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Incluir pequeno produtor é a base de sistema alimentar resiliente
Os sistemas alimentares são estruturados para garantir que consumidores de todo o mundo tenham acesso à alimentação saudável.
A construção de sistemas alimentares resilientes com base em inovação e tecnologia foi tema de debate nesta quarta-feira (15) na 6ª Conferência Global de Ciência Tecnologia e Inovação (G-Stic), realizado no Rio de Janeiro.
Os sistemas alimentares são estruturados para garantir que consumidores de todo o mundo tenham acesso à alimentação saudável. Eles são considerados resilientes quando conseguem continuar cumprindo a função mesmo sob as constantes pressões de eventos ligados às mudanças climáticas, crises sanitárias e de instabilidades sociais e econômicas. Nesse sentido, devem ser capazes de enfrentar três desafios: atender a população crescente, gerar renda adequada e garantir sustentabilidade ambiental.
Ao falar sobre o tema, o representante do Programa Alimentar Mundial, o brasileiro Rafael Leão, destacou que um dos desafios é incluir pequenos produtores familiares, geralmente o elo mais fraco da cadeia produtiva, nesses sistemas. Ele lista um conjunto de medidas inclusivas para inclusão dos agricultores e cooperativas: garantia de acesso a água e mudas de plantas, fornecimento de infraestrutura para armazenagem e para acesso a mercado, distribuição de sementes mais resistentes, treinamento e capacitação. “Quando se pensa em inovação, nossa tendência é pensar exclusivamente em sistemas digitais e ferramentas tecnológicas. Mas trabalhar com uma visão sistêmica, que englobe todos os que estão envolvidos no sistema, já é uma inovação fundamental para a sustentabilidade”, disse.
Em 2022, o programa, da Organização das Nações Unidas, destinou cerca de US$ 2,5 bilhões para compra de alimentos, os quais foram distribuídos para comunidades vulneráveis em todo o mundo, uma das frentes de atuação da organização. De acordo com dados da organização, cerca de 350 mil pessoas foram beneficiadas, no ano passado, na América Latina e no Caribe.
Leão relatou exemplo de como os pequenos produtores rurais podem contribuir para a segurança alimentar mundial. Ele contou como uma grande rede de supermercados da América Central passou a comprar feijão preto de pequenos agricultores, e não mais da China ao enfrentar uma crise de disponibilidade do produto. “O que nós fizemos foi facilitar o vínculo com as cooperativas. Hoje, o mercado, principalmente da Guatemala e da Costa Rica, está sendo suprido por feijão produzido por pequenos agricultores da Nicarágua. Fazendo uma intervenção para incrementar resiliência a nível de indivíduo e de comunidade, se obtém também um benefício para o sistema sub-regional, que também se torna mais resiliente e menos vulnerável a estresses no mercado internacional”, enfatizou.
Sistemas agroflorestais
Os representantes de nove países, participantes da mesa de debate, manifestaram consenso que é preciso enfrentar a agricultura insustentável, que promove o desmatamento, as mudanças climáticas, ameaça a própria produção agrícola em todo o mundo e coloca em risco a segurança alimentar.
O desafio na produção de alimentos é garantir, sem prejuízo ao meio ambiente, o atendimento das necessidades de uma população mundial que deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas até 2050. Os avanços tecnológicos auxiliam aprimorando, por exemplo, a geração de dados e a avaliação de riscos.
Parte dos convidados expuseram experiências no âmbito de empresas e instituições privadas. O holandês Max Berkelmans compartilhou informações de um projeto do Rabobank, multinacional financeira focada no setor agrícola, voltado para cooperativas de pequenos produtores na América, na África e na Ásia. “Para combater as mudanças climáticas, precisamos incluir esse grupo que é responsável por 70% a 80% do alimento consumido pelos seres humanos. Devemos investir e apoiá-los na transição para sistemas agroflorestais, que aumentam a produtividade e torna a produção menos vulnerável aos efeitos do clima”, afirmou.
Os sistemas agroflorestais buscam mesclar em uma mesma área diferentes culturas agrícolas e espécies florestais capazes de estabelecer uma relação harmônica. São modelos de produção que objetivam preservar o ecossistema, produzir com menor gasto de insumos e gerar um produto de alta qualidade. “Que árvores plantar e como ter recursos financeiros para plantá-las e mantê-las? Os recursos financeiros tradicionais para pequenos produtores são microcréditos que têm que ser quitados em um prazo curto e com altas taxas de juros. Esses recursos não favorecem a mudança para sistemas agroflorestais que dão resultado em longo prazo”. Berkelmans considera que o mercado de carbono é uma solução para canalizar recursos de fundos privados até países emergentes.
Ele, no entanto, avalia que há dificuldades e despesas que dificultam o acesso ao mercado de carbono. “Temos que retirar barreiras para que pequenos produtores desses locais possam se beneficiar. A certificação, por exemplo, é hoje um processo dispendioso e complexo. Toma muito tempo. Então, buscamos parceiros para atuar na solicitação da certificação dos produtores. Além disso, com o mapeamento remoto, não precisamos ir à campo para contar as árvores. Utilizamos dados de satélite para estimar o crescimento anual de cobertura vegetal nas propriedades”.
Experiência brasileira
A mineira radicada na capital fluminense Rafaela Gontijo Lenz, fundadora do Nuu Alimentos, fez um relato de algumas medidas adotadas pela marca para apoiar produtores locais e zerar emissões de carbono. A fábrica de alimentos conta com painéis solares, coletores de água da chuva e estrutura para reciclagem de embalagens. Entre seus principais produtos estão o pão de queijo e o dadinho de tapioca.
“A mandioca é a base da culinária dos povos originários no Brasil. Pesquisamos o uso da tecnologia e da inovação para substituir a farinha de trigo por farinha de mandioca. Principalmente com os efeitos econômicos da Guerra da Ucrânia, vimos como a dependência do trigo nos afeta”, contou. A Rússia e Ucrânia estão entre os principais fornecedores de trigo para o Brasil.
A aposta em uma receita usando um produto nacional reduziu a vulnerabilidade perante flutuações do mercado estrangeiro e ampliou a cadeia de fornecedores de agricultura familiar.
Rafaela Lenz defendeu que a indústria de alimentos se aproxime mais de instituições públicas que lideram projetos de inovação como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e as Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de cada estado. Também apontou a necessidade de um trabalho coletivo junto aos demais envolvidos. De um lado, explicou ser preciso estimular pequenos agricultores a passar da monocultura para sistemas agroflorestais ou de cultivo restaurativo e, de outro, educar os consumidores para dar preferência a produtos de fornecedores locais.
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Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
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Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.