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Indústria aposta em qualidade do trigo gaúcho para a safra 2025
Giro promovido pela Abitrigo reuniu moinhos de todo o país no Rio Grande do Sul para avaliar a qualidade, produtividade e perspectivas da safra 2025, reforçando o diálogo e a integração da cadeia triticultora.

Rio Grande do Sul, realizado na última semana, reuniu representantes de moinhos de diversas regiões do país para acompanhar de perto as condições da safra de trigo de 2025 no estado, maior produtor nacional. Promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o encontro aproximou indústria e campo, promovendo diálogo sobre qualidade, produtividade e sustentabilidade da produção gaúcha.
O superintendente da Abitrigo, Eduardo Assêncio, ressaltou a representatividade do grupo e a relevância estratégica do estado. “Reunimos um grupo bastante respeitável em termos de moinhos consumidores de trigo, responsável por mais de 50% da moagem nacional. O trigo gaúcho é altamente relevante no mercado, e precisamos entender em detalhes o que teremos disponível na safra 2025 do estado. As condições de colheita estão adequadas e há uma forte consciência entre os agricultores quanto à qualidade, o que nos permite projetar bons resultados”, afirmou.

Grupo visitou a unidade de Sementes Roos em Não-Me-Toque (RS)
O gestor da área de cultivos anuais da Emater/RS, Alencar Paulo Rugeri, destacou o impacto positivo das condições ambientais e da integração setorial. “Apesar das dificuldades enfrentadas pelos produtores, como o acesso ao crédito, o grande destaque deste ciclo tem sido o fator ambiental, que sustentou o desenvolvimento das lavouras. Estamos em momento definidor da safra, mas as condições são boas e devemos ter números mais precisos em breve. Uma boa safra fortalece toda a cadeia, garantindo bom produto para os moinhos e beneficiando o consumidor”, observou.
Para Rugeri, receber moinhos de diversas regiões reforça a relevância da aproximação. “Foi muito importante poder dialogar com quem atua no outro extremo da cadeia produtiva. Quanto mais conhecermos os objetivos de cada elo, mais consistente será o sucesso do trigo brasileiro”, afirmou.
Na avaliação do diretor do Moinho Taquariense Motasa, Andreas Elter, é muito importante para todos, de norte a sul do país, acompanhar essa vitrine e ter uma noção do que nos espera, apesar de muitas definições dependerem dos próximos 20 dias. “O consenso é de que a lavoura está muito bonita e sadia este ano, condição considerada excelente. Temos uma previsão de boa safra e de qualidade. O mais importante agora é torcer por pouca chuva, para garantir uma boa colheita. A iniciativa da Abitrigo é excelente e ampliar o mapeamento de outras regiões é fundamental”, destacou.
O diretor comercial do Moinho Régio, Bruno Badotti, ressaltou a importância do contato direto com o campo e o intercâmbio de informações. “Minha primeira experiência no giro foi muito significativa porque, embora a gente converse com parceiros por telefone, estar aqui e ver realmente as condições da safra nos traz muito mais informações para decidir como atuar nos próximos meses. Para nós, moinhos, o ano comercial começa agora, em setembro, com a entrada da safra no Paraná e em outras regiões. Por isso, essa coleta de dados e a troca de experiência com quem participa são fundamentais.”, declarou.
“Cresci ouvindo falar dos giros da Abitrigo e agora tenho o prazer de participar representando minha família. Foi muito enriquecedor esse contato com moinhos e produtores, entender o que eles esperam da próxima safra. Estamos em um período de expectativa e, embora haja alguma angústia até a colheita, foi positivo mostrar a cultura e tradições do interior do Rio Grande do Sul e ver a estrutura das sementeiras, o cuidado com rastreabilidade e segregação, que são desafios para os moinhos. Saber que está sendo feito esse trabalho nos dá confiança de que teremos bons frutos no futuro”, destacou o diretor industrial do Orquídea Alimentos, Felipe Tondo Pereira.

Grupo em visita ao campo experimental da Biotrigo em Passo Fundo (RS)
Ao final do giro, o superintendente da Abitrigo, Eduardo Assêncio, fez um balanço positivo da iniciativa e da safra. “Superamos expectativas, principalmente de quem nunca havia participado, em um giro tão organizado e rico em informações para contribuir com os moinhos. Sobre o trigo gaúcho, esperamos uma safra boa, dentro dos altos padrões tecnológicos que a região conquistou. O clima tem ajudado e a tecnologia, como sementes e manejo, tem avançado visivelmente. No entanto, sentimos um peso pela condição econômica dos agricultores que, descapitalizados devido a fatores políticos e econômicos, enfrentam dificuldades que debilitam o setor agropecuário e triguero. Saímos daqui conscientes desse desafio, mas otimistas quanto ao futuro”, afirmou.
Durante o roteiro, o grupo visitou campos experimentais, propriedades rurais e empresas do setor nas cidades de Passo Fundo, Não-Me-Toque, Cruz Alta e Tapera. A programação incluiu visita à sede da Biotrigo, paradas em empresas como Be8, Cotrijal e Cerealista Roos e Terraboa Agrícola.
O Giro Abitrigo – Rio Grande do Sul integra a série de encontros regionais promovidos pela Abitrigo para fortalecer o diálogo técnico entre indústria e campo, ampliando os debates sobre a qualidade e o futuro da triticultura nacional.

Colunistas
Edição gênica já redesenha a agricultura mundial; O Brasil está pronto para acompanhar?
Com CRISPR acelerando inovações no campo, país ainda patina na criação de tecnologias próprias e depende de patentes externas.

A edição gênica está redesenhando as fronteiras da agricultura mundial. Em um cenário em que a segurança alimentar, a sustentabilidade e a produtividade são desafios globais, ferramentas como o CRISPR oferecem uma vantagem para aprimorar plantas, tornando-as mais resistentes a pragas, ao clima e até mais nutritivas. E, embora muitas vezes seja apresentada como um tema restrito a laboratórios ou grandes empresas do agronegócio, essas tecnologias têm impacto direto na vida de todos nós. Ao permitir o desenvolvimento de alimentos mais nutritivos e produzidos com menor uso de insumos químicos, a edição gênica pode baratear custos de produção e fortalecer a segurança alimentar.
Editar geneticamente uma planta pode consistir na remoção, adição ou substituição de nucleotídeos, sem necessariamente introduzir um material genético exógeno na planta. Assim, enquanto a transgenia pressupõe a incorporação de genes externos para expressar novas características, a edição gênica pode tanto adicionar quanto refinar funções já existentes no genoma. Desse modo, a edição gênica é também considerada uma forma de mutagênese, porém direcionada e previsível, ao contrário da mutagênese convencional, que é caracterizada por alterações aleatórias ao longo do DNA.

Foto: Freepik
Entre as principais tecnologias destacam-se ZFN, TALEN, meganucleases e CRISPR. Esta última, CRISPR, tem ampla adoção em diversos setores, especialmente na agricultura, devido à sua precisão, eficiência e menor custo operacional, tornando as modificações genéticas mais acessíveis e eficazes nas culturas agrícolas.
Entretanto, a proteção de inovações nessa área enfrenta desafios de patenteabilidade. No cenário de proteção patentária no Brasil, as plantas não são consideradas invenções, e mesmo quando geneticamente editadas ou transgênicas, não são passíveis de proteção patentária, de acordo com as proibições dos Artigos 10 e 18 da Lei de Propriedade Industrial nº 9.279 de 1996 (LPI). Ademais, é importante ressaltar que processos biológicos naturais, como aqueles resultantes de mutagênese aleatória ou reprodução por cruzamento, também não são considerados invenções, por ocorrerem de forma espontânea na natureza. Dessa forma, para que um processo ou método seja considerado invenção, é necessário que seja demonstrada uma intervenção técnica humana essencial ao resultado obtido.
Consequentemente, no Brasil, as plantas e variedades vegetais são protegidas pelo Sistema de Proteção de Cultivares, enquanto moléculas de DNA, eventos transgênicos, metabólitos secundários e métodos para obtenção de plantas modificadas (incluindo aqueles baseados em edição gênica) podem ser objeto de proteção patentária, desde que atendam aos requisitos básicos de patenteabilidade, a saber: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
Segundo um estudo realizado pelo INPI e Embrapa (Radar Tecnológico sobre o mapeamento de patentes associadas a tecnologias CRISPR e suas aplicações na agricultura e pecuária), a China e os Estados Unidos disputam a liderança mundial de depósitos pedidos de patentes, respondendo juntos por cerca de 84% das famílias de pedidos de patentes. O estudo também evidenciou que as principais modificações têm como finalidade o desenvolvimento de plantas mais resistentes a estresses bióticos e abióticos, resistência a herbicidas e melhoria nutricional e destacou que entre as culturas mais modificadas encontram-se: arroz (principalmente por instituições chinesas), milho, soja, trigo, algodão, cana-de-açúcar, café e eucalipto.
E o Brasil? O dito estudo indicou ainda que o Brasil é o 9º país que mais recebe depósitos de pedidos de patentes relacionadas a CRISPR na agricultura, mas aparece apenas como 28º desenvolvedor, revelando que o país atua majoritariamente como usuário e aplicador tecnológico estratégico, mas ainda não atua como gerador primário de inovação.
Atualmente, não existe qualquer Normativa do INPI que estabeleça critérios específicos para a análise de pedidos de patente envolvendo edição gênica no Brasil. O Radar Tecnológico citado é, até o momento, o único documento emitido pelo INPI sobre o tema, possuindo caráter meramente informativo. Portanto, ficam evidentes a importância e o crescimento das invenções relacionadas às tecnologias de edição gênica no setor agro. Contudo, é crucial esclarecer como essas invenções são analisadas para fomentar o crescimento e a competitividade do agronegócio brasileiro no cenário internacional.
Colunistas
O concorrente aparece mais do que você?
Você leu o título deste artigo e respondeu “sim”? Então, continue até o final.

É muito comum os profissionais de marketing de agronegócio ouvirem a frase “Nosso concorrente está em evidência, precisamos fazer algo”, e também se depararem com essa pergunta: “Por que nossas ações não têm o mesmo efeito do que as ações dos concorrentes?”.
Embora essas situações pareçam complexas, elas são mais simples do que se imagina, pois toda a questão está centrada no que o concorrente faz. Sendo assim, um rápido diagnóstico de marketing e comunicação, analisando as ações executadas, pode trazer muitos elementos interessantes. Um dos principais é que, provavelmente, o seu concorrente tenha contratado uma assessoria de imprensa, o que contribui para que ele apareça de forma mais sólida nos veículos de comunicação.

Artigo escrito por Rodrigo Capella, palestrante e diretor geral da Ação Estratégica – Comunicação e Marketing no Agronegócio.
Essa visibilidade, bem planejada e executada, cria uma evidência significativa, a ponto de despertar a atenção dos concorrentes, de impactar possíveis clientes e de contribuir para a geração de novos negócios.
Para aproveitar as oportunidades de forma eficaz, uma assessoria de imprensa precisa orientar sempre o seu cliente. Na Ação Estratégica – Comunicação e Marketing no Agronegócio, elaboramos um manual para ajudar os clientes. Compartilho a seguir algumas dicas:
Dica 01: Conheça as características da mídia
Leia matérias, analise a abordagem e esteja preparado.
Dica 02: Estude previamente o assunto
Atualize-se, buscando pesquisas, informações diversas e elementos novos.
Dica 03: Anote números e informações que você precisa destacar
Não tenha medo de fazer anotações. Elas vão te ajudar no decorrer da entrevista.
Dica 04: Certifique-se que você entendeu a pergunta do jornalista
Caso não tenha entendido, peça para o jornalista repetir.
Dica 05: Evite utilizar expressões técnicas
Se usar uma expressão técnica, explique.
Essas dicas vão ajudar você a ampliar a evidência. Mas, lembre-se: a ajuda de uma assessoria de imprensa faz toda a diferença.
Notícias
O agro virou digital e os hackers descobriram um novo campo fértil
Com ataques milionários e infraestrutura vulnerável, o setor corre para fortalecer a segurança antes que falhas paralisem cadeias inteiras.

O setor agropecuário já deixou de ser “analógico” faz tempo, e a sua digitalização trouxe ganhos enormes em eficiência e produtividade com tratores conectados, sensores em lavouras, sistemas de irrigação automatizados, armazenamento inteligente e logística integrada. Porém, esse progresso também aumenta a exposição das fazendas, agroindústrias e cooperativas a ataques cibernéticos, que estão cada vez mais sofisticados.
Segundo dados da Kaspersky, entre junho de 2023 e julho de 2024 foram bloqueados mais de 725 milhões de ataques de malware no Brasil, o equivalente a 1,9 milhão por dia e cerca de 2 mil por minuto. O setor de agricultura/florestal é o terceiro mais visado (16,93%), atrás somente de indústria (20,11%) e governo (18,06%).
Outros dados do relatório “Food & Ag Sector Cyber Threat” do Food & Ag-ISAC mostram um aumento expressivo em incidentes envolvendo ransomware, comprometimento de e-mails corporativos e invasões que afetam operações industriais do agro. Como resultado desses ataques, há perdas diretas nas safras, atrasos na cadeia de suprimentos e danos reputacionais de alto impacto.
É importante entender que boa parte desse risco decorre da infraestrutura operacional comumente encontrada no segmento. Os equipamentos, em sua maioria, operam com firmware desatualizado ou com protocolos não seguros, que ficam diretamente ligados a redes que às vezes também carregam tráfego de TI menos seguro. Esse cenário torna esse setor particularmente vulnerável, visto que em áreas como financeiro ou saúde há em geral mais maturidade no isolamento dos dados, políticas regulatórias mais fortes e padrões técnicos consolidados.
Isso ocorre principalmente porque no agronegócio pequenas propriedades ou cooperativas em regiões remotas sofrem com escassez de recursos, menor monitoramento regulatório e ausência de políticas formais de segurança. Além disso, a estrutura fragmentada, que envolve fornecedores de implementos, integradores de softwares agrícolas, transportadoras refrigeradas, armazéns, cooperativas e produtores, aumenta sua vulnerabilidade. Há ainda contratos que não exigem cláusulas mínimas de segurança, falta de visibilidade sobre todos os ativos (especialmente dispositivos IoT e sensores) e ausência de inventário de firmware ou versões de software. E, sem saber exatamente o que há em campo, é praticamente impossível remediar vulnerabilidades e reagir rapidamente quando algo dá errado.
Portanto, os fundamentos básicos de cibersegurança devem ser tratados como algo inegociável. Para isso, o setor precisa investir em práticas que diminuam os riscos mais comuns, como atualizações constantes de software e firmware, patches regulares, autenticação multifator para todas as contas administrativas, uso de senhas fortes e gerenciamento de acesso. Mas não basta prevenir, visto que a preparação e capacidade de resposta determinam quão danoso será um incidente.

Foto: Ilutrativa/Shutterstock
Ou seja, é importante ter um plano de resposta a incidentes específico para cenários agrícolas, como falha de refrigeração de silos, perda de leitura de sensores de umidade ou interrupção no transporte refrigerado. Outras estratégias que ajudam a detectar pontos cegos e estabelecer protocolos de contingência são realizar treinamentos práticos e simular ataques envolvendo todos os elos da cadeia (produtores, transportadores, cooperativas). Ainda que muitas empresas que sofrem ataques prefiram se manter em silêncio, também é fundamental compartilhar informação sobre ameaças, pois essa troca das táticas, técnicas e procedimentos entre membros do ecossistema acelera a detecção de ataques que estão sendo planejados e reduz danos.
Vale lembrar que o setor não cresce e muito menos se fortalece isoladamente, e a vulnerabilidade de um pequeno fornecedor pode comprometer toda a cadeia produtiva. É preciso que as instituições públicas, associações de produtores e cooperativas, seguradoras e empresas de tecnologia atuem juntas para incentivar normas, oferecer capacitação e promover modelos de cooperação que elevem a segurança para todos.



