Bovinos / Grãos / Máquinas
Melhoramento genético da raça Purunã deve ampliar oferta e elevar qualidade da carne
Projeto Purunã – Genômica conta com investimento de R$ 1,1 milhão do Governo do Paraná para fortalecer ainda mais o posicionamento do Estado no cenário nacional da produção de carne bovina.

A raça de gado de corte paranaense Purunã tem despertado, há algum tempo, o interesse de pecuaristas de diversos estados do Brasil, por ser uma excelente opção de bovinos de corte adaptados a diferentes ambientes. Buscando fortalecer ainda mais o posicionamento do Paraná no cenário nacional da produção de carne bovina, pesquisadores estão desenvolvendo um programa de melhoramento genético da raça, com base em tecnologia genômica de ponta.
O chamado projeto Purunã – Genômica conta com um investimento de R$ 1,1 milhão do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Fundação Araucária.
“Esta pesquisa reúne duas grandes competências do Paraná: a genômica e a pecuária. Ela permitirá mais um salto de competitividade do Paraná, dando ao campo mais uma possibilidade de desenvolvimento econômico”, destacou o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação Araucária, Luiz Márcio Spinosa.
“A Araucária junto com a Seti tem despendido grande esforço para este ganho de competência científico e tecnológico, aproximando as nossas ICTs, que abrigam cerca de 25 mil doutores, às reais necessidades da sociedade”, acrescentou.
A iniciativa tem como foco principal a identificação de animais com genótipos superiores, capazes de originar futuras gerações com maior desempenho produtivo, o que deve resultar no aumento da produção e na melhoria da qualidade da carne.
“Selecionar animais mais precoces, mais eficientes, e que permanecem menor tempo na propriedade, significa maior renda para o criador”, ressaltou o coordenador do projeto, José Luis Moletta, pesquisador do IDR-Paraná que trabalhou no desenvolvimento da raça desde os estudos iniciais, há mais de três décadas. “Outro foco do projeto é a busca pela identificação de animais mais resistentes a carrapatos, possibilitando economia dos criadores no manejo dos animais, reduzindo os custos de produção e gerando maior bem-estar para o animal”.
Objetivos que podem ser alcançados por meio das técnicas de seleção genômica. “No futuro, pode-se incluir outras características como índice de marmoreio, maciez, eficiência alimentar, Stayability, características reprodutivas e mesmo redução da produção de gases de efeito estufa como o metano, entre outros”, completou o pesquisador.
Na prática
Cada bovino vivo da raça Purunã contribuirá com uma mostra de seu material genético. A partir do DNA de cada animal, serão identificados marcadores moleculares do tipo SNP (Single Nucleotide Polymorphism), por meio de um chip com capacidade para analisar cerca de 100 mil desses marcadores.
Com base nessas informações, será realizada uma avaliação genética que integra dados quantitativos de desempenho e informações genômicas dos animais, utilizando técnicas estatísticas avançadas, atribuindo assim a cada bovino um Valor Genético para cada uma das características avaliadas.
A partir desses valores, os animais serão classificados em um índice que permite identificar, de forma precisa, aqueles com maior ou menor potencial produtivo.
“Neste contexto a seleção genômica traz algumas vantagens. Ela pode aumentar a acurácia deste processo de avaliação, nos permitindo ser mais assertivos em escolher os melhores animais e prever o valor genético dos seus descendentes”, explica. “Desta maneira, temos maior certeza de que os animais selecionados realmente poderão gerar proles melhores e com maiores desempenhos”, explica o professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) que integra a equipe, Bruno Ambrozio Galindo.
“Também aplicaremos uma metodologia chamada Associação Genética Ampla (GWAS), que nos permite buscar por marcadores e genes envolvidos na expressão de determinada característica como, por exemplo, a resistência à infestação por carrapatos”, observou Galindo.
Aumento do rebanho
Dos 3,5 mil animais da raça Purunã do Paraná, 3 mil estão em fazendas experimentais do IDR-PR e da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os estudos devem impactar no maior interesse para o aumento do rebanho paranaense.
“Outro ponto muito importante é a multiplicação dos animais melhoradores, que será a continuidade deste projeto. Com o uso de tecnologias reprodutivas como a TE (Transferência de Embriões) e a IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), é possível combinar os melhores touros com as melhores matrizes e, inclusive, utilizar vacas de outras raças como receptoras — as chamadas ‘barrigas de aluguel’”, destaca o pesquisador da UFPR, Alexandre Leseur dos Santos, que também integra a equipe de pesquisadores.
“Essa estratégia permitirá expandir o rebanho da raça Purunã de forma mais célere e de modo mais assertivo, para poder atender aos produtores que tenham interesse”, disse.
Na segunda etapa do projeto, os pesquisadores esperam poder fornecer embriões melhorados de Purunã para produtores que tenham interesse em criar a raça.
“Ou mesmo em parceria com os produtores de leite do Estado, que poderiam ‘emprenhar’ as vacas que não tenha interesse que deixe descendentes no rebanho para reposição como, por exemplo, o rebanho leiteiro, com embriões 100% Purunã. Assim, diversificando também as atividades destes produtores que teriam crias com alto valor agregado”, ressaltou Alexandre.
Com a genotipagem dos bovinos da raça Purunã, esta será possivelmente uma das poucas raças do mundo que terá aproximadamente 100% dos seus animais vivos genotipados, gerando grande eficiência no melhoramento da raça e ótimas perspectivas de futuro.
Além das universidades e IDR-Paraná, envolvidos diretamente nos estudos, o projeto Purunã – Genômica conta com uma rede colaborativa envolvendo parceiros internacionais, como o pesquisador Flávio S. Schenkel da University of Guelph (Canadá), uma instituição pioneira na implementação da Seleção Genômica, e a pesquisadora Daniele Lourenço da University of Georgia (USA), que faz parte de um importante grupo que, inclusive, desenvolveu um dos softwares que será utilizado nas análises do projeto.
Há também parcerias com a Associação Brasileira de Criadores de Purunã, com os criadores da raça, com a Embrapa, Universidade Federal de Santa Maria e Universidade Federal do Oeste do Pará (Unioeste).
Raça Purunã
O desenvolvimento do Purunã teve início nos anos 1980, no IDR-Paraná. À época, os pesquisadores observaram que muitos criadores enfrentavam dificuldades para conduzir acasalamentos eficazes, mesmo utilizando inseminação artificial e seleção genética. A proposta era entregar aos criadores um bovino sintético, formado a partir de cruzamentos controlados entre raças já conhecidas – Caracu, Canchim, Charolês e Angus –, oferecendo um pacote genético equilibrado e adaptado à pecuária de corte.
Reconhecida oficialmente pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em 2016, a raça é acompanhada pela Associação Brasileira de Criadores da Raça Purunã (ABCP), responsável pelo controle genealógico dos animais.
A escolha do nome homenageia a Serra do Purunã, que separa o primeiro e o segundo planaltos do Paraná e fica próxima à unidade de pesquisa onde a raça foi desenvolvida.
Purunã se destaca por reunir rusticidade, resistência a parasitas, bom rendimento de carcaça e carne de alta qualidade. Caracu e Canchim conferem robustez e adaptação ao clima. Charolês contribui com velocidade de ganho de peso e bom rendimento, e a Angus agrega precocidade, temperamento dócil e carne marmorizada.
As vacas apresentam boa habilidade materna e produção de leite, favorecendo o desempenho dos bezerros. A raça pode ser usada tanto em sistema puro quanto em cruzamentos com vacas Nelore, com foco em terminação.

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Dia de Campo da Embrapa destaca tecnologias para recuperar pastagens e elevar a produtividade
Evento em São Carlos (SP) apresentará, na prática, sistemas ILP e ILPF capazes de aumentar a renda, melhorar o solo e mitigar emissões na pecuária.

Tecnologias que podem aumentar a produtividade e a rentabilidade da fazenda serão apresentadas na prática durante o Dia de Campo na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), no dia 05 de dezembro.
Técnicos e produtores terão a oportunidade de conhecer, no campo, estratégias para a conversão de pastagens degradadas por meio da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e de sistemas integrados com árvores (ILPF).

Foto: Juliana Sussai
A imersão prática faz parte da programação do X Simpósio de ILPF do Estado de São Paulo, que começa no dia 04 de dezembro.
No Dia de Campo, na manhã do dia 05, vão ocorrer demonstrações de tecnologias de grande impacto econômico e ambiental, pois esses sistemas de produção têm potencial para mitigar gases de efeito estufa (GEE) e para o sequestro de carbono. Serão três estações.
Na primeira, pesquisadores vão apresentar como converter pastagens degradadas com a ILP. Recomendações para identificar o estado de degradação da pastagem e para implantar sistemas integrados, aliando práticas de manejo conservacionista do solo, para viabilizar maior oferta de pasto em períodos críticos do ano. Como inserir a ILP nas propriedades pecuárias para proporcionar, no mesmo hectare cultivado, soja para produção de grãos e, em seguida, uma pastagem de alta qualidade. A Unidade de Referência Tecnológica para recuperação de pastagens degradadas está sendo implantada pela Embrapa Pecuária Sudeste em parceria com a Baldan Implementos Agrícolas.
Já na estação 2, serão apresentados dados econômicos do sistema ILPF de longa duração e o cultivo consorciado de milho com braquiária entre as árvores. Os especialistas também vão falar das vantagens técnicas da ILPF como estratégia de mitigação de riscos para a agropecuária brasileira. Ao implantar o modelo, o pecuarista diversifica a renda, melhora a produtividade sem aumento de área, reduz o ciclo produtivo e, ainda assim, diminui as emissões de gases de efeito estufa. É uma forma de produzir carne de forma equilibrada com o meio ambiente.
Saúde do solo e bem-estar animal serão abordados na estação 3, na qual os produtores e técnicos vão conhecer a integração da pecuária de leite com árvores. O componente arbóreo proporciona conforto térmico aos animais em comparação com os sistemas tradicionais, a pleno sol. As árvores oferecem sombra às vacas, impactando o bem-estar e a produtividade. Os sistemas mais conservacionistas, como a ILPF, ainda contribuem para um solo mais saudável. Segundo o pesquisador Alberto Bernardi, as propriedades químicas, físicas e biológicas melhoram nesses modelos, promovendo altas produtividades e melhorando o vigor da pastagem ofertada aos animais, resultando em maior produção e renda.
Ao apresentar essas estratégias sustentáveis a produtores e técnicos, a Embrapa contribui para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2, 12 e 13, promovendo uma pecuária mais eficiente, responsável e em harmonia com o meio ambiente.
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Caso de raiva em bezerro reacende alerta sanitário no Paraná
Morte registrada em Ortigueira impulsiona reforço na vacinação e na vigilância, enquanto o Estado já soma 218 casos confirmados da doença em 2025.

A morte de um bezerro diagnosticado com raiva em Ortigueira, nos Campos Gerais, reacendeu nesta semana o alerta para o enfrentamento da doença no Paraná. Considerada uma das zoonoses mais perigosas, a doença representa um grave risco tanto para a saúde pública quanto para a economia agropecuária do Estado, mobilizando órgãos oficiais a intensificarem as ações de vigilância e prevenção.
O vírus da raiva é transmitido por um tipo de morcego hematófago e é letal para os animas e para os humanos. O ciclo é este: o morcego morde o animal para chupar o sangue e transmite a raiva; outros animais e o ser humano contraem o vírus por meio de contato com o animal doente e a raiva se espalha e contamina os demais.

Foto: Arnaldo Alves
A presença da doença no Paraná é controlada: no ano passado, foram 258 casos de raiva comprovados em herbívoros; em 2025, foram mais de 400 investigados, sendo 218 casos confirmados até agora.
A vacina antirrábica é a única defesa eficaz contra a doença. “É uma vacina de baixo custo, pode ser aplicada pelo próprio produtor e deve ser dada anualmente. Isso precisa ser feito de maneira preventiva, porque depois que o animal já apresenta sinais clínicos não adianta mais”, salienta Rafael Gonçalves Dias, chefe do Departamento de Saúde Animal, da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná).
Segundo ele, pela portaria nº 368/2025 da Adapar, 30 municípios no Estado têm obrigatoriedade de vacinar contra a raiva. O que não significa que a vacinação não seja necessária em outras regiões.
Estão na lista da portaria os municípios de Boa Vista da Aparecida, Braganey, Campo Bonito, Capanema, Capitão Leônidas Marques, Cascavel, Catanduvas, Céu Azul, Diamante D’Oeste, Foz do Iguaçu, Guaraniaçu, Ibema, Itaipulândia, Lindoeste, Matelândia, Medianeira, Missal, Planalto, Pérola D’Oeste, Quedas do Iguaçu, Ramilândia, Realeza, Rio Bonito do Iguaçu, Santa Lúcia, Santa Tereza do Oeste, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu, Três Barras do Paraná e Vera Cruz do Oeste.
A medida obriga a vacinação em herbívoros domésticos com idade a partir de três meses, incluindo búfalos, cavalos, bois, asnos, mulas, ovelhas e cabras.
Agilidade no controle e conscientização
A agilidade no controle de uma zoonose é crucial. Nesse quesito, o Paraná é pioneiro no uso de técnica molecular para diagnóstico de raiva em herbívoros. Isso é feito através do Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti, da Adapar, primeiro laboratório da Rede Nacional de Agricultura a usar esse tipo de tecnologia. “Antes, levava alguns dias para comprovarmos um diagnóstico de raiva; agora conseguimos o resultado em menos de 24 horas”, conta Dias.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
Mas a verdadeira barreira para conter o surto da doença passa primeiramente pelo cuidado com o rebanho ainda no campo. Essa conscientização dos pecuaristas – no que tange à vacinação e atenção aos sintomas – é muito importante. Além de ser letal para animais e humanos, a raiva impacta em uma grande cadeia produtiva, que envolve exportações, produção e consumo interno.
Por isso, o produtor deve comunicar a Adapar imediatamente sempre que os animais apresentarem sinais neurológicos como isolamento, andar cambaleante, perda de apetite, algum tipo de paralisia e salivação abundante.
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Brasil precisa negociar com mercados externos como cadeia, não como elo, defendem entidades da pecuária
Setor reforça que articulação conjunta é fundamental para atender às novas exigências internacionais, como a lei antidesmatamento da União Europeia.

Segundo maior produtor de carne bovina do mundo, o Brasil lida com compradores externos cada vez mais exigentes. Uma alternativa para equalizar as regras entre exportadores e importadores é realizar as negociações em cadeia, para evitar que os elos envolvidos tenham maior ou menor impacto.
O tema foi debatido na última quinta-feira (06), durante o evento online “Diálogo Inclusivo – Sustentabilidade na Pecuária: como produzir mais e melhor frente às novas exigências do mercado internacional”, promovido pela Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e a Fundação Solidaridad. “A Mesa está aqui para dialogar como cadeia. Levar o Brasil ao papel de protagonista e fazer com que essa pecuária sustentável seja aliada do clima e da segurança alimentar”, disse a gerente executiva da entidade, Michelle Borges.

Foto: Divulgação
Ela ressaltou que a entidade realizou uma série de diálogos às vésperas da Conferência do Clima (COP 30), que ocorre em Belém (PA) neste mês, e formulou um documento que mostra como a pecuária brasileira pode ser uma atividade de impacto positivo para o mundo.
Especificamente sobre as exigências de compradores externos, João Paulo Franco, líder da área de produção animal da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), também defendeu o diálogo conjunto. “Precisamos sentar à mesa para fazer a negociação e a gente precisa ir como cadeia, como corrente, e não como elo, pois o elo perde força de barganha quando vai sozinho”, pontuou.
Thiago Rocha, assessor técnico do Sistema FAESP/SENAR-SP, destacou que uma das principais exigências de compradores internacionais é a lei antidesmatamento da União Europeia, conhecida como EUDR.
Quando entrar em vigor, a legislação vai impedir que países do bloco europeu importem e comercializem produtos provenientes de áreas com desmatamento ou degradação florestal a contar de 31 de dezembro de 2020. A regra se aplicará a todos os países fornecedores.
Franco, da CNA, afirmou que trata-se de uma regra importante, vinda de um parceiro relevante para as exportações brasileiras, capaz de promover evoluções na pecuária ao longo do tempo. Para ele, é possível que o cenário se assemelhe ao que ocorreu quando surgiu a demanda da China de forma mais contundente pela carne bovina brasileira. “A China tinha uma demanda por carne vinda de animais precoces e colocou um prêmio para isso. Com o passar do tempo, o mercado se adequou a esse tipo de produção”, disse.
Ainda que nem todos os produtores consigam se adequar de imediato às exigências da EUDR, pois o desmatamento em áreas legais é permitido no Brasil, a carne ainda teria vazão no mercado interno e para outros compradores internacionais. “Cerca de 70% dos animais abatidos ficam no mercado interno, 30% são exportados e uma parte disso vai para a Europa. Cada país tem sua regra, a China olha de um jeito, a Europa de outro, os Emirados Árabes de outro”, comentou o representante da CNA.
Assista ao diálogo na íntegra clicando abaixo.



