro de estabelecimento produtor de bioinsumos junto ao Mapa; ter um responsável técnico habilitado para a produção de bioinsumos nas fazendas.
A recente Lei nº 15.070, de 2024 (Lei dos Bioinsumos), reafirmou o direito de o agricultor produzir seus bioinsumos para uso próprio e contemplou os princípios elencados pela Embrapa.
A Lei estabelece que a unidade de produção de bioinsumos para uso próprio estará sujeita ao cadastramento; que a produção deverá ser feita a partir de isolado obtido diretamente de banco de germoplasma público ou privado ou de inóculo de bioinsumo registrado; e que órgão federal de defesa agropecuária disporá sobre a necessidade ou não de acompanhamento de responsável técnico habilitado, exclusivo ou não, para a produção de bioinsumo para uso próprio.
O artigo 10 da Lei nº 15.070, de 2024, autoriza a produção de bioinsumos em unidade de produção para uso próprio e a define como o local destinado à produção de bioinsumos com finalidade não comercial, destinados ao uso exclusivo e próprio de produtores rurais, urbanos e periurbanos, pessoas físicas ou jurídicas, que deverá dispor, quando necessário, de equipamentos ou de estruturas que permitam o controle de qualidade.
A nova Lei prevê também, em seu artigo 11, § 1º, que: os bioinsumos produzidos nas unidades de produção de bioinsumos para uso próprio são isentos da obrigatoriedade de registro, e sua produção deverá seguir as instruções de boas práticas estabelecidas pelo órgão federal de defesa agropecuária.
Já em seu artigo 12, a nova Lei dos Bioinsumos estabelece que as unidades de produção de bioinsumos da agricultura familiar, dos povos indígenas e dos povos e comunidades tradicionais, que utilizem comunidades de microrganismos, conhecimentos e práticas tradicionais, serão reconhecidas como categorias especiais e terão garantida a produção para uso próprio, e o órgão federal responsável estabelecerá um manual orientador de produção.
Verifica-se que a nova Lei manteve o direito de o agricultor produzir seus bioinsumos para uso próprio, devendo seguir as instruções de boas práticas estabelecidas pelo órgão federal de defesa agropecuária e, no caso de trabalho com comunidade de microrganismos, seguir o manual orientador de produção.
A Lei de Bioinsumos entrou em vigor na data de sua publicação e o Poder Executivo deverá publicar sua regulamentação em até 360 dias e, também, elaborar as instruções de boas práticas e o manual orientador de produção, que deverão indicar os cuidados necessários para que a produção para uso própria seja feita com eficiência e segurança.

Escolher e cuidar bem do material que será utilizado no processo de fermentação; proceder a limpeza da unidade de produção ou biorreator; e manter um ambiente limpo para evitar o surgimento de patógenos são cuidados necessários, especialmente para inviabilizar a presença de patógenos em limites superiores àqueles previstos na Portaria Conjunta SDA/Mapa – Ibama – Anvisa nº 1, de 10 de abril de 2023, para os seguintes microrganismos: Salmonella sp.; Coliformes termotolerantes; Staphylococcus coagulase positiva e Bacillus cereus.
A Lei de Bioinsumos contempla também a produção de bioinsumos para uso próprio a partir da obtenção direta da natureza na forma de comunidades de organismos existentes no local. Seguramente o manual orientador de produção terá instruções sobre como a coleta de comunidades para a produção de bioinsumos deve ocorrer, de preferência, em uma floresta, em local que não tenha havido aplicação de agrotóxicos há pelo menos três anos, que não seja local de grande circulação de pessoas e que esteja sombreado por cobertura vegetal. Terá também outras regras como as instruções de boas práticas.
Verifica-se que a produção e uso de bioinsumos, seja o bioinsumo produzido pelas indústrias e ofertados prontos para uso ou os bioinsumos produzidos pelos agricultores para uso próprio, já são atividades consolidadas no Brasil.
A prática e a literatura, no Brasil e no mundo, confirmam que a produção e o uso de microrganismos na agricultura são eficientes, benéficos e seguros, inclusive aqueles microrganismos fermentados nas fazendas para uso próprio, desde que seguidos protocolos validados.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

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compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



