Suínos
Inteligência artificial na suinocultura brasileira: avanços, desafios e perspectivas
Tecnologia transforma a suinocultura ao integrar sensores, robótica e análise de dados, promovendo mais eficiência, previsibilidade e bem-estar animal nas granjas brasileiras.

Artigo escrito por: Diego Palombo, Gerente de Suinocultura, Plasson do Brasil
A suinocultura brasileira está passando por uma transformação impulsionada pela digitalização e pela adoção de tecnologias emergentes. Entre elas, a Inteligência Artificial (IA) destaca-se como uma das ferramentas mais promissoras para promover ganhos de eficiência, sustentabilidade e bem-estar animal. Seu uso crescente nas granjas tem modificado práticas tradicionais, permitindo decisões mais rápidas, baseadas em dados, e maior controle sobre variáveis críticas da produção. A adoção da IA na suinocultura envolve o uso de algoritmos avançados para interpretar grandes volumes de dados gerados por sensores, câmeras e sistemas automatizados. Esses dados incluem informações sobre ambiente, comportamento dos animais, alimentação, saúde e desempenho produtivo.
O cenário atual mostra um avanço significativo na integração entre IA e sistemas de produção animal, principalmente em grandes operações, onde há maior capacidade de investimento em infraestrutura tecnológica. Em contraste, pequenos e médios produtores ainda enfrentam dificuldades, principalmente relacionadas ao custo inicial de implantação, à conectividade no campo e à necessidade de capacitação técnica.
Apesar disso, a tendência é de expansão. A crescente exigência por eficiência produtiva, redução de perdas e atendimento a padrões de bem-estar animal estimula o uso de IA como diferencial competitivo no setor.
Principais Aplicações da IA na Suinocultura
- Monitoramento Ambiental Inteligente. Sensores conectados monitoram em tempo real variáveis como temperatura, umidade, concentração de amônia e CO₂. A IA interpreta esses dados e aciona automaticamente sistemas de ventilação, nebulização ou aquecimento, garantindo o conforto térmico dos animais e prevenindo doenças respiratórias.

- Alimentação Individualizada. Sistemas automatizados de alimentação permitem que cada animal receba dieta personalizada, com base em sua curva nutricional, fase produtiva e comportamento alimentar. A IA identifica padrões e ajusta porções e horários de forma automática, otimizando o ganho de peso e o uso de recursos.
- Detecção Precoce de Doenças. A análise de dados comportamentais, como movimentação, vocalização e ingestão de água ou ração, permite a identificação precoce de alterações fisiológicas. Isso reduz o tempo de resposta para intervenções sanitárias, diminuindo o uso de medicamentos e a mortalidade.
- Gestão de Bem-Estar Animal. A IA contribui para o bem-estar dos suínos ao identificar sinais de estresse, agressividade ou desconforto. Câmeras com visão computacional detectam comportamentos anormais, permitindo ajustes imediatos no manejo ou ambiente.
- Otimização do Manejo. A tecnologia permite a automação e otimização de rotinas, como limpeza, vacinação, separação de lotes e planejamento de abates, com base em dados históricos e projeções de desempenho.
Integração com IoT e Robótica

A associação da IA com a Internet das Coisas (IoT) e a robótica está ampliando as possibilidades de automação na suinocultura. Drones equipados com sensores térmicos e câmeras de alta resolução são utilizados para inspeções visuais, detecção de animais doentes e monitoramento de grandes áreas. Robôs podem executar tarefas repetitivas, como distribuição de ração ou limpeza, com precisão e menor esforço humano.
Além disso, sistemas integrados permitem a coleta contínua de dados por diversos dispositivos, que são processados por algoritmos para tomada de decisões em tempo real. Isso resulta em uma produção mais inteligente, rastreável e eficiente.
Desafios na Implementação
Apesar dos avanços, ainda existem obstáculos que precisam ser superados para a plena adoção da IA nas granjas brasileiras:
- Custo de Equipamentos e Sistemas: Investimentos iniciais elevados podem dificultar a adesão por parte de pequenos e médios produtores.
- Infraestrutura Limitada: A falta de acesso à internet de qualidade e energia elétrica estável em áreas rurais compromete o funcionamento contínuo dos sistemas inteligentes.
- Capacitação Técnica: O sucesso da IA depende da capacidade dos profissionais de interpretar os dados e aplicar as recomendações. Programas de capacitação e suporte técnico são essenciais.
- Integração de Sistemas: A compatibilidade entre diferentes equipamentos e plataformas ainda é um desafio técnico importante.
Colaboração Homem-Máquina: Potencializando Decisões
A IA não substitui a experiência humana, mas a complementa. A combinação entre conhecimento técnico e análise de dados amplia a capacidade do produtor de tomar decisões rápidas, fundamentadas e estratégicas.
A atuação conjunta é evidente em situações como:
- A IA identifica queda no consumo de ração; o produtor investiga e confirma suspeita de enfermidade.
- O sistema sugere ajuste na ventilação; o responsável avalia o contexto e valida a alteração.
- Algoritmos indicam mudança na dieta; o gestor decide com base em custo-benefício e metas de produção.
Essa interação garante não só maior eficiência, mas também mais segurança no processo decisório.
Tendências
O futuro da suinocultura aponta para uma produção altamente conectada, automatizada e sustentável. Entre as tendências mais relevantes estão:
- Ambientes Inteligentes Autogerenciáveis: Sistemas que operam de forma integrada e autônoma, ajustando variáveis em tempo real.
- Previsão de Desempenho: Modelos preditivos baseados em histórico de dados, capazes de antecipar resultados e propor ajustes preventivos.
- Blockchain e Rastreabilidade: Integração com IA para registrar todas as etapas do ciclo produtivo, garantindo segurança e transparência ao consumidor.
- Expansão da Robótica: Inclusão de robôs com IA em tarefas como inspeção, alimentação, limpeza e manejo sanitário.
Considerações Finais
A suinocultura brasileira tem um enorme potencial de crescimento com base em inovação e tecnologia. A Inteligência Artificial, integrada a sensores, robótica e IoT, representa um novo patamar para o setor, proporcionando maior controle, produtividade e sustentabilidade. A transição para esse modelo exige investimento, planejamento e capacitação, mas os benefícios — em redução de perdas, melhoria no bem-estar animal, previsibilidade e competitividade — compensam os desafios iniciais. A adoção da IA deve ser vista não apenas como uma tendência tecnológica, mas como uma necessidade estratégica para garantir o futuro da produção suinícola no Brasil.
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Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.
Colunistas
Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
Suínos Imunização inteligente
Gel comestível surge como alternativa para reduzir estresse e melhorar vacinação de suínos
Tecnologia permite imunização coletiva com menos manejo, mantém eficácia contra Salmonella e ganha espaço como estratégia para elevar bem-estar animal e eficiência produtiva.


Fotos: Divulgação/American Nutrtients
Artigo escrito por Luiza Marchiori Severo, analista de P&D na American Nutrients do Brasil e acadêmica do curso de Farmácia; e por Daiane Carvalho, médica-veterinária e coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento e Responsável Técnica da American Nutrients do Brasil.
A suinocultura enfrenta desafios complexos na busca por eficiência produtiva, controle sanitário, escassez de mão de obra e bem-estar animal. Doenças infecciosas, como a salmonelose, ainda figuram entre as principais preocupações sanitárias em granjas comerciais, exigindo estratégias de imunização compatíveis com práticas alinhadas a maior eficiência na aplicação e menos estresse aos animais. Nesse contexto, o debate sobre métodos alternativos de vacinação ganha cada vez mais força.
Vacinas orais compostas por microrganismos vivos podem ser administradas aos suínos tanto individualmente, utilizando o método de drench, quanto coletivamente por meio da água de bebida. A aplicação coletiva via bebedouros apresenta a vantagem de reduzir significativamente o estresse dos animais e dos operadores, pois é um procedimento rápido e que demanda pouca mão de obra. Por outro lado, a administração oral individual, como o drench frequentemente empregado em leitões na maternidade, exige contenção um a um para garantir a ingestão adequada, tornando o processo mais trabalhoso e potencialmente mais estressante para os suínos.
Neste contexto, a aplicação oral de vacinas exige soluções tecnológicas que assegurem maior praticidade, estabilidade do imunógeno, homogeneidade da distribuição e, principalmente, aceitação espontânea pelos animais. É neste ponto que o conhecimento dos aspectos relacionados à fisiologia sensorial dos suínos é fundamental no desenvolvimento de produtos que possam atuar como veículos de alta atratividade para vacinas via oral, garantindo maior eficiência nos processos vacinais, bem-estar animal e praticidade.
Gel Comestível
O gel comestível é uma matriz semissólida, palatável e nutritiva, que contém componentes seguros e atrativos ao consumo dos suínos. Esse veículo possibilita a administração coletiva da vacina diretamente em comedouros auxiliares – sem a necessidade de manejo individualizado. Ao ser disponibilizado em áreas acessíveis das baias, o gel é consumido de forma espontânea pelos leitões, respeitando seu comportamento natural e reduzindo drasticamente o estresse associado ao processo de vacinação.
Em estudo conduzido em 2024 avaliou-se a eficácia da vacinação oral contra Salmonella Typhimurium por meio da aplicação através do gel, comparando-se os resultados com a administração tradicional por drench oral. Os leitões vacinados com o gel apresentaram desempenho zootécnico semelhante ao grupo que recebeu a vacina por drench. Além disso, os animais vacinados com o gel apresentaram menor incidência de lesões intestinais após o desafio com cepa virulenta do agente patogênico. Estes resultados comprovam a eficiência do processo de vacinação com a utilização do gel palatável. Da mesma forma, outros pesquisadores, ao avaliar a eficiência de acesso a um gel comercial comestível, evidenciaram que de 10 leitegadas avaliadas, 92% dos animais acessaram o gel, sendo 89% em até 6 horas. Como conclusão os autores afirmaram que o alto percentual de leitões consumidores observados neste estudo demostrou ser uma via de aplicação promissora na vacinação na suinocultura.
Além de favorecer o bem-estar animal, o gel comestível oferece benefícios operacionais significativos: economia de tempo, redução de mão de obra e maior biosseguridade, visto que que se reduz consideravelmente a necessidade de uma equipe externa de vacinadores.
Qualidade, Eficiência e Sustentabilidade
Para que a vacinação via gel comestível seja efetiva, é essencial garantir a homogeneidade da distribuição da vacina no veículo, assegurando que todos os animais recebam uma dose adequada. Ensaios realizados em laboratórios e granjas já demonstram que essa tecnologia é capaz de manter a viabilidade do imunógeno por períodos compatíveis com a recomendação de consumo de vacinas via oral após diluídas, mantendo sua eficácia mesmo em condições ambientais variáveis.
Além disso, o uso de veículos comestíveis está alinhado às boas práticas de fabricação e aos princípios de biosseguridade preconizados por legislações nacionais e internacionais. Com isso, a alternativa se mostra viável tanto técnica quanto economicamente, oferecendo à suinocultura uma ferramenta inovadora para o controle sanitário.
Considerações Finais
A adoção de métodos alternativos à vacinação tradicional representa um avanço estratégico para a suinocultura brasileira, ao aliar eficiência imunológica a práticas mais humanizadas e sustentáveis. Soluções como a vacinação oral, os dispositivos sem agulha e o uso de veículos comestíveis – como o gel – permitem reduzir significativamente o estresse animal, simplificar rotinas de manejo e minimizar riscos operacionais. Investir nessas tecnologias é essencial para fortalecer um modelo de produção alinhado aos princípios do bem-estar animal, da biosseguridade e da competitividade no mercado global.
As referências bibliográficas estão com as autoras. Contato: cq@americannutrients.com.br
Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.



