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Mais uma vez, El Niño preocupa produtores de grãos e ameaça resultados da safra 2023/2024
Fenômeno climático que reduz volumes hídricos pode causar perdas de 10% a 20% na safra dos principais grãos cultivados no Maranhão.
Não é de hoje que o fenômeno climático El Niño assombra produtores rurais em todo o mundo, alterando o regime pluviométrico e fazendo com que a escassez de chuvas impacte duramente no campo, especialmente nas lavouras de grãos. De acordo com a Aprosoja-Brasil, a safra 2023/2024 de soja, por exemplo, está estimada em 135 milhões de toneladas, número que é 20 milhões de toneladas menor que o esperado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – que divulgou que a colheita seria de 155,3 milhões de toneladas.
Continuando as previsões preocupantes, o quinto levantamento da consultoria Datagro estimou a safra de soja do Brasil em 148,55 milhões de toneladas; 2,8% menos que a pesquisa anteriormente divulgada.
No Maranhão, as notícias também não são tão animadoras. Cultura de maior expressão no estado, a soja ocupa, segundo o prognóstico do IBGE para 2024, uma área de aproximadamente 1,2 milhão de hectares, que produzem, em média, 3,2 toneladas por hectares, uma projeção que estava estimada em 3,8 milhões de toneladas. Mas o El Niño deve frustrar essa expectativa em 10 a 15%, segundo levantamento feito pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão (Faema) junto aos sindicatos rurais filiados.
“Até o momento não percebemos os efeitos do El Niño de forma tão impactante como ocorreu na safra de 2015/2016, mas, é inegável que esta queda da produção, aliada à retração do preço deste cereal nas principais Bolsas de Valores Internacionais deve gerar sérios prejuízos ao produtor, levando muitos deles à necessidade de renegociar as suas dívidas, ou mesmo se tornarem inadimplentes”, alerta o consultor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Maranhão (Senar), César Viana.
Milho Safrinha
Já as lavouras de milho, segundo as observações da Faema, devem registrar prejuízos de mais de 20%, principalmente na segunda safra, conhecida como safrinha, e plantada logo após a colheita da soja. “Esta queda da produção em proporção maior que a da própria soja se deve ao fato de que o atraso no plantio da soja, ou, em alguns casos a necessidade do replantio em razão da irregularidade climática, deixou muito apertada a janela para o plantio sequencial do milho, desestimulando, consequentemente, o seu plantio”, explica Viana.
Otimismo
A contramão dos resultados de retração só é observada nas lavouras de arroz de médios produtores que atuam na região polarizada pelo município de São Mateus, e que usam um padrão tecnológico mais moderno, seguindo práticas recomendadas pela Embrapa, e sementes melhoradas, normalmente distribuídas por futuros compradores e/ou industriais.
Por lá, reina um clima de otimismo em função da expectativa de melhores preços para o produto a ser obtido pela safra atual, que segundo informações dos sindicatos filiados à Faema já alcança valor 20% superior ao praticado na safra passada. “Entretanto, esse é um resultado particular, pois sabemos que a maior parte da produção de arroz no Maranhão acontece de forma rudimentar, com pouco ou nenhum uso de tecnologia, e técnicas consideradas superadas e não recomendadas por instituições de referência como o Senar e a Embrapa”, destaca o especialista.
Nessas pequenas lavouras, oriundas quase que totalmente da agricultura familiar, além dos impactos climáticos, a produção do cereal está sujeita a ocorrência de pragas e doenças que comprometem significativamente o resultado da safra.
Apoio
As projeções negativas para a safra de grãos 20234/2024 fizeram com que a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) apresentasse uma proposta ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), constando, basicamente de três grandes linhas de ações: ações para o crédito rural – incluindo prorrogação de prazo e renegociação de dívidas, e abertura de novas linhas emergenciais -, instrumentos de política agrícola para garantir a comercialização e abastecimento, e a gestão de risco por meio da suplementação de recursos do Programa de Seguro Rural.
“Esse movimento nacional tem o objetivo de beneficiar os produtores de grãos em todo o país. Assim, acreditamos que estamos contribuindo para manter o protagonismo do país na produção de uma de suas principais commodities, garantindo a qualidade na produção de alimentos, tendo em vista que os grãos são parte essencial da dieta dos animais que fornecem proteína à nossa população, e preservando os milhares de empregos gerados pelo agronegócio não só diretamente na cadeia produtiva de grãos, mas em todas as cadeias produtivas correlatas”, avalia o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão, Raimundo Coelho.
Notícias
Carrefour boicota carne do Mercosul: decisão é vista como protecionismo
Suspensão das compras de carne pelo Carrefour francês reforça críticas ao protecionismo europeu contra o agronegócio brasileiro.
A decisão do Carrefour de parar de vender carne proveniente dos países do Mercosul, incluindo o Brasil, gerou fortes reações. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) classificou a medida como “lamentável” e reafirmou que o Brasil segue os mais altos padrões de qualidade e sustentabilidade na produção agropecuária. O anúncio foi motivado por pressões do sindicato agrícola francês FNSEA e alegações relacionadas ao impacto ambiental.
“O Brasil tem uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo. Atendemos a padrões que garantem a rastreabilidade e qualidade das nossas exportações para 160 países, incluindo a União Europeia há mais de 40 anos”, destacou o Mapa, que acusou a medida de ser infundada e prejudicial à reputação do agronegócio nacional.
O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, também criticou duramente a decisão. “Essa atitude é claramente protecionista. Não há motivos razoáveis para essas restrições. O Brasil é o maior exportador de alimentos do mundo e seguimos rigorosos padrões ambientais e sanitários”, afirmou. Ele sugeriu que os brasileiros adotem uma resposta proporcional ao boicote. “Se eles boicotam nossos produtos, devemos reconsiderar a compra de produtos dessa rede.”
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento (Apex-Brasil) reforçou que o Brasil desempenha um papel essencial na segurança alimentar global. A Apex classificou como “lamentável” a postura da rede francesa, que poderia prejudicar as relações comerciais e a imagem do Brasil no cenário internacional.
O impacto da decisão também acende debates sobre a relação entre medidas ambientais e práticas protecionistas, muitas vezes vistas como barreiras não tarifárias. Especialistas alertam que atitudes como esta podem prejudicar os esforços globais de segurança alimentar em um momento crítico de demanda crescente.
O que está em jogo?
Enquanto o Carrefour cede à pressão interna, o Brasil continua sua luta por reconhecimento no mercado global, reafirmando a qualidade e sustentabilidade de seus produtos. Para muitos, a decisão francesa representa mais uma batalha na complexa relação entre o Mercosul e a União Europeia.
Notícias Em São Paulo
‘Conta do Boi’ aponta caminhos para produzir mais e melhor na pecuária
Tema central da Feicorte foi debatido no âmbito da cria e recria durante o segundo dia da feira, em Presidente Prudente.
O tema “conta do boi” norteou os debates do segundo dia da Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, evento que reúne diversos elos da cadeia da pecuária brasileira, e vai até sexta-feira, 23/11, em Presidente Prudente (SP).
O tema central da feira visa oferecer subsídios e informações que auxiliem o pecuarista a produzir mais e melhor, analisando o sistema de produção em sua propriedade e apontando os fatores que podem ser aperfeiçoados para potencializar os resultados de cada fase.
“Toda a estrutura da ‘conta do boi’ está baseada nos três ciclos principais: cria, recria e engorda, que foram divididos em três painéis, além de um quarto dedicado ao mercado. Hoje, iniciamos os debates destacando as duas primeiras fases, com informações que auxiliem o pecuarista”, explicou o diretor de Mercado Corte da Semex Brasil, Daniel Carvalho, moderador do Fórum Feicorte.
De acordo com o moderador, o painel destacou elementos importantes que mostram que exercer a atividade sem planejamento, profissionalismo, uso de tecnologia e boa execução tende a ser tratado de forma ‘improvisada’, algo que não é mais aceito na pecuária. “Quanto mais profissionais formos na gestão dos recursos, no consumo eficiente, na administração dos insumos e no aproveitamento das informações compartilhadas em eventos como este, mais assertivos seremos em aumentar a produtividade. A mensagem principal é clara: podemos produzir mais. Mas a questão crucial é: como? Para isso, é essencial reconhecer que o mercado está mais oportuno do que nunca nos últimos três anos”, salienta Carvalho.
O médico-veterinário, pecuarista e editor do informativo de mercado pecuário “Notícias do Front”, Rodrigo Albuquerque abordou, em sua apresentação, temas essenciais para a pecuária, como a recuperação do mercado em 2024 e estratégias para aumentar a lucratividade no sistema de cria. Ele destacou as cinco etapas da virada de ciclo pecuário: “Tudo começa com a recuperação do preço nominal do bezerro, seguida pela redução no abate de fêmeas, valorização do boi, recuperação do preço real e, por fim, o aumento dos preços em todas as categorias até o limite da demanda”.
O consultor técnico Rogério Fonseca discutiu a eficiência no sistema de cria, enfatizando a gestão da lotação e o manejo estratégico: “A retirada precoce dos animais da seca permite melhores condições corporais para vacas e novilhas, aumentando a eficiência reprodutiva”.
Fechando o painel, o médico-veterinário e proprietário da empresa Firmasa Tecnologia para Pecuária, Luciano Penteado destacou o papel da gestão integrada: “É fundamental equilibrar a gestão financeira e produtiva. Quem ignora uma dessas áreas corre o risco de sofrer com perdas significativas”.
A cobertura completa do painel está disponível, clicando aqui.
A conta da recria
O segundo painel do Fórum Feicorte debateu a conta do boi, discutindo os desafios e soluções para a recria. O médico-veterinário Rodolfo Saraiva abordou os impactos da saúde animal na rentabilidade da pecuária, destacando como problemas sanitários, como clostridioses e verminoses, podem afetar a produtividade. Ele sugeriu medidas preventivas, como a vacinação e o controle de parasitas, e ressaltou ganhos de até 20 quilos por animal com manejo adequado.
Em seguida, o professor Rodrigo Goulart, da USP, falou sobre a importância da recria no ciclo produtivo, enfatizando a necessidade de estimular o crescimento muscular e evitar a deposição de gordura. Goulart também destacou a variabilidade dos bezerros adquiridos em leilões e a importância do planejamento financeiro para garantir um bom custo-benefício.
O diretor da Agropecuária Maragogipe, Lucas Marques destacou que o sucesso na recria de bovinos está diretamente ligado à união de três pilares: método, conhecimento do negócio e gestão de pessoas. Para ele, esses elementos precisam estar alinhados para gerar resultados consistentes. “É possível ter a melhor genética, o manejo mais avançado e os melhores insumos, mas, sem integrar esses pilares, o resultado não vem”, afirmou. Marques reforçou que estratégias bem definidas e equipes capacitadas são indispensáveis para fechar a conta na pecuária moderna.
“A Feicorte é reconhecida por oferecer conteúdo e informações que contribuem para a evolução da pecuária, incentivando a troca de experiências e conectando o campo, o mercado e as instituições de pesquisa. Os painéis da ‘conta do boi’ têm como objetivo ir além, detalhando cada etapa do processo produtivo, sempre com foco no desenvolvimento sustentável e no fortalecimento da pecuária brasileira”, destaca a CEO da Verum e organizadora da Feicorte, Carla Tuccilio.
A cobertura completa pode ser conferida aqui.
Pecuária solidária arrecada R$ 600 mil para Núcleo Ttere
O Leilão Pecuária Solidária, realizado na noite da última terça-feira (19/11), durante a Feicorte, arrecadou mais de R$ 600 mil destinados ao Núcleo Ttere de Trabalho – Realização, uma entidade assistencial que promove a inclusão social de pessoas com deficiência na região.
Entre os itens leiloados estavam bovinos, equinos, sêmen, insumos agropecuários, equipamentos, joias, tapetes, além de outros itens doados. A iniciativa reforçou a responsabilidade social do setor agropecuário, dando visibilidade a causas sociais.
“O engajamento dos pecuaristas de Presidente Prudente foi excepcional e estamos extremamente felizes com o resultado. O Leilão Pecuária Solidária arrecadou R$ 600 mil, valor que será destinado a uma entidade de confiança, o Núcleo Ttere, que realiza um trabalho maravilhoso e de grande impacto social. Agradecemos imensamente a todos do setor que apoiaram essa causa e à organização da Feicorte, que está sendo um verdadeiro sucesso. O evento começou com uma grande proporção e tem recebido muitos elogios. Ajudar quem precisa é algo que não tem preço. Muito obrigado a todos que contribuíram!”, declarou o secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Guilherme Piai.
Carne como protagonista
Ampliar a percepção da sociedade sobre a qualidade e a origem da carne brasileira. Esse é o objetivo da Beef Hour, um espaço na Feicorte que reúne projetos, marcas de sucesso e profissionais que contribuem para a construção de uma carne de confiança, abrangendo toda a cadeia produtiva até o consumidor final.
São três painéis, um por dia, com grupos de especialistas diferentes, focados na discussão da carne bovina de qualidade, privilegiando o debate e a interação com o público.
Na agenda de hoje, participaram dos bate-papos o proprietário do restaurante Vermelho Grill, Eduardo Fornari; o zootecnista e pesquisador, Gustavo Rezende; o proprietário da Celeiro Carnes Especiais, Marco Túlio Soares e o agrônomo e consultor Roberto Barcellos.
Notícias
Agro brasileiro conquista quatro novos mercados na China
Ministro da Agricultura destaca potencial de comércio de US$ 450 milhões por ano.
Principal parceiro comercial do Brasil, a China abriu quatro mercados para produtos da agropecuária brasileira em acordos firmados por ocasião do encontro bilateral entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping na última quarta-feira (20), em Brasília. Com isso, o Brasil registra a conquista de 281 mercados agropecuários desde o início de 2023.
São quatro protocolos firmados entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a Administração Geral de Aduana da China (GACC) que estabelecem os requisitos fitossanitários e sanitários para a exportação dos produtos.
Em uma pauta diversificada, que beneficia produtores de diferentes regiões do Brasil, uvas frescas, gergelim, sorgo e farinha de peixe, óleo de peixe e outras proteínas e gorduras derivadas de pescado para alimentação animal poderão ser comercializados na China.
O anúncio foi feito pelo presidente Lula em declaração à imprensa após a reunião ampliada com o presidente chinês, no Palácio do Alvorada.
“O agronegócio continua a garantir a segurança alimentar chinesa. O Brasil é, desde 2017, o maior fornecedor de alimentos da China”, ressaltou o presidente Lula.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou das cerimônias por ocasião da visita oficial e destacou a importância da retomada da boa relação diplomática entre Brasil e China, que completou 50 anos neste ano de 2024.
“O Brasil já se mostrou um país confiável na posição de maior fornecedor de alimentos e energia renovável e podemos continuar ampliando cada vez mais as parcerias, pois temos gente vocacionada, tecnologia e condições de intensificar nossa produção com sustentabilidade”, destacou o ministro Carlos Fávaro.
Considerando a demanda chinesa dos produtos frutos dos protocolos assinados ao longo de 2023 e a participação brasileira nesses mercados, o potencial comercial é de cerca de US$ 450 milhões por ano, conforme estimativa da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Mapa.
“Mas se levarmos em conta outras variantes de mercado e o potencial brasileiro, podemos comercializar muito mais, ultrapassando a cifra de US$ 500 milhões por ano. Nestes 4 produtos a China importa quase US$ 7 bilhões e o Brasil vem se consolidando cada vez mais como um parceiro estratégico, confiável e seguro para a China”, explicou o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Luis Rua.
Maior importadora de gergelim do mundo, com participação de 36,2% nas importações globais do produto, a China desembolsou US$ 1,53 bilhão em 2023 na compra deste produto. Já o Brasil, que ocupou a sétima colocação nas exportações, representando 5,31% do comércio mundial, vem aumentando sua área de plantio do pulse.
Da mesma forma, o país asiático é o principal importador da farinha de pescado (US$ 2,9 bilhões em importações em 2023). O Brasil registrou participação de 0,79% das exportações mundiais no ano passado.
No sorgo, a participação brasileira é de 0,29% no mercado mundial. A China importou US$ 1,83 bilhão deste produto no ano passado, sendo a maior parte dos Estados Unidos.
Após crescimento exponencial e recorde de exportações de uvas frescas, o produto brasileiro chega aos consumidores chineses com registro de 2% no comércio mundial desta fruta. A China é um grande consumidor de uvas premium e importou mais de US$ 480 milhões deste produto no ano passado.
No caso das uvas frescas de mesa, deverão ser exportadas frutas majoritariamente dos estados de Pernambuco e da Bahia. Pomares, casas de embalagem e instalações de tratamento a frio devem cumprir boas práticas agrícolas e ser registrados no Mapa.
Já as empresas exportadoras de farinha de peixe, óleo de peixe e outras proteínas e gorduras derivadas de pescado para alimentação animal devem implementar o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) ou sistema de gerenciamento com base nos princípios da APPCC; estabelecer e executar um sistema para garantir o recall e a rastreabilidade dos produtos; ser aprovadas pelo lado brasileiro e registradas pelo lado chinês. O registro será válido por 5 anos.
As matérias-primas devem ser provenientes de pescado (exceto mamíferos marinhos) capturados na zona marítima doméstica ou em mar aberto e da criação de pescado em cativeiro, ou de subprodutos de pescado provenientes de estabelecimentos que manuseiam pescado para consumo humano.