Notícias Ocorrência maior no Mato Grosso
Incidência de anomalia nas vagens tem aumento de abrangência na safra de soja 2021/2022
Estimativa de especialistas, com relação às duas últimas safras, foi levantada a partir de relatos de produtores rurais sobre maiores perdas de produtividade e impactos de até 40% na quantidade de grãos avariados.

A anomalia das vagens ou apodrecimento de grãos e vagens, problema que vem ocorrendo há três safras na cultura da soja, especialmente no médio norte de Mato Grosso, nos municípios do eixo da BR-163, continua sendo motivo de observação e pesquisa por parte de especialistas.
Recentemente, um grupo multidisciplinar de pesquisa liderado pela Embrapa Soja, do qual a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) faz parte junto com outras instituições, especialistas e produtores rurais, esteve reunido na região. O objetivo do encontro foi o de acompanhar áreas com o problema e propor uma padronização das avaliações a serem conduzidas pelas frentes envolvidas.
Diante do cenário encontrado em visitas às lavouras, o grupo estima que aproximadamente 2,5 milhões de hectares apresentem incidência de anomalia, em diferentes proporções e graus de intensidade, o que significa aumento da abrangência com relação às duas últimas safras. Os especialistas receberam relatos de produtores rurais indicando maiores perdas de produtividade, aumento da extensão de ocorrência geográfica e impactos de até 40% na quantidade de grãos avariados.

Pesquisador da área de Fitotecnia da Fundação MT, Felipe Araújo
Felipe Araújo, pesquisador da área de Fitotecnia da Fundação MT, e Karla Kudlawiec, pesquisadora da área de Fitopatologia da instituição, participam da frente de pesquisa e destacam que o momento continua sendo de cautela sobre o diagnóstico das causas do problema. “A partir desse grupo definimos algumas diretrizes para trabalhar de forma emergencial, fizemos a unificação de uma metodologia de avaliação para que seja possível comparar dados e, com isso, queremos entregar para o produtor um resultado robusto, com informações de repetibilidade”, explica Felipe.
Junção de pesquisas
Há duas safras, a Fundação MT também conduz no Centro de Aprendizagem e Difusão (CAD Norte), em Sorriso, um experimento com o objetivo de gerar mais informações sobre a anomalia das vagens. Nesta safra, o ensaio avalia diferentes cultivares de soja semeadas em três épocas (10/10, 01/11 e 25/11), submetidos a dois programas de fungicidas -, um com manejo completo e outro sem aplicação -, para fins de pesquisa e caracterização de cultivares.
A pesquisadora Karla, responsável pela condução do ensaio, explica que nas outras safras foi constatado que a aplicação de fungicidas pôde reduzir a ocorrência dos danos às vagens e grãos. Dessa forma, a partir desta safra os experimentos estão voltados para entender se há diferenças de eficácia na redução dos sintomas, entre os distintos grupos químicos de fungicidas que o produtor tem disponível para aplicação. “Com isso, esperamos colher ainda mais dados para serem divulgados assim que estiverem consolidados junto ao grupo de pesquisa”, revela.

Pesquisadora da área de Fitopatologia da Fundação MT, Karla Kudlawiec
A pesquisadora também esclarece que outra etapa do trabalho está sendo conduzida pela Embrapa e busca, num primeiro momento -, a partir de amostras coletadas no campo -, o isolamento dos microrganismos presentes em vagens e grãos com sintoma e, numa etapa posterior, o sequenciamento genético do que foi encontrado. “Isso irá permitir entender se a ocorrência da anomalia está relacionada a uma nova espécie de algum dos gêneros já encontrados, ou se esses microrganismos sofreram alguma mutação para reduzir a sensibilidade aos ativos fungicidas e, se por ventura, teve sua virulência aumentada”, completa.
Resultados até agora
A anomalia das vagens é um problema que está presente na cultura da soja e não há ocorrências em outros cultivos de Mato Grosso, como milho e algodão. Entre os sintomas mais típicos está o escurecimento interno da vagem e de grãos, com maior intensidade no terço médio inferior, e que fica mais visível nos estádios finais de enchimento de grãos, ao redor de R5.5 e R.6, próximo à maturação fisiológica. Ao abrir a vagem é constatado o apodrecimento de um ou mais grãos.
Os pesquisadores da Fundação MT relatam que em todas as avaliações neste período de três safras, não foi encontrado nenhum patógeno incomum associado ao problema, e sim fungos dos gêneros Fusarium, Colletotrichum, Phomopsis, Cercospora e também bactérias, porém, todos já descritos há muito tempo na cultura da soja. “A maioria desses patógenos são considerados oportunistas, ou seja, aproveitam-se de condições favoráveis como uma eventual debilidade da planta, e colonizam o tecido vegetal, causando o sintoma de apodrecimento de vagens e grãos”, define o fitopatologista.
Araújo destaca ainda que para o patógeno avançar no processo de colonização e multiplicação, ele precisa de condição ambiental favorável, como de umidade e molhamento foliar e de tecido, além de suscetibilidade de um hospedeiro. “Este entendimento é que estamos utilizando como padrão, pois sabemos que existe algum estímulo externo para essas situações das lavouras, seja ele edafoclimático (clima e solo), de manejo ou a junção desses, os quais estão tornando as plantas mais suscetíveis ao ataque desses microrganismos aproveitadores”, pontua.
Genética
Com relação às cultivares de soja avaliadas no experimento da Fundação MT, os especialistas verificaram que nenhuma deixou de apresentar o problema, sendo algumas com maior ou menor intensidade. Também se constatou que o apodrecimento é mais intenso nas primeiras semeaduras da janela, enquanto que nas posteriores existe tendência de redução do problema.
“Entendemos que a anomalia não está ligada somente à época de semeadura, mas sim, a uma junção de fatores”, cita Karla. “Ambiente favorável ao desenvolvimento de fungos fitopatogênicos/saprofíticos, maior intensidade em determinadas cultivares e maior ou menor proteção dos fungicidas utilizados”, completa.
Os profissionais ressaltam que todas as pesquisas e junção de dados também poderão ser úteis no processo de melhoramento genético de cultivares de soja das obtentoras. As empresas poderão trabalhar para selecionar materiais que tenham mais adaptação às situações específicas das lavouras no eixo da BR-163, como é o caso da anomalia das vagens.

Notícias
Instabilidade climática atrasa plantio da safra de verão 2025/26
Semeadura avança lentamente no Centro-Oeste e Sudeste devido à má distribuição das chuvas e períodos secos, segundo dados do Itaú BBA Agro.

O avanço do plantio da safra de verão 2025/26 tem sido afetado por condições climáticas instáveis em diversas regiões do país. De acordo com dados do Itaú BBA Agro, os estados do Centro-Oeste e Sudeste registraram os maiores atrasos, reflexo da combinação entre pancadas de chuva isoladas, má distribuição das precipitações e períodos prolongados de estiagem. O cenário manteve os níveis de umidade do solo abaixo do ideal, dificultando o ritmo da semeadura até o início de novembro.
Enquanto isso, outras regiões apresentaram desempenho distinto. As chuvas mais intensas ficaram concentradas entre Norte e Sul do Brasil, com destaque para o centro-oeste do Paraná, oeste de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul, onde os volumes superaram 150 mm somente em outubro. Nessas áreas, o armazenamento hídrico mais elevado favoreceu o avanço do plantio, embora episódios de granizo e temporais tenham provocado prejuízos em algumas lavouras. A colheita do trigo também sofreu atrasos e, em determinados pontos, perdas de qualidade.

Foto: José Fernando Ogura
No Centro-Oeste, a distribuição das chuvas variou significativamente ao longo de outubro. Regiões como o noroeste e o centro de Mato Grosso, além do sul de Mato Grosso do Sul, receberam volumes acima de 120 mm, enquanto outras áreas não ultrapassaram os 90 mm. Somente no início de novembro o padrão começou a mostrar maior regularidade.
No Sudeste, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo registraram precipitações que ajudaram a recompor a umidade do solo. Minas Gerais, por outro lado, enfrentou acumulados abaixo da média — especialmente no Cerrado Mineiro, onde outubro terminou com menos de 40 mm de chuva. Com a retomada das precipitações em novembro, ocorreu uma nova florada do café, embora os efeitos da estiagem prolongada continuem gerando preocupação entre produtores.
O comportamento irregular das chuvas segue como fator determinante para o ritmo da safra e mantém o setor em alerta para os próximos meses.
Notícias
Mercado da soja inicia novembro com preços instáveis e influência do cenário internacional
Oscilações refletem exportações brasileiras em alta, avanço do plantio e incertezas sobre o acordo China–EUA, aponta análise da Epagri/Cepa.

O mercado da soja entrou novembro sob influência de uma combinação de fatores internos e externos que têm gerado oscilações nos preços e incertezas quanto ao comportamento da demanda global. Em Santa Catarina, conforme o Boletim Agropecuário elaborado pela Epagri/Cepa, a média mensal paga ao produtor em outubro registrou leve recuo de 0,6%, fechando o mês em R$ 124,19 a saca.
Já no início de novembro, até o dia 10, há indicação de recuperação: a média estadual subiu para R$ 125,62/sc, movimento influenciado principalmente pelo comportamento das exportações brasileiras e pelas notícias vindas do mercado internacional.

Foto: Claudio Neves
A elevação dos embarques do Brasil em outubro, 6,7 milhões de toneladas, com volume acumulado superior a 100 milhões de toneladas em 2025, ajudou a firmar as cotações internas. Ao mesmo tempo, o anúncio da retomada das importações de soja dos Estados Unidos pela China e os avanços no acordo comercial entre os dois países impulsionaram os contratos futuros em Chicago (CBOT), com reflexos imediatos nos preços no Brasil.
A análise é do engenheiro-agrônomo Haroldo Tavares Elias, da Epagri/Cepa, que classifica o momento como de viés misto, com o mercado reagindo de forma alternada a notícias de estímulo e pressão.
Fatores que influenciam mercado
Segundo o boletim, fatores de baixa predominam no curto prazo, puxados principalmente pela lentidão nas negociações internas no Brasil, pelo avanço do plantio da nova safra e pela sinalização do acordo China–EUA. Esse movimento pressiona o mercado brasileiro, ao mesmo tempo que fortalece o mercado americano e sustenta as cotações em Chicago.
1. Mercado internacional
Dados de USDA, CBOT, Esalq-Cepea, Investing.com e Bloomberg, compilados pela Epagri/Cepa, apontam:

Foto: Claudio Neves
Fatores de alta:
- Importações recordes da China em outubro, 9,48 milhões de toneladas, majoritariamente provenientes da América Latina;
- Recuperação da CBOT por quatro semanas consecutivas.
Fatores de baixa:
- Falta de confirmação pela China da compra de 12 milhões de toneladas dos EUA;
- Retomada das importações chinesas de soja americana, reduzindo o espaço para o produto brasileiro;
- Negociações internas mais lentas no Brasil, o ritmo mais baixo em quatro anos;
- Correção técnica de estocásticos e realização de lucros após sequência de altas em Chicago.
2. Oferta e mercado interno
Fatores de alta:
- Exportações brasileiras mantêm ritmo forte;
- Estruturação da presença chinesa no Brasil, com ampliação de operações, incluindo um novo escritório no Mato Grosso.
Fatores de baixa:
- Pressão sobre os preços internos, com queda de 1,4% em outubro.
3. Safra e clima
Fatores de baixa:
- Plantio avançado, com 47% da safra já implantada, reforçando a expectativa de safra recorde entre 177 e 180 milhões de toneladas no

Foto: Claudio Neves
ciclo 2025/26;
- Produtores nos EUA voltaram a vender após as recentes altas, aumentando a oferta global no curto prazo.
Acordo China-EUA
Embora o mercado tenha reagido às declarações do governo dos Estados Unidos sobre um novo acordo com a China envolvendo a compra de soja, não houve confirmação por parte dos chineses até 12 de novembro, ressalta a Epagri/Cepa. Caso confirmado, o pacto poderia redirecionar parte da demanda da China para a soja americana, reduzindo o volume destinado ao Brasil.
Contudo, a proximidade da entrada da nova safra brasileira — combinada com o calendário já avançado para novembro, torna improvável a formalização do acordo ainda este ano. Por isso, a tendência, segundo a análise, é que a China siga priorizando a soja brasileira nas próximas semanas.
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Santa Catarina mantém 93% das lavouras de milho em boa condição no início da safra
Epagri/Cepa registra avanço consistente do plantio, com alertas para falhas de germinação e manejo fitossanitário.

O avanço do plantio do milho em Santa Catarina, que já alcança 92% da área prevista para a safra de verão 2025/2026, confirma um início de ciclo predominantemente positivo no estado, mas acompanhado de sinais de alerta pontuais. Segundo o Boletim Agropecuário da Epagri/Cepa, 93% das lavouras são classificadas como boas, um indicador robusto para o período, porém a evolução do desenvolvimento apresenta nuances importantes entre as microrregiões produtoras.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
De maneira geral, o estabelecimento das plantas ocorreu dentro do esperado, com solo apresentando boa umidade e clima favorável nas principais áreas de produção. Ainda assim, a distribuição das chuvas definiu comportamentos distintos entre as regiões, influenciando estandes, sanidade e andamento dos tratos culturais.
No Alto Vale do Itajaí, onde 90% das lavouras estão em boas condições, o desenvolvimento vegetativo é satisfatório, com umidade adequada e apenas focos pontuais de percevejos e cigarrinha. Situação semelhante aparece em Campos de Lages, Planalto Norte e Concórdia, todas com 100% das lavouras avaliadas como boas, apresentando germinação regular, plantas sadias e baixa pressão de pragas. Em Concórdia, inclusive, as primeiras áreas já entraram em floração.
Outras regiões apresentam ritmos distintos. Em Joaçaba, por exemplo, parte das áreas atrasou o plantio devido ao excesso de chuva, e os técnicos registraram ocorrências de percevejo, lagarta e tripes. Já no Litoral Norte, apesar de 100% de condição boa, o excesso de precipitação provocou falhas de germinação, especialmente em lavouras entre os estádios V3 e V8.
No Oeste, regiões importantes para o milho catarinense também mostram realidades variadas. Chapecó/Xanxerê registra 90% das

Foto: Gessí Ceccon
lavouras em boas condições, com plantas em V6 e crescimento favorecido por radiação solar. Em São Miguel do Oeste, o plantio já está finalizado, com início de floração e controle de cigarrinha e ervas daninhas em andamento; 94% das lavouras são classificadas como boas.
O extremo Sul do estado, por sua vez, vem sendo impactado por chuvas intensas. Ainda que 98% das áreas apresentem condição boa, os agrônomos alertam para os efeitos acumulados da umidade elevada nas fases seguintes do desenvolvimento. Em Curitibanos, a semana chuvosa também impôs ajustes no cronograma de tratos culturais, embora as lavouras sejam avaliadas como boas a ótimas.
No cenário estadual, a cigarrinha-do-milho continua sob vigilância, embora com baixa incidência até o momento. A manutenção de condições de sanidade dependerá do monitoramento contínuo e da disciplina no manejo fitossanitário, especialmente em áreas com histórico de enfezamento e maior pressão de insetos.
A Epagri/Cepa reforça que, apesar dos pontos de atenção, o potencial produtivo da safra é positivo. Os próximos dias, marcados pelo comportamento das chuvas e pela manutenção de temperaturas adequadas, serão decisivos para consolidar esse cenário. Se as condições atuais persistirem, Santa Catarina tende a iniciar a colheita com nível elevado de desempenho agronômico e produtivo.



