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Lei dos Pesticidas ou PL do Veneno?

É necessário manter as competências constitucionais atribuídas aos órgãos da agricultura, saúde e meio ambiente na avaliação e fiscalização desses produtos.

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Recentemente o PL 6299/2002 foi debatido e aprovado no Plenário da Câmara dos Deputados. Foram discutidas questões relacionadas à segurança alimentar, número de registros aprovados nos últimos anos, modernização, defesa da vida e participação da Anvisa e do Ibama no processo regulatório.

Os debates sobre esse tema normalmente são bastante acalorados e, infelizmente, em muitos casos, sem a tecnicidade e rigor cientifico que o tema exige.

A Lei 7.802/89 na época da sua publicação foi, sem dúvida alguma, uma lei inovadora, trazendo para o processo de avaliação dos pesticidas e dos produtos de controle ambiental, os órgãos da agricultura, saúde e meio ambiente.  Após 30 anos de vigência, o cenário regulatório apresentado exige um passo além. É necessário manter as competências constitucionais atribuídas aos órgãos da agricultura, saúde e meio ambiente na avaliação e fiscalização desses produtos. Contudo, também é necessário buscar uma melhor divisão de competências, a fim de se evitar retrabalho e melhorar a eficiência e transparência nos processos de avaliação.

Conselheira do CCAS e advogada especialista em agronegócio, Lidia Cristina Jorge dos Santos

Tudo isso deve ser feito com a manutenção das garantias de segurança à saúde do trabalhador, do consumidor de alimentos e do meio ambiente, sem prejuízo da eficácia dos produtos a serem aplicados no campo.

E nesse sentido, a proposta de uma nova Lei dos pesticidas representa uma atualização do marco regulatório que permite a previsibilidade, a transparência e a aplicação da ciência como base de análise dos produtos, além de garantir a proteção do meio ambiente e da saúde. Veja o que o PL propõe de forma resumida:

ü  Alteração da nomenclatura (De agrotóxicos para Pesticidas e Produtos de Controle Ambiental): O Brasil é a única nação que chama essas substâncias de agrotóxicos. Na América Latina são produtos fitossanitários e praguicidas; nos Estados Unidos, na Espanha e em Portugal pesticidas.

ü  A implementação de sistemas informatizados: O Substitutivo apresentado reitera a necessidade de informatização do processo e interação entre os órgãos MAPA, IBAMA e ANVISA.

ü  Competências da saúde, agricultura e meio ambiente: A proposta apresentada procurou evitar que órgãos envolvidos no processo de avaliação praticassem os mesmos atos, evitando-se com isso “retrabalho”.  As competências atribuídas aos órgãos registrantes (seja agricultura ou meio ambiente), não excluem, as competências dos órgãos responsáveis pelos setores do meio ambiente e saúde, principalmente no que se refere ao estabelecimento de exigências para a elaboração dos dossiês e, ainda, quanto à avaliação do risco ambiental ou toxicológico.  Além disso, as competências atinentes à fiscalização decorrem da própria Constituição Federal e estão contempladas no inciso II, do art. 8 do Substitutivo.

ü  Avaliação de Risco para aprovação dos pesticidas: A ANVISA já adotada essa forma de avaliação desde 2019 (RDC 294/2019). Trata-se de uma ferramenta científica de sistematização das informações disponíveis para a tomada de decisão, reconhecida internacionalmente há muitos anos, sendo utilizada desde a década de 70, como ferramenta para a decisão regulatória por importantes agências como EPA e o FDA nos EUA e a EFSA na Europa.

Presidente do CCAS, engenheiro agrônomo e professor sênior da ESALQ/USP, José Otávio Menten

ü  Registro Temporário (RT): Trata-se de uma novidade. O Substitutivo apresentado ao PL 6299/02 estabelece a concessão do registro temporário (RT), pelo órgão registrante, quando o solicitante cumprir com o estabelecido pela Lei, mas não houver manifestação conclusiva pelos órgãos responsáveis pela Agricultura, Meio Ambiente e Saúde dentro dos prazos acima indicados. Como requisitos para a emissão do RT, a Lei exige que os produtos estejam registrados para culturas similares ou para usos ambientais similares em pelo menos três países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE que adotem, nos respectivos âmbitos, o Código Internacional de Conduta sobre a Distribuição e uso de Pesticidas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO.

ü  Registro para pesquisa e experimentação.  O Substitutivo propõe que registro para pesquisa e experimentação somente seja exigido para ingredientes ativos ainda não registrados. Previsão já contida no Decreto 10.833/2021.

ü  Produtos destinados exclusivamente para exportação: O Substitutivo dispensa do registro os produtos destinados exclusivamente à exportação, substituindo o registro por um comunicado de produção para a exportação. A dispensa proposta visa desburocratizar o sistema de exportação, já que que cada País está submetido a regras próprias para utilização de pesticidas e todo o sistema de produção e transporte interno desses produtos já é regulamentado.

ü  Autorização de extensão de uso de pesticidas em culturas com suporte fitossanitário insuficiente: O Substitutivo apresentado cria uma autorização de extensão de uso de pesticidas em culturas com suporte fitossanitário insuficiente – CSFI, a ser concedida pelo MAPA, o que permite que um agricultor utilize produtos que inicialmente não foram registrados para aquela cultura, desde que cumpridos os requisitos ali previstos.

ü  Reavaliação x Reanálise: A proposta apresentada disciplina de modo mais seguro o procedimento de reavaliação, esclarecendo quais os critérios técnicos a serem observados e, ainda, as competências de cada órgão envolvido, de modo a contemplar a segurança jurídica do processo. A proposta, traz, ainda, uma importante inovação ao estabelecer a necessidade de um plano fitossanitário de substituição do produto em reanálise, visando o controle de alvos biológicos que por ventura possam ficar sem alternativas para manejo.

ü  Das competências da União, dos Estados, do Distrito Federal: As competências da União, dos Estados e do Distrito Federal já estão estabelecidas na Constituição Federal. O Projeto Substitutivo prevê que os Estados e o Distrito Federal usem os dados existentes no registro dos órgãos federais para o exercício de suas atividades de controle e fiscalização, o que diminui a burocracia, eliminando a necessidade das empresas comerciantes realizarem o cadastro em todos os Estados, para só então poderem comercializar seus produtos. Se o produto já está autorizado pelos órgãos registrantes não há justificativa para que não possam ser comercializados em um dos Estados da Federação.

ü  Penalidades: Outra alteração trazida pelo Substitutivo é o considerável aumento do valor da penalidade de multa e reprimenda de crimes de contrabando.

ü  Produção própria (on farm):  Durante a votação do PL, foi acolhida uma sugestão de mudança pontual que prevê que os pesticidas biológicos para uso próprio não precisam de registro em algumas situações.  A regra vale para os biológicos produzidos por pessoa física ou jurídica para uso em lavouras próprias. Essa inovação causa preocupação e contém uma contradição com as diretrizes de avaliação de segurança a que se propõe a nova legislação.

A discussão desse Projeto de Lei, agora irá ao Senado e irá contribuir para o aprimoramento dos instrumentos regulatórios vigentes.

A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: agriculturasustentavel.org.br.

CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

Fonte: Por Lidia Cristina Jorge dos Santos, conselheira do CCAS e advogada especialista em agronegócio, e José Otávio Menten, presidente do CCAS, engenheiro agrônomo e professor sênior da ESALQ/USP

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O dilema da redução do uso de agrotóxicos

Volume absoluto de agrotóxicos (químicos e biológicos) vai continuar crescendo no Brasil, pois a agricultura do país está em processo de expansão e de intensificação no uso de tecnologias.

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O uso eficiente dos recursos é um dos princípios que norteiam o desenvolvimento agrícola sustentável, que visa equilibrar a produção de alimentos, fibras e energia limpa com a conservação ambiental, a equidade social e a viabilidade econômica.

Em reunião realizada no dia 17/09/24 com os chefes dos Três Poderes para discutir a emergência causada pelo novo recorde de incêndios no país, o presidente Lula discursou contra o “uso em excesso de agrotóxicos”. Como desdobramento das discussões, o Governo Federal lançou em 16/10/24 um plano para retirar de circulação agrotóxicos considerados altamente tóxicos, o Plano Nacional de Redução de Agrotóxicos. O tema, que é polêmico e divide a opinião pública, será normatizado por meio de uma portaria que irá mapear os produtos mais tóxicos e estimular a substituição por bioinsumos.

Nos últimos 40 anos, o Brasil deixou de ser um país importador de alimentos para ser um dos maiores exportadores, alimentando mais de 800 milhões de pessoas no mundo, exportando seus excedentes para mais de 200 países. Portanto, é natural que o país seja um dos maiores consumidores em números absolutos de insumos e tecnologias agrícolas.

A afirmação de que o Brasil importa e usa pesticidas proibidos em outros países é equivocada, pois desconsidera as diferentes razões regulatórias, econômicas e agronômicas de um produto não estar registrado em um determinado país ou bloco econômico, como a União Européia. O fato de um pesticida ser ou não ser registrado na Europa, não determina a sua segurança para a saúde das pessoas ou para o meio ambiente. Em meio a uma guerra de narrativas e pontos de vista diferentes entre o Mapa e o MDA, é necessário desenvolver políticas públicas eficazes para melhoria dos indicadores de sustentabilidade do agro, com base em fatos, dados de pesquisa e na boa ciência, pois a redução do uso de agrotóxicos por área tratada já é uma realidade e a solução não deveria ser tratada de forma ideológica.

Assim como as sementes, os fertilizantes e os bioinsumos, os pesticidas químicos (herbicidas, fungicidas, inseticidas e outros) são insumos agrícolas essenciais para a produção agrícola em escala global, pois são indispensáveis para proteger os cultivos contra o ataque de pragas, doenças e plantas daninhas. Dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) revelam que até 40% da produção agrícola é perdida no mundo devido ao ataque de pragas. Sem os agrotóxicos, as perdas seriam incalculáveis, provocando aumento de preços e colocando em risco a segurança alimentar.

De acordo com o relatório do Ibama, o volume de agrotóxicos comercializados entre 2009 e 2022 cresceu de 306.785 t para 800.652 t de produtos formulados, um aumento de 260% que tem sido alardeado pelos movimentos contrários aos agrotóxicos. No mesmo período, de acordo com o IBGE, a área plantada cresceu 132%. O aumento no volume absoluto de agrotóxicos é compreensível e justificável diante do aumento da adoção de tecnologia no campo, que visa ganhos de produtividade e competitividade na agricultura. De 2022 para 2023 a área tratada com agrotóxicos aumentou 10,5% e o volume de produto aplicado cresceu 9,5%, de acordo com os dados de pesquisa realizada pela Kynetec. Dados do Censo Agropecuário de 2017 constataram que cerca de 1,7 milhão de estabelecimentos rurais (33%) declararam usar agrotóxicos, o que representou um aumento de 12% na proporção quando comparado ao Censo de 2006.

De 2017 para cá, o número de estabelecimentos utilizando agrotóxicos certamente aumentou. Com relação ao número de tratores, que intensifica o uso de insumos, havia quase 1,3 milhão de tratores em 734 mil estabelecimentos agropecuários no Censo de 2017, o que representou um aumento de quase 50% em relação ao Censo de 2006. Esses aumentos materializam o processo de intensificação do uso de tecnologia no Brasil, acompanhando o crescimento da agricultura comercial e de larga escala. Vale destacar que em 2022 o agronegócio respondeu por cerca de 50% das exportações (~US$ 160 bilhões) e representou 26,6% do PIB, além de ser responsável por 20% da força de trabalho no país.

De acordo com os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o custo médio com agrotóxicos na lavoura de soja, cultivo que representa 55% da área tratada, varia entre 20% e 30%, dependendo da região e das condições climáticas. Dentro da porteira, os agricultores buscam continuamente soluções para reduzir seus custos e a complexidade das operações. Ou seja, se fosse possível, não aplicariam agrotóxicos e ainda economizariam água, diesel, tempo e mão-de-obra especializada.

Se o objetivo é reduzir o uso de agrotóxicos, deveríamos analisar as iniciativas que estão sendo mais eficazes e aquelas que não funcionaram satisfatoriamente, entendendo que a redução do uso de insumos por área tratada é um grande desejo dos agricultores.

A redução do uso de agrotóxicos por área tratada já é uma realidade nas fazendas mais tecnificadas. Reduzir os custos com insumos agrícolas representa maior eficiência na gestão e exige conhecimento agronômico, a adoção de soluções inovadoras e um processo de tomada de decisão com base no monitoramento e na análise de dados de campo.

Sem a pretensão de esgotar o assunto, é possível listar pelo menos cinco iniciativas e exemplos concretos que estão contribuindo significativamente para a redução do uso de agrotóxicos por área tratada:

Uso de biotecnologias e de sementes geneticamente avançadas: o ano de 2023 marcou 25 anos da aprovação dos transgênicos. Um estudo realizado pela Agroconsult destaca a redução acumulada na dosagem aplicada de agrotóxicos (incluindo adjuvantes) de 35% para soja, de 16,2% para milho verão, de 16,4% para milho inverno e de 27,5% para algodão.
Novas moléculas, mais seletivas, com ação específica e com perfil toxicológico e ambiental mais amigável: redução na dose média em gramas de ingrediente ativo por hectare (g.i.a./ha), entre os produtos lançados na década de 1970 (1.200 g.i.a/ha) e os produtos atuais (180 g.i.a/ha).
Agricultura de precisão: reduções na aplicação entre 30% e 50%, pois essas tecnologias permitem identificar pragas e doenças de forma mais precisa, aplicando os produtos químicos apenas nas áreas necessárias.

Técnicas de Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas: o Programa MIP-Soja Paraná, liderado pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e a Embrapa Soja, reduziu em 50% o uso de inseticidas para controlar pragas na cultura da soja. Além da soja, o sucesso do MIP para a redução do número de aplicações de agrotóxicos já foi relatado nos cultivos de algodão, café, milho e tomate, dentre outros.

Evolução tecnológica e crescimento do mercado de bioinsumos: O uso de controle biológico com a Cotesia flavipes é um bom exemplo. Trata-se de uma vespa parasitoide que ataca a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), que tem se mostrado uma estratégia eficaz para reduzir a necessidade de aplicação de inseticidas químicos em 50 e 70% na cultura da cana-de-açúcar. Vale destacar que o controle biológico é parte integrante do MIP e são vários os casos de sucesso com bioinsumos.
Na contramão das iniciativas que estão dando certo, vale destacar dois episódios recentes que tentaram impor uma agenda regulatória para reduzir o uso de agrotóxicos e falharam:

Sri Lanka: em 2021, o então presidente Gotabaya Rajapaksa implementou uma política de proibição total de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, como parte de um plano para converter a agricultura do país em 100% orgânica. O resultado foi uma queda na produção de alimentos, crise econômica e social, que resultou em grandes protestos contra o governo. Em julho de 2022, o presidente foi forçado a renunciar e fugir do país após meses de manifestações intensas.

União Europeia: em 2019 foi lançado o “Green Deal” (Pacto Verde Europeu). No que diz respeito ao uso de pesticidas, o Pacto incluía a estratégia “Farm to Fork” (Do Campo à Mesa), que visava reduzir em 50% o uso de pesticidas químicos até 2030. Diante de uma onda de protestos em 2024, uma proposta para a regulamentação do uso de pesticidas foi rejeitada, o que foi visto como um revés importante na implementação da estratégia, enfraquecendo os objetivos originais. Estas ações impactaram os resultados das eleições, estabelecendo limites para a onda de populismo verde no velho continente.

A conclusão é que o volume absoluto de agrotóxicos (químicos e biológicos) vai continuar crescendo no Brasil, pois a agricultura do país está em processo de expansão e de intensificação no uso de tecnologias. Produtos mais tóxicos tendem a ser substituídos por outros menos tóxicos, desde que não comprometam a eficácia agronômica e o manejo de resistências. Com relação ao uso de agrotóxicos por área tratada, a tendência é continuar reduzindo, pois os agricultores estão em busca de soluções cada vez mais sustentáveis, visando melhorar a eficiência na gestão das propriedades rurais. A otimização do uso de insumos agrícolas é uma agenda com forte apelo econômico, ambiental e social. Para avançar mais rapidamente, será necessário aperfeiçoar as políticas públicas, criando incentivos e aumentando os investimentos em educação profissionalizante e em assistência técnica. A solução passa longe dos movimentos ideológicos e protecionistas que vivem tentando impor barreiras e restrições de ordem regulatória ao agro brasileiro.

Fonte: Por Roberto Araújo, Engenheiro agrônomo, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), mestre em Agronegócios e pós-graduado em Engenharia de Irrigação e Proteção de Plantas
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Desafio da sucessão familiar no agronegócio: quando gerações e tecnologias se (des) encontram

Conflito de gerações e a resistência ao uso de tecnologias são obstáculos reais e palpáveis no trabalho do campo, mas que podem ser superados com diálogo e capacitação.

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Foto: Divulgação/Pixabay

Um dos principais motores da economia nacional, o agronegócio é responsável por grande parte do PIB, das exportações e da geração de empregos no país. A sustentabilidade deste setor produtivo envolve o conceito de sucessão familiar, que garante a continuidade das atividades e preserva o conhecimento adquirido ao longo de gerações. Esse processo é essencial para manter a estabilidade econômica e a inserção de tecnologia no campo, buscando práticas mais eficientes e sustentáveis.

Historicamente, o setor do agronegócio apresenta uma predominância pela passagem da gestão de geração para geração. Este momento de troca na gerência é decisivo, e, muitas vezes, conturbado. As gerações mais antigas cresceram em um modelo tradicional, e as atuais, normalmente se mostram mais abertas a inovações.

Conflitos geracionais e a mudança de percepção relacionada ao uso de tecnologias modernas, como a Inteligência Artificial na gestão de propriedades rurais são os grandes desafios enfrentados pelas diferentes gerações na sucessão familiar.

Outro fator que causa turbulências é a mudança estrutural da sociedade – a hierarquia e liderança deixam de ter a idade como principal critério e passam a ter na capacidade as suas definições, derrubando a antiga concepção de que para subir na carreira e liderar era imprescindível um longo tempo de experiência, a ideia de “esperar a sua vez”.

No que diz respeito à forma de trabalhar o agro, costumava-se ver o campo de forma mais conservadora, com base no conceito do “olho do dono” e a experiência na terra. Isto acarreta na possibilidade de resistir a tudo que desafia a antiga forma de trabalho, rotulando como “desnecessárias” ou “complexas” as novas tecnologias. Aos mais antigos, falta confiança nas soluções oferecidas pela tecnologia, e parece intimidante o processo de mudança. Afinal, se tudo deu certo até aqui, por que mudar?

Inegável que a transformação digital está revolucionando a maneira de produzir, desde o monitoramento das lavouras até a análise preditiva das safras, passando pela gestão econômica do agronegócio. O potencial destas inovações paira na otimização dos processos, com o objetivo de melhorar a eficiência e, por consequência, alavancar os resultados econômicos da atividade agropecuária.

Caminhos para a conciliação

Então, se a revolução tecnológica é uma realidade no mundo agro, e se impacta na forma de planejar a sucessão familiar e gerenciar conflitos geracionais, quais são os caminhos para a conciliação?

O primeiro pilar deve estar bem sedimentado na comunicação. O diálogo aberto entre pais e filhos sobre o futuro da propriedade é primordial para o início do planejamento sucessório. Como segundo pilar, temos o respeito e a colaboração mútuos, considerando a experiência dos mais velhos, assim como os conhecimentos modernos adquiridos pelos mais novos.

Fechando esse triângulo conceitual colocamos o pilar da capacitação. Programas de capacitação e familiarização com as novas tecnologias – especialmente se trabalhados em conjunto – podem ajudar a diminuir a resistência, e facilitar uma inserção gradual da inovação como objeto de trabalho.

O conflito de gerações e a resistência ao uso de tecnologias são obstáculos reais e palpáveis no trabalho do campo, mas que podem ser superados com diálogo e capacitação. Manter a mentalidade aberta é essencial para garantir a longevidade dos negócios familiares e a competitividade no mercado global, uma vez que, com a integração correta, a tecnologia pode transformar o agronegócio, proporcionando mais eficiência e sustentabilidade.

A sucessão bem planejada impacta diretamente a população, uma vez que o agronegócio é responsável pela produção de alimentos e matérias-primas que abastecem o mercado urbano. A continuidade dessas propriedades familiares assegura a oferta de produtos agrícolas de qualidade e acessíveis, que influenciam diretamente o custo de vida, a segurança alimentar e o bem-estar das comunidades urbanas.

Fonte: Por Mônica Jasper, engenheira agrônoma, doutora em Agricultura, pedagoga e coordenadora do ensino técnico em Agropecuária do Instituto Cristão Mackenzie.
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Qual o papel da Tecnologia da Informação na transição energética?

Ao impulsionar o desenvolvimento de energias renováveis, melhorar a eficiência e digitalizar os sistemas energéticos, seja com tecnologias já disponíveis, seja pela pesquisa, desenvolvimento e inovação, incorporando novas tecnologias, a Tecnologia da Informação promove um futuro energético mais sustentável e abre novas oportunidades para o crescimento econômico e o desenvolvimento social.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A transição energética é um processo global crucial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e promover o uso sustentável dos recursos naturais. Nesse contexto, a tecnologia desempenha um papel fundamental, atuando como catalisadora de mudanças significativas nos sistemas energéticos atuais e futuros.

Fotos: Gabriel Rosa

A tecnologia tem impulsionado avanços significativos nas energias renováveis como solar, eólica, hidrelétrica e geotérmica. Inovações como os painéis solares mais eficientes, turbinas eólicas de maior capacidade e técnicas aprimoradas de armazenamento de energia têm tornado essas fontes mais acessíveis e competitivas. A implementação de tecnologias de eficiência energética em edifícios, indústrias e transportes tem reduzido o consumo e as emissões de carbono. Sistemas inteligentes de gestão de energia, iluminação LED e veículos elétricos já são exemplos de como a tecnologia pode transformar essa realidade.

Embora os custos das tecnologias renováveis tenham diminuído, ainda existem desafios econômicos significativos em algumas regiões. A transição requer uma atualização extensa da infraestrutura existente para suportar novas tecnologias e modelos de negócios. Isso inclui redes elétricas adaptadas, pontos de carregamento para veículos elétricos, infraestrutura de armazenamento, etc. Mais do que isso, serão necessários fortes investimentos em tecnologia da informação, com o objetivo de ganhos de produtividade e eficiência energética em toda a cadeia, resultando, consequentemente, numa matriz energética mais limpa.

A indústria de óleo e gás (IO&G) é hoje provedora de cerca de 80% da energia primária consumida no planeta e, desta forma, seus produtos baseados no carbono são fortes contribuintes para o quadro das mudanças climáticas. Nesse sentido, a Tecnologia da Informação desempenha um papel crucial na viabilização da transição energética dessa indústria ao longo de toda a sua cadeia de valor, desde a exploração e produção, até o refino, transporte e comercialização.

Sua contribuição está no monitoramento e gestão de energia, integração de energias e combustíveis renováveis, criação de redes inteligentes (smart grids) e utilização de Inteligência Artificial (IA) com tecnologias como IoT, big data e analytics. Essas tecnologias permitem a medição de parâmetros por toda a cadeia, armazenamento de energia em larga escala, modelagem e simulação, desenvolvimento e implementação de soluções que melhoram a produtividade e a eficiência energética.

Um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) demonstra que a transição energética não avançará sem que a IO&G incorpore novas reservas e produção de petróleo e gás natural. Essa incorporação deverá se dar de forma a não emitir CO₂ como ocorre atualmente, seja por minimizar a intensidade de carbono em seus produtos (pex, substituindo carvão e óleo por hidrogênio e gás natural), ou pela captura e armazenamento do CO₂ existente no rejeito de seus produtos.

É evidente que a Tecnologia da Informação é uma ferramenta fundamental na transição energética global, oferecendo soluções inovadoras para os desafios ambientais e econômicos enfrentados pela sociedade moderna. Ao impulsionar o desenvolvimento de energias renováveis, melhorar a eficiência e digitalizar os sistemas energéticos, seja com tecnologias já disponíveis, seja pela pesquisa, desenvolvimento e inovação, incorporando novas tecnologias, ela promove um futuro energético mais sustentável e abre novas oportunidades para o crescimento econômico e o desenvolvimento social.

Fonte: Por Paulo Barreiros, consultor de Negócios de O&G no Instituto de Pesquisas Eldorado.
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