Suínos
Microbiota intestinal pode influenciar células imunes, aponta especialista
A nutrição como aporte para construção das barreiras intestinais é determinante para a qualidade das células e proteínas funcionais envolvidas, bem como para a proporção de ácidos graxos de cadeia curta no intestino, associados principalmente ao tipo de fibra alimentar e posteriormente ao blend de enzimas nutricionais utilizados.

A manutenção da saúde intestinal dos suínos é vital não apenas para o bem-estar dos animais, mas também para a prevenção de doenças e a promoção de uma produção sustentável. Um trato gastrointestinal saudável é fundamental para a absorção eficiente de nutrientes, pois quando o sistema digestivo falha isso resulta em deficiências nutricionais e menor crescimento dos animais. Além disso, problemas intestinais afetam o bem-estar dos suínos, causando desconforto e debilitação, ao mesmo tempo que comprometem o sistema imunológico, tornando os animais mais suscetíveis a doenças.
A saúde intestinal como reflexo de uma condição de inflamação ideal e não exagerada depende da qualidade anatômica fisiológica do intestino e de sua microbiota. Neste contexto, a nutrição como aporte para construção das barreiras intestinais é determinante para a qualidade das células e proteínas funcionais envolvidas, bem como para a proporção de ácidos graxos de cadeia curta no intestino, associados principalmente ao tipo de fibra alimentar e posteriormente ao blend de enzimas nutricionais utilizados. “Quando bem balanceado o gasto metabólico na manutenção da homeostase intestinal é o ideal”, afirma o médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias e doutor em Biotecnologia, Luiz Felipe Caron. Ele será um dos palestrantes do Painel Imonologia: otimização da resposta imune de suínos durante o 20º Congresso Nacional da Abraves, que acontece nesta semana, de 16 a 19 de outubro, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

Médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias e doutor em Biotecnologia, Luiz Felipe Caron – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
O profissional destaca que a produtividade e o bem-estar são dois alvos frequentemente interligados, pois os resultados da eficiência produtiva, como conversão alimentar, ganho de peso e baixa taxa de condenação, são o resultado do investimento metabólico que o animal realiza ao longo de sua vida. “E a maior fonte de perda destes investimentos são os momentos em que o animal passa por algum tipo de estresse, desafios ou por desconforto social, térmico ou alimentar. Quando todos esses elementos estão em um nível aceitável e adequado há sobra para a produção e naturalmente o intestino é o ponteiro deste relógio, como órgão mais importante da digestão e absorção dos nutrientes, bem como da resposta imune”, salienta Caron. “Cada vez mais se entende do potencial do intestino como um fator determinante nas respostas endócrinas, especialmente em relação ao tipo de fibra alimentar e à microbiota”, complementa.
Quando se trata dos principais desafios nutricionais que afetam a saúde intestinal dos suínos, Caron destaca que a qualidade da matéria-prima desempenha um papel crucial, particularmente com o acesso à água de alta qualidade. Uma vez estabelecidos esses alicerces, a atenção se volta para o equilíbrio de nutrientes e o uso de aditivos como alternativas aos antibióticos promotores de crescimento ou mesmo em esquemas intermitentes. “O grande desafio reside na melhoria dos processos de manejo para garantir que o ambiente externo, da boca para fora, favoreça um ambiente interno saudável, da boca para dentro”, frisa.
Diversos componentes da dieta dos suínos podem exercer um impacto benéfico na saúde intestinal. No entanto, Caron menciona que as fibras são, sem dúvida, um dos elementos mais influentes, juntamente com as enzimas nutricionais. “Aprofundar nossa compreensão sobre os processos de fermentação, tanto das fibras quanto das proteínas, torna-se essencial para melhorar o balanço de aminoácidos e até mesmo de nucleotídeos como ingredientes”, expõe.
Caron explica que a composição da microbiota é reflexo do tipo de alimento disponível e da abundância de cada tipo de matéria-prima, com uma mudança significativa observada entre o período de sete a 21 dias, em que 95% das bactérias são estritas anaeróbicas, incluindo firmicutes, bacteroidetes e proteobactérias. “A abundância de firmicutes (54%), bacteroidetes (38,7%) e proteobactéria (4,2%) muda para bacteroidetes (59,6%), firmicutes (35,8%) e proteobactéria (1%) depois do desmame, indicando que os filos são os mesmos, variando apenas a abundância pré e pós-desmame. Isso evidencia uma das características de modulação da microbiota intestinal”, pontua.
Além disso, Caron ressalta que os aditivos nutricionais disponíveis atualmente no mercado, independentemente de serem alternativos ou não, têm um papel significativo no aprimoramento dos aspectos produtivos e sanitários dos suínos. “Esses aditivos direcionam como a microbiota intestinal pode impactar e influenciar as células imunes, não apenas no GALT, bem como podem fazer com que as células imunes afetem a microbiota”, menciona.
Sinais de doenças
Quando os animais enfrentam problemas de saúde intestinal, o médico-veterinário observa que existem indicadores precoces que podem ser identificados por meio do comportamento. “Esses sinais iniciam na gestação e lactação. A qualidade da colostragem é fruto deste balanço ideal para a porca e da formação e maturação do sistema imune, período conhecido como plasticidade imune. Essa fase pode afetar o peso ao nascimento, o peso ao desmame e a taxa de mortalidade dos leitões”, relata Caron.
Estratégias nutricionais
Dentre as estratégias nutricionais podem ser implementadas para prevenir ou tratar problemas de saúde intestinal em suínos, Caron diz que estão relacionadas a uma análise de risco, pois não há uma fórmula mágica, exceto cuidados com a matéria-prima e a água. “Implantar estratégias de arraçoamento nas porcas e a perfeita preparação das leitoas vai garantir uma gestação adequada. A lactação com colostro de boa qualidade e o acesso a ele serão importantes para a formação do intestino de qualidade dos leitões, isso, por sua vez, se traduz em menor inflamação e na formação de uma boa microbiota”, afirma o mestre em Ciências Veterinárias.
No que diz respeito às exigências nutricionais em diferentes estágios de crescimento, Caron enfatiza a importância de identificar o momento ideal para se fazer a nutrição de precisão, que pode ser feita por demanda de desafio ou por biomarcadores que permitem compreender melhor a construção do intestino. “Assim, as tabelas nutricionais devem funcionar como uma régua para orientar a direção, a compreensão e uso destes biomarcadores, definindo as alternativas atuais como aditivos, entre outros”, enfatiza.
Caron sugere que o manejo alimentar para garantir uma dieta balanceada e saudável para os suínos deve ser feito com precocidade. “Isto não quer dizer que os problemas da terminação serão resolvidos, mas com o investimento nas UPLs ou UPDs, onde certamente o manejo alimentar ideal vai garantir as condições ideias para gestação e lactação, bem como de creche, preservado o impacto de múltiplas origens, onde não há nutrição e manejo sanitário que possa equilibrar o que um ambiente mais controlado pode proporcionar”, relata.
Quando se trata de otimizar a nutrição do rebanho para promover uma saúde intestinal, Caron diz que a regra mais fácil de se alcançar é entender que é preciso ver primeiro da boca para fora para depois ver da boca para dentro. “O animal tem um potencial genético muito grande para entregar, portanto o aporte e divisão de nutrientes precisa ser quase perfeito. Sendo assim, diminuir a necessidade de gasto para controlar e sobreviver aos desafios ambientais proverão a reserva dos mesmos atores para a eficiência. O animal usa tempo, energia e nutrientes para o crescimento e se o intestino é o maior órgão imune, é preciso deixar que esse órgão direcione estes fatores para a eficiência nutricional. O impacto para o ganho de peso dos animais é de mais de 60%, distribuído em três pilares: instalações, técnicos e produtor, ou seja, está em nossas mãos melhorar a eficiência produtiva e certamente o aproveitamento nutricional”, evidencia.
Pesquisa e inovação
A pesquisa e inovação na área de nutrição suína estão desempenhando um papel fundamental na melhoria da saúde intestinal e no desempenho dos suínos. Um aspecto crucial desse avanço concentra-se na curva crescente de aprendizagem relacionada à criação de métodos robustos para analisar a microbiota intestinal e na forma de aplicação desses conhecimentos no campo. Além disso, há um esforço contínuo de monitoramento e padronização de marcadores, especialmente aqueles relacionados à inflamação intestinal.
Segundo Caron, uma área inovadora em ascensão é a imunonutrição. “É uma inovação interessante, pois trabalhamos em um nível muito sensível, criando o ambiente intestinal ideal, o que certamente reflete na qualidade ambiental. Isso nos leva além da busca pela melhoria e compreensão das condições individuais dos suínos, para um foco populacional, comprovando que a nutrição não contribui apenas para a saúde dos suínos individualmente, mas também mostrando que a nutrição é um componente da saúde ambiental”, declara.
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



