Notícias Chuvas em Santa Catarina
Levantamento preliminar da Epagri aponta cadeias produtivas mais prejudicadas
Dificuldades de armazenamento e escoamento das produções nas regiões atingidas podem elevar as perdas financeiras nos próximos dias.

A Epagri iniciou o levantamento de perdas no meio rural catarinense, após as fortes chuvas que atingiram as regiões Litorânea, Planalto Norte e Vale do Itajaí, entre 26 de novembro e 1º de dezembro. Até a segunda-feira (05), muitas áreas rurais atingidas ainda permaneciam isoladas, com acessos prejudicados por terra e sem sinal de internet, celular, ou até sem luz, o que vem dificultando um trabalho mais minucioso da Epagri na apuração das perdas.
Contudo, já é possível estimar que a olericultura foi a cadeia produtiva mais atingida, com perdas concentradas principalmente na Grande Florianópolis. No Norte de Santa Catarina, além das hortaliças, a banana também sofreu prejuízos, enquanto que o arroz não foi tão prejudicado, em decorrência de seu estado vegetativo. No Alto Vale do Itajaí, a preocupação é com a cebola. Dificuldades de armazenamento e escoamento das produções nas regiões atingidas podem elevar as perdas financeiras nos próximos dias.
A previsão do tempo da Epagri/Ciram indica que, entre quarta-feira (07) e sábado (10), não há indicativo de chuva no Estado catarinense. Contudo, a orientação para a população é permanecer atenta ao site da instituição, onde será divulgado qualquer novo risco relacionado à condição de tempo no Estado.
Grande Florianópolis
Na região da Grande Florianópolis, as chuvas afetaram principalmente a produção de hortaliças, além de gado de corte e de leite. A falta de energia e a dificuldade de escoamento da produção devem elevar os prejuízos nos próximos dias, avalia a gerente regional da Epagri, Adriana Tomazi Alves. Também estão sendo apurados prejuízos na maricultura em Palhoça, Florianópolis e São José.
Ela relata que dos 20 municípios compreendidos pela regional da Epagri, pelo menos 18 registraram perdas no meio rural até esta terça-feira (06). Santo Amaro da Imperatriz, Angelina, Águas Mornas, São Pedro de Alcântara, São João Batista e Antônio Carlos estão entre os mais afetados.
Em Santo Amaro, Águas Mornas e São Pedro as lavouras de hortaliças foram prejudicadas. Marcelo Zanella, extensionista da Epagri na região, explica que os solos de lavouras inteiras foram removidos pela erosão, o que deve dificultar a retomada das atividades.
Em Angelina, a falta de luz e de acesso às áreas rurais está impactando gravemente a capacidade de armazenamento da produção em câmaras frias, bem como o escoamento dos produtos colhidos. O resultado será o crescimento das perdas financeiras nos próximos dias.
As propriedades rurais de Antônio Carlos registraram perdas significativas na produção de hortaliças folhosas. Marcelo explica que a alface é produzida prioritariamente em regiões ribeirinhas, o que fez com que a força das águas removesse lavouras inteiras. “A perda média é de R$ 30 mil com cada hectare de alface perdido”, calcula o extensionista.
Em São João Batista, os prejuízos nas áreas rurais estão concentrados em mandioca, fumo e morte de gado de corte. A colheita da cebola foi prejudica em Angelina, Rancho Queimado e um pouco em Major Gercino. A falta de energia elétrica que persiste em muitos municípios da região pode impactar também a produção de aves e o armazenamento de leite.
A cultura da cebola foi a mais afetada pelas chuvas na região do Alto Vale do Itajaí, mais especificamente no entorno de Rio do Sul. Segundo Daniel Rogério Schmitt, extensionista da Epagri, há grandes dificuldades para fazer a colheita com o tempo chuvoso. Quando ocorrem intervalos sem chuva, como no sábado, 4, por exemplo, os produtores contratam o máximo de trabalhadores que conseguem para colher ou recolher os bulbos, tendo em vista a grande procura pelo produto.
Mesmo recolhidas, as cebolas permanecem úmidas o que dificulta a classificação e comercialização. Ele estima que cerca de 20 % da cebola da região já foi colhida e, talvez, entre 10 e 15% tenha sido comercializada. “Cebolas colhidas com solo úmido trazem terra nas raízes e nos bulbos e, como não estão secas, sofrem mais danos nas máquinas limpadoras e classificadoras”, descreve o extensionista.
Também há problemas com o transporte das lavouras para os galpões e dos galpões para as unidades classificadoras por causa das estradas enlameadas. O transporte nos caminhões também exigiu mudanças nos roteiros, com a maior dificuldade de chegar aos grandes centros consumidores – como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – devido às quedas de barreiras e aos desvios necessários nas rodovias. Assim, os preços ao produtor que tinham recuado para R$ 4 a 4,5/kg no início da semana passada retornaram para R$ 6/kg devido à falta de produto seco no mercado.
Devido ao frio tardio, entre outubro e novembro, ocorreu florescimento dos bulbos em muitas lavouras (média de 15%). “Cebolas florescidas em geral são descartadas, mas nesse ano, devido à procura do produto, são comercializadas pela metade do preço normal”, informa Daniel.
Nas demais culturas vigentes no Alto Vale é possível relatar atraso nas colheitas de trigo e dificuldade na colheita de tabaco, além de atraso na semeadura de soja. “Mas, ainda são situações recuperáveis, especialmente com a melhora das condições climáticas previstas para o final dessa semana”, avalia o técnico da Epagri.
Planalto Norte
Os municípios de Rio Negrinho, São Bento Sul e Campo Alegre sofreram com perdas em áreas de olericulturas e em algumas lavouras de tabaco. Nas áreas de encostas de Corupá e Jaraguá do Sul, os bananais foram prejudicados. A cobertura de seguro nestas culturas pode diminuir um o impacto das perdas, analisa Getúlio T. Tonet, extensionista da Epagri na região. Ele calcula que os maiores prejuízos estejam no transporte das produções, dificultado pelas quedas de barreiras nas rodovias de acessos ao litoral.
De acordo com o extensionista, as condições climáticas ocorridas entre novembro e início de dezembro são favoráveis às culturas exploradas na microrregião de Canoinhas. Os primeiros 20 dias de novembro foram de poucas precipitações, o que favoreceu as colheitas das culturas de inverno (aveia e trigo). Já nos últimos 10 dias de novembro as precipitações foram mais constantes e de volumes mais expressivos, porém, benéficas para as culturas de verão (feijão-preto, milho e soja).
A região já colheu 10% das áreas de tabaco, com folhas de boa qualidade e bom peso.
Sul
Até a segunda-feira, 5, a região Sul do Estado ainda tinha áreas alagadas, principalmente na microrregião de Tubarão, que deve concentrar as maiores perdas e onde se localizam áreas de arroz, milho, soja, feijão, fumo, batata, pastagens, etc, explica Cleverson Buratto, extensionista da Epagri.
Os acessos às áreas no interior dos municípios foram prejudicados por queda de pontes e alagamento de estradas, que impedem ou dificultam o escoamento da produção, aumentando os custos ou até mesmo ocasionado perdas em hortifrutigranjeiros e leite, por exemplo.
Levantamento preliminar da Epagri aponta que as microrregiões de Araranguá e Criciúma não enfrentaram maiores problemas com relação a alagamento das propriedades. Os prejuízos ficaram restritos ao excesso de chuvas e umidade, o que afeta as hortaliças e aumenta os custos de produção com controle fitossanitário.
Litoral Norte
O Litoral Norte do Estado enfrentou volume de chuva bastante significativo entre 26 de novembro e 5 de dezembro. As estradas do interior ficaram muito avariadas, deixando as condições de tráfego precárias e causando muitos transtornos.
Os arrozais de praticamente todos os municípios da região sofreram com inundação. As áreas inundadas variaram de 10 a 30% na maioria dos municípios, mas chegaram a 50 a 70% em Guaramirim e Schroeder, que foram atingidos por maior volume de chuva.
A boa notícia é que inundação de dois a três dias no período de desenvolvimento vegetativo não provoca muitos danos nas lavouras de arroz, informa Adriana Andréa Padilha, extensionista da Epagri na região. O arroz se recupera e as plantas continuam a se desenvolver. Não foram constatados acamamentos e amarelecimentos das plantas depois que a água baixou. As áreas atingidas ainda não estavam na fase de florescimento, o que poderia causar um dano muito maior.
Até a segunda-feira, 5, poucas áreas de arroz permaneciam inundadas. Inundações por um período mais prolongado podem resultar em prejuízo maior, com amarelecimento e apodrecimento das plantas. “Contudo, os percentuais de danos só poderão ser dimensionados com o passar do tempo”, esclarece a extensionista.
Os bananais da região foram afetados em menor extensão do que os arrozais, porém houve perdas estimadas entre 5 a 10% da produção em alguns municípios, causadas por tombamento das plantas e atraso na colheita. O transporte da produção foi prejudicado pela condição precária das estradas, o que aumenta o percurso e o custo. O excesso de umidade também poderá provocar algum ataque de pragas nos bananais e algum atraso no desenvolvimento futuro.
Na produção de hortaliças, houve perda em plantas que estavam prontas para colheita ou recém-semeadas, em áreas que ficaram alagadas. A produção em abrigo não foi afetada, pois os ventos não foram fortes. Como são culturas de ciclo curto, o prejuízo é recuperado mais rapidamente.
Na pecuária, há relatos de alguns animais arrastados pela correnteza na madrugada do dia 5, mas a Epagri ainda não tem o número exato.
Nos 34 municípios da região, os maiores prejuízos são na área de infraestrutura, com a destruição de estradas, deslizamentos e avarias em pontes. Nas propriedades rurais também foram observados pequenos deslizamentos de terra.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
Notícias
Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.




