Notícias Estímulo a atividade
Mapa trabalha para ampliar acesso a crédito para os setores de pesca e aquicultura
Comitiva do Ministério da Agricultura e agentes financeiros visitaram, nos últimos meses, os principais polos de produção pesqueira do Brasil.

A dificuldade de acesso a crédito específico para o setor tem sido uma demanda importante de quem trabalha com pesca e aquicultura no país. Com o objetivo de auxiliar na obtenção desse tipo de financiamento para o desenvolvimento da atividade, uma comitiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizou uma série de reuniões com representantes do setor e também do sistema financeiro nos quatro principais polos de produção pesqueira do Brasil.
Os encontros tiveram a presença das Secretarias de Pesca e Aquicultura (SAP), de Política Agrícola (SPA), de Agricultura Familiar (SAF) e de Defesa Agropecuária (SDA), além dos principais agentes financeiros.

Secretário de Pesca e Aquicultura, Jairo Gund, conversa com pescadores para conhecer as demandas de cada região – Fotos: Divulgação/Mapa
“Conversando com a SPA em como poderíamos atuar no setor, entendemos que precisaríamos visitar a cadeia. Então fomos a quatro principais polos de produção do Brasil para entender como funciona o setor e internalizar isso, junto com os agentes de crédito, para que eles pudessem também ter essa sensibilidade em compreender como funciona o setor e criar linhas de crédito ou adaptar as já existentes, estudando maneiras de ter garantias de forma que seja aderente à atividade”, argumentou o secretário de Pesca e Aquicultura, Jairo Gund.
Segundo o secretário de Política Agrícola do Mapa, Guilherme Bastos, o setor de aquicultura e pesca está crescendo bastante e precisa ser mais conhecido pelo sistema financeiro.
“A ideia dessas visitas foi a gente aproximar as instituições financeiras, o Banco Central, o Ministério da Economia e a SPA para dar mais suporte em termos de crédito e assistência ao setor de aquicultura e pesca, que vem crescendo muito. O que precisa é o setor financeiro como um todo e os bancos oficiais de fomento conhecerem a fundo como a atividade se dá, quais são os riscos, as garantias. Esse tem sido um esforço feito entre as duas secretarias para que a gente possa realmente promover o acesso a crédito e impulsionar o desenvolvimento desse setor no Brasil”, diz Bastos.
O primeiro polo visitado foi Bragança, no estado do Pará, no ano passado. O segundo destino da comitiva foi São Paulo: nos polos de aquicultura, especialmente em tanques de rede na região da represa da Usina Hidrelétrica de Chavantes e na região de Santa Fé do Sul, que é um grande polo de produção de aquicultura. A terceira agenda foi em Santa Catarina visitando os polos de malacocultura, algicultura e pesca industrial, em Itajaí. No início de junho, a equipe do Mapa esteve no Rio Grande do Norte, conversando com produtores de atum e de camarão em cativeiro.
Além das equipes do Mapa, participaram das visitas os representantes da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste e do Sicoob.
Demandas
Durante os quatro dias de visita nos principais polos do estado do Rio Grande do Norte, o Mapa e os agentes financeiros puderam entender a realidade do setor e ouvir as demandas e necessidades que, ao serem implantadas, podem impulsionar o setor a dar largos passos e aumentar ainda mais a produção. Uma demanda importante mencionada foi o crédito para financiar, por exemplo, barcos mais especializados, instrumentos de pescaria e a aquisição de equipamentos.
Um dos desejos apresentados pelo setor atuneiro é a aquisição de barcos oceânicos, que aguentem força de vento e mar, com acomodações boas para a tripulação, com condições de deslocamento na harmonia do conjunto para a pesca, ou seja, a velocidade dele tem que estar condicionada a estrutura do barco, ao motor principal, ao reversos e a hélice, isso é o conjunto. O barco precisa ter um consumo adequado para atividade oceânica, além de autonomia para resolver problemas que surgirem no mar.
Isso porque os barcos passam entre 20 e 105 dias em alto mar. “Na pesca oceânica, você vai para o mar e só volta quando a urna estiver cheia, por isso o barco precisa estar muito bem equipado”, contou Gabriel Calzavara, presidente do Sindicato de Pesca do Rio Grande do Norte (SindiPesca). “Pegamos o peixe lá fora, lá perto da África, voltamos para cá, colocamos na indústria e esse peixe vai ser consumido cru na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, competindo com os melhores mercados”.
Além de barcos melhores para a pesca dos atuns, os pescadores listaram outras necessidades do setor daquela região, como a construção de terminal pesqueiro público de desembarque contendo: galpão para estocagem de óleo diesel contendo tanques e bombas de distribuição de óleo; curso de extensão sobre segurança do trabalho a bordo, qualidade do pescado técnicas de pesca para redução de juvenis, legislação Pesqueira presente e aperfeiçoamento da qualidade do pescado a bordo; melhores acesso às linhas de crédito para a construção e/ou melhoramento da frota; e uso de assessoramento de tecnologia em tempo real, através da otimização de sensoriamento remoto.
Propostas
Nos encontros realizados com o setor, o Banco do Brasil apresentou a proposta de fazer uma feira usando uma carreta que se transforma em agência móvel, com espaço para capacitação, para contratação de linha de crédito, trazendo treinamento para o profissional de ponta.
“A gente sabe que esse setor caminhou por vezes à margem, e à margem mesmo porque a gente está falando do mar e da costa, mas também por questões de legislação, por questões de uma necessidade de uma regulamentação dos atuantes. Por isso, a ideia é fazer uma feira para aquelas pessoas que atuam no dia a dia no pescado”, disse a superintendente do Banco do Brasil, Priscila Araújo.
O superintendente do BNB no Rio Grande do Norte, Thiago Dantas, apresentou a linha de crédito FNE Aquipesca. Segundo ele, o Banco financia todas as cadeias produtivas e inclusive o setor de indústria pesqueira, tanto a pesca artesanal quanto a pesca em alto mar.
“Através dessa linha, podemos não apenas financiar a estrutura produtiva de uma indústria pesqueira, aquisição de
máquinas, equipamentos, instalações, uma eventual ampliação, mas também pode financiar a aquisição isolada das embarcações. Fazemos uma diferenciação do nosso apoio à pesca artesanal’, acrescentou.
Em janeiro, a Caixa Econômica Federal lançou duas novas linhas de crédito, para Custeio e para Investimento, direcionadas aos pescadores profissionais-artesanais beneficiários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e detentores de Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP).
“A Caixa econômica nos informou que de janeiro até dia 30 de maio já haviam sido liberados 99 milhões de crédito para a pesca artesanal, o que é algo novo para o Brasil. Em 161 anos de caixa, essa é a primeira vez que ela cria crédito para o setor. Isso já é um grande avanço, mas nós precisamos avançar ainda mais, precisamos dos outros bancos envolvidos e precisamos que os outros planos de governo sejam incluídos de forma aderente às linhas de crédito e de segurança para que a atividade possa ser fomentada”, comemorou o secretário.
Plano Safra
O setor de aquicultura e pesca passou a ser contemplado no Plano Safra do Ministério da Agricultura a partir da edição de 2019/2020. As medidas incluíram linhas de financiamento de custeio, comercialização, industrialização e investimento para o setor.
Para o Plano Safra 2022/23, a ideia é ampliar o apoio ao desenvolvimento da cadeia produtiva da aquicultura e pesca no país. “Será um Plano Safra verde e azul”, disse o ministro da Agricultura, Marcos Montes, ao se referir também a linhas de crédito para a adoção de práticas sustentáveis na produção rural.
“Nesse plano mais azul ele contemplaria um olhar especial para a atividade de aquicultura e pesca, considerando as limitações óbvias que nós temos hoje de orçamento, mas exatamente olhando com carinho para esse setor tão importante”, explica o secretário de Política Agrícola do Mapa, Guilherme Bastos.
Consulta Pública
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou, nesta terça-feira (14), uma consulta pública para colher contribuições, opiniões, informações, bem como as pretensões do setor aquícola e pesqueiro para criação do Plano Nacional de Fomento à Pesca e à Aquicultura, A consulta foi publicada no Diário Oficial da União.
Os interessados no tema terão até 03 de julho de 2022 para apresentar sugestões.

Notícias
Para 86% dos produtores rurais, mudanças climáticas terão impactos na produção, aponta ABMRA
Levantamento inédito mostra que percepção de risco climático aumenta e reforça alerta para políticas de apoio ao campo.

A 9ª Pesquisa ABMRA Hábitos do Produtor Rural revela que o tema das mudanças climáticas se consolidou como uma preocupação concreta entre agricultores e pecuaristas brasileiros. Segundo o levantamento, 86% dos produtores acreditam que eventos extremos, como chuvas mais fortes, secas prolongadas e temperaturas mais altas terão algum tipo de impacto na produção das suas propriedades nos próximos anos e décadas.
O estudo, considerado o mais completo mapeamento do comportamento do produtor rural brasileiro, abrange hábitos de mídia, padrões de compra, conectividade, adoção tecnológica, percepções ambientais, dentre outros tópicos extremamente importantes para a construção de estratégias mais eficazes. A nona edição da pesquisa ABMRA foi operacionalizada pela S&P Global – um dos maiores grupos de informação do mundo –, realizou 3.100 entrevistas presenciais, aplicou 280 questões, percorreu 16 estados, analisou 15 culturas agrícolas e quatro rebanhos de produção para trazer um retrato amplo e atualizado da realidade do campo brasileiro.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
Para o presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA), Ricardo Nicodemos, a quantidade de produtores preocupados com os efeitos climáticos demonstra uma atenção crescente ao tema. “O produtor rural brasileiro reconhece os efeitos do clima no seu dia a dia e busca informações e ferramentas que o ajudem a enfrentar esses desafios com segurança. A pesquisa também mostra que, quando há orientação técnica e condições adequadas, o produtor tende a avançar na adoção de novas práticas para reduzir os danos e garantir a produtividade. Mais que uma mera informação de percepção, esse dado pode ser um grande trunfo para as marcas desenharem suas estratégias para os próximos anos”, completa.
Os dados mostram que 72% dos produtores já adotam procedimentos ou técnicas voltadas a melhorar a eficiência no uso de insumos e reduzir impactos ambientais. Entre eles, 67% afirmam fazê-lo para melhorar resultados de produtividade, enquanto 65% apontam recomendação técnica como motivação principal.
A pesquisa revelou que há alguns obstáculos para adotar práticas que visam mitigar e diminuir os impactos das mudanças do clima, mas é restrita a uma parcela menor dos entrevistados. Entre os 31% que veem barreiras altas ou muito altas, 4% citam custos, falta de informação ou receio de baixo retorno, enquanto 27% apontam limitações ligadas ao acesso a apoio técnico, crédito ou confiança nos resultados.
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Inadimplência rural sobe 7,9% e grandes produtores lideram endividamento
Restrição de crédito, juros livres mais caros e custos de produção em alta aprofundam o aperto financeiro no campo e elevam risco sistêmico para 2025/26.

A inadimplência no crédito rural atingiu um dos patamares mais altos já registrados pelo Banco Central, refletindo um ambiente de forte pressão financeira no campo. Segundo dados oficiais, a taxa de inadimplência entre produtores pessoa física chegou a 7,9%, enquanto entre grandes produtores o índice superou 10,7%, o maior nível desde o início da série histórica.

Advogado Leandro Marmo, especialista em Direito do Agronegócio: “O produtor já entra pressionado pelo preço dos insumos e pela insatisfação do mercado comprador”
Para o advogado Leandro Marmo, especialista em Direito do Agronegócio, o relatório do Banco Central confirma uma realidade há meses percebida no dia a dia do produtor rural: custos em disparada, crédito restrito e operações com taxas cada vez mais elevadas. “Com a disparada dos custos de produção e a retração do crédito rural via linhas oficiais, muitos produtores não conseguem mais acessar financiamento com taxas subsidiadas e acabam sendo obrigados a recorrer aos chamados juros livres, cujo custo é muito superior”, explica Marmo.
O advogado afirma que a diferença entre o crédito rural tradicional, amparado por subsídios e regras específicas, e o crédito de mercado está criando um abismo financeiro. “Essa escalada de encargos, somada às práticas abusivas de vendas casadas impostas por algumas instituições financeiras, cria um verdadeiro sufoco para quem vive do campo”, critica.
Alta dos insumos e queda da rentabilidade criam “efeito tesoura”
O movimento de inadimplência não ocorre isoladamente. A elevação expressiva dos preços de insumos, fertilizantes, combustíveis e defensivos, somada à queda ou instabilidade dos preços de commodities como soja e milho, formou o que especialistas chamam de ‘efeito tesoura’: os custos crescem mais rápido do que a receita do produtor.
De acordo como especialista, esse cenário corrói margens e impede que produtores consigam honrar dívidas contraídas em ciclos de custos mais baixos. “O produtor já entra pressionado pelo preço dos insumos e pela insatisfação do mercado comprador. Quando se vê obrigado a financiar a safra a juros altos, o resultado é o estrangulamento financeiro: as dívidas se acumulam e a margem desaparece”, afirma.
Queda no crédito subsidiado e aumento do risco bancário

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil
Relatórios recentes do sistema financeiro mostram que o volume de crédito rural com taxas controladas não acompanhou a demanda. A redução das linhas do Plano Safra e a maior exigência de garantias levaram muitos produtores a migrarem para operações de mercado, mais caras e mais arriscadas.
Instituições financeiras têm elevado provisões e adotado critérios mais rígidos de concessão, o que dificulta ainda mais o acesso ao financiamento rural. Esse encarecimento do crédito, segundo Marmo, produz um ciclo de retroalimentação da inadimplência.
Diante do cenário de risco crescente, Marmo recomenda atenção redobrada às condições de crédito, às renegociações e aos contratos firmados com agentes financeiros. “Este é um momento que exige cautela. A renegociação precisa ser feita antes da inadimplência, com análise jurídica e financeira cuidadosa. Muitos produtores não sabem que podem contestar cláusulas abusivas e rever contratos que comprometem a continuidade da atividade”, orienta Marmo.
Perspectiva para 2025/2026
Para o advogado, a persistência desse ambiente pode gerar impacto estrutural no agronegócio. Grandes produtores, geralmente considerados mais resilientes, já lideram os índices de endividamento, e isso liga um sinal de alerta no setor financeiro. “Não estamos diante de um problema isolado ou circunstancial. É um risco sistêmico para o campo. Sem crédito acessível, o produtor reduz investimento, planta menos, produz menos, e toda a cadeia sente”, ressalta.
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JAA completa 20 anos transformando vidas e revelando talentos para o futuro do campo
Histórias de jovens que mudaram de rumo, descobriram a vocação rural e hoje atuam como produtores, instrutores e profissionais do agro reforçam o papel do programa do Sistema Faep na sucessão e na inovação das propriedades paranaenses.

Em 2005, uma jovem de 15 anos do município de Paula Freitas, na região Sul do Paraná, decidiu se inscrever no recém-criado Programa Jovem Agricultor Aprendiz (JAA) do Sistema Faep. Daniele Miroslava Kloc, filha de produtores rurais, sempre teve o campo como cenário de sua infância e adolescência. Enquanto colegas buscavam outras áreas, a jovem queria provar que a mulher podia ocupar qualquer espaço no agronegócio.
“Sempre me chamou atenção que todas as mulheres optavam por outras áreas. Tinha vontade de provar que a mulher poderia estar onde quisesse”, lembra Daniele, que desde cedo, se apaixonou pelo estudo dos solos e pela gestão da propriedade. A experiência no JAA só reforçou a vocação para cursar Agronomia.

Daniele (em pé, de jaqueta azul e verde) atualmente é uma das instrutoras do JAA no Paraná
Hoje, 20 anos depois, Daniele é instrutora do próprio programa que a inspirou. Durante as aulas, ela transmite aos jovens o mesmo entusiasmo pelo campo que sentiu ainda adolescente. Além disso, toca com o marido a propriedade da família, onde cria ovinos, caprinos, galinhas caipiras, gado de corte, e ensina ao filho a importância do trabalho rural.
“O que ajuda a inspirar esses jovens é o fato de eu estar na propriedade. Falo sobre a importância de acreditar e permanecer no campo. Eles não são apenas moradores, mas empresários rurais. É possível trabalhar com tecnologia, empreender e ainda ter uma vida conectada com a natureza”, afirma Daniele.
O JAA surgiu exatamente para isso: preparar adolescentes de 14 a 18 anos para atuar com segurança, eficiência e responsabilidade no meio rural. Lançado pelo Sistema Faep em 2005, o programa nasceu a partir de experiências-piloto em municípios como Astorga, Rolândia, Palmas e Tijucas do Sul, e, desde então, passou por constantes aprimoramentos. Hoje, oferece cursos de gestão, bovinocultura, fruticultura, mecanização, olericultura e piscicultura, além de oficinas práticas sobre agrofloresta, meliponicultura e trânsito rural, sempre com foco na aplicação prática e no desenvolvimento integral dos jovens.
“O JAA é uma das iniciativas mais transformadoras do Sistema Faep. Em 20 anos, vimos jovens que poderiam ter deixado o campo se tornarem profissionais, empreendedores e até instrutores que multiplicam esse conhecimento. Isso mostra a força da educação para o futuro do agronegócio e para a sucessão na propriedade”, afirma Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema Faep.
Ao longo de 20 anos, mais de 64 mil jovens já passaram pelo programa, com uma distribuição equilibrada entre os gêneros: 50,95% homens e 49,05% mulheres. Esses números mostram o pioneirismo do JAA, refletindo o compromisso em oferecer oportunidades iguais, mostrando que, no campo, mulheres e homens têm espaço para aprender, crescer e assumir papéis de liderança.
Retorno como instrutores
Entre os exemplos de jovens que enxergaram oportunidades de carreira dentro do agronegócio a partir do JAA, está Vinicius Romagnollo, de São Pedro do Ivaí, na região Norte do Paraná. Filho de produtores rurais, ele morou na propriedade até os 18 anos e iniciou no JAA aos 14, em 2013, no módulo “Preparando para gestão”. “Eu já mexia com lavoura de grãos, tinha vontade de ser produtor, mas não sabia se queria fazer faculdade. Foi uma baita experiência”, lembra.

Romagnollo (à frente) é instrutor do JAA desde 2022
O contato com a dinâmica do agronegócio, aliado ao estímulo da instrutora, despertou em Romagnollo o interesse por uma graduação. Em 2015, aproveitou a chance de cursar o módulo específico de mecanização agrícola. “Ali decidi seguir uma faculdade em que pudesse trabalhar na área. O JAA deu visão profissional e confirmou minha escolha”, conta.
Após se formar em Engenharia Agrícola na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2022, Romagnollo retornou ao JAA como instrutor, conduzindo turmas dos módulos “Gestão rural” – antigo “Preparando para gestão” – e “Mecanização agrícola”, além de outros cursos do Sistema Faep. Hoje, ele concilia a atividade de instrutoria com o trabalho na propriedade dos pais, cultivando soja e milho.
“O JAA abriu minha visão para o mundo, pois foi a primeira oportunidade de sair da propriedade. Mesmo quem não vai seguir no agro leva aprendizados para a vida”, destaca Romagnollo.
Já em Prudentópolis, na região Centro-Sul do Paraná, Gian Ricardo Grechinski tinha planos de deixar o campo e fazer curso técnico em informática. Mas, no último ano do Ensino Médio, o JAA mudou o rumo de sua trajetória. Os módulos de gestão e olericultura abriram sua visão para as oportunidades do meio rural e despertaram o interesse pela Agronomia.
A experiência foi tão marcante que Grechinski ingressou na faculdade já com a meta de se tornar instrutor do Sistema Faep. “Sempre gostei de ensinar e pensei em usar esse conhecimento para transformar a realidade das propriedades rurais”, lembra. Formou-se em 2018 e, dois anos depois, voltou às salas de aula como instrutor. “É especial poder dizer aos alunos que já estive no lugar deles, com as mesmas dificuldades. Isso aproxima e mostra que o jovem pode trilhar esse caminho, basta acreditar e se dedicar”, afirma.
Hoje, além do JAA, ele atua em cursos voltados para o cultivo de morango, sua área de especialização, e se dedica à suinocultura, atividade da família há 30 anos. “O JAA também ajudou na questão da sucessão e da gestão para a viabilidade do negócio rural”, complementa.
Para Grechinski, o programa foi determinante na escolha profissional e também na forma de enxergar a propriedade rural como um negócio viável e lucrativo. “Hoje, sei que é possível viver bem no campo, empreender em pequenas áreas e transformar a realidade local. Resumindo, o JAA prepara a nova geração para o futuro do campo”, conclui.
Mudança de rota
Para outros jovens, o programa serviu de ponto de virada. Paola Cristine Arboit, de Mangueirinha, no Sudoeste do Estado, entrou no JAA em 2018, planejando cursar Medicina. Apesar de ter crescido na propriedade da família, não pensava em trabalhar na área.

Paola desistiu de cursar Medicina para seguir no agronegócio
“Eu via o agro como algo comum da rotina da família, mas não entendia a dimensão e a importância que tem para o Brasil e para o mundo. Com o JAA, compreendi melhor esse universo e passei a valorizar ainda mais estar presente e trabalhar no campo”, conta. “Eu estava decidida a cursar Medicina, mas percebi que não me identificava com essa profissão. No JAA, conheci a função do engenheiro agrônomo e todas as áreas em que pode atuar. Então percebi que, escolhendo essa profissão, estaria fazendo algo que realmente gosto e ainda daria continuidade à nossa propriedade”, complementa.
Hoje, prestes a se formar em Agronomia, Paola atua ao lado do pai na propriedade, onde a família cria bovinos de leite e cultiva soja, milho, feijão e trigo. Ela reconhece que o programa ampliou sua visão sobre planejamento e organização dentro da propriedade, além de despertar sua verdadeira vocação.
“O JAA aproxima teoria e prática, traz aos jovens uma visão técnica daquilo que muitos já vivenciam no dia a dia, estimula a permanência nas propriedades e abre espaço para inovação. É uma forma de preparar as novas gerações para enfrentar os desafios do agro e aproveitar as oportunidades que o setor oferece”, afirma.
Outra história inspiradora é a de Ellen Elaine Wojcik, de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que participou dos módulos de gestão do JAA em 2012 e de pecuária leiteira em 2013. Na época, Ellen acreditava que seguiria carreira na fotografia e até fez um curso na área. Apesar de ajudar a família nas atividades rurais, não se via no agro. Mas tudo mudou com a experiência no programa. “O JAA mostrou que essa área tinha mais a oferecer do que eu imaginava. Abriu minha mente para novas possibilidades. Foi aí que deixei a fotografia de lado e decidi buscar uma carreira ligada ao campo e aos animais”, conta Ellen.
Durante o programa, atividades práticas envolvendo gestão, liderança e contato direto com a agropecuária despertaram sua vocação pela Medicina Veterinária. Ela lembra do aprendizado sobre planejamento da propriedade e cuidados com os animais, como castração e manejo de bezerros, ensinamentos aplicados na propriedade da família. “Nunca esqueço o dia em que pude colocar esse aprendizado em prática em casa: castrei meu primeiro porquinho, ajudando meu avô, que já não tinha mais condições de fazer isso por questões de saúde. Me senti realizada, porque realmente tinha habilidade e paixão para seguir nessa área”, recorda, emocionada.
Hoje, Ellen é médica veterinária, pós-graduada em clínica médica de pequenos animais, e administra uma clínica em Araucária. Recentemente, o espaço passou por uma ampliação, com mais estrutura e serviços, tornando-se referência no município e já recebendo prêmios.
Do JAA, ela guarda aprendizados que aplica até hoje, como controle financeiro, gestão da equipe e comunicação. “Esses aprendizados foram essenciais para transformar a clínica em referência”, resume. “O JAA foi a porta de entrada que transformou minhas dúvidas em propósito”, define.
Da sucessão à inovação
Entre os casos de transformação promovidos pelo JAA, também estão jovens que assumiram a sucessão das propriedades com visão profissional e inovação. Em Santana do Itararé, no Norte Pioneiro, os irmãos Thiago e Iago Alves transformaram a produção de leite da família em um negócio estruturado e lucrativo.

Os irmãos Thiago e Iago decidiram seguir no campo após formação no JAA
“Logo após comprarmos o sítio, meu pai sofreu um acidente, e eu e meu irmão tivemos que assumir a propriedade junto com nossa mãe. A produção era pequena, o trabalho pesado, e eu não via perspectiva. Eu imaginava que, quando crescesse, teria que buscar outra forma de renda, porque era complicado se sustentar com o sítio”, lembra Thiago. Na época, a família tirava leite manualmente de cinco vacas e produzia queijo para vender na cidade.
A participação no JAA, entre 2005 e 2006, foi decisiva para abrir a visão dos irmãos, que aprenderam técnicas de manejo, fluxo de caixa e gestão. “Ali eu enxerguei que poderia ter um futuro dentro da nossa propriedade como uma empresa, não apenas como um lugar para trabalhar”, afirma Thiago.
Incentivado pela instrutora do JAA, Thiago ingressou no colégio agrícola de Cambará, onde se formou técnico agrícola em 2009. Já com outro olhar sobre o futuro e sem pensar em trabalhar fora, ele decidiu aplicar o conhecimento adquirido na propriedade da família, dando continuidade ao sonho do pai.
Com estudo, dedicação e outros cursos do Sistema FAEP, os irmãos ampliaram e modernizaram a produção leiteira da família. Hoje, a propriedade conta com 75 animais, sendo 35 em lactação, sala de ordenha canalizada e barracão free stall, com capacidade para 50 animais. A produção média é de 30 litros de leite por vaca por dia. Atualmente, Thiago também participa do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Sistema Faep. “O JAA foi essencial para mudar nossa mentalidade, mostrando que, com conhecimento e trabalho em família, podemos transformar um sonho antigo em realidade. É um programa que pode mudar a vida”, conclui Thiago.
Descobrindo a vocação no campo
Nos Campos Gerais, a vida de Gean Augusto Vesselovitz mudou radicalmente aos 12 anos, quando seus pais deixaram Guarapuava para iniciar a produção de leite em um sítio em Campina do Simão, em meados de 2012. Além da adaptação à rotina no campo, a família não tinha experiência na área. Até que, no primeiro ano do Ensino Médio, Vesselovitz recebeu o convite para participar do JAA do Sistema Faep.

Vesselovitz atualmente trabalha com melhoramento genético de culturas, como soja e milho
“O JAA foi a introdução à agronomia para mim”, recorda. Durante o curso, ele começou a aplicar na propriedade os primeiros aprendizados do programa, como rotação de pastagens em piquete e indicadores de melhoria da qualidade do leite. “Eram coisas básicas, mas, como não éramos daquele meio, foram extremamente importantes”, acrescenta.
Ao concluir o JAA, Vesselovitz já tinha certeza sobre sua vocação. Cursou Agronomia na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), onde se formou em 2020. Em 2019, iniciou um estágio na GDM Seeds, multinacional especializada em melhoramento genético de sementes, e, antes mesmo de receber o diploma, passou em um processo seletivo para o cargo de supervisor de desenvolvimento de produtos.
Nos primeiros anos de carreira, ele trabalhou com o desenvolvimento de novas variedades de soja para o Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina, conduzindo ensaios a campo com dezenas de cultivares, gerenciando equipes e tomando decisões estratégicas baseadas em produtividade, sanidade e ciclo das plantas.
Essa experiência prática e a constante busca por aprendizado, inclusive no inglês, abriram portas para oportunidades internacionais. Em 2022, ele participou de um intercâmbio nos Estados Unidos pela empresa, onde visitou propriedades em 12 Estados ao longo de 50 mil quilômetros. “Foi um período incrível, que permitiu conhecer métodos de trabalho diferentes, aprimorar meu inglês e ampliar a visão sobre produção agrícola em larga escala”, comenta.
Hoje, Vesselovitz é especialista agronômico no setor de estratégia da GDM, trabalhando com melhoramento genético de soja, milho, trigo e girassol, com atuação em localidades como Argentina, Estados Unidos, Europa, África do Sul e China. “Participar do JAA foi o ponto de partida para tudo que construí. O programa não ensina apenas técnica, mas também responsabilidade, visão estratégica e capacidade de colocar a teoria em prática. É uma experiência que molda caráter e abre portas”, conclui Vesselovitz.
Programa do Sistema Faep fomenta inovação entre as novas gerações
Nos últimos anos, novas turmas do JAA continuam a transformar vidas e consolidar histórias de sucesso no agronegócio. No Oeste do Paraná, Marcus Vinicius Batista da Silva, egresso de 2017, em São João do Ivaí, e Carlos Eduardo Silva Ramos, de 2019, em Jussara, têm trajetórias distintas, mas compartilham um ponto em comum: ambos já tinham contato com o meio rural, mas ainda sem a certeza do caminho profissional.

Marcus Vinícius desistiu de ingressar na carreira de engenheiro civil e optou pela Agronomia
Marcus Vinicius cresceu em uma família produtora de soja e milho e, inicialmente, pensava em cursar Engenharia Civil. Já Carlos Eduardo ajudava a mãe e o padrasto nos aviários de frangos de corte, ainda sem planos futuros. Para ambos, o JAA foi um divisor de águas.
“O programa permitiu conhecer equipamentos, culturas da região e a importância da agricultura para o Brasil e o mundo”, lembra Marcus Vinicius. Além do conhecimento técnico, o JAA também desenvolveu habilidades como comunicação, liderança e trabalho em equipe. Hoje, ele cursa Agronomia, e, graças à indicação do instrutor no JAA, trabalha como consultor na Cooperativa Cocari, onde aplica diariamente os aprendizados do programa.
Carlos Eduardo, por sua vez, viu no JAA um caminho para descobrir sua paixão pelo agro. “O programa mostrou que o campo poderia ser meu futuro, com a valorização do jovem no meio rural”, recorda. Após o JAA, ele cursou Zootecnia, que concluiu este ano, e atualmente trabalha na Cooperativa C.Vale. Além disso, é vice-presidente da Associação Brasileira de Zootecnistas Jovens. “No meu dia a dia profissional, levo do JAA lições de liderança, disciplina e a importância de ouvir os produtores”, afirma.
Ambos destacam momentos marcantes do JAA que reforçaram o aprendizado prático. Marcus Vinicius lembra das gincanas finais, que uniam teoria e prática de forma divertida e colaborativa, enquanto Carlos Eduardo recorda atividades de manejo e sanidade, que, mais tarde, puderam ser aplicadas durante a graduação.
O legado do JAA é claro para os dois: transformar o contato com o campo em propósito e futuro. “A experiência mais marcante que pude ter na carreira”, resume Marcus Vinicius. “O JAA me mostrou que o campo não é apenas um lugar de trabalho, mas um espaço de realização e futuro”, complementa Carlos Eduardo.
JAA forma jovens para o futuro do campo paranaense
O Programa Jovem Agricultor Aprendiz (JAA) foi criado pelo Sistema FAEP para atender à demanda por capacitação profissional de jovens inseridos no meio rural paranaense. Inicialmente voltado para filhos de agricultores, o programa oferece formação prática e teórica, preparando-os para desempenhar atividades agrossilvipastoris de forma qualificada e consciente.
As primeiras turmas-piloto, realizadas em 2004, permitiram identificar desafios, como evasão escolar e dificuldade de contratação, além de apontar soluções eficazes, como parcerias com universidades e a melhoria da infraestrutura. Desde então, o JAA passou por constantes atualizações, ampliando conteúdo, carga horária e módulos especializados, sempre alinhado às necessidades da juventude rural e à realidade das propriedades familiares.
O programa combina formação em gestão rural com módulos específicos, preparando os jovens para o mercado de trabalho. No JAA, os participantes adquirem não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades de liderança e empreendedorismo, podendo escolher áreas de atuação compatíveis com seus interesses e com a cadeia produtiva regional.
Em 2023, o programa ampliou suas ações com oficinas educativas, fortalecendo habilidades práticas e desenvolvimento pessoal. Com isso, o programa busca desenvolver conhecimentos e atitudes que contribuem para a qualidade de vida, a participação social e o crescimento sustentável das comunidades rurais. “O JAA prioriza metodologias ativas, estimulando a participação, a construção coletiva do conhecimento e a aplicação prática do aprendizado. As aulas criam um ambiente de confiança e acolhimento, propício ao desenvolvimento de cada participante”, resume Márcia Pereira Salles, técnica do Sistema Faep responsável pelo programa. “Com mais de 20 anos de história, o JAA consolidou-se como referência nacional na formação de jovens rurais, promovendo inovação, sustentabilidade, valorização cultural e desenvolvimento profissional no meio rural paranaense”, conclui.



