Bovinos / Grãos / Máquinas Estimativa
Mesmo com produção e estoques elevados, preços do trigo devem continuar altos
Além das questões relacionadas ao clima em países exportadores, o mercado do grão, em geral, apresenta tendência de alta, influenciando os preços do trigo
O trigo é um dos principais cereais de inverno. Neste ano, mesmo com os principais países produtores do grão sofrendo com problemas climáticos, a estimativa, segundo a StoneX, é que haja crescimento da produção e dos estoques. Além disso, a perspectiva é que também os preços permaneçam elevados. “O que vemos é uma situação de equilíbrio entre a oferta e a demanda”, afirma a especialista em Inteligência de Mercado da StoneX, Ana Luiza Lodi.
Ela esclarece que além das questões relacionadas ao clima em países exportadores, o mercado do grão, em geral, apresenta tendência de alta, influenciando os preços do trigo. “Vemos essa tendência de alta desde o início da pandemia, em abril. Houve uma puxada nos preços, com muitos moinhos adiantando as compras e os países adiantando as importações. O mercado de grãos em geral está apresentando uma tendência altista”, analisa.
Ana Luiza comenta que se fazer um balaço mundial é possível observar que na passagem da safra 2019/2020 para 2020/2021 a estimativa mostra um aumento na produção de mais de oito milhões de toneladas. Além disso, o consumo também deve crescer, mas em um ritmo mais lento. “Com isso, estamos esperando que os estoques finais mundiais possam crescer mais de 20 milhões de toneladas na safra 2020/2021, o que daria uma relação de estoque/uso acima de 42%”, explica.
De acordo com a analista, este aumento na produção se deve especialmente a alguns países que passaram a produzir mais na safra 20/21. “É possível observar com mais destaque a Austrália e a Rússia, os principais países onde podemos observar um crescimento da produção de trigo”, comenta. Segundo Ana Luiza, a Austrália mostra uma tendência de praticamente dobrar a produção do ano anterior, chegando a casa de 29 milhões de toneladas, dobrando o que teve no ciclo anterior. Além disso, a Rússia também caminha para um momento de aumento de produção, de 5 milhões de toneladas. Por outro lado, entre os países que estão perdendo produção, o destaque vai para os países da União Europeia. “Isso acontece por questão de eles terem plantado uma área menor e ter sofrido com o excesso de chuvas”, explica.
A analista conta que mesmo estando com estoques favoráveis é preciso observar que os estoques estão bastante concentrados na China e na Índia. “Estes países tem estoque de trigo consideráveis, mas eles não participam do mercado exportador. A China importa um volume considerável de trigo. Na safra 20/21 as estimas apontam que o país asiático pode ser o terceiro maior importador mundial de trigo, com 7,5 milhões de toneladas importadas”, conta.
Mesmo importando bastante, Ana Luiza explica que a China não tem relevância quando o assunto é o mercado exportador. “Dessa forma, por mais que os estoques estão crescendo, eles estão bastante concentrados em China e Índia, que são os países que não vão reforçar as exportações de trigo”, diz.
Já os outros países que exportam bastante trigo, como Rússia, Austrália, Europa e Ucrânia devem ter um crescimento, mas bem menor em comparação a China e Índia. “Então mesmo com um crescimento muito relevante dos estoques de trigo, os preços do cereal continuam sustentados em países que tem uma demanda forte e isso está dando suporte aos preços internacionais”, explica.
Além disso, a analista comenta que o mercado está olhando bastante para o clima dos principais produtores do grão no mundo. “A Argentina, por exemplo, vem de um clima bem seco recentemente. Várias regiões do país está com 20 a 40% do normal de chuva, somente. E isso já tem afetado as estimativas da produção argentina, e é um fator que está sendo monitorado”, comenta. Ana Luiza diz que a preocupação da Argentina agora também é com a La Niña, que neste período do ano tende a trazer clima mais seco para Argentina e Sul do Brasil.
Já nos Estados Unidos, se observar as chuvas do mês de outubro, é possível ver que as regiões das planícies, que é onde está o trigo de inverno do país, também está com um padrão climático bem seco. “É outro país que está sendo monitorado quanto ao clima e quanto aos possíveis impactos do La Niña também”, comenta. A Europa, explica a analista, diferente dos outros países, no mês de outubro contou com um clima mais chuvoso. E na região do Mar Negro Ana Luiza informa que o baixo nível de precipitação no mês de outubro também foi observado pelo mercado, com destaque para a Rússia que choveu 60% do normal.
Dessa forma, explica a analista, observando o comportamento mundial quanto ao trigo, a Rússia está com a produção crescente, assim com a Austrália. Por outro lado, a produção Europeia deve ficar menor na safra 20/21.
Ana Luiza diz que o Brasil também está com uma projeção positiva para produção de trigo nesse ano, apesar da geada em algumas regiões produtoras. E os Estados Unidos com uma pequena queda de produção. “Mas no geral há crescimento da produção. A Rússia crescendo, por outro lado a Europa caindo e a Austrália crescendo muito fortemente. Agora na Argentina, que é o principal exportador de trigo para o Brasil a preocupação com o clima continua, principalmente com ajustes para baixo da estimativa de safra, tanto do USDA quanto das Bolsas Argentinas”, comenta.
O trigo na América do Sul
A analista explica que na América do Sul a Argentina está com preocupação com relação ao clima seco, enquanto o Brasil tem uma perspectiva positiva para a safra de 2020. “Vendo os números da Argentina, observamos que as Bolsas do país, de Rosário e Buenos Aires, estão mais pessimistas do que as outras estimativas de produção, já estão na casa dos 17 milhões de toneladas com exportações na casa dos 11,5 milhões de toneladas, o que resultaria em um estoque final em torno de 850 mil toneladas de trigo”, comenta.
Ana Luiza informa que já o USDA está com uma projeção maior quanto a safra argentina, com um montante de 19 milhões de toneladas. “Com isso, mesmo estimando uma exportação ainda mais aquecida, os estoques da Argentina, segundo o USDA, ficariam um pouco mais folgados, em 1,6 milhão de toneladas”, conta. Já a estimativa da StoneX, informa a analista, aponta uma produção intermediária, com uma exportação mais alta do que do mostram as Bolsas argentinas e estoques abaixo de um milhão de toneladas. “A Argentina tem se consolidado como um grande exportador de trigo e não somente para o Brasil. Nós estimamos que ela deve exportar para o Brasil cerca de 5,6 milhões de toneladas, enquanto as exportações para outros destinos devem superar esse valor. Então nos últimos anos a Argentina tem diversificado bastante os destinos das exportações de trigo. Assim, por mais que o Brasil continue sendo o principal comprador do trigo argentino, o nosso vizinho tem atuado numa diversificação”, conta.
O que esperar da safra brasileira
Já olhando para a safra brasileira, a analista comenta que este ano a safra de trigo começou com uma perspectiva positiva, tendo crescimento de área significativo e a safra vinha muito bem de um modo geral, com estimativa de produção recorde. “A Conab ainda indica um recorde de produção, mas houveram geadas que afetaram o trigo em algumas regiões do Sul do país, e há redução nas estimativas de produção, não foram reduções grandes, então as estimas continuam ao redor de 6,5 milhões de toneladas produzidas de trigo no país, mas aquém do potencial inicial”, comenta.
Ana Luiza diz que o consumo brasileiro tem uma perspectiva positiva também, sendo que o Brasil deve importar 5,6 milhões de toneladas da Argentina e de outros países um pouco mais de um milhão de toneladas de trigo nessa safra. “Estamos em um momento de preços muito fortes, de dólar fortalecido, que além de impactar os preços encarece as importações. É mais caro importar com um câmbio fortalecido, um dólar forte e o Real desvalorizado e o Brasil é dependente da importação, ele não tem como não importar trigo porque a nossa produção não atende à demanda. Mas com esse cenário de preços fortes a gente deve continuar numa situação de balanço de oferta e demanda bem apertada com estoques baixos”, analisa.
Ela explica ainda que as três estimativas, da Conab, USDA e StoneX, estão com estoques abaixo de um milhão de toneladas estimadas para o final do ciclo e nos estoques de passagem também da safra anterior para essa safra foram muito baixos, porque os preços do trigo estão bem fortalecidos no mercado externo e as importações ficam bastante custosas. “No Brasil a gente também tem esse cenário de preços elevados. Se a gente olhar o preço doméstico do trigo em Real por toneladas nós vemos que houve uma leve tendência de queda recentemente, mas já começou a subir e continua sustentado mesmo com a colheita avançando”, afirma.
Gerenciando o risco na compra do trigo
Atualmente, quando alguém vai negociar trigo, existem perguntas que são feitas para saber se está bom ou não para comprar como: a quanto chega o trigo argentino no porto? Como está a paridade? E o americano? Quanto está o dólar? Será que volta ou sobe mais? “Esse é um ano difícil que nós temos que entender como uma mudança para o mercado de trigo”, afirma o analista da StoneX, Roberto Sandoli Jr.
O analista explica que há uma similaridade entre todas as perguntas feitas: trigo argentino, americano, russo e câmbio são produtos negociados em Bolsa, são todos comodities de alguma forma. “O trigo tem várias bolsas que você consegue fazer essas operações. O câmbio, que é o motivo tão falado pelo mercado de trigo, é uma ferramenta que você consegue se proteger tanto como os trigos. Hoje a dependência que temos do trigo importado, das oscilações de mercado, elas são muito grande, a volatilidade é imensa. Temos que parar de usar a bola de cristal para tomar as decisões, chegou o momento de o mercado evoluir. Nós não podemos ficar somente achando que porque tem pressão de safra o preço vai cair. Porque a Argentina vai ter uma safra grande, o preço vai cair. Nós temos que entender que fatores como pandemia, clima, El Niño, La Niña, fatores políticos e econômicos, eles não podem ser previsíveis. Você pode ter uma ideia muito interessante do que pode acontecer, mas basear as suas decisões apenas nisso, acho que é um momento de nós começarmos a repensar a forma de como é feita essa negociação de trigo. E esse ano foi o exemplo perfeito sobre isso”, afirma.
Segundo Sandoli, para que o produtor e os moinhos não tenham prejuízos na hora da compra ou da venda do trigo é preciso começar a usar as ferramentas de hedge. “As correlações existem, a dependência que temos do trigo importado é muito maior do que há cinco anos. Por isso, precisamos dar esse passo adiante e começar a usar as ferramentas que estão disponíveis para que nós não deixemos dinheiro na mesa, que é o que está acontecendo agora”, diz.
Algumas recomendações dadas pelo analista são que é preciso usar estas ferramentas que estão disponíveis e não deixar para depois. Além disso, ele diz que o mercado é soberano, por isso não devemos desafiá-lo, mas sim entendê-lo. “Se você for brigar com o mercado, vai acontecer o que está acontecendo este ano. Quase ninguém está comprando trigo, houve a oportunidade para comprar a US$ 200, não compraram e hoje está quase US$ 250. Vocês estão deixando dinheiro na mesa. Comecem a entender as ferramentas e o mercado, aceitem as mudanças, não briguem com elas”, aconselha.
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Negócios seguem pontuais; produtor de trigo foca colheita da safra verão
Semeadura da nova safra de trigo deve iniciar em abril
As negociações envolvendo trigo seguem pontuais no mercado brasileiro. Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar da maior presença compradora, produtores continuam focados na colheita da safra verão.
A semeadura da nova safra de trigo deve iniciar em abril. Quanto aos preços, levantamento do Cepea mostra que as cotações internas do grão seguem enfraquecidas.
Novas estimativas sinalizam queda na área cultivada com trigo na temporada 2024, por conta dos valores menos atrativos.
Ainda assim, se a produtividade ficar dentro da média, a oferta pode superar a do ano anterior, conforme apontam pesquisadores do Cepea.
A Conab estima a área nacional em 3,26 milhões de hectares para 2024, sendo 6% menor que a do no ano passado.
No entanto, a produtividade média nacional pode crescer 26%, indo para 2,937 t/ha, o que resultaria em produção de 9,587 milhões de toneladas, 18,4% acima da colhida em 2023.
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É preciso repensar a exportação de gado vivo
A exportação com valor agregado não é apenas uma escolha ética, mas uma estratégia inteligente para garantir que o país prospere de maneira sustentável no cenário internacional
O episódio recente na Cidade do Cabo trouxe à tona o velho debate sobre a exportação de gado vivo pelo Brasil. Enquanto a cidade sul-africana se via envolta em um odor desagradável proveniente do navio cargueiro, carregado com 19 mil cabeças de gado procedentes do Brasil, o incidente reacendeu as controvérsias em torno dessa prática.
Este não é apenas um problema local, mas um reflexo de questões mais amplas que precisam ser abordadas. O transporte de animais vivos por longas distâncias sempre esteve no centro de debates sobre ética, bem-estar animal e sustentabilidade. No entanto, o momento atual exige uma revisão mais profunda do modelo de exportação brasileiro.
A discussão vai além das fronteiras da Cidade do Cabo e alcança os campos e fazendas do Brasil. Enquanto o país mantém seu papel como um dos principais exportadores globais de gado vivo, com clientes por todo o Oriente Médio, é crucial avaliar os impactos sociais, econômicos e ambientais dessa prática.
O bem-estar dos animais é uma preocupação evidente. O transporte em massa, muitas vezes em condições adversas, levanta questões éticas sobre a humanidade com que tratamos os seres vivos que são parte integrante de nossa indústria agropecuária. A reputação do Brasil como um país comprometido com práticas sustentáveis e éticas está em jogo, à medida que as imagens de navios cheios de animais estressados se espalham pelo mundo.
Além disso, há a questão da imagem internacional. A exportação de carne processada em vez de gado vivo pode ser uma alternativa mais vantajosa em termos de reputação global. O Brasil precisa posicionar-se como um líder não apenas em termos de quantidade, mas também em qualidade, responsabilidade ambiental e respeito aos direitos dos animais.
Investir em práticas que agreguem valor à cadeia de produção pode ser mais benéfico a longo prazo para a economia brasileira do que simplesmente exportar grandes volumes de animais vivos. Isso proporciona uma resiliência econômica diante das flutuações do mercado e destaca o país como um produtor comprometido com a sustentabilidade e o bem-estar.
O episódio na Cidade do Cabo deve servir como um chamado à ação. O Brasil tem a oportunidade de liderar não apenas em produção, mas em responsabilidade e inovação no agronegócio. A exportação com valor agregado não é apenas uma escolha ética, mas uma estratégia inteligente para garantir que o país prospere de maneira sustentável no cenário internacional.
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Eficiência nutricional é sustentabilidade e lucro
A jornada rumo à eficiência alimentar é de comprometimento, aprendizado contínuo e inovação constante
A pecuária, essencial para suprir a crescente demanda alimentar, enfrenta o desafio constante de otimizar seus processos para garantir eficiência econômica e sustentabilidade ambiental. Nesse contexto, a eficiência alimentar surge como um pilar fundamental, demandando precisão e inovação para enfrentar os desafios do presente e construir um futuro mais sustentável.
O aprimoramento da eficiência alimentar não é apenas uma busca por redução de custos, mas uma necessidade intrínseca para garantir a utilização máxima dos recursos disponíveis. Este desafio se torna mais crucial diante da demanda global por proteínas animais, onde cada grama de alimento consumido pelos animais precisa ser convertida da maneira mais eficiente possível em produtos para consumo humano.
No âmbito da pecuária leiteira, onde a pressão sobre os recursos naturais é significativa, a eficiência alimentar não é apenas uma estratégia econômica, é uma resposta ao apelo pela produção sustentável. Estratégias que envolvem o manejo nutricional, a busca por dietas balanceadas e a incorporação de tecnologias tornam-se essenciais para atingir esse equilíbrio entre produtividade e responsabilidade ambiental.
Os desafios são muitos, desde a coleta precisa de dados até a compreensão profunda da estrutura da fazenda. A implementação bem-sucedida da eficiência alimentar requer não apenas conhecimento técnico, mas também uma visão holística da propriedade, alinhada com metas claras e sustentáveis.
Os produtores, verdadeiros pilares da pecuária, enfrentam diariamente desafios complexos. A qualidade do volumoso, a gestão de custos e a questão da mão de obra são aspectos cruciais que precisam ser equacionados para que a eficiência alimentar se torne uma realidade concreta.
A precisão na implementação dessas práticas não é apenas uma estratégia, é uma necessidade para garantir o bem-estar dos animais, a saúde do negócio e a preservação dos recursos naturais. A eficiência alimentar não é um conceito abstrato, é a resposta tangível para a pecuária moderna que busca maximizar resultados sem comprometer o equilíbrio ambiental.
Diante desses desafios, é imperativo que todos os envolvidos na pecuária estejam engajados na busca constante por práticas mais eficientes. A jornada rumo à eficiência alimentar é de comprometimento, aprendizado contínuo e inovação constante. Ao enfrentarmos esses desafios com resiliência e determinação, estamos não apenas construindo um setor mais eficiente, mas também um futuro mais sustentável para a produção pecuária.
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