Suínos
Interferência da microbiota na saúde intestinal: eubiose X disbiose
Na perspectiva de aperfeiçoar ainda mais o desempenho do suíno, o tema saúde intestinal vem atraindo significativo interesse do meio científico e da indústria
Artigo escrito por Jalusa Deon Kich, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves – Concórdia, SC; e Mariana Meneguzzi, graduanda do curso de Medicina Veterinária do Instituto Federal Catarinense (IFC), Concórdia, SC
A suinocultura avança com sucesso no aprimoramento genético, nutrição, ambiência e sanidade, resultando em ganhos significativos no desempenho produtivo. Neste contexto uma questão vem à tona: teria o suíno atingido seu limite fisiológico e genético? Na perspectiva de aperfeiçoar ainda mais o desempenho do suíno, o tema saúde intestinal vem atraindo significativo interesse do meio científico e da indústria. Saúde intestinal pode ser definida como uma associação simbiótica em que a microbiota e o trato gastrointestinal (TGI) estabelecem uma relação de harmonia. Na medida em que o hospedeiro se desenvolve, a microbiota é exposta a diversos fatores e sofre constantes modificações, mas quando atinge um estado de equilíbrio é denominada eubiose. Em contrapartida, quando ocorre qualquer desequilíbrio na estrutura da microbiota, essa perturbação é definida como disbiose.
A microbiota intestinal do suíno é composta por uma complexa e diversificada população formada por aproximadamente 16 diferentes filos e mais de 230 gêneros em leitões desmamados. A função da mesma está relacionada com a digestão dos alimentos, absorção de nutrientes e biossíntese de vitaminas. Além disso, quando em equilíbrio, é responsável por auxiliar no desenvolvimento do sistema imune e atuar na defesa contra patógenos externos, visto que o TGI é o órgão que possui a maior interface entre o hospedeiro e o ambiente. O desenvolvimento da microbiota intestinal inicia rapidamente a partir do nascimento pela exposição a uma variedade de bactérias oriundas da própria mãe, com a ingestão do leite materno, e do ambiente. A relação entre a microbiota do leitão durante o período de amamentação e o aparecimento de diarreias no pós desmame já foi observada. Leitões sem diarreia logo após o desmame apresentaram uma microbiota mais diversificada e abundante aos sete dias do que os diarreicos. Esse resultado demostra a capacidade protetora desta população e o reflexo em longo prazo dos manejos realizados nos primeiros dias de vida.
Vanguarda
Os estudos de microbiota fecal utilizam métodos tradicionais dependentes de cultivo microbiano. Porém, oferecem uma visão limitada sobre a verdadeira complexidade destas comunidades, já que a maioria das espécies bacterianas que habitam o TGI dos animais não são cultiváveis em laboratório. Desta maneira, a disponibilidade do uso das técnicas de sequenciamento de nova geração como a amplificação de genes bacterianos (16S rRNA), combinada com recursos de bioinformática, surgiram como ferramenta para determinar a variedade das populações e fornecer uma descrição da estrutura microbiana.
Por exemplo, foi possível visualizar diferença de composição referente a cada segmento intestinal, que pode ser explicada pela exposição da microbiota a condições fisiológicas especificas. O intestino grosso apresenta maior diversidade filogenética quando comparado ao intestino delgado, pois conta com um trânsito intestinal mais lento que possibilita a adesão e colonização da microbiota. Outro conhecimento de vanguarda se refere à análise funcional da comunidade microbiana de cada segmento do TGI. A microbiota do intestino delgado apresentou uma menor abundância de rotas relacionadas ao metabolismo de carboidratos, nucleotídeos, energia entre outros, quando comparado com o intestino grosso. Também se obteve avanço na detecção de um padrão de gêneros característicos, que são representados por bactérias bem adaptadas ao intestino. Mesmo que ocorram mudanças nas comunidades bacterianas em resposta a fatores como estresse, dieta, doenças e ambiente, a possibilidade de identificação de uma microbiota característica pode auxiliar no estabelecimento de potenciais marcadores de populações de interesse. Estes podem ser utilizados para facilitar a execução de pesquisas futuras que visam o desenvolvimento de estratégias preventivas nutricionais e/ou terapêuticas.
Desmame e antibióticos
O desmame e a administração de antibióticos são fatores críticos causadores de perturbações para a eubiose intestinal. No desmame o leitão enfrenta um conjunto de desafios: a transição da alimentação líquida para sólida; o estresse da separação abrupta da mãe; a mistura de leitegadas com disputas hierárquicas; e o novo ambiente da creche, os quais favorecem a ocorrência da disbiose e perda da diversidade da microbiota. O período imediato à mudança da dieta é associado a uma diminuição da ingestão de alimento e água, resultando em 24 a 48 horas em jejum. A anorexia pós desmame ativa rotas de inflamação e leva a mudança estrutural do intestino, incluindo atrofia de vilosidades e hiperplasia das criptas que refletem em subsequente perda de peso e suscetibilidade a enteropatógenos.
Com relação aos antimicrobianos, eles são capazes de eliminar ou inibir o crescimento de bactérias tanto patogênicas como benéficas devido ao seu amplo espectro de atividade. Como consequência, ocorre mudança na composição microbiana e aumentam as oportunidades de colonização por bactérias patogênicas. O Clostridium difficile é um exemplo de patógeno entérico emergente em humanos e animais associado ao desequilíbrio da microbiota comensal pela consequente administração de antimicrobianos. Na medicina humana é agente causador de diarreias e colites pseudomembranosas, afeta especialmente pacientes de alto risco em ambiente hospitalar. Em suínos, pode causar enterite neonatal associada com a inflamação do intestino grosso principalmente na primeira semana de vida. A infecção do leitão ocorre logo após o nascimento pelo ambiente, sendo a transmissão vertical pouco provável.
A maioria das cepas de C. difficile produzem dois tipos de toxinas que lesionam o epitélio intestinal. No Brasil, o isolamento de C. difficile foi reportado em granjas no estado de Minas Gerais com detecção das toxinas A e B em 16,7% dos animais amostrados, tanto diarreicos quanto saudáveis.
A tendência na redução do uso de antimicrobianos, principalmente como promotores de crescimento, associado à crescente pesquisa pela saúde intestinal, tem favorecido o desenvolvimento de abordagens alternativas. Manejos diferenciados, promoção da biosseguridade, desenvolvimento de vacinas e produtos como óleos essenciais, ácidos orgânicos, prebióticos e probióticos são alguns exemplos. Assim, a suinocultura tecnificada é conduzida para uma abordagem preventiva, fundamentada na melhor compreensão das interações microbiota-hospedeiro como estratégia para limitar a expansão de patógenos e o uso de antimicrobianos em favor do bem-estar e produtividade animal. Desta forma, o desempenho suíno não é limitado pela disfunção intestinal.
Mais informações você encontra na edição de Suínos e Peixes de julho/agosto de 2018 ou online.
Fonte: O Presente Rural

Suínos
Poder de compra do suinocultor cai e relação de troca com farelo atinge pior nível do semestre
Após pico histórico em setembro, alta nos preços do farelo de soja reduz competitividade e encarece a alimentação dos plantéis em novembro.

A relação de troca de suíno vivo por farelo de soja atingiu em setembro o momento mais favorável ao suinocultor paulista em 20 anos.
No entanto, desde outubro, o derivado de soja passou a registrar pequenos aumentos nos preços, contexto que tem desfavorecido o poder de compra do suinocultor.
Assim, neste mês de novembro, a relação de troca de animal vivo por farelo já é a pior deste segundo semestre.
Cálculos do Cepea mostram que, com a venda de um quilo de suíno vivo na região de Campinas, o produtor pode adquirir, nesta parcial de novembro (até o dia 18), R$ 5,13 quilos de farelo, contra R$ 5,37 quilos em outubro e R$ 5,57 quilos em setembro.
Trata-se do menor poder de compra desde junho deste ano, quando era possível adquirir R$ 5,02 quilos.
Suínos
Aurora Coop lança primeiro Relatório de Sustentabilidade e consolida compromisso com o futuro
Documento reúne práticas ambientais, sociais e de governança, reforçando o compromisso da Aurora Coop com transparência, inovação e desenvolvimento sustentável.

A Aurora Coop acaba de publicar o seu primeiro Relatório de Sustentabilidade, referente ao exercício de 2024, documento que inaugura uma nova etapa na trajetória da cooperativa. O lançamento reafirma o compromisso da instituição em integrar a sustentabilidade à estratégia corporativa e aos processos de gestão de um dos maiores conglomerados agroindustriais do país.
Segundo o presidente Neivor Canton, o relatório é fruto de um trabalho que alia governança, responsabilidade social e visão de futuro. “A sustentabilidade, para nós, não é apenas um conceito, mas uma prática incorporada em todas as nossas cadeias produtivas. Este relatório demonstra a maturidade da Aurora Coop e nossa disposição em ampliar a transparência com a sociedade”, destacou.
Em 2024, a Aurora Coop registrou receita operacional bruta de R$ 24,9 bilhões, crescimento de 14,2% em relação ao ano anterior. Presente em mais de 80 países distribuídos em 13 regiões comerciais, incluindo África, América do Norte, Ásia e Europa, a cooperativa consolidou a posição de destaque internacional ao responder por 21,6% das exportações brasileiras de carne suína e 8,4% das exportações de carne de frango.

Vice-presidente da Aurora Coop Marcos Antonio Zordan e o presidente Neivor Canton
De acordo com o vice-presidente de agronegócios, Marcos Antonio Zordan, os números atestam a força do cooperativismo e a capacidade de geração de riqueza regional. “O modelo cooperativista mostra sua eficiência ao unir produção, competitividade e compromisso social. Esses resultados são compartilhados entre os cooperados e as comunidades, e reforçam a relevância do setor no desenvolvimento do país”, afirmou.
A jornada de sustentabilidade da Aurora Coop foi desenhada em consonância com padrões internacionais e com base na escuta ativa dos públicos estratégicos. Entre os temas prioritários figuram: uso racional da água, gestão de efluentes, transição energética, práticas empregatícias, saúde e bem-estar animal, segurança do consumidor e desenvolvimento local. “O documento reflete uma organização que reconhece a responsabilidade de atuar em cadeias longas e complexas, como a avicultura, a suinocultura e a produção de lácteos”, sublinha Canton.
Impacto social e ambiental
Em 2024, a cooperativa gerou 2.510 novos empregos, alcançando o marco de 46,8 mil colaboradores, dos quais 31% em cargos de liderança são ocupados por mulheres. Foram distribuídos R$ 3,3 bilhões em salários e benefícios, além de R$ 580 milhões em investimentos sociais e de infraestrutura, com destaque para a ampliação de unidades industriais e melhorias estruturais que fortaleceram as economias locais.
A Fundação Aury Luiz Bodanese (FALB), braço social da Aurora Coop, realizou mais de 930 ações em oito estados, beneficiando diretamente mais de 54 mil pessoas. Em resposta à emergência climática no Rio Grande do Sul, a instituição doou 100 toneladas de alimentos, antecipou o 13º salário dos colaboradores da região, disponibilizou logística para doações, distribuiu EPIs a voluntários e destinou recursos à aquisição de medicamentos.
O relatório evidencia práticas voltadas ao uso eficiente de recursos naturais e à gestão de resíduos com foco na circularidade. Em 2024, a cooperativa intensificou a autogeração de energia a partir de fontes renováveis e devolveu ao meio ambiente mais de 90% da água utilizada, devidamente tratada.
Outras iniciativas incluem reflorestamento próprio, rotas logísticas otimizadas e embalagens sustentáveis: 79% dos materiais vieram de fontes renováveis, 60% do papelão utilizado eram reciclados e 86% dos resíduos foram reaproveitados, especialmente por meio de compostagem, biodigestão e reciclagem. Em parceria com o Instituto Recicleiros, a Aurora Coop atuou na Logística Reversa de Embalagens em nível nacional. “O cuidado ambiental é parte de nossa responsabilidade como produtores de alimentos e como cidadãos cooperativistas”, enfatiza Zordan.
O bem-estar animal e a segurança do consumidor estão no cerne da atuação da cooperativa. Práticas rigorosas asseguram o respeito aos animais e a inocuidade dos alimentos, garantindo a confiança dos mercados internos e externos.
Futuro sustentável
Para Neivor Canton, a publicação do primeiro relatório é um marco institucional que projeta a Aurora Coop para novos patamares de governança. “Este documento não é um ponto de chegada, mas de partida. Ao comunicar com transparência nossas ações e resultados, reforçamos nossa identidade cooperativista e reiteramos o compromisso de gerar prosperidade compartilhada e preservar os recursos para as futuras gerações.”
Já Marcos Antonio Zordan ressalta que a iniciativa insere a Aurora Coop no rol das empresas globais que aliam competitividade e responsabilidade. “A sustentabilidade é o caminho para garantir longevidade empresarial, fortalecer o vínculo com a sociedade e assegurar alimentos produzidos de forma ética e responsável.”
O Relatório de Sustentabilidade 2024 da Aurora Coop confirma o papel de liderança da cooperativa como referência nacional e internacional na integração entre desempenho econômico, responsabilidade social e cuidado ambiental. Trata-se de uma publicação que fortalece a identidade cooperativista e projeta a instituição como protagonista na construção de um futuro sustentável.
Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.
Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
