Bovinos / Grãos / Máquinas
Leite reage com alta expressiva e margens históricas ao produtor
Mesmo com importações recordes, preços pagos no campo superam inflação e compensam perdas anteriores; indústria sente pressão no UHT.

O ano de 2023 terminou como ninguém previu. Imensa amplitude de variação de preços recebidos pelos produtores, como há décadas não se via. Importações recordes. Aumento da velocidade de saída de produtores do setor leiteiro. Laticínios argentinos e uruguaios ganhando espaço no varejo do Nordeste, a principal região compradora de lácteos de outras regiões do país. Endividamento dos produtores. Afinal, o que 2024 guardava para os produtores de leite do Brasil?
Para o setor de leite e derivados nacional, o ambiente de início de ano de 2024 não poderia ser pior. Os produtores amargavam preços recebidos bem deprimidos e em queda contínua, face ao volume recorde de importações vindas da Argentina e Uruguai.

Esses dois países enfrentavam problemas específicos. O Uruguai, de tradição exportadora de lácteos, viu seu mercado encolher, com a retração de compras da China, que aumentou sua produção interna, sem crescimento do consumo de lácteos, face à desaceleração de sua economia. Já a Argentina viu o consumo interno desabar, com inflação galopante acumulada em 2023. Então, o mercado brasileiro se mostrava como a salvação para ambos os países.
Para os laticínios, o ano começou tenso, com restrições de importações diretas. Isso poderia gerar uma redução do mercado ocupado pela indústria láctea brasileira, já que a indústria de alimentos, que tem o leite como insumo, poderia continuar importando sem penalização. Ademais, para piorar, havia sinais que empresas argentinas estavam fortalecendo relações diretas com o varejo brasileiro, reduzindo o espaço para os laticínios brasileiros.
Já para os consumidores, os preços estavam nas alturas, indicando provável queda no consumo. Com isso, muitos laticínios se reposicionaram, com a produção de análogos, ou seja, a introdução de ingredientes como amido em requeijão e muçarela, por exemplo, para baratear os produtos comercializados.
No meio do ano, a previsão para o restante de 2024 sugeria um cenário mais estável, mas ainda cercado de incertezas devido às questões climáticas. As chuvas torrenciais ocorriam no Sul do país, num momento em que a seca no Brasil Central reinava, mostrando que os extremos poderiam levar a um mesmo fim: dificuldades na produção.
Mas, com o passar dos meses, o silêncio entre produtores foi se impondo nas redes sociais, o que é sempre sinal positivo, num setor conhecido pelos demais agentes do agronegócio por ser de reclamação frequente. Os custos caíam progressivamente, os preços recebidos subiam e a demanda foi crescendo.
2024 iniciou com preços deprimidos, mas fechou com 27,1% de aumento
O gráfico 1 apresenta a evolução de três indicadores importantes para aferir o impacto dos preços no bolso do consumidor. O IPCA é a medida oficial da inflação brasileira e permite avaliar a variação do custo de vida, ao retratar bens e serviços de toda espécie adquirido pelas famílias. O IPCA-Alimentação e bebidas retrata somente a variação do custo dos alimentos adquiridos para consumo dentro e fora de casa. Já o IPCA-Leite e derivados apresenta a variação de preços desta categoria.

Estes índices são calculados pelo IBGE e retratam a variação de preços no varejo. Para que fosse possível uma comparação entre os dados, neste e nos demais gráficos, foram construídos índices numa mesma base, tendo como referência o mês de dezembro de 2023 e cobrindo o período que vai até dezembro de 2024.
Os índices demonstram que, ao contrário de 2023, durante todo o ano de 2024 o custo dos alimentos para o consumidor puxou o custo de vida das famílias brasileiras, quebrando uma tradição de alimentos serem um vetor de redução de inflação na sociedade brasileira. Em dezembro, a inflação de alimentos acumulou 7,7% de aumento, face a 4,8% do custo de vida, medido pelo IPCA. Portanto, 60,4% a mais.
Todavia, um dos fortes vetores deste impacto do preço dos alimentos no custo de vida das famílias foram os lácteos. O Índice Leite e Derivados do IPCA teve curva ascendente durante todo o ano, superando o IPCA. Até abril, contribuiu para reduzir o custo dos alimentos. No entanto, a partir desse período, passou a impactá-lo significativamente, elevando-se para 7,7% e, posteriormente, para 10,4% no acumulado do ano. Isso correspondeu a 115% do custo de vida médio do brasileiro, medido pelo IPCA.
O gráfico 2 apresenta a variação de preços do leite recebidos pelo produtor, que teve como fonte o Cepea/USP. Este gráfico especificamente mostra a capacidade de geração de receita na atividade leiteira. Já o gráfico do IPCA-Índice Geral mostra a variação do custo de vida das famílias, o que inclui aquelas que produzem leite.

O ano de 2024 iniciou com o produtor amargando preços deprimidos, recebendo 19,4% a menos do que havia recebido em 2023. Todavia, houve forte recuperação a cada mês, atingindo a surpreendente elevação de 41,4% em setembro, fechando o ano com 27,1% de aumento. Portanto, acumulando mais de cinco vezes o custo de vida, medido pelo IPCA. Isso sinaliza melhoria considerável do poder de compra das famílias produtoras de leite.
Preço pago ao produtor permitiu recuperar as perdas de 2023
O gráfico 3 permite verificar o que aconteceu com as margens financeiras do produtor de leite em 2024. A variação de custos está representada pelo ICPLeite/Embrapa, que revela dois períodos distintos. Até o mês de agosto, os custos de produção foram menores que o de dezembro de 2023, excetuando janeiro. A partir daí, os custos foram maiores e atingiram 2,1% do verificado em dezembro de 2023.

Portanto, o custo de produção de leite cresceu menos da metade do custo de vida no período, medido pelo IPCA, que foi de 4,8%. Já o preço pago ao produtor de leite permitiu recuperar as perdas ocorridas em 2023, registrando margens inimagináveis pelos mais otimistas dos produtores e analistas, o que faz o ano 2024 entrar para a história do setor. Enquanto o custo de produção acumulou crescimento de 2,1%, o preço recebido acumulou 27,1% em dezembro de 2024.
O gráfico 4 mostra o comportamento de preços praticados para o leite UHT, no varejo e atacado, bem como o preço recebido pelos produtores. Fica evidenciado que todos os três segmentos tiveram momentos de ascensão no primeiro semestre, modificando a trajetória a partir daí. No segundo semestre, os preços no varejo apresentaram menor variação que os preços ao produtor e da indústria.

A fortíssima variação positiva dos preços ao produtor teve impactos diferenciados nos segmentos. O varejo conseguiu acompanhar a trajetória, embora com variações percentuais diferentes. Já o preço praticado pela indústria no atacado não teve o mesmo comportamento, registrando oscilações e queda substancial no último trimestre do ano. Em dezembro, o leite UHT foi comercializado no atacado por acréscimo de 1% em relação a igual período do ano anterior, enquanto a inflação brasileira foi de 4,8%, o varejo comercializou com acréscimo de 18,8% e os produtores conseguiram comercializar o leite a preços 27,1% superiores.
O ano de 2024 mostrou uma reversão do quadro de 2023, quando as margens financeiras foram menores, criando um ambiente de frustração naquele ano para os produtores. Para a indústria e o varejo, situação inversa ocorreu, com a recuperação de margens em relação ao período de 2019 a 2023, em que as margens ficaram menores, conforme o Anuário Leite 2024.
Em 2024, os produtores tiveram ganhos excepcionais, mesmo com importações recordes. O varejo também registrou ganhos significativos. O segmento que não conseguiu comemorar ganhos foi a indústria, que tem no leite UHT o seu principal produto. Todavia, esta afirmação não deve ser generalizada, já que queijos e outros derivados podem ter apresentado comportamentos diferentes em relação a este produto de baixo valor agregado.

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Amapá amplia VBP em 2025 com forte avanço da soja e crescimento do milho
Produção agropecuária atinge R$ 235,65 milhões, com expansão puxada pela soja e estabilidade das culturas tradicionais.

O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária do Amapá alcançou R$ 235,65 milhões em 2025, resultado que representa crescimento de 4,3% frente a 2024 (R$ 225,88 milhões), de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em 21 de novembro. O desempenho confirma a retomada após o recuo do ano anterior e reflete, sobretudo, o avanço das culturas comerciais, com destaque para soja e milho, que ganharam espaço na composição do VBP estadual.
Enquanto o VBP do Brasil avançou 11,4%, passando de R$ 1.267.385,28 milhões para R$ 1.412.203,57 milhões, o Amapá seguiu em trajetória positiva, ainda que em ritmo mais moderado. A participação do estado no total nacional manteve-se em 0,02%, evidenciando um crescimento real, porém concentrado e ainda dependente de poucas atividades.

Entre as atividades agropecuárias, a soja foi o movimento mais relevante de 2025. O VBP da cultura saltou de R$ 41,8 milhões em 2024 para R$ 52,8 milhões em 2025, crescimento de 26,3%, a maior variação percentual entre os produtos do ranking estadual. O avanço reforça o papel da soja como principal vetor de dinamismo recente do agro amapaense e indica ampliação de escala e maior inserção da cultura no estado.
O milho, embora ainda com participação modesta no total do VBP, também apresentou desempenho positivo. A cultura passou de R$ 2,1 milhões para R$ 2,3 milhões, alta de 9,5%, sinalizando estabilidade com leve expansão, mesmo partindo de uma base pequena. O resultado aponta para um processo gradual de fortalecimento das lavouras de grãos no estado.
Mandioca e banana sustentam a base produtiva
Apesar do protagonismo da soja no crescimento, o VBP do Amapá segue sustentado por lavouras tradicionais. A mandioca, principal produto do estado, avançou de R$ 110,3 milhões para R$ 111,2 milhões (+0,8%) e manteve a liderança isolada. A banana, segunda colocada, passou de R$ 60,6 milhões para R$ 61,0 milhões (+0,7%), reforçando a estabilidade da base produtiva local.
Quedas pontuais
No ranking, a laranja registrou recuo expressivo, de R$ 7,2 milhões para R$ 5,3 milhões (-26,4%). Também apresentaram queda o feijão (-21,1%) e o arroz (-27,3%), enquanto a cana-de-açúcar permaneceu estável, em R$ 0,8 milhão. Apesar das variações, essas atividades têm peso reduzido no VBP total e não alteraram o resultado agregado do estado.
Recuperação após recuo em 2024
A série histórica apresentada (2018–2025) mostra um VBP que cresce no longo prazo, mas com oscilações: depois de atingir R$ 242 milhões em 2023, o estado caiu para R$ 226 milhões em 2024 e voltou a R$ 236 milhões em 2025.
O comportamento reforça que, apesar do ganho no último ano, o Amapá ainda depende de poucos motores produtivos e que avanços pontuais, como o salto da soja, ainda não se traduzem em mudança de patamar no ranking nacional.
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Pará assume protagonismo global com a primeira carne bovina 100% rastreada
Primeira exportação com identificação individual reconhecida internacionalmente inaugura um novo patamar de exigência, valor e governança na pecuária brasileira.

O embarque de 108 toneladas de carne bovina com rastreabilidade individual completa, realizado pelo Pará em 2025, não foi apenas uma operação comercial inédita. Foi um movimento calculado de política agropecuária, que reposiciona o Estado no tabuleiro global da carne e responde, com dados e tecnologia, às pressões crescentes por transparência ambiental, sanitária e produtiva.

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará
Mais de 350 animais da raça Nelore, identificados individualmente ao longo de toda a vida produtiva, deram origem ao primeiro lote de carne bovina do Brasil com rastreabilidade plena reconhecida por mercados internacionais. O destino foi a Ásia, mas o recado foi direcionado a todos os grandes compradores globais: o Pará quer competir no segmento premium da carne, onde exigência e valor caminham juntos.
A operação marca a entrada em funcionamento do Sistema de Rastreabilidade Bovina Individual do Pará (SRBIPA), uma plataforma que conecta identificação animal, bases sanitárias oficiais e comprovação ambiental. Na prática, cada animal passa a ter um histórico auditável desde o nascimento, permitindo verificar não apenas sanidade e desempenho produtivo, mas também a conformidade da origem com critérios ambientais cada vez mais rígidos.
Para um Estado que concentra cerca de 26 milhões de cabeças de gado, a decisão tem peso econômico e simbólico. A rastreabilidade individual surge como instrumento para reduzir barreiras comerciais, antecipar exigências regulatórias e ampliar o acesso a mercados que remuneram melhor produtos com origem comprovada, como União Europeia, Estados Unidos e China.
A primeira remessa já sinalizou o potencial do modelo. Os animais certificados apresentaram ganho médio de 592 quilos, totalizando mais

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará
de 7,2 mil arrobas rastreadas com precisão. O desempenho reforçou o interesse da indústria frigorífica local, que passou a avaliar novos investimentos para ampliar a oferta de carne apta a contratos de maior valor agregado.
Mais do que atender compradores externos, o SRBIPA foi desenhado como uma política estrutural de longo prazo. O governo estadual estabeleceu, por decreto, a meta de alcançar 100% do rebanho rastreado até 2030. Caso o cronograma seja cumprido, o Pará se tornará o primeiro Estado da Amazônia Legal a controlar individualmente toda a produção bovina — um diferencial competitivo em um cenário internacional no qual a origem da carne se tornou tema central de negociações comerciais e debates climáticos.
A estratégia também mira dentro da porteira. Pequenos e médios produtores, que respondem por mais de 70% das propriedades rurais do Estado, passam a ter acesso a oportunidades antes restritas a grandes operações. A certificação individual abre portas para programas de compra pública, cooperativas com maior valor agregado e linhas de crédito que exigem comprovação sanitária e ambiental.
Para viabilizar essa transição, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) estruturou uma agenda contínua de capacitação, com foco em manejo, identificação animal e processos de certificação. A lógica é combinar inclusão produtiva com qualificação da base, elevando renda no campo e padronizando práticas ao longo da cadeia.

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará
No centro do debate está a relação entre custo, responsabilidade e mercado. A rastreabilidade individual exige investimento, mudança de rotina e adaptação tecnológica por parte do produtor. Por isso, o governo paraense tem insistido que a sustentabilidade só se consolida quando é economicamente reconhecida. Em declaração que sintetiza essa visão, o governador Helder Barbalho destacou que boas práticas precisam ser remuneradas de forma objetiva. Sem esse reconhecimento, argumenta, não há incentivo econômico suficiente para que o produtor assuma sozinho os custos adicionais do sistema.
O desafio, portanto, não é apenas técnico, mas comercial. A consolidação do SRBIPA depende da disposição dos mercados em transformar transparência em preço, governança em contratos e sustentabilidade em diferencial competitivo real.
Até 2030, o plano do Estado prevê a integração de novos frigoríficos, o fortalecimento dos mecanismos de auditoria, a ampliação da cobertura tecnológica e o avanço da qualificação no campo. A meta é clara: fazer da rastreabilidade não um requisito imposto de fora, mas uma ferramenta de valorização da pecuária local.
A primeira exportação totalmente rastreada funciona como um marco inicial. Demonstra que a tecnologia é viável, que o setor produtivo respondeu e que o Pará enxerga na rastreabilidade uma alavanca de mercado. Em um contexto global cada vez mais atento à origem da proteína animal, o Estado aposta que controlar, provar e comunicar como se produz pode ser o caminho mais curto para crescer, atrair investimentos e liderar uma nova agenda para a carne brasileira.
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Embrapa mapeia tecnologias e tendências das PecTechs na pecuária brasileira
Estudo aponta avanço de soluções digitais voltadas à gestão monitoramento e sustentabilidade enquanto startups enfrentam desafios para ganhar escala e ampliar a presença no mercado.

Pecuaristas brasileiros têm hoje à disposição soluções tecnológicas para aumentar a produtividade, otimizar o uso de recursos e reduzir os impactos ambientais e incertezas de mercado. Parte destas soluções vêm de Agtechs, startups focadas no agronegócio.
Para entender um pouco mais sobre quais tecnologias estão sendo disponibilizadas para o segmento pecuário, perfil dessas empresas, desafios e tendências, a Embrapa fez um panorama sobre a atuação dessas PecTechs no país. A publicação “Estudo de caracterização de agtechs com atuação no setor de pecuária” está disponível gratuitamente aqui.
De acordo com a pesquisadora Claudia De Mori, da Embrapa Pecuária Sudeste, que coordenou o trabalho, a transformação digital está redefinindo os sistemas de produção pecuária no Brasil e essas PecTechs oferecem soluções customizadas para os problemas e perfil da pecuária. No entanto, essas startups enfrentam obstáculos para consolidar seus negócios. O principal desafio é a inserção no mercado, como barreiras de entrada, necessidade de definição de um modelo de vendas escalável, expansão dos clientes e competição.
O estudo, realizado pela Embrapa Pecuária Sudeste, Embrapa Agricultura Digital e pela Diretoria de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa, foi baseado em dados do Radar Agtech Brasil 2023 e analisou 100 Agtechs que atuam no segmento de pecuária. Mais da metade dessas empresas encontra-se nas regiões Sudeste (54%) e outra parte no Sul (35%).
A atuação está mais concentrada na oferta de soluções “Dentro da Porteira” (79% das categorias). As principais soluções desenvolvidas por essas Agtechs são plataformas de integração e sistemas de gestão zootécnica, econômica e financeira, que incluem softwares e aplicativos. Monitoramento e sensoriamento estão em expansão e são empregados para controlar desempenho, saúde animal, bem-estar e outros indicadores produtivos.
O segmento “Antes da Porteira” destaca-se em soluções de crédito, permuta, seguro e créditos de carbono, utilizando softwares de análise e controle. Quando se trata de tecnologias para “Depois da Porteira”, soluções de rastreabilidade se sobressaem.
Futuro
Para as Agtechs, o futuro será focado na digitalização e na sustentabilidade. Para isso, as empresas apostam em soluções baseadas em Inteligência Artificial (IA), automação, blockchain e Internet das Coisas.
Segundo a pesquisadora, para superar os desafios, as startups vão precisar transpor as barreiras culturais e financeiras para levar as soluções digitais de ponta ao produtor rural.



