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Inflação dos alimentos e os estoques reguladores
Em meio à instabilidade dos preços, ações de regulação voltam ao centro do debate como ferramentas para assegurar o equilíbrio entre oferta e demanda.

O ano de 2025 começou com uma velha preocupação, bastante conhecida dos brasileiros: a inflação dos alimentos. Mas os números já eram preocupantes em 2024, porque, de acordo com o IBGE (2025), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechou o ano passado em 4,83%, e o grupo que representa alimentação e bebidas terminou 2024 em 7,69%, indicando que a inflação dos alimentos em geral foi bem maior do que a inflação média de todos os produtos e serviços considerados pelo IPCA.
Já em janeiro de 2025 o grupo alimentação e bebidas apresentou elevação de 0,96%, a segunda maior dentre os nove grupos do IPCA, ficando atrás apenas de transportes, que subiu 1,30%. E, em fevereiro de 2025, a alta do grupo alimentação e bebidas foi a terceira maior, alcançando 0,70%. Assim, considerando-se a variação acumulada do IPCA na parcial de 2025 (janeiro e fevereiro), a inflação do grupo alimentação e bebidas é maior (1,67%) do que a do índice total (1,47%), conforme o IBGE (2025).

Foto: Ari Dias
Os fatores que explicam a inflação dos alimentos são diversos e vão desde o clima que reduz a oferta de produtos nos mercados interno e externo, passando por questões específicas da cadeia de cada produto, pelos preços internacionais, até o câmbio, que juntos, em maior ou menor medida, compõem a formação do preço dos alimentos ao consumidor.
Porém, independentemente dos motivos, o cenário suscita preocupação não apenas pelo fato de que influencia na possibilidade de descumprimento da meta estipulada para a inflação geral do País, mas também por conta de os preços elevados dos alimentos afetarem a segurança alimentar da população.
Como forma de tentar mitigar a subida dos preços dos alimentos, o governo federal anunciou uma série de medidas, como a isenção de imposto de importação sobre alguns produtos, o incentivo à produção de alimentos que fazem parte da cesta básica, por meio do Plano Safra, e o reforço de recursos para fortalecer os estoques reguladores.
A primeira iniciativa pode, em alguma medida, auxiliar no reforço da oferta interna de alguns produtos, desde que estes não estejam com seus preços internacionais também elevados e que o câmbio não esteja muito alto, como aconteceu no final de 2024, já que, se tais fatos ocorrerem, os produtos importados podem chegar com um preço elevado ao mercado brasileiro, apesar da isenção.
Já o incentivo à produção de itens da cesta básica, via plano Safra, é uma medida importante, mas que gera efeitos apenas a longo prazo. Por fim, o uso dos estoques reguladores não é uma novidade; na verdade, representa a retomada de um instrumento que foi pouco ou nada utilizado nos últimos anos.

Foto: Tânia Rêgo
A formação de estoques reguladores no Brasil data do início do século XX, com o café, mas foi por meio do decreto Lei nº 79, de dezembro de 1966, que se legalizou a formação dos estoques reguladores, geridos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a partir da implementação da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que basicamente garante a compra da produção de alimentos a preços mínimos, proporcionando, assim, uma renda mínima para o produtor, ao mesmo tempo que gera estoques de produtos que podem ser comercializados em momentos de preço elevado, visando a ampliação da oferta e, por consequência, a redução do preço (CONAB, 2025).
Assim, desde a sua criação, os estoques reguladores são formados por meio de Aquisições do Governo Federal (AGFs) e/ou Empréstimos do Governo Federal (EGFs). As AGFs correspondem à aquisição do governo diretamente do produtor rural ou de cooperativa de produtores. E as EGFs dizem respeito à disponibilização de recursos, por parte do governo, com base nos preços mínimos, aos produtores para o financiamento da estocagem no período de safra.
Em alguns períodos, os estoques se tornaram bastante robustos, como é possível verificar no gráfico abaixo, que traz dados dos estoques totais da Conab de arroz, feijão e milho, que são produtos para os quais governo federal pretende voltar a incentivar os estoques, já que são relevantes para a cesta de consumo do brasileiro. Porém, como também pode-se observar, pelo menos desde 2015, os estoques passaram a declinar consideravelmente, chegando, em alguns casos, a ficar zerados por anos consecutivos, como é o caso do feijão entre 2017 e 2022.

Para 2025, foi divulgado que a Conab terá um reforço no orçamento, em R$ 350 milhões, para recompor os estoques de arroz, feijão e milho, em momentos em que os preços estiveram abaixo do mínimo, conforme a regra que se tem atualmente, para então usá-los em momentos de preços elevados dos produtos estocados.
Sobre o uso dos estoques, primeiramente é importante dizer que a formação de estoques reguladores de alimentos faz parte da política de estabilização de preços, abastecimento e segurança alimentar de diversos países, como mostram vários estudos, como o de Belik e Cunha (2017). Em segundo lugar, deve-se ter clareza de que é um instrumento que pode ajudar a minimizar o preço de alguns alimentos, para os quais é possível de se fazer o estoque, pois, como dito acima, a configuração da inflação dos alimentos compreende a junção de diversos fatores, desde elementos relacionados à economia internacional até o clima, então, não se pode considerar que os estoques reguladores resolverão todas as questões motivadoras da inflação dos alimentos.

Foto: Geraldo Bubniak
E como se trata de uma política pública, a formação de estoques deve ser bem estruturada, desde a escolha dos produtos que serão estocados até o acompanhamento dos preços no mercado. Mesmo porque, para a formação de estoques é necessário o dispêndio de recursos públicos, não apenas para constituí-los, mas também para mantê-los, bem como para conservar toda a estrutura de armazenagem pública. Inclusive, o custo da estrutura de armazenagem é um dos argumentos usados por aqueles que discordam do uso dos estoques reguladores como ferramenta de mitigação da inflação dos alimentos.
Desta forma, tem-se que a inflação dos alimentos é um tema que sempre traz preocupações, sendo motivada por fatores que, muitas vezes, fogem ao controle do produtor ou das políticas de estado, como fatores climáticos atípicos ou extremos. Assim, pensar formas de arrefecer seus efeitos não é uma tarefa fácil. Os estoques reguladores são uma ferramenta importante, que não pode ser desconsiderada.
Com o passar do tempo, fica evidente que a inflação dos alimentos será um tema cada vez mais recorrente, vide, por exemplo, a grande frequência de eventos climáticos extremos no Brasil e no mundo. Logo, lidar com os preços elevados dos alimentos exige planejamento e projetos de longo prazo, que reúnam diversos instrumentos que, juntos, possam amenizar os preços destes produtos que são essenciais para todos.
Deve-se ressaltar, finalmente, que o governo deve contar com quadros competentes para atuar nos mercados para que eventuais intervenções se deem de forma oportuna e na intensidade adequada. Um acúmulo de estoques públicos acima do necessário, por exemplo, pode influenciar intervenções desnecessárias – do ponto de vista do produto em si – com finalidade de compensar altas de preços em outros setores da economia.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



