Suínos
Imunonutrição na suinocultura
Veterinários, zootecnistas e agrônomos precisarão trabalhar em conjunto para identificar os melhores momentos para aplicar uma “imunodieta”. Caberá aos produtores e aos extensionistas identificar os momentos de desafio imune no dia a dia.

A formulação dietética na suinocultura avançou enormemente ao longo dos anos. Atualmente, utilizam-se dietas com maior concentração nutritiva do que no passado, por exemplo. Isso veio para suprir as demandas que foram trazidas com o melhoramento genético. Essas dietas são eficazes: a nutrição contribuiu para o grande sucesso do setor suinícola e o ciclo produtivo se tornou cada vez mais curto. Contudo, como ensinam os livros-texto de nutrição, as dietas usadas na suinocultura são formuladas com base nas demandas de animais em condições de equilíbrio. O que acontece nutricionalmente fora da homeostase é o objeto da imunonutrição.
A imunonutrição nasceu como uma disciplina da saúde humana, com o objetivo de melhorar as taxas de recuperação em doenças com grande demanda imune – UTIs, por exemplo, onde há grande ocorrência de infecções generalizadas, resistentes a antibióticos, etc. O conceito é intuitivo a partir do nome: “imunonutrição” significa melhorar as defesas de um indivíduo por meio do uso de formulações dietéticas específicas.
Há aminoácidos, vitaminas e micronutrientes cuja suplementação nutricional altera respostas imunes de maneiras clinicamente mensuráveis durante situações de estresse ou doença. Isso se dá porque as demandas imunes durante os processos inflamatórios são muito altas. Assim, os padrões dietéticos devem diferentes durante condições de saúde e doença.
As células imunes obtêm seus nutrientes à medida em que são disponibilizados no sangue, como outras células. Contudo, a partição de nutrientes pelo organismo não é homogênea. O sistema nervoso central, por exemplo, demanda e recebe mais carboidratos do que qualquer outro tecido. Essa demanda do sistema nervoso precisa ser suprida sempre, sob o risco de inviabilizar a vida do animal. Da mesma maneira, prover o sistema imune com um equilíbrio de nutrientes sub-ótimo não é aconselhável: as falhas imunes são rotineiramente fatais, ou resultam em infecções prolongadas e perdas produtivas desnecessárias. Deve-se esclarecer que o objetivo da imunonutrição não é atingir respostas imunes mais intensas; o que se busca é a melhor resposta imune, ou seja, uma resposta que “resolva o problema” sem ser excessiva (Figura 1).

Figura 1. Objetivos da imunonutrição. O objetivo central é melhora em resultados clínicos – e produtivos, por consequência. Observe-se que não se trata apenas de incrementar as respostas imunes, mas de executá-las da maneira mais eficiente possível.
A imunonutrição humana iniciou-se com a suplementação de aminoácidos, em especial glutamina e arginina, de ácidos graxos insaturados, de nucleotídeos e de micronutrientes essenciais para a detoxificação do estresse oxidativo. Uma resposta imune intensa gera uma variedade de agentes oxidantes – os “radicais livres”, como eram chamados há alguns anos. A remoção desses radicais acontece constantemente, mas precisa ser intensificada durante a ativação da imunidade, uma vez que os leucócitos os produzem com muita intensidade. Os outros compostos dessa dieta “clássica” de imunonutrientes têm função antiinflamatória (caso dos ácidos graxos insaturados) ou de suporte às células imunes e às células do epitélio das mucosas (caso dos aminoácidos e dos nucleotídeos).
Na saúde animal, podemos estender o conceito de imunonutrição para além de substâncias que têm propósito nutritivo. Há substâncias que, mesmo não sendo utilizadas como nutrientes, podem ser adicionados à dieta de suínos com o propósito de melhorar as barreiras de defesa do animal, sejam elas células imunes ou outros mecanismos de resistência, como a qualidade das mucosas. A maior parte das infecções ocorrem através da mucosa digestória ou da mucosa respiratória. Se o epitélio mucoso estiver revestido de uma camada protetora de bactérias comensais, reduz-se a chance de uma infecção por essa via, por exemplo. É possível prover nutrientes para enriquecer a microbiota – esses compostos são os chamados prebióticos. É também possível alterá-la por meio da administração dietética de bactérias – usando-se probióticos. Observe-se que a administração de pre/probióticos não tem caráter nutritivo para o animal: essas substâncias não são absorvidas como os nutrientes da ração. Contudo, o objetivo do seu uso é o mesmo, melhorar a defesa contra desafios.
Leveduras
Há, portanto, vários compostos dietéticos com finalidade de modificar a imunidade. Dentre esses, citaremos também os derivados de leveduras. A suplementação dietética com leveduras pode beneficiar a defesa animal de maneiras diretas (atuando diretamente sobre as células imunes) e de maneiras indiretas (atuando sobre a microbiota, sobre as barreiras epiteliais etc.).
A administração de leveduras pode prover nutrientes, como nucleotídeos. Esses são os “tijolos” que compõem o DNA e o RNA, e são muito demandados em fases de proliferação celular, como ocorre durante a expansão das células imunes para combater um patógeno. O intestino também se prolifera com intensidade quando é lesionado, e suas células passam a demandar nucleotídeos para manterem esse processo.
Ademais, leveduras podem interferir com bactérias patogênicas. A parede das leveduras contém compostos, as mananas, que aglutinam bactérias, aprisionando-as à levedura e as impedindo de se replicarem. Esse é um mecanismo natural que as leveduras usam para não sucumbirem às bactérias ao seu redor. A aglutinação bacteriana é extremamente eficaz. Estando imobilizadas, bactérias não podem migrar, invadir o hospedeiro ou competir por nutrientes.
Por fim, citamos os β-glucanos, um segundo componente da parede de leveduras. Essa substância é tratada como o “padrão-ouro” na indução de um mecanismo imune denominado de “treinamento celular”. O termo faz referência à possibilidade de se induzir algo similar à memória imune mesmo em células em que se acreditava ser impossível fazê-lo. Como se sabe, “memória” é a capacidade imune de se aperfeiçoar no combate a um patógeno. Até recentemente, acreditava-se que apenas processos como a vacinação – ou a infecção – podiam induzir memória.
Macrófagos e neutrófilos são os leucócitos mais utilizados durante infecções. Essas células migram para os locais de entrada de patógenos e realizam fagocitose, eliminando os agentes infecciosos. Crucialmente, também cabe aos macrófagos realizar a ativação dos linfócitos, os quais produzirão anticorpos, células de memória, etc. Contudo, acreditava-se que os macrófagos e neutrófilos não eram capazes, eles próprios, de terem memória, o que equivale a não ser possível prepará-los para uma situação desafiante. β-glucanos modificam o metabolismo dessas células fagocíticas de modo a torná-las mais eficazes em combater patógenos. Esse processo perdura por dias e até semanas, representando, assim, um modo de memória dos fagócitos.
Conclusão
Na saúde humana, há já várias situações nas quais o uso de imunonutrição é uma recomendação clínica, ou seja, o conceito já se tornou prática corrente. Na saúde animal, a proposta da imunonutrição ainda engatinha – ainda vamos desenvolver essa ciência ao longo dos anos que virão. Em especial, devemos aprender a implementar dietas específicas de acordo com a demanda do rebanho. Mesmo na Medicina essa área da nutrição é nova: há situações em que imunonutrientes podem gerar respostas imunes muito intensas, por exemplo. Contudo, parece que temos muito a ganhar ao aplicarmos a imunonutrição na prática: em condições de produção, os desafios imunes são inúmeros e constantes. Provavelmente não há fase produtiva em que não haja um estímulo imune elevado durante a criação de suínos.
Essa é uma ciência que deverá agregar todos os profissionais envolvidos na produção. Veterinários, zootecnistas e agrônomos precisarão trabalhar em conjunto para identificar os melhores momentos para aplicar uma “imunodieta”. Caberá aos produtores e aos extensionistas identificar os momentos de desafio imune no dia a dia. A suinocultura é uma indústria organizada e voltada às inovações. Por isso, já há no mercado brasileiro uma gama de aditivos voltados para essa finalidade. Portanto, as ferramentas para usar a imunonutrição já estão nas nossas mãos. Cabe a nós aplicá-las e contribuir para a evolução dessa nova ciência – e com isso, contribuiremos para levar a suinocultura para seu próximo patamar.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: karoline.honorio@iccbrazil.com.br.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes. Boa leitura!

Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.
Colunistas
Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.



