Suínos
Indústria avança com compromissos de bem-estar de suínos, aponta levantamento inédito
Sexta edição do Observatório Suíno destaca aumento de 16,5% no alojamento de porcas em gestação coletiva nos últimos quatro anos.

A suinocultura brasileira segue como uma das mais relevantes do mundo, tanto em volume de produção quanto em potencial competitivo. Em 2024, o país produziu 5,3 milhões de toneladas de carne suína, com um rebanho estimado em 46,6 milhões de animais abatidos e 2,1 milhões de matrizes ativas, um aumento de 2,9% quando comparado ao ano anterior, e um aumento ainda mais expressivo, de 52,8%, nos últimos 10 anos. Isso mantém o Brasil, desde 2015, na quarta posição entre os maiores produtores e exportadores da proteína, atrás apenas de China, União Europeia e Estados Unidos.

Fotos: Shutterstock
A Ásia segue como principal destino da carne suína brasileira, com destaque para Filipinas, China, Hong Kong, Japão e Singapura, que juntos representam 63,8% das exportações, o equivalente a quase 775 mil toneladas. Neste cenário de alta competitividade, o investimento em bem-estar animal deixou de ser apenas uma demanda ética e passou a ser um fator decisivo para o posicionamento internacional do Brasil, sobretudo diante de regulações cada vez mais rígidas de países importadores.
Na União Europeia, o uso de celas de gestação – estruturas que limitam severamente a mobilidade de porcas prenhas – já é proibido desde 2013, com exceções apenas para os primeiros 28 dias após a inseminação. A prática também já foi banida em países como Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e Nova Zelândia (com implementação final prevista para 2025), além de 11 estados dos EUA.
É nesse contexto que a 6ª edição do Observatório Suíno, relatório produzido pela Alianima, se consolida como uma das principais ferramentas de monitoramento do setor. Com metodologia técnica e colaborativa, o relatório aplica questionários distintos para produtores de carne suína (fornecedores) e compradores (clientes), como redes de restaurantes e supermercados.
De acordo com a zootecnista e gerente de Relações Corporativas e Bem-estar Animal da Alianima, Maria Fernanda Martin, a proposta do levantamento é identificar gargalos, reconhecer boas práticas e estimular o avanço contínuo do setor em direção a sistemas mais sustentáveis. “Neste ano, observamos um avanço na gestação coletiva por parte da maioria dos fornecedores, assim como nos compromissos públicos com a adoção do sistema cobre e solta para novas instalações”, ressalta.
Levantamento
Pelo segundo ano consecutivo, 100% dos fornecedores convidados responderam ao levantamento, evidenciando transparência e compromisso com a evolução do setor. Dentre as participantes de todas as edições,
nomes como Alegra, Alibem, JBS, MBRF e Pamplona se destacaram como empresas que demonstraram constância no reporte, com a apresentação de dados sólidos sobre a transição para sistemas mais éticos de alojamento para as matrizes suínas.
No grupo de fornecedores, a JBS (Seara), que possui prazo até o final de 2025, aumentou sua transição de um ano para o outro, chegando a 98%, o que indica que completará sua transição a tempo. Em 2º lugar em porcentagem de avanço está a Alegra, sendo que na edição anterior havia apresentado um leve recuo. Já a Pamplona apresenta transição avançada, podendo atingir 100% dentro do seu prazo de 2026.
De acordo com o relatório, todos os fornecedores afirmaram que conseguem fornecer informações específicas aos clientes sobre a parcela de carne suína proveniente de granjas livres de celas de gestação, o que reforça a viabilidade técnica e a rastreabilidade da cadeia.
Considerando o número de matrizes ativas alojadas no Brasil, segundo o último relatório anual da ABPA, o total informado pelos fornecedores comprometidos representa 62,2% do plantel nacional.
Confira a proporção de porcas alojadas em baias coletivas entre o total de cada empresa:

Reprodução: 6ª edição do Observatório Suíno, divulgado pela ONG Alianima.
Ao serem questionadas sobre as dificuldades para prosseguir com a transação para alojamento em grupo, 89% dos fornecedores disseram que o financiamento continua sendo a principal dificuldade encontrada, seguida da precificação do produto final (78%) e planejamento das instalações (67%). Pelo terceiro ano consecutivo, a Pamplona não encontrou dificuldades na transição para alojamento coletivo. Além disso, o apoio técnico deixou de ser apontado como barreira pelo grupo. Maria ressalta que isso pode indicar um processo de amadurecimento técnico do setor e busca ativa por qualificação por parte dos produtores.
Sistema “cobre e solta” avança, mas ainda é exceção
A prática conhecida como “cobre e solta”, que permite que as fêmeas se movimentem livremente em baias logo após a cobertura, promovendo maior conforto e redução de estresse quando comparada aos outros tipos de sistemas de gestação coletiva, também começa a ganhar espaço entre os fornecedores. Embora represente um desafio maior, por exigir mais espaço, adaptação das instalações e manejo mais complexo, os benefícios para a saúde física e mental dos animais já são percebidos por parte das empresas.
De acordo com o relatório, apenas Pamplona e JBS seguem com mais de 50% do plantel alojado nesse sistema. Do ano passado para este, a Alegra, Frimesa e Pamplona foram as únicas empresas que aumentaram a porcentagem de matrizes no sistema “cobre e solta”. Contudo, o relatório aponta que 67% das empresas já assumiram compromissos públicos para que todas as novas instalações sejam baseadas nesse modelo.
Ao serem questionadas sobre as desvantagens do sistema, as respostas das empresas foram semelhantes às do ano passado, com perdas reprodutivas, brigas, dificuldade em manter o escore corporal adequado, maior custo de implementação e necessidade de maior espaço. Já com relação às vantagens, as questões de bem-estar animal, saúde física e mental, foram as mais citadas, além de uma melhor performance das matrizes.
Alojamento na maternidade e manejo
Assim como as celas de gestação, as celas de maternidade representam um sério problema de bem-estar animal, pois restringem os movimentos das porcas e desconsideram um comportamento essencial: a
necessidade natural de preparar um ninho em local calmo e recluso para parir com conforto e segurança. Ciente desse cenário, parte do setor começa a se movimentar: 67% dos fornecedores afirmam ter planos para dar mais espaço na maternidade para as matrizes, aumento de 29% quando comparado à edição anterior.
Com relação ao manejo de leitões, pelo segundo ano consecutivo, 100% das empresas produtoras seguem sem realizar a castração cirúrgica, e 78% já baniu o desgaste dos dentes dos leitões. Contudo, práticas como o corte de orelhas e o corte de cauda dos leitões ainda enfrentam barreiras para serem superadas.
As empresas alegam dificuldades em encontrar alternativas viáveis, seja pelo alto custo e risco de perda de identificação com o uso de brincos (no caso da mossa), seja pela persistência dos casos de caudofagia, que é quando os animais mordem a cauda uns dos outros. “É importante notar que há uma diminuição na intenção das empresas em banir o corte de cauda ao longo dos anos, como mostra a edição deste ano, em que apenas uma empresa, a MBRF, assinalou a resposta positiva. O corte de cauda segue sendo o manejo mais complexo para o banimento por conta da causa multifatorial do problema de mordedura entre os leitões”, explica a porta-voz da Alianima.
De acordo com o relatório, todos os produtores que não pretendem banir o corte de cauda relataram experiência prévia negativa. Segundo Maria Fernanda, um ponto positivo é que há interesse do grupo pelo tema, sendo o primeiro ponto na busca por alternativas viáveis.

Suínos
Preços do suíno vivo sobem e aumentam rentabilidade em 2025
Oferta controlada e baixa do farelo de soja ampliam lucro dos produtores e impulsionam exportações brasileiras.

Os preços do suíno vivo no mercado doméstico permaneceram firmes ao longo de 2025, sustentados pelo aquecimento das demandas interna e externa e pela oferta controlada.
Ao mesmo tempo, as cotações do farelo de soja, um dos principais insumos utilizados na atividade, operaram em baixos patamares. Como resultado, o poder de compra do suinocultor paulista frente ao derivado foi o maior da série histórica do Cepea, iniciada em 2004.
O suíno vivo posto na indústria da praça SP-5 foi comercializado à média de R$ 8,56/kg no ano, 6,5% acima da de 2024 e a mais alta desde 2020, em termos reais (IGP-DI). O pico de preços do animal na região foi observado em setembro, de R$ 9,25/kg.
Como nos últimos anos, 2025 foi caracterizado pela crescente demanda externa pela carne suína brasileira. De janeiro a novembro, foram 1,35 milhão de toneladas embarcadas, 10,3% a mais que no mesmo período do ano anterior e já superando todo volume enviado ao exterior em 2024, de 1,33 milhão de toneladas, segundo dados da Secex.
Recentemente, o Brasil atingiu a terceira posição de maiores exportadores de carne suína, de acordo com o USDA, devido a uma ação conjunta que visa abrir e consolidar novos mercados, assim como garantir produção e seu devido escoamento para o exterior. Entre os destinos, as Filipinas seguiram como o principal, com mais de 350 mil toneladas destinadas ao país asiático em 2025.
Suínos
Suinocultor bate recorde histórico de produtividade e valor na Copacol
Vanilto Ferreira alcançou 706 pontos de IEP e R$ 62,20 por animal, resultado de 15 anos de dedicação, manejo eficiente e trabalho em equipe.

Com dedicação, planejamento e foco em excelência, o suinocultor Vanilto Ferreira, da comunidade Nossa Senhora da Penha, Corbélia, conquistou o melhor resultado entre todos os integrados à atividade na Copacol, tornando-se referência no setor. No último lote de suínos entregue à Central Frimesa, ele obteve Índice de Eficiência Produtiva (IEP) de 706 pontos, o maior já alcançado por um produtor na história da suinocultura da Cooperativa. Outro recorde é o valor pago por animal, R$ 62,20. O desempenho alcançado é reflexo de um trabalho consistente, baseado em boas práticas de manejo, atenção rigorosa à sanidade e uso eficiente dos recursos produtivos.
Com 15 anos de atuação na atividade, o suinocultor se emociona ao falar do recorde. “Esse é um resultado que eu buscava há muito, e agora conseguimos chegar, isso é emocionante, é fruto de muito trabalho, da nossa dedicação aqui na granja e também da eficiente técnica, Ágatha, que nos direciona nos manejos, e dos colaboradores Orli e Sara que se dedicam no dia a dia com os suínos. Também conto com o apoio da minha esposa, Tânia, que me auxilia na administração das granjas. É um conjunto de ações que começa lá nas matrizes, genética, enfim, de todos que participam direta e indiretamente da atividade na Copacol e na Frimesa”, conta emocionado o produtor que acredita que sempre é possível produzir mais.
Eficiência técnica
Ao longo do ciclo do lote, o produtor demonstrou alto nível de controle nos indicadores zootécnicos, com ganhos expressivos em produtividade, qualidade e eficiência. O cuidado diário com os animais e a busca constante por inovação foram determinantes para alcançar resultados superiores. “Com esse resultado a gente colhe o fruto de um trabalho que começa nas Unidades de Produção de Leitões (UPLs), passa pelo produtor, pela assistência técnica, por nossas fábricas de rações, pela indústria e chega até o consumidor. Mas para que isso aconteça temos que estar bem alinhados, e foi o que aconteceu com esse lote do Vanilto”, destaca a médica veterinária Ágatha Prestes.
Exemplo inspirador
Esse destaque evidencia que a combinação de conhecimento técnico, comprometimento e gestão responsável gera impactos positivos tanto no bem-estar animal, quanto na rentabilidade. O melhor resultado geral não representa apenas uma conquista individual, mas também um exemplo inspirador para todo o setor da suinocultura. “Esse recorde é resultado de um trabalho bem alinhado entre todas as pessoas e áreas envolvidas na atividade. Essa evolução é acompanhada em muitas propriedades integradas. Vermos esse recorde tanto de valor pago quanto de IEP gera um sentimento positivo, de dever cumprido, onde o cooperado conta com a segurança da Cooperativa e a recompensa por todo o empenho”, destaca o gerente da Integração Suínos e Leite, Leonardo Dornelles.
Valorização
Além do histórico resultado no último lote de suínos, que coloca o cooperado Vanilto em posição de destaque na atividade, o ano de 2025 fecha na suinocultura da Cooperativa com expressivos resultados. Entre sobras e complementações, os cooperados receberam o valor de R$ 59 por suíno, um resultado que reforça o bom desempenho da atividade durante o ano. Feliz e motivado com o dinheiro das sobras, o suinocultor reforça a importância de trabalhar com a Cooperativa. “A Copacol é diferenciada, ela sempre tem uma reserva para nós, trabalha com os pés no chão, e isso nos dá confiança. Sempre temos um fim de ano com o dinheiro das sobras. Vou guardar um pouco desse dinheiro, fazer uma reserva e outra parte vou investir aqui na granja”, comemora o recordista.
Suínos
Vacinação combinada avança no controle dos principais desafios respiratórios da suinocultura
Estratégia que une proteção contra Mycoplasma hyopneumoniae e PCV2 em dose única reduz lesões pulmonares, melhora o desempenho dos lotes e aumenta a previsibilidade produtiva nas granjas.

A suinocultura convive há décadas com dois dos agentes mais desafiadores à saúde respiratória: Mycoplasma hyopneumoniae (M. hyo), causador da pneumonia enzoótica, e o circovírus suíno tipo 2 (PCV2), responsável por importantes perdas produtivas. A ação desses patógenos potencializa quadros respiratórios e compromete a eficiência zootécnica, tornando o controle integrado essencial.
O M. hyo é o principal agente bacteriano do Complexo de Doenças Respiratórias dos Suínos (CDRS) no Brasil. Sua infecção destrói o epitélio ciliado das vias aéreas, reduz a depuração pulmonar e favorece inflamações e infecções secundárias. “Quando o sistema respiratório é afetado, o desempenho cai rapidamente. Sem controle adequado, há piora na conversão alimentar, no ganho de peso e na uniformidade dos lotes”, explica o médico-veterinário e gerente de Marketing e Produtos da Unidade de Suínos da Ceva Saúde Animal, Felipe Betiolo.

Médico-veterinário e gerente de Marketing e Produtos da Unidade de Suínos da Ceva Saúde Animal, Felipe Betiolo: “Controlar dois agentes com uma única aplicação representa um salto em eficiência. É menos estresse para o animal, mais praticidade para o produtor e uma proteção mais completa” – Foto: Divulgação
Já o PCV2 é amplamente disseminado, com o genótipo PCV2d atualmente predominante no campo e mais resistente ao sistema imune. “O vírus evolui, e as vacinas precisam acompanhar essa evolução. Só assim garantimos proteção contínua e eficaz”, ressalta Betiolo.
Estudos recentes confirmam que a coinfecção entre M. hyo e PCV2 intensifica lesões pulmonares e aumenta a viremia. Nesse contexto, a vacinação combinada surge como uma solução estratégica, capaz de induzir imunidade simultânea contra ambos os agentes em dose única.
Trabalhos de campo, como os de Trampe etal, demonstraram que vacinas contendo antígeno PCV2d e M. hyo promovem soroconversão precoce, reduzem quase totalmente a viremia e diminuem significativamente a incidência de tosse e as lesões pulmonares. Já Krejci etal comprovou que a imunidade se estabelece entre duas e três semanas e se mantém eficaz por até 23 semanas, com proteção cruzada frente aos genótipos a, b e d.
Em granjas comerciais, os resultados são consistentes: redução de até 40% nas lesões pulmonares, menor carga viral e melhora no ganho médio diário. Esses avanços se traduzem em maior previsibilidade produtiva, menor uso de antimicrobianos e ganhos econômicos diretos. “Controlar dois agentes com uma única aplicação representa um salto em eficiência. É menos estresse para o animal, mais praticidade para o produtor e uma proteção mais completa”, salienta Betiolo.
A vacinação combinada consolida uma nova lógica sanitária na suinocultura: unir ciência, tecnologia e manejo racional para promover sistemas produtivos mais saudáveis, sustentáveis e rentáveis.
A versão digital já está disponível no site de O Presente Rural, com acesso gratuito para leitura completa, clique aqui.



