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Avicultura Saúde Animal

Ionóforos ajudam a modular o microbioma intestinal de frangos de corte, mas sua principal função é anticoccidiana

Investir em bons programas de controle é uma excelente forma de manter o bem-estar animal e a lucratividade na avicultura

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Artigo escrito por Patrícia Tironi Rocha, mestre em Sanidade Animal e gerente técnica de avicultura da Phibro Saúde Animal

O problema é sério. Em termos globais, são registrados prejuízos de até US$ 13 bilhões devido à temível e prevalente coccidiose aviária, doença intestinal causada por parasitas do gênero Eimeria, que causam uma série de danos à digestão, absorção e aproveitamento dos alimentos, além de predispor as aves a outras doenças igualmente desafiadoras.

Além de provocar grande impacto em desempenho zootécnico, a coccidiose pode levar as aves à morte. Um dos problemas desencadeados, especialmente pela Eimeria maxima, é a predisposição a infecções pelo Clostridium perfringens (CP), que, ao produzir toxinas necrotizantes, causa a enterite necrótica, outra importante enfermidade de frangos de corte.

A ciência descobriu anticoccidianos químicos e ionóforos poliéteres eficazes para controlar a coccidiose. Os ionóforos (termo que significa “transportador de íons”) são produzidos por processo fermentativo e são amplamente utilizados – e com sucesso – em dietas de frangos de corte. Atualmente, seis moléculas com essa função são utilizadas pela indústria avícola. Entre elas, está a semduramicina, usada com segurança e eficácia há mais de duas décadas. Já as moléculas produzidas por síntese química podem ser representadas pela nicarbazina, introduzida no mercado em 1955 e ainda utilizada com sucesso.

Ao contrário da eficácia anticoccidiana dos ionóforos, amplamente reconhecida, a eficácia antimicrobiana dos mesmos em nível intestinal é bem menos estudada e avaliada e, possivelmente, tem sido supervalorizada. Um exemplo é a crescente produção de frangos de corte sem antibióticos melhoradores de desempenho. Nesse modelo de produção, para as empresas que ainda fazem o uso de anticoccidianos ionóforos e químicos as questões entéricas incluindo enterite necrótica têm sido frequentemente reportadas, o que evidencia que não se pode creditar apenas aos ionóforos o efeito antimicrobiano e o controle da enterite necrótica.

Ao analisar os valores de concentração inibitória mínima (CIM) dos ionóforos frente a cepas de Clostridium perfringens (in vitro) e compará-los com as doses dos ionóforos na ração, como anticoccidianos, constatamos que as concentrações indicadas para uso nas rações estão acima dos valores de CIM. Como exemplo, a CIM de semduramicina é de 10 partes por milhão (ppm) para inibição de CP. As doses de semduramicina registradas no Brasil na ração são de 20 a 25 ppm, ou de 15 a 18 ppm quando em associação com nicarbazina. Como o CP faz parte da microbiota intestinal normal de frangos (população heterogênea com várias cepas), pode-se inferir que os valores de CIM (in vitro) possuem relação direta com o potencial de inibição deste microrganismo no lúmen intestinal.

Um ponto importante a ser verificado em pesquisas sobre a concentração inibitória mínima de ionóforos é em relação às cepas de Clostridium perfringens utilizadas. Alguns estudos e relatos não especificam se as cepas utilizadas eram de aves saudáveis ou provenientes de surtos de enterite necrótica. Isso faz muita diferença. Em intestinos de aves saudáveis, a população de Clostridium perfringens é variada e composta por múltiplas cepas. Já em intestinos de aves afetadas pela enterite necrótica há a predominância de um clone único desta bactéria – Clostridium perfringens virulentos e que expressam fatores de virulência.

Estudos

Trabalho publicado em 2003, com inoculação de frangos de corte com cepa de Clostridium perfringens isolada de surto de enterite necrótica, avaliou bacitracina metileno dissalicilato (BMD), narasina e também associação dos dois recursos em relação a um grupo sem tratamento. Verificou-se que os escores de lesão para enterite necrótica e mortalidade por essa causa foram reduzidos apenas nos grupos que receberam o antibiótico melhorador de desempenho (BMD) e no grupo com a associação de BMD e narasina.  Esses dados sugerem ação limitada do ionóforo (neste estudo, a narasina) no controle da enterite necrótica.

A hipótese mais aceita atualmente pela academia é que os anticoccidianos ionóforos auxiliam na redução de bactérias intestinais gram-positivas, incluindo Clostridium perfringens, mas não as eliminam. A contribuição antimicrobiana dos ionóforos parece ser por modulação populacional e não por eliminação. Contudo, é preciso salientar que os efeitos antimicrobianos dos ionóforos que auxiliam no controle de lesões de enterite necrótica aparentemente podem se perder quando a dose utilizada na ração é reduzida.

Pesquisa publicada em 2010 relata que em frangos de corte sob condições de desafio as lesões de enterite necrótica diminuíram significativamente em cada grupo experimental que recebeu ionóforos simples via ração (70 ppm de narasina, 75 ppm de lasalocida, 70 ppm de salinomicina e 5 ppm maduramicina). No mesmo experimento, o produto combinado narasina-nicarbazina, a 50 ppm de cada princípio ativo, não diminuiu significativamente o número de aves com lesões de enterite necrótica quando comparado com o grupo controle desafiado, indicando que a dose reduzida da narasina (50 ppm) possivelmente está abaixo do limiar de eficácia microbiológica.

Em síntese, a simples observação dos valores das Concentrações Inibitórias Mínimas – CIM (in vitro) dos ionóforos frente a Clostridium perfringens mostra que todos ionóforos, nas doses em que são usados como anticoccidianos, já atingem concentrações suficientes para inibição desta bactéria no lúmen intestinal. Porém, estudos sugerem efeito limitado dos ionóforos no controle da enterite necrótica e inibição do Clostridium perfringens em estudos in vivo.

A contribuição dos ionóforos na redução de enterite necrótica e na translocação bacteriana do Clostridium perfringens a partir do intestino tem como base principal a preservação da barreira epitelial entérica. Isso se deve, em primeiro lugar, à sua eficácia como anticoccidiano – até mesmo porque, a partir da visão epidemiológica, a coccidiose é o mais frequente e importante fator predisponente à enterite necrótica e, secundariamente, à modulação da microbiota.

Investir em bons programas de controle é uma excelente forma de manter o bem-estar animal e a lucratividade na avicultura.

Outras notícias você encontra na edição de Aves de abril/maio de 2021 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Vendas externas de carne de frango voltam a crescer em março

No balanço do primeiro trimestre de 2024, as vendas externas totalizam 1,2 milhão de toneladas, 7,2% menos que no mesmo período do ano passado.

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As exportações brasileiras de carne de frango voltaram a crescer em março, depois de dois meses em queda.

Segundo dados da Secex analisados pelo Cepea, foram embarcadas 418,1 mil toneladas (entre produtos in natura e industrializados), volume 5,2% maior que o de fevereiro/24, mas 18,7% inferior ao de março/23.

No balanço do primeiro trimestre de 2024, as vendas externas totalizam 1,2 milhão de toneladas, 7,2% menos que no mesmo período do ano passado.

À China – ainda maior parceira comercial do Brasil –, os envios caíram 7,4% entre fevereiro e março, passando para 38 mil toneladas.

Apesar disso, pesquisadores do Cepea apontam que o setor avícola nacional está confiante, tendo em vista que oito novas plantas frigoríficas foram habilitadas para exportar à China.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Avicultura Saúde intestinal e saúde óssea

Impacto sobre a rentabilidade e qualidade das carcaças de frangos de corte

Dentre as afecções que podem comprometer a saúde intestinal dos bezerros está a Colibacilose, que tem como agente etiológico a bactéria Escherichia coli.

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A saúde intestinal e a saúde óssea estão em conexão por mecanismos que envolvem, principalmente, a microbioma intestinal e a comunicação com as células ósseas. O equilíbrio e estabilidade da microbiota intestinal influencia diretamente a homeostase óssea. “Um dos mecanismos que vem sendo estudado é o papel da microbiota sobre a regulação da homeostase do sistema imune intestinal. Alterações na composição da microbiota intestinal podem ativar o sistema imunológico da mucosa, resultando em inflamação crônica e lesões na mucosa intestinal”, explica a doutora Jovanir Inês Müller Fernandes, durante a Conexão Novus, evento realizado em 07 de março, em Cascavel, no Paraná.

Conforme salienta a palestrante, a ativação do sistema imunológico pode levar a produção de citocinas pró-inflamatórias e alteração na população de células imunes que são importantes para manter a homeostase orgânica e controlar os processos inflamatórios decorrentes, mas simultaneamente pode reduzir os processos anabólicos como a formação óssea. “Isso porque os precursores osteoclásticos derivam da linhagem monócito/macrófago, células de origem imunitária” frisa.

Consequentemente, o sistema imunológico medeia efeitos poderosos na renovação óssea. “As células T ativadas e as células B secretam fatores pró-osteoclastogênicos, incluindo o ativador do receptor de fator nuclear kappa B (NF-kB), o ligante do receptor ativador do fator nuclear kappa B (RANKL), interleucina (IL) -17A e fator de necrose tumoral (TNF-α), promovendo perda óssea em estados inflamatórios”, detalha a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Problemas

Além disso, doutora Jovanir também ressalta que o intenso crescimento em reduzido tempo das atuais linhagens de frangos de corte resulta em sobrecarga sobre um sistema ósseo em mineralização. Ela frisa ainda que o centro de gravidade dos frangos tem sido deslocado para frente, em comparação com seus ancestrais, o que afeta a maneira como o frango se locomove e resulta em pressão adicional em seus quadris e pernas, afetando principalmente três pontos de choque: a quarta vértebra toráxica e as epífises proximais da tíbia e do fêmur. “Nesses locais são produzidas lesões mecânicas e microfraturas, e tensões nas cartilagens imaturas, especialmente na parte proximal dos ossos. As lesões mecânicas danificam e rompem os vasos sanguíneos que chegam até a placa de crescimento e, como consequência, as bactérias que circulam no sangue conseguem chegar às microfaturas e colonizá-las, iniciando as inflamações sépticas”, relata.

O aumento do consumo de água e a produção de excretas que são depositadas na cama, associado a uma menor digestibilidade da dieta, segundo a médica veterinária, resultam em aumento da umidade e produção de amônia. “Camas úmidas aumentam a riqueza e diversidade da microbiota patogênica, que pode alterar o microbioma da ave e desencadear a disbiose intestinal, pode favorecer a translocação bacteriana pelas lesões de podermatite e afetar a mucosa respiratória pelo aumento da produção de amônia que, consequentemente, resulta em desafios à mucosa respiratória e aumento da sinalização imunológica por citocinas e moléculas inflamatórias” enfatiza a profissional.

lém desses fatores, doutora Jovanir explica que a identificação de cepas bacterianas e virais mais patogênicas e virulentas, que eram consideradas comensais, podem estar envolvidas na ocorrência e agravamento dos problemas locomotores e artrites, a exemplo dos isolamentos já feitos no Brasil de cepas patogênicas de Enterococcus faecalis. “O surgimento dessas cepas pode estar relacionado com a pressão de seleção de microrganismos resistentes pelo uso sem critérios de antibióticos terapêuticos e o manejo inadequado nos aviários”, elucida.

Segundo a médica-veterinária, devido a dor e a dificuldade locomotora, as aves passam a ficar mais tempo sentadas, o que compromete ainda mais a circulação sanguínea nas áreas de crescimento ósseo, contribuindo com a isquemia e necrose. “Isso também contribui para a ocorrência de pododermatite, dermatites e celulites. Importante ainda destacar que esses distúrbios podem resultar em alterações da angulação dos ossos longos e contribuir para o rompimento de ligamentos e tendões, bem como a ocorrência de artrites assépticas. Nesse sentido, é fundamental a manutenção de um microbioma ideal para modular o remodelamento ósseo das aves” adverte.

Importância do microbioma intestinal nos ossos

“Pesquisadores mostram que a comunicação entre microbioma e homeostase óssea garante a ação dos osteoblastos maior que a ação dos osteoclastos, com isso, garantindo boa remodelação óssea. Ou seja, forma mais osso sólido do que se rarefaz’, complementa Jovanir Fernandes.

Além disso, ela informa que a composição da microbiota do intestino impacta na absorção dos nutrientes, promovendo aumento de assimilação de cálcio, magnésio e fósforo – vitais na saúde óssea. “Durante o processo de fermentação, os micróbios intestinais produzem numerosos compostos bioativos, que são importantes para a saúde óssea, como vitaminas do complexo B e vitamina K. As bactérias intestinais produzem também ácidos graxos de cadeia curta (ácido butírico), importantes na regulação dos osteocitos e massa óssea”, ressalta.

Os estudos, de acordo com a palestrante, indicam que esses ácidos graxos inibem a reabsorção óssea através da regulação da diferenciação dos osteoclastos e estimulam a mineralização óssea. “Age também ativando células Treg (potencializadoras de células tronco nos ossos). Hormônios produzidos no intestino pela presença de bactérias boas desempenham um papel importante na homeostase e metabolismo ósseo”, aponta.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Um calo que precisa ser tratado

Os prejuízos financeiros decorrentes de doenças de pele e distúrbios ósseos não podem ser subestimados.

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Ao longo dos anos, temos testemunhado um aumento preocupante nos problemas relacionados à integridade dermatológica e óssea das aves, representando um desafio substancial para todos os envolvidos na cadeia de produção avícola. Desde os prejuízos econômicos até as preocupações com o bem-estar animal, os efeitos desses problemas são profundos e generalizados.

Os prejuízos financeiros decorrentes de doenças de pele e distúrbios ósseos não podem ser subestimados. Além do custo direto da perda de aves e da redução da eficiência produtiva, há também os impactos indiretos, como os gastos com tratamentos veterinários, a diminuição da qualidade dos produtos e a reputação negativa da atividade. Esses problemas afetam não apenas a rentabilidade das operações avícolas, mas também a sustentabilidade de toda a indústria.

É imperativo adotar uma abordagem proativa e colaborativa para enfrentar esses desafios. A pesquisa científica desempenha um papel fundamental na identificação das causas e no desenvolvimento de soluções eficazes.

Devemos investir em estudos que ampliem nosso entendimento sobre os mecanismos que afetam a saúde da pele e dos ossos das aves, bem como em tecnologias inovadoras que possam mitigar esses problemas.

Além disso, o manejo adequado das instalações avícolas e a implementação de práticas de manejo baseadas em evidências são essenciais para promover a saúde e o bem-estar das aves. Isso inclui garantir condições de alojamento adequadas e fornecer uma dieta balanceada e adaptada às necessidades nutricionais das aves.

É importante que todos os atores do setor avícola se unam em um esforço conjunto para enfrentar os desafios relacionados à saúde da pele e dos ossos das aves. Somente através da colaboração entre produtores, pesquisadores, veterinários e profissionais do setor poderemos desenvolver e implementar as soluções necessárias para resolução desses problemas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Giuliano De Luca, jornalista e editor-chefe do Jornal O Presente Rural
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