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Impactos do fracking ameaçam agricultura e exportação brasileira
Degradação do solo e a ameaça à biodiversidade estão entre os perigos do fraturamento hidráulico na produção agrícola e nas barreiras sanitárias internacionais.

Uma audiência pública de grande importância foi realizada, na última terça-feira (24), na Câmara dos Deputados, onde especialistas, autoridades e ativistas se reuniram para discutir os impactos alarmantes do fracking (fraturamento hidráulico) na agricultura brasileira e nas exportações do Brasil. A reunião ocorre em um momento crítico, tendo em vista a possível aprovação do PL 1935/2019, que visa proibir o fraturamento hidráulico no Brasil.
O prefeito da cidade de Toledo (PR), Beto Lunitti, destacou as graves implicações do fracking não apenas para a agricultura local, mas também para a capacidade de exportação. “É essencial entender que as barreiras sanitárias europeias são extremamente rígidas. Eles não permitem a importação de alimentos provenientes de regiões afetadas pelo fracking, devido aos riscos de contaminação. Estamos arriscando não apenas a saúde de nossa população e a integridade de nossas terras, mas também a vitalidade econômica de nossas exportações agrícolas”, expôs.
O diretor do Observatório do Petróleo e Gás, do Instituto Arayara e coordenador nacional da campanha Não Fracking Brasil, Juliano Bueno de Araújo, apresentou mapas reveladores mostrando a sobreposição de blocos de fracking em importantes regiões agrícolas nos estados do Maranhão, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. “Esses mapas demonstram claramente que o fracking ameaça não apenas nossos recursos naturais, mas também o coração da agricultura brasileira. Com o risco adicional de perdermos acesso a mercados internacionais importantes devido a preocupações de contaminação, o custo do fracking é simplesmente alto demais”, evidenciou.
Os participantes da audiência expressaram profunda preocupação com a possibilidade de contaminação de aquíferos e reservas de água superficiais, fundamentais para a irrigação agrícola e para manter a qualidade dos produtos. Tal preocupação foi apresentada pelo professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Fernando Scheibe.
Contaminação eminente
O professor apresentou o sistema de aquíferos Serra Geral-Guarani, que para se atingir a camada de folhelho na bacia do Paraná (onde se utiliza o fracking para extração), a perfuração passa pelos aquíferos e devido ao modelo de fratura hidráulica a contaminação desse recurso é quase eminente. Além disso, enfatizaram o risco de degradação do solo e a ameaça à biodiversidade, ambos cruciais para a sustentabilidade da agricultura. A infraestrutura necessária para o fracking, incluindo poços de perfuração, instalações de processamento e oleodutos, pode causar compactação do solo, erosão e ocupação de extensas áreas de terras agrícolas, o que resulta na redução da disponibilidade de terras para a agricultura.
Fracking
O fracking é uma técnica de extração de óleo e gás que consiste em extrair óleo e gás de recursos não convencionais, onde o óleo e gás estão presos em rochas de baixa permeabilidade, para a extração é necessário perfurações verticais junto às horizontais, para injeção do fluido de fracking visando fraturar a rocha e disponibilizar o recurso.
O processo de fracking envolve a injeção de uma mistura de água, e mais de 600 produtos químicos e areia no solo para liberar o gás natural ou o petróleo de xisto. Esses produtos químicos podem vazar e contaminar os aquíferos subterrâneos, que são fontes vitais de água para a agricultura.
A literatura científica mostra que mais de mil produtos químicos são empregados no fraturamento hidráulico indo de biocidas à agentes anticorrosivos , misturados à água em altíssima pressão para que ocorra a desintegração da rocha onde se encontram o óleo e gás desejados. As fraturas podem chegar nos aquíferos até mesmo na superfície, contaminando os recursos naturais (água e solo) como os hidrocarbonetos do óleo e do gás, com os milhares de produtos químicos injetados e elementos radioativos contidos nos estratos geológicos profundos.
União de esforços
Representantes de Toledo, do Ministério da Saúde, da Universidade Federal de Santa Catarina e Deputados reforçaram a necessidade de proteger as práticas agrícolas da contaminação potencial pelo fracking, sublinhando a importância de se manter distante dessa técnica para garantir a qualidade e a segurança dos produtos agrícolas, especialmente aqueles destinados à exportação.
A relação entre as áreas de recursos não convencionais (onde se emprega o fracking) com os diversos usos da terra, destacando o uso agropecuário que representa 38% de toda extensão territorial do Brasil.

No mapa, em vermelho, se tem os blocos que estão em oferta permanente de concessão. No estado de Santa Catarina em divisa com o estado do Paraná existem dois blocos sobre área de ocorrência da rocha (folhelho) que é fraturada no fracking, para o Restante da Bacia Sedimentar do Paraná existem diversos blocos em estudo, os quais estão em conflito com a atividade agrícola como nos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
O estado do Amazonas e o Pará (na Bacia do Amazonas) possuem diversos blocos com potencial uso de fracking em oferta para o leilão da ANP, que acontecerá em 13 de dezembro, bem como o estado de Mato Grosso.
Esta audiência pública marca um ponto de virada crucial na luta contra o fracking, destacando a necessidade de conscientização e ação imediata para proteger a agricultura brasileira, suas exportações e seus recursos naturais. Continuar monitorando e apoiando medidas que garantam um futuro sustentável e seguro para o Brasil é mais essencial do que nunca.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



