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Jazidas e bioinsumos minimizam falta de fertilizante estrangeiro

Guerra entre Rússia e Ucrânia causa instabilidade no fornecimento, expõe dependência nacional e aponta caminhos para reduzir impactos e perdas de produtividade.

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Fotos: Divulgação/FAEP

Os conflitos no Leste Europeu deixaram ainda mais visível a dependência do Brasil de fertilizantes estrangeiros. Com o desenrolar dos ataques russos à Ucrânia, muitos países impuseram sanções econômicas à Rússia, o que deixou a importação destes insumos na corda-bamba. Isso porque a agricultura brasileira utiliza 85% comprados do exterior, sendo que o país comandado por Vladimir Putin é responsável por 28% dos negócios.

O Paraná recebe uma fatia significativa dos insumos NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) do exterior, sendo o terceiro Estado que mais importa adubos e fertilizantes de outros países. Em 2021, cerca de 3,5 milhões de toneladas chegaram às lavouras paranaenses. A China e a Rússia foram as maiores fornecedoras de nitrogênio, com 32,7% e 22,5%, respectivamente. Já o potássio, 29,6% provêm do Canadá, 25,4% da Bielorússia e 21,3% da Rússia; e o fósforo, 45,3% da China e 29,1% do Egito.

“Com as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, a oferta de fertilizantes pode ser comprometida no Estado. A China é um exportador que merece atenção, visto que sua política protecionista segura matérias-primas no mercado interno, principalmente gás natural e petróleo, encarecendo os fertilizantes nitrogenados. A Bielorrússia é um aliado histórico da Rússia e sofre as mesmas sanções do Ocidente, o que compromete a importação de potássio”, destaca Bruno Vizioli, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.

Diante deste cenário delicado, agricultores já se preocupam com a possibilidade de faltar fertilizantes no mercado. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o estoque brasileiro é suficiente para o plantio até outubro, quando começa a safra de verão. Enquanto isso, o órgão tem se mobilizado para tentar garantir o suprimento ao setor. Uma das alternativas seria o estabelecimento de novos fornecedores e aumento das importações de potássio do Canadá, que detém 33% da produção mundial.

Para a especialista de mercado, Maísa Romanello, como a demanda brasileira para a próxima safra não coincide com a dos países do Hemisfério Norte, isso aumenta as chances da disponibilidade de potássio. “A questão mesmo é o preço, já que agora existe um monopólio por parte do Canadá”, elenca. “O potássio é importante para todas as culturas agrícolas. É um nutriente que não fica armazenado no solo, sofre lixiviação [perda de nutriente no solo] e precisa ser colocado em maiores quantidades para ter os índices de produtividade esperados”, acrescenta Maísa.

Na avaliação de César Castro, especialista em commodities da Consultoria Agro do Itaú BBA, ainda que seja uma solução parcial, é improvável que o Canadá consiga suprir a demanda mundial de potássio e compensar a saída da Rússia e da Bielorússia do mercado. Ainda, Castro não descarta a possibilidade de faltar fertilizantes para a safra de verão.

“Mesmo que a guerra termine, aparentemente as sanções seguirão. Claro que alimentos, commodities, energia e fertilizantes têm ficado de fora das sanções, mas existem várias dificuldades de operacionalizar isso, como sistemas de pagamentos e relações de confiança entre compradores e vendedores, que ficaram abaladas. Ainda há uma série de incertezas. No entanto, qualquer problema vai refletir somente em 2023”, analisa Castro.

Uso de dejetos animais

Enquanto o governo federal não estabelece novos acordos, o setor agrícola se mobiliza para avaliar opções para driblar o cenário de escassez. O uso de bioinsumos de origem animal tem sido considerado uma alternativa viável para mitigar os riscos de uma possível falta de fertilizantes NPK, principalmente em regiões polos suinícolas, avícolas e leiteiras.

Os dejetos produzidos pela suinocultura já são utilizados como biofertilizantes em diversas localidades do Paraná. No entanto, o potencial produtivo ainda está longe de ser integralmente explorado. Em 2020, de acordo com dados do Volume Bruto de Produção (VBP) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), foram comercializadas 7,2 milhões de toneladas de esterco suíno e bovino, 15,5% da produção total de 47 milhões de toneladas.

Em relação às camas de aviário, considerando 12 aves alojadas por m², em um ano são produzidos mais de 14,9 milhões de toneladas de dejetos. Deste volume, apenas 20,2% foram comercializados. “No cenário de redução da oferta de fertilizantes, o uso de dejetos para adubação pode reduzir a pressão sobre os importados”, aponta Vizioli, do DTE do Sistema FAEP/SENAR-PR.

A partir desta perspectiva que Douglas Leonardo Derengoski, gerente de uma propriedade de 1,2 mil hectares em Paulo Frontin, na região Sul do Estado, adotou o uso de camas de aviário na lavoura de soja. A primeira experiência está sento nesta safra, com resultados satisfatórios.

“Estamos usando [cama de aviário] para compor com fertilizantes químicos. A gente usa agricultura de precisão, identifica pontos que necessitam reforço e aplica a cama de aviário. Nestes talhões estamos colhendo 80 sacas por hectare”, conta Derengoski.

Apesar de o planejamento ser ampliar o uso de bioinsumos, o gerente não sabe se vai encontrar produtos no mercado. Atualmente faltam indústrias especializadas na venda de camas de aviário. “Existe uma dificuldade de abrir canais, identificar fornecedores. Mesmo assim, queremos, aos poucos, modificar o manejo na propriedade, e diminuir a dependência dos insumos químicos”, destaca.

Além dos benefícios econômicos, a possibilidade de gerar insumos por meio de resíduos da pecuária paranaense permitiria reduzir o impacto ambiental em relação à destinação dos dejetos, reduzindo emissões de carbono e metano. Essa alternativa, inclusive, vai ao encontro da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010 pela Lei 12.305, que determina a destinação correta e tratamento dos resíduos gerados ao longo das cadeias produtivas.

No caso da suinocultura, muitos produtores utilizam o dejeto líquido diretamente no solo como fertilizante. Outros usam biodigestores para a produção de biogás e geração de energia, cujo processamento gera, pelo menos, 80% do volume de dejeto inicial em resíduo que pode vir a ser utilizado como fertilizante (digestrato).

Desde 2006, José Carlos Colombari, produtor e presidente do Sindicato Rural de São Miguel do Iguaçu, na região Oeste do Paraná, possui dois biodigestores instalados na propriedade. A partir dos dejetos de 5 mil suínos em fase de terminação, são produzidos 50 m³ de biofertilizantes por dia, 100% aplicados sob sistema de fertirrigação em uma área de pastagens de 42 hectares, onde é mantido um rebanho de gado de corte em semiconfinamento.

“As pastagens foram recuperadas e são adubadas apenas com os biofertilizantes. Resultado disso é que somos 10 vezes mais eficientes que a média nacional. Enquanto o Brasil coloca um animal por hectare, conseguimos trabalhar com 10 por hectare, na média do ano”, afirma Colombari.

O projeto dos biodigestores na propriedade começou a partir da preocupação em reduzir o passivo ambiental. De 1997 a 2004, a suinocultura na propriedade de Colombari cresceu de 600 para 2 mil animais, causando também um aumento no volume de dejetos produzido. “Antes do biodigestor, os dejetos costumavam ficar a céu aberto, com período de armazenamento de 60 a 90 dias para a fermentação. Mas, como o volume era grande, trazia bastante desconforto para quem vivia e trabalhava na propriedade. A qualidade de vida melhorou com o tratamento dos dejetos. Não temos mais odor e insetos”, conta o proprietário, que também é presidente da Comissão Técnica de Meio Ambiente da FAEP.

Atualmente, a economia com fertilizantes nas pastagens da propriedade de Colombari gira em torno de R$ 5 mil por mês. Com os biodigestores, também são produzidos diariamente cerca de 1,4 megawatt (MW) de energia elétrica, que gera uma economia de R$ 25 mil na conta de luz no final do mês.

Recentemente, o produtor passou a investir na avicultura de corte, sendo que o objetivo é utilizar 100% da cama de aviário nas lavouras de soja e milho da propriedade. A atividade já está no seu quarto lote, com capacidade para 180 mil aves. Com uma produção estimada em 800 toneladas de cama de aviário por ano, a expectativa é economizar R$ 250 mil no gasto com adubação por ano. “Considerando a tonelada de cama em torno de R$ 120 e o atual preço dos fertilizantes, no mês, são gastos R$ 1,5 mil usando NPK contra R$ 600 usando cama de aviário”, relata.

De acordo com o levantamento realizado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, considerando a oferta de nutrientes em cada dejeto e a importação pelo Paraná, o uso da cama de aviário, caso fosse utilizado na sua totalidade, poderia suprir a importação de fósforo. Já o uso de dejetos suíno e bovino na sua totalidade seria capaz de suprir as importações de todos os adubos.

 

Eficiência

Segundo Volnei Pauletti, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em produção vegetal e nutrição de plantas, é preciso considerar que, ao utilizar dejetos animais, sólidos ou líquidos, na adubação das lavouras, o tempo para liberação dos nutrientes é maior. “Esse esterco precisa ser mineralizado com atividade biológica para liberar os nutrientes na solução do solo, diferente do adubo mineral, que já passou pelo processo de solubilização”, explica.

Apesar de o processo orgânico ser mais lento, cerca de 50% do potássio e do nitrogênio são liberados no primeiro cultivo após a aplicação, enquanto a outra metade vai sendo liberada ao longo dos próximos dois a três cultivos. A concentração de nutrientes pode variar conforme o estado físico do dejeto, ou seja, quanto mais seco estiver, maior pode ser a quantidade de nutrientes. Dessa forma, a concentração no digestrato é maior do que a contida no dejeto antes da biodigestão.

Outro ponto a ser considerado é que, no uso do esterco animal, os nutrientes são aplicados de forma conjunta. Nesse sentido, a análise do solo e o acompanhamento técnico são fundamentais para fazer a aplicação dos dejetos de acordo com as necessidades do solo e, caso precise, complementar a adubação com os fertilizantes NPK.

“Toda decisão deve ser baseada em análise do solo. Hoje a gente já tem conhecimento para usar esse insumo para melhorar as áreas da propriedade de maneira uniforme”, analisa Pauletti.

Gargalos

Mesmo com um potencial de produção significativo, o uso de dejetos animais ainda esbarra, principalmente, em dificuldades logísticas para a comercialização. O custo do frete rodoviário, baseado no valor do quilômetro rodado, poderia inviabilizar a aquisição destes insumos para regiões mais distantes das granjas e aviários.

Segundo cálculos realizados por Vizioli, do Sistema FAEP/ SENAR-PR, na suinocultura, por exemplo, a distância economicamente viável para transporte seria de 11,8 quilômetros. Nessa conta, foi considerada uma tonelada de dejeto suíno com 3% de matéria seca, o custo de aplicação, o valor do frete por quilômetro e os valores do quilo de cada nutriente em fevereiro de 2022.

Uma solução logística que poderia favorecer o escoamento dos biofertilizantes é a criação de polos industriais para captação de dejetos e geração de energia. Na avaliação de Vizioli, essa alternativa tornaria viável a instalação de uma central de biodigestor, onde pequenos e médios suinocultores concentrariam os dejetos da produção.

A maior dificuldade para transporte seria com os dejetos líquidos, provenientes de suínos e bovinos. Como a concentração de nutrientes é mais baixa nesse estado, a inviabilidade aumenta conforme a distância. “Uma estratégia seria secar o material que sai do biodigestor. Nesse caso, é preciso considerar que há um custo com a energia, mas que poderia ser sanado com o uso do biogás nos secadores”, aponta Vizioli.

A comercialização de cama de aviário é realizada com mais frequência pelos produtores paranaenses, devido ao estado sólido dos dejetos, no entanto, ainda fica restrita às regiões onde estão localizados os maiores polos avícolas do Estado.

Na avaliação de Castro, do Itaú BBA, o tempo de adaptação do solo também deve ser levado em conta ao considerar o uso de dejetos como alternativa aos fertilizantes minerais. No caso, produtores que já fazem uso da técnica, naturalmente terão maior eficiência devido à qualidade de solo construída ao longo dos anos.

“É uma alternativa que ajuda a mitigar os riscos nesse momento, mas, de preferência, para quem já faz e sabe como fazer. Quem nunca utilizou biofertilizantes, não está envolvido em práticas regenerativas, nunca fez uma análise de solo, provavelmente não vai ter grande eficiência agora. As respostas só virão mais à frente”, adverte.

Apesar do uso de dejetos mostrar potencial de exploração no Paraná, especialistas sinalizam que os biofertilizantes não substituem os fertilizantes minerais em larga escala e não resolvem o problema imediato a nível nacional, principalmente pelo alto custo com transporte.

“Em locais onde há produção e disponibilidade, é uma alternativa viável. Mas vai depender muito da localização. Muitas vezes o frete não compensa”, aponta Maísa, da Safras & Mercado. “Quem está em solos mais pobres, áreas recém-abertas, que ainda não foram estruturadas, aí é mais complicado. Não dá para dizer que existem alternativas para o Brasil todo”, complementa Castro.

Indústria organomineral

Neste cenário, também se abre a possibilidade da criação de indústrias que processem os dejetos animais, tornando mais fácil a aplicação no solo. Os fertilizantes organominerais são combinações de fontes orgânicas, como o esterco animal, com nutrientes minerais, fabricados industrialmente. Essa tecnologia representa uma alternativa promissora para a destinação segura dos resíduos animais e uma oportunidade de inovação no setor de fertilizantes.

De acordo com a Embrapa Suínos e Aves, comparado ao esterco, o fertilizante organomineral apresenta maior concentração de nutrientes por se tratar de um produto mais estável e uniforme. Já em comparação ao mineral, apresenta um potencial químico reativo relativamente inferior, porém sua eficiência agronômica pode se tornar maior no decorrer do período de desenvolvimento da cultura.

Contudo, o setor de fertilizantes organominerais ainda carece de informações estruturadas e organizadas para a prospecção de mercado e tecnologia no Brasil, como indica o estudo “Fertilizantes organominerais de resíduos do agronegócio: avaliação do potencial econômico brasileiro”, publicado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2017. Nas considerações dos autores, é preciso resolver gargalos tecnológicos associados à conversão da matéria orgânica e ao aproveitamento dos nutrientes disponíveis.

Uma das metas do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), lançado pelo governo federal neste ano é aumentar em, pelo menos, 25% o número de fábricas de fertilizantes organominerais no Centro-Oeste e Centro-Norte até 2030; em 50% até 2040; e em 100% até 2050. A proposta é aumentar a oferta em até 500% para daqui a 28 anos.

Sem incentivo, indústria nacional estagnou

A corrida por fertilizantes no mercado externo reabre uma discussão: por que o Brasil se tornou tão dependente dos insumos importados? Na avaliação dos especialistas, diversos itens podem ser pontuados nessa lista, desde questões tributárias, logísticas e ambientais que travam a produção nacional, até tecnologias insuficientes para explorar as matérias-primas necessárias.

Neste mês de março, o governo federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), num esforço para fortalecer a produção interna e reduzir a dependência das importações. As ações do PNF devem balizar o setor nos próximos 28 anos. A perspectiva é que o Brasil atinja até 60% de produção própria de fertilizantes até 2050.

No entanto, os números dos últimos anos indicam que a indústria nacional vem percorrendo um caminho oposto. Enquanto em 2018 a produção brasileira de fertilizantes girava em torno de 7,4 mil toneladas, em 2021 caiu para 6,3 mil toneladas, conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Em linhas gerais, o Brasil perdeu competitividade industrial. “A nossa produção agrícola só cresceu e a indústria não acompanhou, porque não houve investimento. Outra razão é que os preços de fertilizantes permaneceram baixos nos últimos anos, então manteve-se a importação, resultado de uma política de décadas que não pensou em outras alternativas”, avalia César Castro, consultor do Itaú BBA.

As questões tributárias são um ponto que merecem destaque. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Matérias-Primas para Fertilizantes (Sinprifert), a indústria nacional paga alíquotas que variam entre 5% e 8,4%, enquanto o fertilizante importado tem isenção. “É uma medida contrária à produção nacional. Fica mais barato importar do que produzir internamente”, elenca Eugênio Stefanelo, especialista em políticas agrícolas e ex-secretário da Agricultura do Paraná.

Falta de políticas públicas atrasou produção e projetos

O cenário de incertezas em relação ao fornecimento externo de fertilizantes apontou para algumas necessidades, como incentivos fiscais e outras medidas para estimular o ingresso de fábricas no Brasil e a exploração de novas jazidas minerais. Além disso, é necessário dar maior celeridade a processos que acabam emperrados por questões ambientais.

As principais discussões costumam se instaurar sobre a extração do potássio, visto que uma parcela considerável das reservas está na Amazônia, com capacidade de produção de 253,4 milhões de toneladas – além de ser o nutriente com maior nível de dependência estrangeira. Porém, levantamentos geológicos recentes apontam que cerca de 894,8 milhões de toneladas de rochas potássicas estão fora da Amazônia e podem serem exploradas sem grande impacto ambiental. Apenas 11% do volume mapeado estão em territórios indígenas e de proteção ambiental, o que permitiria a exploração de 89% das áreas (veja o mapa na página 25).

“Há diversas solicitações de autorização de lavra de indústrias de fertilizantes potássicos em andamento, porém, como as importações eram suficientes, não houve incentivo à indústria nacional e exploração dessas rochas”, constata Bruno Vizioli, técnico do Sistema FAEP/SENAR-PR.

Em relação ao fósforo, importado em menor quantidade, cerca de 76% das rochas são exploradas no país pela Vale. De acordo com Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil tem cerca de 3 bilhões de toneladas de rocha fosfatada lavrável. Porém a indústria de fertilizantes fosfatados é dependente da importação de matérias-primas intermediárias, como o ácido sulfúrico (82%) e o ácido fosfórico (20%), o que reduz a capacidade de processamento para menos de 40%.

Já os adubos nitrogenados, derivados do gás natural e associados ao petróleo, no Brasil, é 100% explorado pela Petrobras. O país importa como fertilizante pronto quase 66% da ureia e 86% do sulfato de amônio utilizados. No entanto, há dúvidas se o país teria tecnologia para explorar esse potencial produtivo e expandir a fabricação de nitrogênio, fósforo e potássio.

Para Reinhold Stephanes, ex-ministro da Agricultura que, de 2008 a 2010 promoveu um estudo sobre a indústria nacional de fertilizantes, na época havia tecnologia sustentável para explorar fósforo e potássio, que poderia ser comprada de empresas privadas. No caso do nitrogênio, assunto da Petrobras, também houve conversas para a construção de indústrias nos Estados.

O estudo conduzido por Stephanes indicava uma programação para que o Brasil se tornasse autossuficiente em fertilizantes, mas um conjunto de decisões políticas e econômicas não permitiu que ações fossem colocadas em prática para a ampliação da produção nacional. “Eu sempre falei que a dependência dos fertilizantes era questão de segurança nacional”, afirma. Entre as conclusões do estudo, estavam a necessidade de implantação de um órgão com autoridade para administrar e desatar nós de questões ambientais e a criação de um marco regulatório para dar celeridade à exploração de jazidas com potencial produtivo, com o mínimo impacto ambiental possível, determinando prazos para as empresas.

“O poder público deve dar segurança econômica, ambiental e jurídica para o capital privado fazer os investimentos. Se for necessário reduzir tributos, que se reduza. Na sequência, vamos ter mais geração de emprego, riqueza e tributo arrecadado”, observa Stefanelo, ex-secretário da Seab.

Ainda, é preciso considerar que a exploração mineral para a fabricação de fertilizantes apresenta resultados a longo prazo. São entre cinco e 10 anos para iniciar a produção em jazidas nunca exploradas, e de um a dois anos para minas já instaladas. Ou seja, não existe a possibilidade de o Brasil investir em produção própria com resultados para o atual cenário de escassez.

“A longo prazo, o Brasil tem perspectiva para aumentar a produção, com investimentos em pesquisa e logística, mas os resultados virão daqui a alguns anos”, adverte Maísa Romanello, consultora da Safras & Mercado. “Muita coisa precisa ser ajustada. Criar um marco regulatório para que atraia interesse de empresas, não necessariamente nacionais”, complementa Castro, do Itaú BBA.

Recentemente, diversas empresas deixaram os negócios de fertilizantes, o que ampliou a dependência nacional. Em 2018, a Vale negociou suas minas de fosfato e fábricas de fósforo e ácido sulfúrico para a norte-americana Mosaic. A Petrobras se desfez das quatro fábricas de nitrogenados, para concentrar seus investimentos na exploração e produção de petróleo. Duas delas, em Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA), foram arrendadas pelo grupo Unigel. As unidades retomaram a produção no ano passado, após quase um ano paradas, contribuindo para a queda da produção nacional. Em 2020, a unidade em Araucária, no Paraná, foi desativada depois de sucessivos prejuízos, que chegaram a R$ 250 milhões. A quarta unidade, de Três Lagoas (MS), foi vendida em fevereiro deste ano para o grupo russo Acron. A planta ainda está em construção, mas, diante das sanções econômicas à Rússia, há dúvidas se os compradores vão concluir o projeto.

Fonte: Sistema FAEP/SENAR-PR

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Rede de Agropesquisa do Paraná inicia treinamento de combate à cigarrinha-do-milho

Treinamento ministrado em Londrina abordou desde a instalação e coleta das armadilhas adesivas até a taxonomia e identificação da Dalbulus maidis, além de atualizações sobre a bioecologia do inseto. Participaram 12 extensionistas do IDR-Paraná, representando seis mesorregiões produtoras de milho segunda safra.

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Representantes de entidades que se dedicam à pesquisa agropecuária se reuniram no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), em Londrina (PR), para um treinamento e início do projeto de monitoramento da flutuação populacional da cigarrinha-do-milho na atual safra. O trabalho é feito pela Rede de Agropesquisa Complexo de Enfezamento do Milho no Paraná, da qual o IDR-Paraná faz parte.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Criada em 2023 para atender as demandas crescentes do setor agrícola estadual, a rede tem se destacado no enfrentamento dos prejuízos causados pelos enfezamentos e viroses transmitidos pela cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). Com na complexidade desse desafio, ela foi estruturada em três eixos prioritários: monitoramento, reação de cultivares e controle químico e biológico.

O treinamento ministrado na semana passada pela equipe de pesquisadores da Área de Proteção de Plantas abordou desde a instalação e coleta das armadilhas adesivas até a taxonomia e identificação da Dalbulus maidis, além de atualizações sobre a bioecologia do inseto. Participaram 12 extensionistas do IDR-Paraná, representando seis mesorregiões produtoras de milho segunda safra.

O protocolo técnico resultante desse encontro, que servirá de base para o monitoramento nas unidades de referência, também será estudado em novos treinamentos abrangendo outras regiões produtoras. “O IDR-Paraná se destaca ao gerar essa rede de informações graças à capilaridade dos técnicos nos municípios, e com os dados sobre a biologia do inseto podemos ajustar as estratégias de manejo”, salientou Ivan Bordin, pesquisador da área de Fitotecnia. A equipe contou ainda com os pesquisadores Rodolfo Bianco, Humberto Godoy Androcioli, Adriano Thibes Hoshino e Michele Regina Lopes da Silva.

Além do monitoramento, a equipe técnica ressaltou a importância de estratégias como seleção de cultivares tolerantes geneticamente, tratamento de sementes, pulverizações regulares, controle de plantas daninhas, planejamento do plantio e controle ambiental para mitigar os impactos das pragas. A iniciativa visa gerar mapas de distribuição populacional da cigarrinha-do-milho e emitir alertas nos períodos críticos da cultura. As informações são fundamentais para orientar técnicos e produtores na adoção de melhores práticas agrícolas. “Esses alertas possibilitam ao produtor saber como estão as populações de cigarrinha na sua região e também a efetividade delas com os patógenos. Para que possa decidir se deve ou não intensificar as ações de manejo contra as doenças do complexo de enfezamento do milho”, afirmou Michele.

Doença

A doença envolve o inseto Dalbulus maidis, que transmite o vírus da risca e as bactérias fitoplasma e espiroplasma, também conhecidas como molicutes. Por isso, os técnicos a denominam “complexo” do enfezamento.

A cigarrinha se contamina ao sugar a seiva de plantas infectadas e transmite os patógenos quando se alimenta novamente em lavouras sadias. Ela pode voar em um raio de 30 quilômetros, mas transportada por correntes de ar alcançam distâncias maiores.

A infecção das plantas ocorre no período que vai da emergência até cerca de 35 dias, embora os sintomas — manchas vermelhas ou amarelas nas bordas das folhas ou em formato de riscas e pouco desenvolvimento das plantas — se manifestem com a lavoura já em fase de pendoamento e formação de grãos.

O complexo do enfezamento foi primeiramente detectado no Oeste do Paraná há cerca de 20 anos, em ocorrências esporádicas e localizadas. A partir de 2017 aumentaram os relatos de sua presença nas lavouras.

As principais recomendações para lidar com a doença são o uso de cultivares tolerantes e vistorias constantes no período que vai da emergência das plantas até o estágio de oito folhas, com o objetivo de avaliar a presença da cigarrinha e a necessidade de seu controle com inseticidas químicos ou biológicos.

Também se recomenda o uso de sementes tratadas e a semeadura simultânea em uma mesma região para evitar a chamada “ponte verde”, que é a existência de lavouras em diferentes etapas de desenvolvimento.

A eliminação de tigueras, ou plantas guaxas, do terreno é importante para interromper o ciclo da cigarrinha e dos patógenos.

Rede

Além do IDR-Paraná, estão envolvidas na Rede de Agropesquisa Complexo de Enfezamento do Milho a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a UniCesumar, a Embrapa Milho e Sorgo, a Embrapa Cerrados, além das cooperativas Coamo, Cocamar, Copacol e Integrada.

O investimento previsto na rede é de R$ 3,8 milhões, recurso proveniente da Fundação Araucária, entidade de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico vinculada à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-PR). A duração dos projetos é de três anos.

“O trabalho que temos feito desde o ano passado tem se mostrado acertado. Com o engajamento dos parceiros e financiadores da rede, conseguimos estabelecer estratégias de integração e vamos, cada vez mais, divulgar os resultados das pesquisas para a comunidade acadêmica e aos produtores, a fim de vencermos os desafios dessa doença”, afirmou a diretora de pesquisa e inovação do IDR-Paraná, Vânia Moda Cirino.

Fonte: AEN-PR
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Movimentação de grãos pelo modal hidroviário tem salto superior a 780% em 13 anos

Deslocamento fluvial possui um custo mais barato ao possibilitar o transporte de grande volume de grãos em uma única viagem, o que reduz a quantidade de caminhões a serem contratados pelo produtor.

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Fotos: Claudio Neves

O volume de soja e milho transportado pelo modal hidroviário no país saltou de 3,4 milhões de toneladas em 2010 para 30 milhões de toneladas no ano passado, um crescimento de 782,35%. Em termos percentuais, este modal, que representava 8% em 2010, chegou a 23% em 2022 e 19% em 2023. Os dados estão no Anuário Agrologístico 2024, publicação inédita lançada na terça-feira (23) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O documento ainda mostra que este crescimento verificado acompanha a maior participação dos portos do Arco Norte como canal de escoamento dos grãos no país.

“Os embarques de milho e soja pelos portos da região Norte já representam cerca de um terço do volume exportado pelo país. Esse resultado é obtido a partir do desenvolvimento do setor, impulsionado pela Lei dos Portos de 2013”, avalia o superintendente de Logística Operacional da Conab, Thomé Guth. “Vale destacar que os investimentos em infraestrutura não aparecem de imediato, levando tempo para serem percebidos”.

De acordo com a empresa pública federal Infra S.A., os pedidos para autorização de instalações portuárias privadas após a promulgação da Lei dos Portos saltou de 3 em 2013 para 75 em 2014. Já a partir de 2015 essas solicitações por ano aumentaram em cerca de 4 vezes se comparadas com o período anterior da nova legislação. Atualmente, o país conta com 253 Terminais de Uso Privado (TUPs) e 247 Terminais Públicos.

O modal hidroviário possui um custo mais barato ao possibilitar o transporte de grande volume de grãos em uma única viagem, o que reduz a quantidade de caminhões a serem contratados pelo produtor. “Nós temos um crescimento de logística nos Rios da Amazônia que faz uma redução de custo, uma melhoria de receita ao produto e, sobretudo, não podemos esquecer que reduz o tempo de caminhão na estrada, com isso menos produção de produtos [gases] que possam afetar o meio ambiente”, ressaltou o diretor do Departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas do Ministério da Agricultura e Pecuária, Silvio Farnese, durante a divulgação do 7º Levantamento da Safra de Grãos 2023/2024 realizado pela Companhia.

Desafios

Diante do crescimento da safra brasileira, a maior integração entre os modais tende a tornar os grãos produzidos pelos agricultores brasileiros mais competitivos no mercado internacional. “Quando olhamos o modal hidroviário, apesar do aumento na participação no transporte de grãos, ainda é preciso superar desafios”, pondera Guth. Segundo o superintendente, é preciso gerar investimentos que visam a melhoria do desempenho das vias economicamente navegáveis, bem como na construção de terminais de transbordo, de forma a impulsionar a intermodalidade no país.

Também é preciso estimular a aplicação de recursos a fim de ampliar a utilização das ferrovias no país. De acordo com a avaliação de Guth, além das construções das linhas férreas, é fundamental ter pontos em que seja possível fazer a baldeação do produto entre um modal e outro. “A ferrovia Norte-Sul, por exemplo, amplia as escolhas do produtor ao abrir um novo corredor logístico e traz competitividade no momento de exportar seus produtos, seja pelo litoral da Região Sudeste ou pelo Norte do país”.

No entanto, o superintendente da Conab reforça que ampliar o uso de novos modais não significa extinguir o uso de caminhões. “A integração traz uma nova abordagem para o uso das rodovias. Ao invés de um caminhoneiro fazer uma viagem de 3 mil quilômetros ou mais, ele tende a fazer vários trajetos curtos. Essa nova abordagem traz não só mais economia e facilidade para se manter a qualidade das vias rodoviárias, como também desgasta menos o caminhão e oferece melhor qualidade de vida aos trabalhadores”, completa.

Outras informações sobre a logística, principalmente, de exportação de soja, milho e farelo de soja, bem como a importação de fertilizantes estão no Anuário Logístico 2024, disponível no site da Conab.

Fonte: Assessoria Conab
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Ministérios da Agricultura e Meio Ambiente discutem sistema integrado para avaliação de defensivos agrícolas

Proposta é ampliar a aprovação de novas moléculas e aumentar a oferta de defensivos biológicos.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, para discutir as propostas para um sistema integrado de avaliação para aprovação de novos de defensivos agrícolas.

Durante o encontro, realizado na sede do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), na tarde de terça-feira (23), Fávaro destacou a importância da aprovação de novas moléculas, disponibilizando ao mercado de agrotóxicos mais modernos e biológicos.

Na semana passada, o assunto foi tratado em reunião com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. A proposta é que, tanto o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) quanto órgãos ambientais e da saúde, possam sincronizar a priorização das avaliações dos produtos que poderão ser disponibilizados para a comercialização, tornando a liberação de moléculas mais eficazes e melhores para o meio ambiente, a saúde e a produção agropecuária mais ágil.

“Eu, como produtor rural, não quero usar organofosforados nas minhas propriedades. Vamos fazer usos de biológicos, de moléculas modernas. Os produtores rurais sabem da importância destes defensivos, inclusive, para a melhoria da sua produção, para agregar valor aos seus produtos, mas, para isso, precisamos ter os melhores produtos disponíveis no mercado de forma rápida”, detalhou Fávaro.

Por meio de uma parceria entre Mapa, Ibama e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) foi assinado o acordo de cooperação técnica para o desenvolvimento do Sistema Integrado de Agrotóxicos (SIA).

Com o trabalho sincronizado entre os órgãos, a ideia é que as listas de prioridades sejam convergentes para dar mais agilidade na aprovação dos produtos.

Fonte: Assessoria Mapa
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