Bovinos / Grãos / Máquinas Opinião
Leite orgânico: da produção ao consumo consciente
A produção orgânica está presente em quase todos os países do mundo.
O primeiro conceito de agricultura orgânica foi definido com a criação da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam), em 1972. Entretanto, as práticas do sistema orgânico de alimentos surgiram durante o período de 1920 e 1930, entre as grandes guerras mundiais, tendo entre seus idealizadores o inglês Albert Howard, o austríaco Rudolf Steiner, o suíço Hans Müller, o alemão Hans Peter Rusch e os japoneses Masanobu Fukuoka e Mokiti Okada. No Brasil, durante a década de 1970, Ana Maria Primavesi, considerada a pioneira da agroecologia em sistema tropical, dissemina suas técnicas de manejo ecológico dos solos.
Em 2008, a IFOAM ratificou a definição do conceito de agricultura orgânica como sendo “um sistema de produção que mantém a saúde dos solos, dos ecossistemas e das pessoas. Baseia-se nos processos ecológicos, na biodiversidade e nos ciclos adaptados às condições locais, substituindo a utilização de insumos com efeitos adversos. A agricultura orgânica combina a tradição, a inovação e a ciência para o benefício do meio ambiente compartilhado e promove relações justas e uma boa qualidade de vida para todos os envolvidos”.
Nos últimos anos, os consumidores passaram a se interessar mais em saber como os alimentos são produzidos. Em razão da preocupação com o bem-estar animal, os impactos ambientais, a segurança alimentar e a saúde humana, surgiu então essa identificação do consumidor final com o conceito da agricultura orgânica.
O estudo “Perfil do Consumidor Consciente”, publicado em 2020 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirma que um em cada três brasileiros (31%) está disposto a pagar mais por produtos fabricados de maneira ambientalmente correta, ou seja, com baixa emissão de poluentes e resíduos. Considerando dois alimentos iguais, com a diferença de que um é orgânico, 36% dos brasileiros aceitariam pagar mais caro no alimento orgânico (14% muito mais caro e 22% somente um pouco mais caro). Outros 30% afirmam que escolheriam o alimento orgânico caso o preço fosse o mesmo e 30% não comprariam o alimento orgânico independentemente do preço.
A produção orgânica está presente em quase todos os países do mundo. Entretanto, 85% do consumo de alimentos orgânicos se localiza na América do Norte e na Europa, que detêm apenas um quarto da área agrícola de orgânicos do mundo. No segmento mundial de alimentos e bebidas orgânicos, o leite representa 20% de todas as vendas, e permanece somente atrás dos itens frutas e legumes.
Durante a última década, a produção de laticínios orgânicos aumentou rapidamente nos Estados Unidos, onde o mercado consumidor de leite orgânico cresceu de 1,9% a 5,0% em comparação às vendas totais de leite. No entanto, analistas apontam uma estagnação no mercado desse produto naquele país. A procura por leite orgânico de vaca ultrapassou recentemente a oferta disponível, que é incapaz de acompanhar a demanda do consumidor.
Atualmente, os Estados Unidos abriram seu mercado de importação de produtos orgânicos para outros países, o que constitui uma oportunidade para os produtores. Em regiões da África, América Latina e Ásia, a produção orgânica se destina à exportação. Austrália e Nova Zelândia também concentram sua comercialização para o mercado externo.
No Brasil, segundo dados da Associação de Promoção dos Orgânicos – Organis 2021, há baixa representatividade em relação ao consumo de leite orgânico em comparação aos demais produtos orgânicos como frutas e vegetais. Segundo informações do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, em 2020 o Brasil contava com 96 unidades produtoras de leite orgânico.
Dentre os principais desafios enfrentados pelos produtores brasileiros destaca-se a dificuldade de comercialização do leite in natura orgânico para as grandes indústrias de laticínios, o que faz com que alguns produtores utilizem a agregação de valor a este leite por meio das agroindústrias rurais, com a produção de queijos, manteiga, bebidas lácteas e até mesmo o envase de leite orgânico in natura.
Outra maneira encontrada para incrementar a renda na produção de leite orgânico são as visitas guiadas nas propriedades, onde o público consumidor tem a oportunidade de conhecer todo o processo produtivo. Esta estratégia tem garantido para os produtores a remuneração de capital anual e o valor final maior do que os produtos convencionais, além de auxiliar no desenvolvimento da cultura e tradição locais.
A produção de leite orgânico deve seguir as técnicas regulamentadas pela legislação vigente, instituídas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com garantia da sua qualidade e rastreabilidade por meio da certificação. Dentre estas técnicas recomenda-se que a alimentação seja equilibrada para suprir todas as necessidades dos animais. Os suplementos devem ser isentos de antibióticos, hormônios e vermífugos, sendo proibidos aditivos promotores de crescimento, estimulantes de apetite e ureia, bem como suplementos ou alimentos derivados ou obtidos de organismos geneticamente modificados. Neste aspecto, ressalta-se que 85% da matéria seca consumida por ruminantes deve ter origem orgânica.
A cadeia de produção do leite orgânico deve ocorrer de maneira integrada, já que está baseada na cultura agroecológica, tendo entre seus princípios o manejo mais natural e menos químico das terras e dos pastos, contribuindo para o aumento da biodiversidade dos microrganismos no solo, fixação de carbono, redução de pastagens degradadas, entre outras estratégias que beneficiam o meio ambiente. Ela também se apoia em técnicas de bem-estar animal, mitigação do uso de parasitários e antibióticos nos animais, colaborando para a redução da resistência antimicrobiana.
Ainda existem muitos aspectos que dificultam o desenvolvimento do setor de leite orgânico nas diferentes regiões do mundo. No Brasil, dados de uma pesquisa realizada pela Embrapa em 2020 demostra que, além da dificuldade de comercialização, os produtores identificam problemas como escassez e alto preço dos insumos orgânicos, sendo poucos os fornecedores certificados. Assim, o criador precisa ser autossuficiente, o que nem sempre é possível em virtude das dimensões de sua propriedade.
Problemas sanitários como mastite, endo e ecto parasitas exigem cuidado redobrado com o manejo, já que os animais estão mais suscetíveis a doenças. A falta de conhecimento em manejo orgânico e de consultoria técnica especializada e a necessidade de reduzir a burocracia do processo de certificação, com maior clareza das normas e menor custo, também estão entre as dificuldades mencionadas.
O estudo feito pelo brasileiro Carlos Cândido da Silva Cyrne com produtores de leite orgânico na Galícia, na Espanha, em 2022, revela que, apesar de enfrentarem estes mesmos problemas, os produtores de leite da região afirmam que preferem permanecer nesta atividade porque ela permite o bem-estar social e é tida como um estilo de vida, um ideal, dadas as preocupações sociais e ambientais que envolve.
Embora ainda se tenha atenção limitada à dimensão social da produção de leite orgânico em relação a serviços sociais e ambientais, a literatura aponta alto valor agregado, sugerindo que há necessidade de as autoridades governamentais e privadas incentivarem sua produção e comercialização.
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Derivados lácteos sobem em outubro, mas mercado prevê quedas no trimestre
OCB aponta que, em outubro, os preços médios do leite UHT e do queijo muçarela negociados entre indústrias e canais de distribuição em São Paulo registraram ligeiras altas de 0,66% e de 0,59% frente a setembro/24.
Preço sobe em setembro, mas deve cair no terceiro trimestre
A pesquisa do Cepea mostra que, em setembro, a “Média Brasil” fechou a R$ 2,8657/litro, 3,3% acima da do mês anterior e 33,8% maior que a registrada em setembro/23, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de setembro). O movimento de alta, contudo, parece ter terminado. Pesquisas ainda em andamento do Cepea indicam que, em outubro, a Média Brasil pode recuar cerca de 2%.
Derivados registram pequenas valorizações em outubro
Pesquisa realizada pelo Cepea em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) aponta que, em outubro, os preços médios do leite UHT e do queijo muçarela negociados entre indústrias e canais de distribuição em São Paulo registraram ligeiras altas de 0,66% e de 0,59% frente a setembro/24, chegando a R$ 4,74/l e a R$ 33,26/kg, respectivamente. No caso do leite em pó (400g), a valorização foi de 4,32%, com média de R$ 31,49/kg. Na comparação com o mesmo período de 2023, os aumentos nos valores foram de 18,15% para o UHT, de 21,95% para a muçarela e de 12,31% para o leite em pó na mesma ordem, em termos reais (os dados foram deflacionados pelo IPCA de out/24).
Exportações recuam expressivos 66%, enquanto importações seguem em alta
Em outubro, as importações brasileiras de lácteos cresceram 11,6% em relação ao mês anterior; frente ao mesmo período do ano passado (outubro/23), o aumento foi de 7,43%. As exportações, por sua vez, caíram expressivos 65,91% no comparativo mensal e 46,6% no anual.
Custos com nutrição animal sobem em outubro
O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira subiu 2,03% em outubro na “média Brasil” (BA, GO, MG, SC, SP, PR e RS), puxado sobretudo pelo aumento dos custos com nutrição animal. Com o resultado, o COE, que vinha registrando estabilidade na parcial do ano, passou a acumular alta de 1,97%.
Bovinos / Grãos / Máquinas Protecionismo econômico
O produtor rural brasileiro está cansado de ser tratado com desrespeito
CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard afirma que a rede vai deixar de comercializar carnes oriundas do Mercosul pois os produtos sul-americanos não cumprem as exigências e normas sanitárias.
A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), entidade representativa, sem fins lucrativos, emite nota oficial para rebater declarações do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard. Nas suas recentes declarações o CEO afirma que a rede vai deixar de comercializar carnes oriundas do Mercosul pois os produtos sul-americanos não cumprem as exigências e normas sanitárias .
Veja abaixo, na integra, o que diz a nota:
O produtor rural brasileiro está cansado de ser tratado com desrespeito aqui dentro e mundo afora.
O protecionismo econômico de muitos países se traveste de protecionismo ambiental criando barreiras fantasmas para tentar reduzir nossa capacidade produtiva e cada vez mais os preços de nossos produtos.
Todos sabem que é difícil competir com o produtor rural brasileiro em eficiência. Também sabem da necessidade cada vez maior de adquirirem nossos produtos pois além de alimentar sua população ainda conseguem controlar preços da produção local.
A solução encontrada por esses países principalmente a UE e nitidamente a França, foi criar a “Lei Antidesmatamento” para nos impor regras que estão acima do nosso Código Florestal. Ora se temos uma lei, que é a mais rigorosa do mundo e a cumprimos à risca qual o motivo de tanto teatro? A resposta é que a incapacidade de produzir alimentos em quantidade suficiente e a também incapacidade de lidar com seus produtores faz com que joguem o problema para nós.
Outra questão: Por que simplesmente não param de comprar da gente já que somos tão destrutivos assim? Porque precisam muito dos nossos produtos mas querem de graça. Querem que a gente negocie de joelhos com eles. Sempre em desvantagem. Isso é uma afronta também à soberania nacional.
O senador Zequinha Marinho do Podemos do Pará, membro da FPA, tem um projeto de lei (PL 2088/2023) de reciprocidade ambiental que torna obrigatório o cumprimento de padrões ambientais compatíveis aos do Brasil por países que comercializem bens e produtos no mercado brasileiro.
Esse PL tem todo nosso apoio porque é justo e recíproco, que em resumo significa “da mesma maneira”. Os recentes casos da Danone e do Carrefour, empresas coincidentemente de origem francesa são sintomáticos e confirmam essa tendência das grandes empresas de jogar para a plateia em seus países- sede enquanto enviam cartas inócuas de desculpas para suas filiais principalmente ao Brasil.
A Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), Estado com maior rebanho bovino do País e um dos que mais exporta, repudia toda essa forma de negociação desleal e está disposta a defender a ideia da suspensão do fornecimento de animais para o abate de frigoríficos que vendam para essas empresas.
Chega de hipocrisia no mercado, principalmente pela França, um país que sempre foi nosso parceiro comercial, vendendo desde queijos, carros e até aviões para o Brasil e nos trata como moleques.
Nós como consumidores de muitos produtos franceses devemos começar a repensar nossos hábitos de consumo e escolher melhor nossos parceiros.
Com toda nossa indignação.
Oswaldo Pereira Ribeiro Junior
Presidente da Acrimat
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Queijo paranaense produzido na região Oeste está entre os nove melhores do mundo
Fabricado em parque tecnológico do Oeste do estado, Passionata foi o único brasileiro no ranking e também ganhou título de melhor queijo latino americano no World Cheese Awards.
Um queijo fino produzido no Oeste do Paraná ficou entre os nove melhores do mundo (super ouro) e recebeu o título de melhor da América Latina no concurso World Cheese Awards, realizado em Portugal. Ele concorreu com 4.784 tipos de queijos de 47 países. O Passionata é produzido no Biopark, em Toledo. Também produzidos no parque tecnológico, o Láurea ficou com a prata e o Entardecer d´Oeste com o bronze.
As três especialidades de queijo apresentadas no World Cheese Awards foram desenvolvidas no laboratório de queijos finos e serão fabricadas e comercializadas pela queijaria Flor da Terra. O projeto de queijos finos do Biopark é realizado em parceria com o Biopark Educação, existe há cinco anos e foi criado com a intenção de melhorar o valor agregado do leite para pequenos e médios produtores.
“A transferência da tecnologia é totalmente gratuita e essa premiação mostra como podemos produzir queijos finos com muita qualidade aqui em Toledo”, disse uma das fundadoras do Biopark, Carmen Donaduzzi.
“Os queijos finos que trouxemos para essa competição se destacam pelas cores vibrantes, sabores marcantes e aparências únicas, além das inovações no processo produtivo, que conferem um diferencial sensorial incrível”, destacou o pesquisador do Laboratório de Queijos Finos do Biopark, Kennidy Bortoli. “A competição toda foi muito emocionante, saber que estamos entre os nove melhores queijos do mundo, melhor da América Latina, mostra que estamos no caminho certo”.
O Paraná produz 12 milhões de litros por dia, a maioria vem de pequenos e médios produtores. Atualmente 22 pequenos e médios produtores de leite fazem parte do projeto no Oeste do Estado, produzindo 26 especialidades de queijo fino. Além disso, no decorrer de 2024, 98 pessoas já participaram dos cursos organizados pelo Biopark Educação.
Neste ano, foram introduzidas cinco novas especialidades para os produtores vinculados ao projeto de queijos finos: tipo Bel Paese, Cheddar Inglês, Emmental, Abondance e Jack Joss.
“O projeto é gratuito, e o único custo para o produtor é a adaptação ou construção do espaço de produção, quando necessário”, explicou Kennidy. “Toda a assessoria é oferecida pelo Biopark e pelo Biopark Educação, em parceria com o Sebrae, IDR-PR e Sistema Faep/Senar, que apoiam com capacitação e desenvolvimento. A orientação cobre desde a avaliação da qualidade do leite até embalagem, divulgação e comercialização do produto”.
A qualidade do leite é analisada no laboratório do parque e, conforme as características encontradas no leite, são sugeridas de três a quatro tecnologias de fabricação de queijos que foram previamente desenvolvidas no laboratório com leite com características semelhantes. O produtor então escolhe a que mais se identifica para iniciar a produção.
Concursos estaduais
Para valorizar a produção de queijos, vão iniciar em breve as inscrições para a segunda edição do Prêmio Queijos do Paraná, que conta com apoio do Governo do Paraná. As inscrições serão abertas em 1º de dezembro de 2024, e a premiação acontece em 30 de maio de 2025. A expectativa é de que haja mais de 600 produtos inscritos, superando a edição anterior, que teve 450 participantes. O regulamento pode ser acessado aqui. O objetivo é divulgar e valorizar os derivados lácteos produzidos no Estado.
O Governo do Paraná também apoia o Conecta Queijos, evento voltado a produtores da região Oeste. Ele é organizado em parceria pelo o IDR-Paran