Bovinos / Grãos / Máquinas
Mercado de embriões bovinos evolui e acompanha a transformação da pecuária brasileira
Da genética de elite à produção comercial, avanço da fertilização in vitro consolidou o Brasil como líder global e impôs novos desafios para a mensuração do setor.

O mercado de embriões bovinos no Brasil passou por mudanças significativas nas últimas décadas. Mudanças que refletem a evolução da pecuária nacional e a consolidação do país como um dos protagonistas globais na produção de carne e leite. Podemos dizer que a trajetória desse mercado se confunde com a própria história recente da bovinocultura no Brasil.
Na década de 1990, as tecnologias de embriões estavam praticamente restritas a animais de elite, com genética superior e destinados à reprodução. Na superovulação, técnica predominante nessa época, a produção de embriões se voltava à pecuária de alto padrão, e imaginava-se a mesma tendência para a fertilização in vitro. O fato dessas técnicas serem utilizadas principalmente em países desenvolvidos, com pecuária mais intensiva e produtores de maior poder aquisitivo, reforçava esse cenário.

Artigo escrito por João Henrique Viana, Doutor em Ciência Animal pela UFMG e Chefe de Pesquisa da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
A virada do mercado começou na metade dos anos 2000. Com a popularização da fertilização in vitro, que em 2007 já era a tecnologia de embriões mais adotada no país, o Brasil passou a se destacar globalmente nesse segmento. Em 2010, o mercado nacional já respondia por quase metade do total de embriões bovinos produzidos no mundo.
Se na primeira década dos anos 2000 o mercado de embriões era majoritariamente associado às raças zebuínas e de corte, ao longo da década de 2010 ele passou a ganhar um espaço crescente na pecuária leiteira. Essa mudança foi alavancada pela disponibilidade do uso do sêmen sexado, indispensável para garantir um alto percentual de bezerros do sexo desejado – no caso da pecuária de leite, de bezerras. As tecnologias de embriões se mostraram uma ferramenta chave para aprimorar a genética dos rebanhos. Especialmente nas estratégias de cruzamento de raças, como para a formação do Girolando, a transferência de embriões vem ganhando destaque, se popularizando nas fazendas e conquistando espaço na produção comercial.
Com a democratização da técnica, agora também aplicada a animais de produção, surgiu o desafio para o mapeamento dos dados do setor. Quando seu uso era restrito a criadores vinculados às associações de raça, o levantamento de dados podia ser baseado apenas nos números obtidos junto às mesmas, uma vez que a comunicação das transferências de embriões é obrigatória para o registro dos animais. Mas, ao se expandir pelo campo, o uso da técnica passou a ir além das entidades de criadores.
Por isso, um importante indicador para acompanhar a evolução do mercado de embriões no Brasil passou a ser a venda de insumos, como a bainha de transferência de embriões. Mesmo sem permitir medir exatamente o uso em segmentos específicos, o volume de insumos comercializados permite ter um panorama confiável do mercado como um todo. Hoje, com base nesses indicadores, é possível afirmar que o país produz mais de 1 milhão de embriões bovinos por ano.
Para fazer frente ao desafio da obtenção de dados estatísticos mais acurados, a Sociedade Brasileira de Transferência de Embriões (SBTE) e a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), com apoio do Centro de Estudos de Economia Aplicada (Cepea/USP), uniram esforços para a criação do Index Asbia Embriões. O objetivo do relatório, atualmente em desenvolvimento, é oferecer ao mercado brasileiro dados consolidados deste importante segmento nas cadeias da produção de carne e leite.
Mais do que apresentar números exatos, costumo dizer que a força do relatório está em indicar, para criadores, profissionais e pesquisadores, os rumos do mercado. Essas informações são fundamentais para o planejamento estratégico das empresas do setor e também dos pecuaristas. Afinal, dados precisos são indispensáveis atualmente.
Com a união das entidades e o aperfeiçoamento de suas metodologias de compilação de informações, será possível apresentar um número mais preciso desse mercado em constante evolução no Brasil. Nas últimas décadas, a técnica se consolidou e transformou a genética dos rebanhos em todo o país. Agora, é tempo de saber, com maior precisão, como se comporta o mercado de embriões da pecuária brasileira.

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Instituto de Zootecnia inaugura centro de pesquisa em pecuária sustentável no interior paulista
Nova unidade em São José do Rio Preto terá foco em neutralidade climática, bem-estar animal, genômica e tecnologias para sistemas produtivos de baixo carbono.

O Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, inaugurará na próxima sexta-feira (19), em São José do Rio Preto (SP), a Divisão Avançada de Pesquisa e Desenvolvimento da Pecuária Sustentável. Implantada em uma área de 220 hectares, a unidade tem como missão o desenvolvimento, a validação e a transferência de tecnologias voltadas à promoção de sistemas de produção pecuária sustentáveis, eficientes e alinhados aos compromissos nacionais e internacionais de mitigação das mudanças climáticas. No mesmo dia será inaugurado o Laboratório de Genômica que deve contribuir para seleção de animais mais produtivos e sustentáveis.
A unidade foi concebida com foco na neutralidade climática da produção de bovinos de corte, na intensificação sustentável dos sistemas produtivos e na integração entre sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e bem-estar animal, com ênfase em arranjos como a Integração Lavoura-Pecuária e outras estratégias de uso racional da terra.
Destaca-se como o primeiro centro de pesquisa com animais de grande porte certificado pela Fair Food, reconhecimento que atesta o atendimento a elevados padrões de bem-estar animal, ética na pesquisa e produção sustentável, posicionando o IZ na vanguarda das exigências técnicas e mercadológicas internacionais.
De acordo com a pesquisadora do Instituto de Zootecnia Renata Helena Branco, diretora da unidade, o Centro foi estruturado para atuar como referência técnica e vitrine tecnológica para o setor produtivo. “A proposta é disponibilizar ao pecuarista e à indústria diferentes modelos de produção, com indicadores produtivos, ambientais e econômicos consolidados, de forma a subsidiar decisões técnicas baseadas em evidências científicas e promover a competitividade da pecuária brasileira”, destaca.
O Instituto de Zootecnia, que este ano comemora 120 anos, desenvolve pesquisas para elevar a produtividade, a eficiência e o bem-estar animal, e é pioneiro na pesquisa científica mundial com a raça Nelore, com papel fundamental no desenvolvimento da pecuária de corte no país. Enilson Ribeiro, coordenador do IZ, comenta que o grande desafio da pecuária hoje é seguir normas de sustentabilidade e bem-estar animal. “Criamos esta unidade para aumentar a sustentabilidade da pecuária, tornando-a mais competitiva no mercado internacional”.
Centro de Pecuária Sustentável do IZ
A unidade é sede do NeuTroPec – Centro de Ciência para o Desenvolvimento da Neutralidade Climática da Pecuária de Corte em Regiões Tropicais, iniciativa estratégica apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela iniciativa privada com empresa como SilvaFeed, Alltech e JBS. O NeuTroPec atua no desenvolvimento de bases científicas e tecnológicas para sistemas pecuários de baixa emissão de carbono, com ações voltadas à mensuração e mitigação de Gases de Efeito Estufa, especialmente o metano entérico; avaliação de estratégias nutricionais e aditivos; desenvolvimento de sistemas produtivos integrados e intensificados; estudos em reprodução, programação fetal e genômica; e geração de indicadores técnicos para subsidiar políticas públicas, certificações e acesso a mercados diferenciados.
O Centro abriga ainda o RumenLab, plataforma avançada de pesquisa aplicada em nutrição de ruminantes e fermentação ruminal. O RumenLab atua na avaliação de ingredientes, coprodutos agroindustriais e aditivos nutricionais, estudos de cinética de degradação ruminal, produção de gases e mitigação de metano, integrando sistemas in vitro, ex situ e in vivo. De forma articulada ao NeuTroPec, o RumenLab fortalece a base científica das estratégias de sustentabilidade e contribui para o desenvolvimento de soluções tecnológicas aplicáveis ao setor produtivo.
Complementando essa infraestrutura, o Laboratório de Genômica Animal desempenha papel estratégico na integração entre genética, nutrição e manejo, com foco na identificação e seleção de animais mais eficientes, resilientes e com menor intensidade de emissões. O laboratório desenvolve estudos voltados à caracterização genética de características produtivas, reprodutivas e de eficiência alimentar, bem como à compreensão das interações entre genótipo, ambiente e nutrição. Essas informações subsidiam programas de melhoramento genético orientados à sustentabilidade, contribuindo para o avanço da pecuária de baixo carbono e para o fortalecimento da competitividade da produção animal brasileira.
O Centro de Pecuária Sustentável consolida-se como a unidade do Instituto de Zootecnia com o maior número de parcerias público-privadas ativas, refletindo um modelo de governança orientado à inovação, à transferência de tecnologia e à aproximação entre ciência e mercado. As parcerias com empresas nacionais e internacionais, aliadas ao apoio das agências de fomento, são fundamentais para ampliar a escala dos projetos de pesquisa, acelerar a geração de resultados aplicáveis e posicionar o Brasil como referência global em pecuária sustentável e de baixo carbono. Com infraestrutura laboratorial estratégica e atuação integrada entre pesquisa, inovação e difusão tecnológica, o IZ reafirma, por meio desta unidade, seu papel histórico e estratégico no desenvolvimento da pecuária brasileira, alinhando ciência de excelência, sustentabilidade e competitividade.
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Goiás proíbe venda de leite líquido feito a partir de leite em pó importado
Medida reforça qualidade do leite consumido no estado e protege o produtor goiano, além de beneficiar a economia estadual.

O governador Ronaldo Caiado sancionou a Lei nº 23.928/2025, que proíbe a reconstituição de leite em pó importado para comercialização como leite fluido em Goiás. A nova legislação atende a uma reivindicação da cadeia produtiva, diante do avanço das importações, especialmente de países do Mercosul que vêm pressionando a competitividade do produtor local e levantando alertas sobre a origem e a qualidade do produto ofertado ao consumidor.
“Essa é uma iniciativa determinante para a manutenção dos empregos na cadeia produtiva do leite, para a proteção dos pequenos produtores e, principalmente, para a população: que terá sempre um produto de alto valor nutricional, com padrão de qualidade e brasileiro em sua casa”, destacou o governador Ronaldo Caiado, considerando que a reconstituição de leite em pó para leite fluido é o processo de adicionar água ao leite em pó para obter um produto líquido destinado à comercialização.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
A proibição vale para indústrias, laticínios e qualquer pessoa jurídica estabelecida no Estado. O objetivo da nova legislação é garantir transparência, qualidade e respeito ao produto goiano. As empresas que descumprirem a norma estarão sujeitas a multas, apreensão do produto e até suspensão do registro sanitário. “Essa lei é mais um passo na defesa da nossa agropecuária, do nosso emprego no campo e também da qualidade do alimento que chega à mesa do nosso povo”, acrescentou o chefe do Executivo goiano.
Proposto pelo deputado estadual Amauri Ribeiro, o projeto é uma resposta direta às demandas do setor. “Essa lei assegura maior controle sanitário e evita que pequenos produtores abandonem a cadeia láctea”, afirmou o parlamentar.
Importações
A ausência de regras específicas para o uso de leite em pó importado levou, em 2024, à entrada de 649 toneladas do produto em Goiás, equivalente a 0,35% do volume adquirido pelo Brasil, sendo na sua totalidade de países do Mercosul. Esse movimento representou US$ 1,99 milhão que deixaram de circular na economia goiana e que poderiam ter sido direcionados aos produtores de leite e ao comércio do estado.
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Setor leiteiro do Rio Grande do Sul articula simpósio sobre sanidade em 2026
Encontro deve reunir técnicos do serviço veterinário público e privado indústrias e produtores para reforçar a responsabilidade compartilhada no fortalecimento do PNCEBT e na sanidade dos rebanhos.

Integrantes do Conselho Técnico Operacional da Pecuária Leiteira definiram na última sexta-feira (12) a realização de um simpósio em 2026 para tratar sobre o avanço do Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). O objetivo é reunir técnicos do serviço veterinário oficial público e privado, representantes de indústrias e produtores para tratar sobre responsabilidade compartilhada.
A pecuária leiteira representa pouco mais de 15% do rebanho bovino do Rio Grande do Sul (RS). O PNCEBT do estado é um dos mais rigorosos do país. Só no ano passado foram testados, em procedimento de rotina, mais de 385 mil animais. A prevalência da doença nos testes realizados foi de 0,49%. “As doenças chegam no rebanho através de outros animais, em geral os que entram para a reprodução, que ficam mais tempo na propriedade. Por isso, a realização do teste e o saneamento da propriedade são fundamentais para reduzir a ocorrência”, afirma a coordenadora do PNCEBT, Ana Cláudia Groff. Segundo ela, o maior volume de testes é realizado onde há concentração de indústrias, especialmente na metade Norte do estado.
A reunião contou com a participação de representantes do setor industrial, como a Santa Clara e a CCGL, que já estabeleceram bonificação para o leite recebido de propriedades certificadas como livres de tuberculose e brucelose. O presidente do Conselho Técnico Operacional da Pecuária Leiteira, Marcos Tang, pontuou a importância de valorizar os produtores que realizam os testes e contribuem para o saneamento do rebanho. “É importante que eu cuide bem do meu rebanho, mas meu vizinho também tem que cuidar”, destacou.
O presidente do Fundesa-RS, Rogério Kerber, afirmou que um evento para esclarecer sobre questões técnicas e legais sobre a legislação do PNCEBT será fundamental para ampliar a conscientização e as oportunidades de melhorar a sanidade dos rebanhos. Segundo Kerber, instituições como Senar e Emater também serão convidadas para contribuir com a multiplicação dos temas junto aos produtores, pela penetração que têm nas comunidades de produção leiteira do RS. A data do simpósio ainda não foi definida.



