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Avicultura

Lesões de pele em carcaças de frangos de corte

Manter as condições de ambiência na etapa de apanha, em especial tranquilidade ao manipular os animais e baixa iluminação, é imprescindível para minimizar a movimentação animal durante a apanha e as perdas de qualidade da pele da carcaça.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Lesões de pele em carcaças de frango é um assunto que desperta interesse para a indústria avícola mundial moderna em função de acarretar prejuízos aos produtores e aos abatedouros-frigoríficos, os quais decorrem da condenação parcial ou total das carcaças, da redução no valor do produto final, do aumento no custo da mão-de-obra e da redução na velocidade do processamento industrial.

Os frangos de corte vêm apresentando, na atualidade, desempenho muito superior ao obtido no passado, e a prevalência de lesões de pele tem aumentado, muito provavelmente por causa das modificações efetuadas no processo de criação em escala industrial dos mesmos, tais como condições ambientais tecnificadas, tipo de galpões, uso de densidade populacional mais alta e de linhagens de alto desempenho, bem como maiores desafios no campo.

O objetivo deste artigo é abordar os principais fatores de risco associados com a incidência de lesões de pele em carcaças de frangos de corte e apontar estratégias para minimizar a manifestação de tais problemas.

Contextualização e classificação das lesões

Por ser um órgão muito extenso e que envolve todo o corpo da ave, a pele é muito atingida por injúrias, agravadas por fatores de manejo, imunodepressivos e infecciosos podendo ser virais, bacterianos ou micóticos. A maioria das lesões são inespecíficas e se caracterizam por distintas alterações macroscópicas como mudança na espessura e rompimento da pele, alterações de coloração e aspecto, erosões, úlceras ou nódulos na superfície tegumentar, aumento dos folículos das penas, danificando a estrutura do tecido e consequentemente acarretando a diminuição da qualidade visual da pele.

Apesar de a pele representar uma barreira notavelmente eficaz contra as infecções, estas podem se estabelecer caso surja uma “porta de entrada” para um agente bacteriano através de uma injúria física. Normalmente, se o animal apresenta bom status imunitário e saudabilidade, estas infecções não se estabelecem. Considerando que a suscetibilidade da ave a uma infecção é dependente da resistência (capacidade dos sistemas anatômicos e fisiológicos, incluindo o sistema imune, em excluir patógenos) e da persistência de produção (capacidade em manter a sua aptidão produtiva) é crucial a manutenção do status imunitário e da saúde animal, além de um ambiente capaz de permitir que os animais tenham condições de expressar seu potencial genético e seu comportamento natural.

O Serviço de Inspeção Oficial agrupa as doenças cutâneas, exceto a celulite, em uma única categoria, denominada anteriormente como dermatose e mais recentemente como lesões cutâneas. A condenação de carcaças de frangos de corte por lesões cutâneas representa aproximadamente 30% das condenações parciais.

Em um levantamento de dados gerados pelo Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIGSIF) nos anos de 2012 a 2015, pesquisadores registraram que as condenações parciais e totais por dermatose atingiram 1,31% e 0,44% do total de aves abatidas (Gêneros Anser, Anas e Gallus), respectivamente. A ocorrência das lesões apresenta diferenças regionais e comportamento sazonal por estar relacionada com as condições ambientais de criação. Na inspeção post mortem, as avaliações são realizadas a partir de elementos macroscópicos de acordo com o aspecto visual e da localização de acometimento da lesão no corpo das aves.

Visando classificar cada tipo de lesão, sua possível origem e grau de severidade, a Figura 1 apresenta quatro pontos a serem considerados: (A) ordem de ocorrência (tempo do surgimento da lesão), (B) tecido atingido (profundidade da lesão), (C) exposição (ao meio externo e patógenos) e (D) severidade da continuidade (comprometimento da carcaça e cronicidade da lesão).

Figura 1- Diagrama de pontos relevantes para classificação de lesões cutâneas.

A maioria das lesões cutâneas encontradas nas carcaças dos frangos de corte nos abatedouros-frigoríficos são inespecíficas e não estão vinculadas a problemas de saúde pública.

Figura 2- Tipos de lesões cutâneas segundo tempo de ocorrência e exposição do tecido. A: Lesão cutânea fechada antiga (cicatrizada). B: Lesão cutânea fechada recente. C e D: Lesão cutânea aberta.

Em contrapartida, podem ser observadas doenças da pele em aves que incluem a varíola, a Síndrome gordurosa, o carcinoma epidermóide de células escamosas, a forma cutânea da doença de Marek, doenças já diagnosticadas a campo e registradas na Ficha de Acompanhamento do Lote (FAL) e a celulite. O queratoacantoma aviário não é uma doença de importância para a saúde pública. Esta exibe lesões na pele que podem apresentar-se como áreas côncavas (superfície curva), esburacadas, com até 2 cm de largura. Já a Doença de Marek (forma cutânea) caracteriza-se por apresentar folículos de penas aumentados, geralmente com pele circundante de cor amarelada.

Figura 3- Tipos de lesões cutâneas segundo tecido atingido e grau de continuidade da lesão. A: Lesão cutânea aberta com inflamação profunda progredindo para celulite. B: Lesão cutânea em processo de cicatrização e necrose – Dermatose. C: Lesão cutânea em processo de cicatrização – Necrose. D: Escarificação amarela da camada queratinizada da epiderme (superficial).

Outra afecção relacionada a instalação de um processo inflamatório nas lesões cutâneas que é registrada separadamente na inspeção post mortem é a celulite. A celulite aviária, também conhecida como processo inflamatório ou infeccioso do tecido subcutâneo, é uma doença crônica da pele que se caracteriza pela presença de camadas de exsudato heterofílico caseoso.

A E. coli é a bactéria mais frequentemente isolada nestas lesões, embora outros agentes, como Pasteurella multocida, Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter agglomerans, Proteus vulgaris e Streptococcus dysgalactiae e Staphylococcus também já foram isolados. A prevenção da ocorrência de celulite também está relacionada a adequação do ambiente e manejo correto, evitando assim o estresse dos animais, a exposição dos tecidos adjacentes da pele e a manutenção da qualidade da cama aviária.

Incidência e fatores associados

A manifestação das lesões cutâneas está associada a múltiplos fatores que podem agir isoladamente ou em sinergia, o que dificulta o controle da lesão.

A qualidade da cama e a proximidade das aves entre si pode ser um facilitador de lesões da pele, assim como a quebra e perda de penas das mesmas. Essas alterações são consequências de modificações empregadas no processo de criação. Desta forma, o manejo correto, o ambiente confortável e a saúde animal são o tripé para a qualidade da pele das aves e consequentemente, das carcaças.

Os fatores de manejo que prejudicam a integridade da pele estão relacionados à alta densidade populacional de maneira que propicia um maior contato entre os animais, maior competição pelo espaço, água e alimento e maior quantidade de excreta produzida, favorecendo a compactação da cama pelo aumento da umidade e o aparecimento de lesões na pele dos frangos.

A umidade da cama é um fator crítico no manejo dos galpões, já que influencia a incidência e a severidade das lesões como dermatites ulcerativas, pododermatite e calo de peito nas carcaças das aves (Figura 4). O aparecimento das lesões na carcaça também está diretamente associado à volatilização da amônia do metabolismo microbiano nas excretas, resultando em aumento de lesões cutâneas, respiratórias e oculares, e consequente perdas de desempenho e comprometimento de bem-estar.

Figura 4- Calo de peito – A: Calo de peito severo em frango de corte, visualizado na inspeção ante mortem. B: Calo de peito em carcaça de frango (dermatite de contato).

Como os frangos passam a maior parte do tempo na cama, seu material é um dos fatores mais importantes relacionados à ocorrência de lesões de pele e pododermatites. Materiais de cama com partículas grandes e pontiagudas podem resultar em uma maior incidência de ferimentos devido à sua ação abrasiva.

Além dos fatores já mencionados, a probabilidade de ocorrer dermatose é 1,7 vezes maior quando se reutiliza a cama no pinteiro; 1,4 vezes maior quando não ocorre desinfecção adequada dos equipamentos antes do alojamento; 1,9 vezes maior  quando se utiliza comedouros tubulares em comparação aos comedouros automáticos; 1,01 vezes maior a cada grau Celsius superior à temperatura de conforto térmico do aviário; 1,4 vezes maior em alojamento realizados no inverno; e 1,02 vezes maior a cada dia de redução no período de vazio sanitário.

Adicionalmente, as lesões também podem ocorrer em situações estressantes onde os animais podem manifestar alterações comportamentais e agressividade entre eles. Neste caso, é fundamental o controle ambiental e o cuidado com a movimentação no galpão durante a criação.

Outro fator a considerar é a qualidade de empenamento das aves que aumenta a possibilidade de lesões de pele principalmente nas regiões dorsal, coxa e sobrecoxa. Alguns dos principais fatores contribuintes para um mau empenamento são: mudanças drásticas de temperatura e a exigência nutricional nas diferentes fases de crescimento.

Outras causas relacionadas à ocorrência de lesões cutâneas em frangos são a utilização de rações com elevado teor de proteína, ou com presença de micotoxinas (fusarium), ou ainda dietas deficientes em aminoácidos. Existem vários estudos relacionados com os efeitos da suplementação dietética de minerais orgânicos, aminoácidos, óleos essenciais, precursores de queratina, dentre outros, sobre a melhoria da qualidade da pele e deposição de colágeno e melhora na formação das penas.

As penas se renovam e se regeneram constantemente, possuindo um crescimento cíclico, alternando com períodos de repouso. De tal modo, em fases cuja pele está mais exposta, o manejo, a ambiência e o fornecimento de nutrientes visam garantir o bem estar dos animais para que minimize situações de competição.

Fatores predisponentes ao aparecimento de lesões de pele

Dentre os fatores predisponentes ao aparecimento de dermatose nas linhas de processamento, dados de 2021 da região sul do Brasil mostram que há uma sazonalidade nos índices de dermatose ou lesões cutâneas, apresentando um pico de condenações no mês de agosto, cujas condições climáticas, são de baixas temperaturas e altas umidades ambientais, e menor incidência em janeiro, período de altas temperaturas e ambiente mais seco e arejado.

A Figura 5 contém dados de plantas de processamento desta região onde se observa, conforme citado acima, aumento da condenação parcial por dermatose no período de inverno.

Figura 5 – Incidência de condenações parciais de carcaças de frango por dermatose no ano de 2021 em plantas de processamento na região sul do Brasil.

O controle dos fatores ambientais é fundamental para manter o comportamento das aves sem características de competição. Além disso, propiciar um ambiente ideal, fresco e oxigenado auxilia para que as aves possam expressar o seu potencial genético e converter alimento em peso corporal.

Alguns fatores como manter a temperatura de conforto dos animais através da oxigenação do ambiente, do uso de ventiladores e aspersores, água a disposição, uso de divisórias nos galpões para manter a densidade desejada e evitar a aglomeração de aves, controle da intensidade de luz, uso de cortinas escuras que diminuem a incidência de luz são estratégias para diminuir a incidência de lesões cutâneas.

Além disto, devem ser considerados os diferentes climas ambientais para ajuste da ventilação de um galpão. Durante períodos de clima frio, o objetivo da ventilação é fornecer troca de ar suficiente para remover o excesso de umidade e manter a qualidade do ar, mantendo, ao mesmo tempo, a temperatura do aviário no nível desejado; e nos períodos de clima quente e/ou úmido, o objetivo da ventilação é remover o excesso de calor e fornecer o resfriamento através do vento, criado pelo movimento do ar e resfriamento evaporativo. Entretanto, como as condições ambientais variam dentro de uma mesma estação, observar o comportamento das aves é o único modo efetivo para determinar se a ventilação está correta.

Em relação ao sexo, os machos são mais predispostos a adquirirem doenças cutâneas devido a traumatismos, visto que os mesmos são mais agressivos. A dermatite de contato também ocorre com maior frequência nos machos, pois eles possuem maior peso e empenamento mais tardio em relação às fêmeas, aumentando assim, seu grau de exposição à cama e sujidades.

As instalações avícolas estão cada vez mais padronizadas e tecnificadas, visando manter as condições internas de temperatura e umidade relativa do ar adequadas e satisfatórias para proporcionar conforto térmico, e manter as aves próximas à zona termoneutra. Quando o deslocamento da massa de ar é por pressão negativa, a incidência de dermatose é menor (2,64 vs. 3.16; Figura 6), provavelmente devido a este sistema associar o resfriamento evaporativo à ventilação em túnel, removendo mais eficientemente a carga térmica do ambiente com consequente arrefecimento do ar e obtenção do conforto para as aves de forma mais homogênea ao longo do galpão, principalmente nos dias com temperaturas do ar mais elevadas.

Figura 6 – Incidência de dermatose em frango de corte criados em diferentes tecnologias do galpão (pressão negativa/pressão positiva).

Uma boa distribuição dos bebedouros e comedouros na extensão do galpão é fundamental para diminuir a competição entre os animais e manter seu comportamento natural. A utilização de comedouros automáticos possui a vantagem de serem abastecidos de maneira equitativa e uniforme por todo o sistema, tornando a ração disponível para todas as aves ao mesmo tempo. A Figura 7 ilustra uma maior incidência de dermatose em criações cujo sistema de alimentação é manual. A distribuição de ração desigual pode gerar aumento de competição entre os animais e maior agressividade, oportunizando maior incidência de arranhões.

Figura 7 – Incidência de dermatose em frango de corte segundo tipo de comedouro durante a criação.

Apesar das lesões cutâneas crônicas ocorrerem durante a vida do animal na granja, as últimas 12 horas (1% da vida do animal) é responsável por muitas alterações de manejo e comportamentais. O manejo pré-abate (apanha, carregamento) e o transporte de aves até o abatedouro estão relacionados às lesões na carcaça e ao estresse fisiológico.

A etapa de apanha é um momento delicado onde ocorre alta movimentação e provoca estresse nos animais. Apanhas mal feitas ou mal supervisionadas podem gerar aglomeração destas, causando danos do tipo escoriação e arranhões, bem como contusão e quebra de asas ao colocar as aves nas caixas de transporte. Desta forma, manter as condições de ambiência na etapa de apanha, em especial tranquilidade ao manipular os animais e baixa iluminação, é imprescindível para minimizar a movimentação animal durante a apanha e as perdas de qualidade da pele da carcaça.

Estratégias para diminuir a Incidência de Lesões cutâneas:

  • Higiene dos equipamentos e qualidade de cama no alojamento.
  • Manter a qualidade da cama, em especial controle da umidade e compactação.
  • Distribuição e densidade adequada das aves: uso de divisórias (25-30 metros).
  • Controle de Ventilação e oxigenação ambiental visando garantir um adequado comportamento animal e bem estar.
  • Quantidade, distribuição, altura e vazão de bebedouros.
  • Quantidade, distribuição, altura e volume de ração.
  • Respeitar o período de vazio sanitário.
  • Controle da iluminação durante a criação e na etapa de apanha.
  • Cuidados com o manejo durante a criação e na etapa de apanha, para manter a tranquilidade das aves.
  • Suprimento de nutrientes que oportunizem um bom empenamento, qualidade de pele e status imunitário do animal.

As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: liris.kindlein.ufrgs@gmail.com

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura.

Fonte: Por Liris Kindlein, MDV e professora doutora da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Avicultura

No Dia Mundial do Frango, foco setorial se concentra na garantia de abastecimento

Além da segurança alimentar, setor detém importante papel socioeconômico no Brasil.

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Foto: Shutterstock

Hoje, 10 de maio, é o Dia Mundial do Frango, data criada pelo Conselho Internacional da Avicultura (IPC, sigla em inglês) para celebrar a cadeia produtiva e estimular o consumo de uma das mais importantes e versáteis proteínas animais do mundo.

Neste ano, a avicultura do Brasil abordará uma perspectiva diferente dos anos anteriores. A celebração deste ano exaltará a importância desta proteína para a garantia de segurança alimentar e para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Em toda a cadeia produtiva, são 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Apenas nas fábricas são mais de 300 mil postos de trabalho de um setor com Valor Bruto de Produção superior a R$ 90 bilhões.

É uma enorme força de trabalho que produziu no ano passado 14,8 milhões de toneladas em território brasileiro – desde 2013, o Brasil adicionou cerca de 2,5 milhões de toneladas em sua produção.

Quase 35% disto é direcionado a mais de 150 países nos cinco continentes – capilaridade que proporcionou ao Brasil a liderança mundial nas exportações da proteína, sendo responsável por 38% do total do comércio internacional. Para fins de comparação, as agroindústrias brasileiras exportaram no último ano mais que as vendas internacionais de Estados Unidos e União Europeia – segundo e terceiro maiores, respectivamente – somadas, e é maior do que toda a produção da Rússia (quinto maior produtor global da proteína). São embarques que geram receitas próximas a US$ 10 bilhões (dados de 2023).

O impacto econômico e social da carne de frango para o Brasil não está apenas nos dados macroeconômicos. O peso social individualizado da proteína se vê em seu consumo per capita. Cada brasileiro consome, em média, 45 quilos da proteína – índice alcançado em 2020 e que se mantém desde então. É, de longe, a proteína animal mais consumida pelo brasileiro.

São números que mostram a relevância e a missão deste setor com o Brasil – para onde é destinada 65,3% de toda a produção nacional. “Nossa cadeia produtiva é continental, e tem papel determinante nos hábitos, na economia e na cultura gastronômica de Norte a Sul. Do campo às fábricas, são bilhões em investimentos em tecnologia de ponta para garantir a qualidade e a sanidade dos produtos, com maior produtividade. É um dos alicerces alimentares do País, e pilar econômico de diversas regiões. Neste dia, celebramos um setor resiliente, que cumpre seu papel e que seguirá atuando para que não falte o acesso a este alimento de alta qualidade para as famílias de todo o país”, avalia o presidente da ABPA, Ricardo Santin.

Fonte: Assessoria ABPA
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Avicultura

Especialista aponta umidade e profundidade da cama como fatores críticos ao desenvolvimento das aves

Ao garantir um ambiente saudável e confortável para as aves, bem como a qualidade do produto final, os produtores não apenas protegem sua própria operação, mas também contribuem para a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor como um todo.

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Fotos: Shutterstock

O manejo adequado da cama de frangos de corte é uma peça fundamental no quebra-cabeça da produção avícola. Ao garantir um ambiente saudável e confortável para as aves, bem como a qualidade do produto final, os produtores não apenas protegem sua própria operação, mas também contribuem para a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor como um todo.

Bacharel em Ciência Animal, mestre em Nutrição de Aves e doutora em Gestão Ambiental de Aves, Connie Mou: “Não há um sistema de gestão único que funcione para todos, pois ele varia de acordo com as necessidades de produção, recursos disponíveis, mão de obra e equipamentos” – Foto: Arquivo pessoal

A bacharel em Ciência Animal, mestre em Nutrição de Aves e doutora em Gestão Ambiental de Aves, Connie Mou, elenca que o manejo correto da cama visa garantir um ambiente propício para o desenvolvimento saudável das aves. “Para alcançar esse objetivo é essencial gerenciar e manter as propriedades benéficas da cama, como absorção, evaporação, isolamento e amortecimento, com foco especial em conservar a umidade entre 20 e 25%”, ressalta Connie. Ela vai tratar deste assunto no 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), que acontece entre os dias 09 e 11 de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó, SC.

Controlar a umidade da cama é fundamental para prevenir o crescimento de microrganismos patogênicos e garantir a saúde das aves. Uma cama bem manejada também proporciona um ambiente confortável para as aves se movimentarem, descansarem e se alimentarem, contribuindo assim para o bem-estar animal e o desempenho produtivo. Além disso, o manejo correto da cama pode ter benefícios ambientais, como a compostagem do material usado, que pode ser reaproveitado como fertilizante orgânico, contribuindo para a sustentabilidade da operação avícola.

Qualidade da cama

A qualidade da cama é de extrema importância no desempenho das aves e na saúde intestinal. A especialista em avicultura, ressalta que se a cama for mal gerida, pode se tornar um ambiente ideal para o desenvolvimento de agentes patogênicos nocivos, que podem acabar afetando as aves e provocando doenças. “Níveis excessivos de umidade na cama podem contribuir para o desenvolvimento de lesões nas patas das aves. Além disso, a cama desempenha um papel importante na produção de amônia, se não for cuidadosamente gerenciada, pode levar a níveis elevados de amônia no ambiente, o que foi demonstrado em pesquisas como prejudicial ao sistema respiratório das aves, impactando a função do sistema imunológico, podendo também aumentar o risco de proliferação de bactérias oportunistas.

Vários fatores podem influenciar a umidade da cama, incluindo o uso de água pelas aves, a densidade e as taxas de ventilação. De acordo com a doutora em Gestão Ambiental de Aves, a melhor maneira de abordar o manejo da cama é monitorar a umidade relativa do aviário constantemente e manter um registro histórico de qual é a umidade relativa do ar no aviário ao longo da vida do lote, entre lotes, para entender quão bem está sendo feito o trabalho dentro do aviário, a fim de garantir um equilíbrio adequado de umidade.

Connie diz que nos Estados Unidos aprendeu-se ao longo dos últimos 20 anos que o sucesso da gestão da cama é fortemente influenciado pela educação do produtor. “Existem diversos sistemas de gestão disponíveis para manejo das camas, porém, o sucesso deles depende da capacitação adequada dos produtores. Não há um sistema único que funcione para todos, pois ele varia de acordo com as necessidades de produção, recursos disponíveis, mão de obra e equipamentos”, salienta.

Quanto aos sinais de que a cama precisa ser renovada, a especialista conta que nos Estados Unidos a troca acontece quando começa a aparecer areia na cama ou quando se torna muito profunda. “Um sistema não precisa de uma cama com mais de seis polegadas, cerca de 15 cm de profundidade, pois uma cama mais profunda pode dificultar o gerenciamento da amônia e da umidade”, aponta.

Quanto ao reaproveitamento da cama, quando gerenciado corretamente, pode ser mais benéfico do que prejudicial. Isso ocorre porque a cama reutilizada já possui uma população microbiana estabelecida, o que pode acelerar o desenvolvimento da imunidade das aves. “Já em camas novas é muito mais imprevisível quais microrganismos irão povoar as aves desse alojamento, o que pode impactar o desenvolvimento do sistema imunológico dos frangos”, expõe.

Ventilação

Quanto ao manejo adequado da ventilação, seu impacto na qualidade da cama e na saúde das aves é significativo. O objetivo principal da ventilação é remover a umidade gerada pelas aves, o que está diretamente ligado à qualidade da cama e à saúde das aves. “Sem um programa de ventilação adequadamente executado, nunca será possível alcançar uma boa qualidade da cama e, consequentemente, uma boa saúde das aves. Portanto, o manejo adequado da ventilação é essencial para garantir um ambiente saudável e higiênico para as aves durante todo o ciclo de produção”, frisa a mestre em Nutrição de Aves.

Preparação do alojamento

Para garantir um ambiente saudável para as aves, as melhores práticas para a preparação inicial do alojamento antes da chegada dos pintinhos incluem o gerenciamento dos níveis de umidade, mantendo-os abaixo de 20%, e garantindo uma profundidade adequada da cama para acompanhar a deposição de umidade das aves. “É importante observar a aparência da cama, pois se ela ficar muito fina, há maior chance de níveis mais elevados de amônia. Se não houver opção de tratamento de cama para reduzir a amônia no início do lote, torna-se ainda mais crítico gerenciar”, salienta a bacharel em Ciência Animal.

Controle da proliferação de patógenos na cama

Em relação ao controle da proliferação de patógenos na cama, como Salmonella e Escherichia coli, é importante entender que nunca será possível controlar totalmente esses microrganismos, mas apenas gerenciá-los. “A área do microbioma nos aviários ainda é muito mal compreendida, e há muito a ser aprendido sobre como esses organismos interagem. No entanto, uma estratégia eficaz é gerenciar a umidade da cama, pois a água é um dos principais fatores que esses microrganismos precisam para sobreviver”, expõe Connie, acrescentando: “Mantendo a cama o mais seca possível e pelo maior tempo possível, podemos reduzir as chances de crescimento desses patógenos a níveis que impactariam negativamente nossas aves”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura ARTIGO

Será que o Brasil sabe a dimensão do desastre no Rio Grande do Sul?

Você está fazendo tudo o que pode mesmo? Quem sabe você pode ajudar só um pouquinho mais

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Fotos : divulgação Governo do Estado

O Estado do RS acabou. Da forma como a gente o conhecia, ele não existe mais. Nos resta rezar a Deus e torcer para que o Brasil e o mundo nos ajude a enterrar nossos mortos e a reconstruir um pouco do que foi devastado pelas águas – e ainda vai ser devastado, pois vem mais ciclone por aí. Quem sabe, em meio ao caos, no fundo do poço, a gente encontre uma força que nem a gente saiba que tem, algo como o Japão que se reconstrói em tempo recorde após os terremotos. ou como a Flórida, que enfrenta dezenas de furacões anuais e continua em pé!
Talvez estas palavras iniciais sejam fortes, Mas, talvez a maioria das pessoas de outras regiões do Brasil não tenha se dado conta do tamanho da tragédia. Ela é muito pior do que você vê na TV ou nos vídeos de WhatsApp! Muito, mas muito pior! É como se todo mundo desta região aqui perdesse sua casa, se enchesse tudo isso de água, por dias e mais dias, fechando estradas, escolas, lar de idosos, empresas… tudo!

Você já parou para pensar!? Então, você vai ajudar mais!?

 

Muitos não ajudam pelo medo do julgamento alheio

Por outro lado, felizmente muitas regiões do país estão ajudando, botando a mão na massa, salvando pessoas.

Cito aqui o exemplo do Pablo Marçal, que vai e volta quase todo dia a São Paulo e salvou mais gente da água do que eu e você juntos – sem contar que deu uma aula em poucos minutos ali no centro de distribuição de doações. Eu estive lá em Hamburgo Velho e agradeci a Deus por estar do lado de cá dos gradis, que separavam a fila gigantesca para buscar donativos, das pessoas que foram doar ou tomar uma dose de coragem para ajudar mais!

O Marçal poderia estar torrando o dinheiro em Dubai, mas estava em cima de uma empilhadeira, no meio da rua, discursando para arrebanhar pessoas para ajudar daqui pra frente, pois talvez o pior esteja daqui pra frente, acredite! Você não precisa gostar dele, não precisa gostar da Globo, mas toda ajuda é muito bem-vinda! E, ao citar o Marçal, cito cada um aqui da região que está empenhado em ajudar, com grana, com barco, separando doações, tirando gente da água, doando…

Temos percebido muitos golpes, muita gente reclamando, muita gente se aproveitando para aparecer… e muita gente ou empresa querendo ajudar, mas não ajuda porque tem medo de que vão dizer que está querendo fazer propaganda. Vocês não têm noção a quantidade de pessoas (ou empresas) que vem me falar isso! Ora, vamos parar de ter medo destes juízes de sofá da sala, que se escondem em casa e ficam só metendo o pau nos outros; e não fazem nada! Deixe ‘essa gente pra lá’ e daí que a Globo só veio depois da Madona, e daí que alguns dizem que o Pablo Marçal está fazendo marketing, e daí que muitos só reclamam e apontam o dedo, daí que tem gente que vai na fila duas vezes pegar 2kg de arroz e 2 litros de leite, e daí, que se danem! Ora, manda a m… diz assim: “vá cuidar da tua vida”!
E se esta tragédia tocou seu coração, vai lá você e bota o pé na lama, porque você sabe que quem reclama não fará nada, estará muito ocupado dando opinião e reclamando.

O Brasil pode fazer muito mais

Se não tua casa, graças ao bom Deus, não teve mortes, somente alguns alagamentos, pessoas perderam bens materiais e… e estamos tocando nossa vida normalmente, limpando o guarda-roupa, fazendo uma comprinha maior para doar e… e deu! Era isso, a ajuda é só isso! Mas você pode fazer mais, todo mundo pode fazer mais!

Eu sinto que muita gente ainda não acordou para o tamanho da tragédia (e está tudo certo, cada um é cada um, não reclamo destes). Mas gostaria de ajudar, então, se você quiser dormir com a consciência tranquila, faça mais. “Teoricamente” só morreram 100, mas você sabe que esse número vai aumentar muito. Quantos idosos foram levados por não conseguir se locomover, quantos bebês morreram, quantos animais ainda estão ilhados ou foram levados, bichinhos de estimação que estão abandonados, quanta gente vai morrer de doença, de leptospirose, de hipotermia (vem o frio aí), e tem muitos outros problemas que vão aparecer.
Quantas crianças não terão mais aulas, quantas crianças não terão mais pais ou avós ou amiguinhos – que viraram estrelinhas ou ainda vão virar?
Quantas crianças perderam seu bichinho de estimação ou vão perder por falta de ração? Quantos avós perderam seus netos ou ainda vão perder!
A gente não sabe nada, não sabe a dimensão desta “desgraceira” toda! Não é uma enchentezinha que sobe, alaga e no dia seguinte volta para o rio, aí você vai lá e mete o lava-jato e tudo volta ao “normal”. Serão semanas, meses, vai ter lodo, lama até nos fios da luz.
Tem cidade inteira no Vale do Taquari que acabou, estão pensando em mudar a cidade de lugar, recomeçar. Você tem noção do tamanho da tragédia? Então, graças a Deus você está bem, seu vizinho está bem, mas tem muita gente que precisa de ti, tire um tempo, reserve um dinheiro, faça sua doação, ajude mais, você pode, sim! Se você não tem grana, não tem alimento, não tem colchão, doe tempo, doe uma palavra, vá lá no campo de batalha lutar, senão, jamais ouse cantar aquele pedaço do Hino Rio-grandense que diz “Mostremos valor, constância, nesta ímpia e injusta guerra”… eu não quero que “nossa façanha sirva de modelo a toda terra”, eu só peço a Deus e a você que ajude a salvar o máximo de gente possível “nesta ímpia e injusta guerra”.

 

Por
Mauri Marcelo ToniDandel
Jornalista – Dois Irmãos

Fonte: Mauri Marcelo ToniDandel
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