Suínos
Influenza aviária rompe a barreira das aves e ameaça produção de suínos
Vírus, que até então impactava diretamente a avicultura, agora representa risco também para outras cadeias produtivas, como da suinocultura.

Depois de dois anos com registro de casos de Influenza aviária de Alta Patogenicidade em aves silvestres e de criação doméstica, o Brasil confirmou, em 2025, a presença do vírus em uma granja comercial. A entrada do vírus no sistema brasileiro de produção intensiva elevou o nível de preocupação no campo. O motivo? O vírus, que até então impactava diretamente a avicultura, agora representa risco também para outras cadeias produtivas, como da suinocultura.
A atividade, até então distante do epicentro da doença, passa agora a ser vista como um setor vulnerável diante do comportamento do vírus e de sua capacidade crescente de adaptação a mamíferos. Essa mudança de cenário será tema da palestra da médica-veterinária com PhD em Virologia Molecular e pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Janice Reis Ciacci Zanella, durante o 17º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), realizado em agosto na cidade de Chapecó (SC). “Os suínos são reconhecidos como hospedeiros intermediários, os chamados mixing vessels, de vírus da Influenza aviária, humana e suína. Isso os torna peças-chave no possível surgimento de novas variantes com potencial zoonótico ou pandêmico”, alerta a pesquisadora.

Médica-veterinária com PhD em Virologia Molecular e pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Janice Reis Ciacci Zanella: “Os suínos são reconhecidos como hospedeiros intermediários, os chamados mixing vessels, de vírus da Influenza aviária, humana e suína. Isso os torna peças-chave no possível surgimento de novas variantes com potencial zoonótico ou pandêmico” – Foto: Divulgação/Arquivo OP Rural
Janice explica que esse processo ocorre porque os suínos possuem receptores celulares compatíveis tanto com vírus de origem aviária (ligação α-2,3) quanto humana (ligação α-2,6), o que possibilita infecções simultâneas e o rearranjo de segmentos genéticos, fenômeno conhecido como reassortamento.
Em 2024, um estudo publicado na revista Emerging Infectious Diseases demonstrou, pela primeira vez, que suínos podem ser infectados com o vírus H5N1 clado 2.3.4.4b. No experimento, os animais apresentaram sinais clínicos compatíveis com infecção ativa, como febre e dificuldade respiratória, além de evidências de que o vírus se replicava nas vias aéreas. Embora a transmissão entre suínos tenha sido limitada, os pesquisadores concluíram que a infecção é possível e relevante do ponto de vista sanitário.
Outro fator de risco é a localização das granjas. Em regiões onde há criação próxima de aves e suínos em condições de biosseguridade menos rigorosas aumenta a chance de contato indireto entre as espécies, seja por meio do ar, de fômites (objetos ou superfícies contaminadas), de pessoas ou até mesmo de roedores e outros vetores.
Além dos suínos, há relatos recentes de infecção por H5N1 em bovinos nos Estados Unidos, indicando que o vírus está ampliando seu espectro de hospedeiros e adquirindo características de maior adaptação a mamíferos. “Esse comportamento representa um risco sanitário transversal, que requer atenção integrada entre cadeias produtivas e autoridades sanitárias”, reforça a pesquisadora.
Biosseguridade deve ser prioridade
Com o avanço do vírus H5N1 e a confirmação da sua capacidade de infectar mamíferos, a principal estratégia para proteger os rebanhos suínos é fortalecer as medidas de biosseguridade nas granjas. Entre as recomendações que podem fazer a diferença estão:
Vedação completa das granjas contra aves silvestres e animais carniceiros, que podem carregar o vírus e contaminarem o ambiente;
Controle rigoroso da entrada de pessoas, veículos e equipamentos, especialmente em propriedades com contato direto ou indireto com granjas avícolas;
Proibição do uso de subprodutos crus na alimentação dos suínos, como leite não pasteurizado ou sobras de origem animal;
Capacitação contínua de trabalhadores e técnicos sobre doenças respiratórias, como a influenza, com acesso a materiais atualizados de órgãos internacionais como a Organização Mundial de Saúde Animal;
Separação absoluta entre as atividades de suínos e aves em propriedades mistas, evitando qualquer possibilidade de cruzamento de manejo;
Implementação de programas de vigilância clínica e laboratorial ativa, com foco em sinais respiratórios nos suínos e coleta periódica de amostras para diagnóstico precoce.
Apesar de o Brasil ainda não contar com um protocolo oficial específico para a detecção e controle da Influenza aviária em suínos, é possível adaptar diretrizes já existentes de organismos como o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e a própria Organização Mundial da Saúde Animal.
Saúde única
Para a PhD em Virologia Molecular, é preciso reforçar a biosseguridade, intensificar o monitoramento genômico e ampliar a integração entre os setores animal, ambiental e humano, seguindo os princípios da abordagem de Saúde Única. “Os novos achados reforçam a urgência de uma resposta coordenada. Não estamos falando apenas de uma questão de produção animal, mas de um risco sanitário que pode atingir múltiplas espécies”, destaca.
Registros de casos em suínos
Embora o Brasil ainda não tenha registrado casos de Influenza Aviária em suínos, há relatos confirmados em outros países. Entre 2010 e 2015, China e Vietnã detectaram os vírus H5N1 e H9N2 em suínos de criação doméstica. Nos Estados Unidos, em 2014, foi identificada exposição sorológica de suínos aos subtipos H5 e H7, um indicativo de contato prévio com o vírus. Já em 2024, um estudo experimental conduzido no mesmo país comprovou que suínos inoculados com o vírus H5N1 desenvolveram sinais clínicos e apresentaram replicação viral, reforçando a preocupação com a susceptibilidade da espécie.
Além dos suínos, estudos com bovinos leiteiros conduzidos nos Estados Unidos entre 2024 e 2025 demonstraram que o vírus H5N1 também pode infectar esses animais, causando sinais clínicos, replicação viral sistêmica e, de forma inédita, transmissão pela rota oral via leite. “Esse achado amplia ainda mais o alerta sobre a capacidade do vírus de se adaptar a diferentes mamíferos e representar risco de infecção via rota oral, algo até então pouco observado”, ressalta Janice.
Vigilância sanitária
Diante da possibilidade de infecção cruzada entre aves e suínos, o Brasil conta com sistemas de vigilância coordenados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com o suporte técnico dos Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros) e dos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDAs), aliados aos programas de pesquisa conduzidos por instituições como a Embrapa Suínos e Aves e diversas universidades, que atuam de forma integrada com agências estaduais de defesa agropecuária no monitoramento e estudo da influenza animal. “Na linha de frente da ciência e da resposta técnica, a Embrapa Suínos e Aves atua de forma decisiva em três frentes: pesquisa científica aplicada, capacitação técnica regional e articulação com o Mapa para aprimorar protocolos e estratégias de vigilância”, afirma a médica-veterinária.
Entre os principais focos da vigilância atual estão o monitoramento de síndromes respiratórias em suínos, a vigilância genômica voltada à detecção de possíveis recombinações virais, a capacitação regional de profissionais da veterinária e o estímulo à integração entre os setores produtivos e a saúde pública, pontos fundamentais diante do avanço do vírus H5N1 em diferentes espécies. “Modelos internacionais, como o Swine Influenza Virus Surveillance Program, do USDA, em parceria com o National Animal Disease Center, servem de referência para o Brasil. O programa norte-americano demonstra a eficácia da vigilância ativa e integrada, com destaque para o sequenciamento sistemático de vírus detectados em suínos como ferramenta estratégica de prevenção e resposta”, salienta Janice.
O avanço do H5N1, com sua capacidade de infectar diferentes mamíferos e até ser transmitido por vias pouco convencionais, como o leite, sinaliza que o vírus está testando os limites das barreiras sanitárias. Para a suinocultura brasileira, o momento é de vigilância redobrada, biosseguridade máxima e cooperação plena, com o entendimento de que, frente a um vírus adaptável e silencioso, a resposta precisa ser proativa, integrada e baseada na lógica da saúde única.
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



