Bovinos / Grãos / Máquinas
Inovações no uso do soro de leite são destaque no 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite
Engenheiro em Biotecnologia apresentou os conceitos para a produção do soro de leite, um subproduto lácteo frequentemente subestimado, evidenciando seu potencial e a importância de explorar o soro como uma matriz nutritiva, versátil e altamente valorizada.
Inovações, modernidades e as diferentes categorias provenientes do soro de leite foram alguns dos assuntos abordados pelo engenheiro em Biotecnologia e mestre em Ciência de Alimentos, Peterson Vasconcellos Zequi, durante o primeiro dia do 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite. Com o tema “Soro de leite – inovações e oportunidades”, a palestra fez parte do Painel Indústria do 13º SBSBL, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), que teve início na terça-feira (05) e prossegue até quinta-feira (07), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes, em Chapecó (SC).
Zequi é responsável pelo Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Sooro Renner Nutrição S/A e apresentou os conceitos para a produção do soro de leite, um subproduto lácteo frequentemente subestimado, destacou seu potencial e a importância de explorar o soro como uma matriz nutritiva, versátil e altamente valorizada.
O palestrante explicou que, embora o soro tenha sido amplamente conhecido no passado como um resíduo da produção de queijos, é possível obtê-lo sem necessariamente fabricar queijo. Esta microfiltração, também conhecida como “soro ideal”, permite melhor controle de qualidade e preserva propriedades nutricionais importantes, uma vez que não passa por processos térmicos que podem afetar seu valor nutritivo. “Essa abordagem é estratégica tanto para o mercado quanto para a produção, permitindo produtos mais saudáveis e de maior valor agregado. A filtração por membrana vai separar as proteínas do leite pulando a etapa da fabricação do queijo,” explicou.
A palestra também abordou as características nutricionais da proteína do soro, altamente valorizada no mercado devido à sua capacidade de aplicação em diversas categorias alimentares. Além do uso tradicional em suplementos esportivos, a proteína do soro de leite pode ser utilizada em produtos como sorvetes, que se beneficiam da cremosidade e emulsificação proporcionadas pelo soro, ou em bebidas lácteas, onde ele pode reduzir a sinérese (separação do soro). “Podemos agregar valor a alimentos e melhorar suas características físicas e sensoriais”, comentou Zequi, citando o exemplo do sorvete proteico, um produto com potencial crescente entre os consumidores de alimentos saudáveis.
Zequi detalhou ainda os processos de obtenção do soro de leite, diferenciando em três categorias com propriedades distintas: o soro ácido, com pH baixo e menor teor proteico; o soro doce, com pH neutro e teor proteico mais elevado; e o microfiltrado, que combina a alta qualidade do soro ácido com um pH mais neutro. “Esse terceiro processo, garante uma qualidade nutricional superior, pois evita as etapas que o soro derivado do queijo convencional passaria”, apontou o palestrante.
Deve-se prezar pela qualidade, do início ao fim
O especialista também abordou a importância da qualidade do leite como fator determinante para o atributo final do soro. A higiene no manejo e na ordenha, bem como o cuidado com a refrigeração, foram pontos ressaltados para manter a qualidade do produto e garantir o potencial de absorção da proteína. Em média, o corpo humano absorve até 75% da proteína do soro, destacando-o como um ingrediente de alta eficiência nutricional.
A palestra de Zequi reforçou o valor de um subproduto que antes era descartado ou utilizado de forma limitada, mas que agora representa uma oportunidade valiosa para a saúde e para o mercado global. Estima-se que o setor de produtos derivados do soro, especialmente o mercado de whey protein, alcance cifras ainda mais significativas nos próximos anos, impulsionado pela demanda de produtos saudáveis e de alta performance nutricional. “Este é um produto de 2ª geração que apresenta mais de 90% de proteína em sua composição. Esse produto concentrado não é apenas voltado para suplemento de quem faz atividade física, mas é possível usar nas mais diversas aplicações”, informou, ressaltando que os compostos bioativos extraídos do soro possuem benefícios comprovados, como efeitos antioxidantes, antibacterianos e antivirais. “Além disso, esses compostos podem atuar como protetores hepáticos, auxiliar na secreção de insulina e até mesmo ser utilizados como suplemento alimentar para pacientes oncológicos. Já o co-produto de 5ª geração do soro, antes restrito à alimentação animal, hoje é considerado também para usos agropecuários, como fertilizantes, e em algumas aplicações na alimentação humana”, expôs.
Com temas como esses, o SBSBL reafirma sua importância como evento estratégico para o setor lácteo brasileiro, incentivando inovação e posicionando o Brasil como um dos protagonistas no mercado de produtos lácteos de valor agregado. “Queremos despertar e aguçar a curiosidade das pessoas nesse tema. O soro de leite tem vários tipos de produtos e devemos pensar no futuro com a utilização desses compostos, que trazem benefícios não apenas para o mercado, mas para a saúde”, concluiu Zequi.
Sobre o SBSBL
O 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite é promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), com apoio da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Santa Catarina (CRMV-SC), da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), da Prefeitura de Chapecó e da Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária (Somevesc).
Programação
13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite
8ª Brasil Sul Milk Fair
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte
Quarta-feira (06)
Painel Saúde, manejo e ambiente
10h40: Como otimizar o manejo de dejetos?
Palestrante: Alexandre Toloi
11h40: Mesa-redonda
12h20: Almoço
14h: Traduzindo vacas
Palestrante: Marcelo Cecim
15h: Inter-relações entre a saúde e a performance produtiva de vacas leiteiras
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
16h: Milk Break
16h40: Perdas gestacionais – principais causas e como evitá-las
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
19h: Happy Hour na 8ª Brasil Sul Milk Fair
Quinta-feira (07)
Painel Qualidade da Forragem
08h: Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens
Palestrante: Eduardo Bohrer Azevedo
09h: Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?
Palestrante: Luiz Ferraretto
10h: Milk Break
10h40: Práticas para maximizar a utilização do amido em silagem de milho e grão úmido.
Palestrante: Luiz Ferraretto
11h40: Mesa-redonda
12h20: Encerramento e sorteio de brindes
Bovinos / Grãos / Máquinas
É preciso aproximar campo e cidade, afirma Camila Telles
Comunicadora do agronegócio palestrou na abertura do Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, em Chapecó. Solenidade reuniu autoridades e lideranças do setor
Considerado um dos maiores eventos técnicos-científicos do setor no país, o Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite iniciou na última terça-feira (5), em Chapecó (SC). A palestra de abertura, no fim do primeiro dia, foi apresentada pela comunicadora e produtora rural, Camila Telles, com o tema “Empreendedor – a criatividade que o agro precisa”. O evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), segue até quinta-feira (7), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes.
Conhecida nas redes sociais como “agroinfluencer”, Camila Telles compartilhou sua trajetória, contou como saiu da propriedade dos pais para se formar em Relações Públicas e destacou a importância do apoio familiar para que o jovem desenvolva amor pelo agro. “Não voltei para a fazenda porque minha família exigiu, mas porque amo aquele lugar”.
Segundo ela, é impossível falar de empreendedorismo sem entender a comunicação e como as pessoas funcionam hoje. Enquanto a comunicação do agro para o agro é eficiente, com feiras e eventos de grande qualidade, Camila questionou se o mesmo acontece para o público em geral. “Esquecemos de colocar uma placa no supermercado para que as pessoas entendam que os produtos vêm do agro, que nós não paramos, por exemplo”.
A ideia é aproximar a cidade do campo. Ao pensar em empreender, a recomendação é comunicar o agro em todas as iniciativas e buscar conexão. Como exemplo, citou a Nucleostore — loja de produtos personalizados do Nucleovet — que representa um empreendimento beneficente dentro de um evento da cadeia produtiva.
Reiterou a questão se “o agro está comunicando bem para quem não é do setor?”. E complementou com a informação de que muitos jovens estão no TikTok consumindo conteúdo de outros setores e se perguntando por que o agro não está presente. “Não estou dizendo para vocês fazerem dancinha, mas para mostrar o dia a dia, de onde vem o alimento”, sugeriu, ao enfatizar que é essencial mostrar o verdadeiro Brasil — um país que, nos últimos 40 anos, saiu da condição de importador de alimentos para se tornar um grande provedor para o mundo. “A importância desse protagonismo econômico e social merece ser valorizada”, sublinhou a comunicadora.
“Trabalhei e morei em vários lugares, fiz palestras pelo país, mas hoje meu trabalho e lucro estão na fazenda, e temos orgulho disso.” Ela frisou que o agro é uma cadeia produtiva completa e essencial, ajudando com novas tecnologias e inspirando futuras gerações. “Trabalhar no agro é positivo; é um setor para empreender e ousar. Há tantas ideias boas guardadas. Sugiro que arrisquem-se”.
Ela acredita que o próximo empreendimento pode estar nas ideias que cada um tem. “Quando temos propósito, nos unimos. E não há objetivo mais incrível do que produzir alimento para as pessoas”, finalizou.
Solenidade de abertura
Antecedente à palestra de Camila Telles, a cerimônia de abertura da 13ª edição do Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite reuniu autoridades e lideranças do setor.
Em seu pronunciamento, o presidente do Nucleovet, Tiago José Mores, sublinhou que a programação do evento foi cuidadosamente planejada por uma equipe de profissionais que avaliaram os temas mais relevantes da atualidade para o setor. “Com isso, criamos uma agenda de painéis que abordam desde a qualidade da forragem, um elemento essencial para a nutrição e bem-estar dos animais, até a indústria, o manejo e o ambiente, fatores que influenciam diretamente a produtividade e a sustentabilidade das operações”. A inclusão desses temas reflete uma visão completa da cadeia produtiva e da importância de promover uma pecuária de leite eficiente, moderna e sustentável.
Mores enfatizou os desafios que vêm afetando a cadeia produtiva no país. “Enfrentamos crises significativas decorrentes de eventos climáticos. Além disso, o setor sofre com o impacto das importações excessivas de leite, o que prejudica a remuneração do produtor nacional, em especial o pequeno e o médio produtor. Esse cenário exige uma nova política pública que atenda às necessidades, assegurando a sustentabilidade e competitividade do setor”, apontou. Entre as ações sugeridas, o presidente citou a redução de tributação, o combate às fraudes no setor, a criação de um mercado futuro para commodities lácteas e a consolidação de tarifas que protejam o mercado interno, além de garantir que os produtos lácteos de origem nacional tenham preferência em programas sociais.
Para além das dificuldades, Mores destacou a importância de lembrar que a bovinocultura de leite representa um setor de grande pujança e resiliência. “Com eventos como este Simpósio, fortalecemos nossa capacidade de adaptação e inovação. Vamos juntos construir o futuro da nossa pecuária leiteira”, exclamou.
Em seu discurso, o secretário de Estado da Agricultura de Santa Catarina, Valdir Colatto, reconheceu a importância do evento e a dedicação do Nucleovet para a entrega de mais uma edição. Ainda, valorizou a participação de técnicos e profissionais de diversas áreas, que vieram de diferentes regiões do país para aprimorar conhecimentos, e reforçou que o estado está comprometido com o desenvolvimento da cadeia leiteira.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Santa Catarina (SINDILEITE-SC), Selvino Giesel, parabenizou o Nucleovet pela organização e a todos os participantes que vieram em busca de conhecimento para levar aos produtores, promovendo maior profissionalização no campo. Também apontou a necessidade de deixar a política “de lado” e focar no aprendizado e na atualização, pois “o mundo não para”.
Ação social
Tradicionalmente, o Nucleovet promove ações sociais em seus eventos. Nesta edição do Simpósio, todo o lucro arrecadado com a NúcleoStore – loja de artigos personalizados -, será doado à APAE Chapecó. Durante o evento, os participantes que adquirirem camisetas, canecas, meias, bótons e mousepads com estampas lúdicas do setor contribuirão com a instituição.
Com a missão de promover e articular ações de defesa de direitos e prevenção, orientações, prestação de serviços, apoio à família, direcionadas à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência e à construção de uma sociedade justa e solidária, a APAE Chapecó atende pessoas com atraso global do desenvolvimento, deficiência intelectual e/ou múltipla e transtorno do espectro autista.
Atualmente, conta com 372 matriculados nas áreas de educação, assistência social e saúde, em todos os ciclos de vida. O matriculado de menor idade tem seis meses e o mais velho 86 anos. Em seus 53 anos de existência, a instituição já atendeu 1.730 pessoas.
Os representas da APAE Chapecó, vice-presidente Odilon Villa Dias, diretor de patrimônio Leandro Ugolini e diretor-financeiro, Julio Treichel, participaram da solenidade e incentivaram os participantes a contribuir com essa causa.
Programação
13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite
8ª Brasil Sul Milk Fair
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte
Quarta-feira (06)
14h: Traduzindo vacas
Palestrante: Marcelo Cecim
15h: Inter-relações entre a saúde e a performance produtiva de vacas leiteiras
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
16h: Milk Break
16h40: Perdas gestacionais – principais causas e como evitá-las
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
19h: Happy Hour na 8ª Brasil Sul Milk Fair
Quinta-feira (07)
Painel Qualidade da Forragem
08h: Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens
Palestrante: Eduardo Bohrer Azevedo
09h: Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?
Palestrante: Luiz Ferraretto
10h: Milk Break
10h40: Práticas para maximizar a utilização do amido em silagem de milho e grão úmido.
Palestrante: Luiz Ferraretto
11h40: Mesa-redonda
12h20: Encerramento e sorteio de brindes
Bovinos / Grãos / Máquinas Na cidade de Chapecó
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte debate gargalos e soluções do setor em Santa Catarina
Evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), antecedeu o 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL).
Explanações de profissionais e pesquisadores renomados, difusão de conhecimentos e estratégias aplicáveis frente aos desafios do setor marcaram a 3ª edição do Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte, realizado na manhã da última terça-feira (5), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC). O evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), antecedeu o 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL).
Novilho precoce
A primeira palestra do Fórum foi apresentada pela coordenadora estadual do Programa Novilho Precoce da CIDASC, Flávia Klein, e pelo professor associado na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Diego Cucco, que discutiram os parâmetros dos novilhos catarinenses.
Desde 1993, produtores rurais de novilhos e abatedouros frigoríficos do estado contam com o Programa Novilho Precoce, uma iniciativa pública de estímulo ao trabalho de melhoramento do rebanho bovino catarinense.
Entre os objetivos da iniciativa, Klein citou a intenção de viabilizar a pecuária por meio do aumento da produtividade, diminuir o déficit de carne bovina no estado, gerar renda ao produtor rural por meio do incentivo financeiro e melhorar a qualidade da carne através da redução da idade de abate, da tipificação das carcaças e do controle sanitário.
A coordenadora evidenciou que, em 2023, mais de 70 mil animais foram abatidos no programa, com a participação de 5.997 produtores cadastrados. No entanto, desses produtores, apenas 2.123 foram beneficiados por estarem efetivamente atendendo aos pré-requisitos do programa.
“No Oeste, cerca de 60 mil animais foram abatidos em 2023, resultando em quase 6 milhões de reais repassados aos produtores como incentivo. Essa região contribui com cerca de 30% do total do programa, um dado significativo, mas que ainda pode melhorar, considerando a sua capacidade produtiva”, avaliou, ao apresentar estatísticas regionais a fim de comparação.
Para compreender o perfil dos bovinos abatidos no programa, Cucco apresentou uma análise feita entre janeiro de 2020 e dezembro de 2022 com 514.574 animais, 3.103 UEPs (Unidades de Explorações Pecuárias) e 21 abatedouros frigoríficos. O levantamento mostrou que 41% dos animais abatidos eram novilhos superprecoces, 26% novilhos precoces e 31% não classificados. Quanto à classe sexual dos animais, nas três categorias prevaleceram os machos não castrados. “A idade média dos animais é bastante satisfatória, com destaque para a precocidade dos bovinos criados em Santa Catarina. A média de peso de abate também é superior, com tendência de aumento contínuo ao longo dos anos. No entanto, o acabamento de carcaça ainda pode ser melhorado”, expôs Diego.
Quanto à desclassificação dos animais, classificada em 30%, o professor explicou que as causas são a ausência de gordura e peso inadequado. “Embora o peso esteja melhorando, ainda é um critério significativo de desclassificação. Um dado relevante é que, em 2020, o peso era o principal motivo de desclassificação, mas a partir de 2022, a falta de gordura passou a liderar a lista”, apontou.
Com isso, a estimativa de perda de incentivo financeiro mostrou que o produtor deixou de receber aproximadamente oito milhões de reais com essa desclassificação. “Não é uma perda, mas é um incentivo que o produtor deixou de receber. Esses dados têm como objetivo mostrar a evolução e os gargalos da política pública para que continue evoluindo a fim de beneficiar a cadeia produtiva”, concluiu Cucco ao indicar que há espaço para expandir a adesão e a eficiência do programa no estado.
Consorciação forrageira
A qualidade da forragem impacta diretamente o desempenho dos animais, refletindo no ganho de peso vivo diário. Nesse sentido, a consorciação, ou combinação, de gramíneas com leguminosas é uma prática estratégica em pastagens tropicais, para proporcionar uma oferta de forragem distribuída ao longo do ano. O uso de consorciações forrageiras para alimentação de bovinos de corte foi o tema da explanação do Ph.D. em Agronomia e pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Serena Fontaneli, na segunda palestra do Fórum.
Inicialmente, Fontaneli revelou que essa diversidade permite que espécies com diferentes picos de crescimento maximizem a produção em estações específicas. Além disso, para ele, o cultivo simultâneo de duas ou mais espécies na mesma área, na mesma safra agrícola (ou ano), podem melhorar a proteção do solo, preservar flora, fauna e biota do solo, reduzir a presença de plantas invasoras e melhorar a distribuição estacional de forragem. Além disso, a prática pode apresentar potencial para melhorar o valor nutritivo para alimentação animal, o consumo e os ganhos de produto animal comercializável.
O pesquisador evidenciou que a temperatura, a disponibilidade de água, a fertilidade do solo e a quantidade de radiação solar são os fatores mais importantes para determinar a quantidade e o valor nutritivo da forragem produzida. “As espécies diferem quanto à reação à temperatura durante as estações do ano. Forrageiras de estação fria têm o pico de produção no inverno e na primavera, enquanto forrageiras de estação quente apresentam maior produtividade durante os meses mais quentes. Em resumo, combinando espécies podemos ter pasto o ano todo”.
Fontaneli reforçou que o uso extensivo de espécies de estação fria é uma estratégia para melhorar a lucratividade da agropecuária e garantir a sustentabilidade agroecológica. “Essas forrageiras, complementares às espécies de verão, produzem uma forragem de alta qualidade e se integram ao ecossistema natural do sul do Brasil, onde predominam campos nativos”, explicou.
Nesse sentido, citou que, nos últimos 30 anos, práticas como a inclusão do trigo para pastagem se consolidaram, diversificando os usos desse cereal. Também apontou o potencial produtivo de Capins, como o Capim elefante e o Capiaçu, para silagem.
Enfatizou, por fim, os princípios gerais na elaboração de misturas ou consorciações. “Primeiro, toda mistura deve conter pelo menos uma espécie de gramínea e uma de leguminosa, mas no máximo quatro espécies. Segundo, a mistura deve ser adaptada à utilização pretendida e ao ciclo”, finalizou o pesquisador.
Gestão nutricional e eficiência
O encerramento do 3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte ocorreu com a palestra “Gestão nutricional para maior eficiência produtiva de vacas de corte”, com o pós-doutor em Zootecnia e coordenador do Núcleo de Estudos em Pecuária de Corte da UFLA, Mateus Pies Gionbelli.
Ele enfatizou que a Universidade Federal de Lavras, em colaboração com outras instituições de pesquisa, empresas e fazendas do setor pecuário, tem estudado a fundo a fisiologia e o metabolismo de vacas de corte, com o objetivo de entender como elas reagem ao ambiente e como isso reflete no sistema de produção. “Nosso objetivo é compreender tanto o funcionamento da vaca quanto o desenvolvimento dos bezerros que ela produz, avaliando como esses bezerros expressarão seu potencial genético e o quão produtivos serão ao longo de suas vidas”, explicou.
A partir dessas pesquisas, Gionbelli explicou que compreenderam mais sobre a fisiologia e o metabolismo dos animais, que variam significativamente ao longo do ciclo produtivo, seja durante a gestação, a lactação ou em diferentes estágios de ambas. “Essas variações impactam a demanda por nutrientes e a capacidade de absorção, o que nos levou ao conceito de gestão nutricional, que integra o conhecimento fisiológico com dados de campo para que seja possível planejar e organizar melhor o sistema de produção, visando maior eficiência”, sublinhou o pesquisador.
Argumentou que cenários fisiológicos e metabólicos são diferentes entre as diversas fases do ciclo produtivo de uma vaca de corte. No terço médio da gestação, citou como características a alta capacidade de consumo, a baixa exigência nutricional e a alta sensibilidade à programação fetal. Já no terço final da gestação, o consumo é ~44% menor do que no terço médio, a exigência é alta e há mobilização do músculo da carcaça. Na lactação, Gionbelli relatou uma alta capacidade de consumo, uma alta exigência nutricional, e que 60% a 85% da energia usada pela glândula mamária vem de AGV e gordura (dieta ou mobilizada).
Abordou ainda o período após a desmama, fundamental do ciclo de produção para vacas que geram um bezerro por ano. “Nesta fase, que ocorre em grande parte dos sistemas de gado de corte, enfrentamos uma época de escassez e baixa qualidade de alimentos, ao mesmo tempo em que a vaca apresenta menor exigência nutricional. O pós-desmama oferece a melhor oportunidade para recuperar o escore corporal das vacas, pois elas apresentam maior potencial de captação de nutrientes, embora o pasto, geralmente, seja de baixa qualidade. Esse cenário reforça a necessidade de uma gestão nutricional planejada, garantindo que recursos alimentares estejam disponíveis para explorar o potencial fisiológico das vacas neste momento crucial do ciclo”, finalizou.
Programação
13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite
8ª Brasil Sul Milk Fair
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte
Quarta-feira (06)
Painel Saúde, manejo e ambiente
10h40: Como otimizar o manejo de dejetos?
Palestrante: Alexandre Toloi
11h40: Mesa-redonda
12h20: Almoço
14h: Traduzindo vacas
Palestrante: Marcelo Cecim
15h: Inter-relações entre a saúde e a performance produtiva de vacas leiteiras
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
16h: Milk Break
16h40: Perdas gestacionais – principais causas e como evitá-las
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
19h: Happy Hour na 8ª Brasil Sul Milk Fair
Quinta-feira (07)
Painel Qualidade da Forragem
08h: Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens
Palestrante: Eduardo Bohrer Azevedo
09h: Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?
Palestrante: Luiz Ferraretto
10h: Milk Break
10h40: Práticas para maximizar a utilização do amido em silagem de milho e grão úmido.
Palestrante: Luiz Ferraretto
11h40: Mesa-redonda
12h20: Encerramento e sorteio de brindes
Bovinos / Grãos / Máquinas
Qualidade e competitividade dos produtos lácteos marca abertura do 13º SBSBL
Problemas, soluções e competitividade na indústria do leite norteiam discussões do evento que reúne, nesta semana, a cadeia de leite e corte em Chapecó (SC).
O primeiro dia do 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite foi marcado por questionamentos, provocações e busca de soluções na área. O evento promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), que segue até quinta-feira (07), trouxe o doutor em Epidemiologia da Mastite Bovina e Qualidade do Leite, José Pantoja, para apontar e debater os desafios enfrentados pelos produtores, profissionais e pela agroindústria, durante sua palestra “CCS no Brasil: por que é tão difícil reduzir?”.
A fala do especialista integrou o Painel Indústria do 13º SBSBL, e expôs como a contagem de células somáticas (CCS) – uma célula de defesa do sistema imune – interfere diretamente na qualidade do leite. “A pergunta é muito complexa e foi interessante fazer essa reflexão, que acaba sendo prática e filosófica. Sabemos lidar com esse problema? Para reduzir a CCS, é preciso controlar a mastite no rebanho. E o produtor precisa estar motivado”, afirmou Pantoja.
Os mais recentes indicadores nacionais de contagem de CCS, divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) em fevereiro de 2024, apontaram que a média geométrica nacional é de 531 mil cels/ml – a maior média registrada pela Rede Brasileira da Qualidade do Leite (RBQL) desde 2013. Essa estatística acendeu um alerta na cadeia produtiva, pois a variável é considerada um fator determinante da qualidade do leite cru e do desempenho animal.
“Em leite com alta CCS, é possível perceber a alteração de sabor, seu tempo na prateleira também é reduzido e seu aumento é um indicador de prevalência de mastite no rebanho. Então ela é um indício muito útil para a qualidade do leite. É também um apontador de segurança alimentar e boas práticas de manejo de animais. E a indústria quer comprar o leite como uma matéria-prima de qualidade”, apontou Pantoja.
E é possível reduzir a CCS? Conforme demonstrou o doutor em Epidemiologia da Mastite Bovina e Qualidade do Leite, esta é uma pergunta complexa de ser respondida e resulta em um problema multifatorial, que envolve questões socioeconômicas, culturais e até geográficas. Pantoja trouxe dados de outros países, para fazer comparativos com o mercado brasileiro. “Existe também uma variação sazonal, onde há aumento nos meses de verão, provavelmente devido ao estresse térmico do rebanho e a mudança ambiental. Não há um cálculo universal, precisamos de cálculos específicos para cada rebanho, e as perdas são consideráveis, pois a vaca pode chegar a perder cerca de 10% da sua produção diária de leite. E mesmo assim, estudos mostram que cerca de 70% dos produtores ignoram as suas perdas por mastite”, alertou.
Em sua apresentação, Pantoja salientou como a mastite é a doença de maior custo em rebanhos leiteiros, na qual os componentes mais importantes do custo são invisíveis, resultando em perdas na produção de leite. “Boa parte da motivação para reduzir a contagem de células somáticas é entender o problema. Esse conhecimento precisa ser disseminado de forma intensa, tanto para os produtores quanto para os pesquisadores. É uma reflexão para toda a cadeia leiteira, principalmente a indústria, os órgãos governamentais e os produtores”, provocou o palestrante. “Assistência técnica, capacitação, programas de incentivo e conscientização devem ser estimulados constantemente. E os consumidores devem também exigir a qualidade dos produtos lácteos”, acrescentou.
Tendências e competitividade na cadeia do queijo
O engenheiro de produção, técnico em Laticínios e membro global do grupo de Tendências Tecnológicas de Queijos de Pasta Filata e Continentais, Michael Mitsuo Saito, palestrou na segunda parte do Painel Indústria, com o tema “Competitividade do queijo na indústria”. Especialista em competitividade no segmento de queijos, Saito iniciou sua apresentação com um questionamento muito válido: por que somos uma potência no agro, mas não conseguimos exportar o queijo brasileiro?
Estima-se que de 2022 a 2027, haverá um crescimento global de 1,2% a cada ano no consumo de queijo, representando um volume de aproximadamente 2 milhões de toneladas do produto. “Isso é mais ou menos o que o Brasil produz de queijo hoje, atendendo seu mercado interno. Com a globalização e mais mercados se abrindo para costumes ocidentais, o mundo está demandando mais queijo”, expôs Saito, salientando a mussarela como a principal variedade produzida atualmente. “E a explicação que temos é através de uma estatística simples: 93% dos norte-americanos consomem, pelo menos, uma pizza ao mês. Apenas nisso, estamos falando de 2.500 toneladas de mussarela por dia, somente para produzir pizza”.
O palestrante provocou novamente persistindo no questionamento: o que falta para a indústria do leite ter o seu ponto de virada, como foi para a indústria da carne, que nos tornou uma potência mundial? “A caseína é a parte mais importante nesta transformação do leite para o rendimento do queijo, sendo cerca de 77% da composição da matéria-prima. Existe uma relação direta entre a quantidade de caseína e o rendimento da produção de queijo. Temos uma margem apertada entre o custo de produção e o valor de mercado. Acabamos não tendo uma produção competitiva, em comparação à Argentina, por exemplo, e a quantidade de caseína tem influência nisso”, salientou.
Saito lembrou a palestra de Pantoja, falando da forte relação entre a quantidade de CCS no leite e o rendimento do queijo que se produz. “Desta forma, quando a indústria paga o leite pela proteína total, temos um erro muito grande. De todas as proteínas totais do leite, a maioria é caseína, mas quando o nível de CCS aumenta, a quantidade de caseína baixa. E quando há esse aumento de CCS, há redução na produtividade. Então é um ciclo vicioso”.
Saito provocou também para a utilidade do soro, resultado da produção do queijo, que tem agregado uma relevância expressiva no mercado nas últimas décadas, especialmente por possuir nutrientes de alto valor biológico, podendo gerar diversos componentes em frações proteicas. “Estamos inseridos em uma cadeia na qual se não conseguirmos integrar produtores, indústria e varejistas, não conseguiremos fazer uma transformação no Brasil. Eu vejo com bons olhos essa transformação e estamos justamente nesse momento de transição. Passamos esse momento na carne e em várias outras commodities, e agora chegou a vez do leite. Então promover eventos como esse, SBSBL, é essencial e só ajuda a enxergar um pouco mais no que precisamos investir e para onde precisamos ir para fazer a nossa indústria mais forte”, finalizou.
Programação
13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite
8ª Brasil Sul Milk Fair
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte
Quarta-feira (06)
Painel Saúde, manejo e ambiente
10h40: Como otimizar o manejo de dejetos?
Palestrante: Alexandre Toloi
11h40: Mesa-redonda
12h20: Almoço
14h: Traduzindo vacas
Palestrante: Marcelo Cecim
15h: Inter-relações entre a saúde e a performance produtiva de vacas leiteiras
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
16h: Milk Break
16h40: Perdas gestacionais – principais causas e como evitá-las
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
19h: Happy Hour na 8ª Brasil Sul Milk Fair
Quinta-feira (07)
Painel Qualidade da Forragem
08h: Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens
Palestrante: Eduardo Bohrer Azevedo
09h: Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?
Palestrante: Luiz Ferraretto
10h: Milk Break
10h40: Práticas para maximizar a utilização do amido em silagem de milho e grão úmido.
Palestrante: Luiz Ferraretto
11h40: Mesa-redonda
12h20: Encerramento e sorteio de brindes