Avicultura É preciso atenção
Impacto econômico do peito amadeirado em frangos de corte
Considerando as condenações na linha de abate, o tema tem sido desafiador para as indústrias produtoras de frangos pesados

Artigo escrito por Rodrigo Braghim Slembarski, gerente de Mercado Aves de Corte da Auster Nutrição Animal
A avicultura de corte é uma das atividades do agronegócio que mais se desenvolve no mundo. A evolução em toda a cadeia produtiva é impulsionada pela alta demanda dos consumidores por produtos de qualidade e preços acessíveis às diferentes classes sociais. Isso só é possível devido à evolução dos processos de melhoramento genético, nutrição, sanidade e manejo, tornando o setor eficiente e competitivo em relação a outras fontes de proteína de origem animal.
Nas últimas décadas, é possível observar a evolução dos frangos de corte, que passaram a produzir carne com maior eficiência em menor tempo. Um outro ponto importante a destacar é que as aves passaram por intenso processo de melhoramento genético, que permitiu a seleção com maior deposição de musculo no peito. Nesse contexto, Zuidhof et al. (2014) relatam que em um período analisado de 48 anos o peso médio dos frangos aumentou mais de 400% e a taxa de conversão alimentar foi reduzida em 50%, observando ainda melhora no potencial de crescimento do peito, enquanto a gordura abdominal diminuiu devido à pressão da seleção genética. De 1957 a 2005, a musculatura peitoral maior aumentou 79% nos machos e 85% nas fêmeas.
Com o aumento da taxa de crescimento das aves também aumentou a incidência de miopatias no peito, como o peito amadeirado (Woody Breast – WB), principalmente no músculo peitoral maior. Filés com a condição de peito amadeirado mostram evidências de aumento de massa muscular, degeneração das fibras, necrose, variabilidade do tamanho das fibras, infiltração lipídica, aumento da fibrose e células inflamatórias, ocasionando dureza e rigidez anormais à palpação no filé e aspecto geral negativo na qualidade da carne.
A lesão do peito amadeirado pode ser observada facilmente e é classificada como normal, moderada e severa. É considerado peito normal aquele que tem boa aparência com coloração e textura característica, não causando restrição em termos de aquisição do produto pelos consumidores.
Na lesão moderada, observa-se coloração mais pálida e aumento moderado da rigidez das fibras musculares, devido à deposição de tecido conjuntivo fibroso, podendo ter partes do musculo peitoral superior bem mais rígidas, ocasionando a condenação parcial do peito. Nesse caso, as partes condenadas podem ser aproveitadas para produção de alimentos termoprocessados.
Na lesão severa, o peito apresenta coloração esbranquiçada, rigidez devido à alta deposição de colágeno e, normalmente, a ave é condenada na linha de abate, já que os órgãos de inspeção identificam como aspecto repugnante e classificam como condenação total (descartando estas aves).
Considerando as condenações na linha de abate, o tema tem sido desafiador para as indústrias produtoras de frangos pesados, tendo em vista o descarte parcial e até total das carcaças.
Embora as taxas de incidência na indústria sejam difíceis de avaliar, estima-se que aproximadamente de 2 a 8% do filé de peito produzidos comercialmente apresentam lesões severas. Para estimar as perdas econômicas, fizemos simulação, considerando quatro faixas de condenações por lesão severa: 2%, 4%, 6% e 8% em um frigorifico que abate 100 mil aves/dia com peso médio das aves de 2,9 kg e rendimento de carcaça de 75%. Para o rendimento de peito foram considerados 23%, sendo aproximadamente 500 gramas de peito.
Com os dados simulados e considerando preço médio de venda do filé de peito de R$ 5,70, observamos que 2% de condenações por lesão severa acarretaram prejuízo de aproximadamente R$ 125.000 por mês e R$ 1.500.000 por ano, considerando somente volume de peito condenado. Ressaltamos que essa perda pode ser maior tendo em vista que em condenações por aspecto repugnante (lesão severa) o órgão de fiscalização descarta toda a carcaça, aumentando ainda mais o impacto econômico.
Existe correlação direta entre o aumento de peso e a incidência do Wood Breast. Isto se deve à baixa irrigação sanguínea nos tecidos periféricos, ocasionando estresse oxidativo e ocorrendo inflamação e necrose das fibras musculares, com posterior deposição de colágeno caracterizando assim a miopatia.
Tendo em vista o grande impacto no setor produtivo, o tema vem sendo tratado constantemente por pesquisadores, indústria e produtores na tentativa de minimizar os efeitos decorrentes dessa lesão. Os geneticistas têm trabalhado na seleção genética para desenvolver animais com menor propensão à miopatia, porém este é um processo lento e complexo. Paralelamente, a nutrição trabalha com o intuito de minimizar a incidência do peito amadeirado, realizando pesquisas com diferentes níveis nutricionais de aminoácidos, vitaminas, minerais e aditivos, como por exemplo o uso de altas doses de fitase.
Os resultados com superdosagem de fitase têm se destacado pelo fato de a enzima proporcionar melhoria na solubilidade de alguns microelementos envolvidos na produção de hemoglobinas, melhorando a oxigenação tecidual. Em estudo realizado por York et al. (2016), os autores concluíram que a melhor solubilidade dos minerais, como zinco (Zn), selênio (Se), ferro (Fe), cobre (Cu) e manganês (Mn), desempenham papéis importantes no crescimento, imunidade, saúde intestinal e status antioxidante das aves, bem como numerosos outros papéis no metabolismo, como redução da ocorrência de peito amadeirado.
É evidente que o tema é relevante para a cadeia de frangos de corte devido aos consistentes prejuízos no processo. Ao que tudo indica, teremos de conviver com o problema por mais alguns anos. A estratégia é utilizar ferramentas que nos auxiliam a reduzir a incidência e minimizar as perdas econômicas.
Outras notícias você encontra na edição de Aves de abril/maio de 2019 ou online.

Avicultura
Produção de frangos em Santa Catarina alterna quedas e avanços
Dados da Cidasc mostram que, mesmo com variações mensais, o estado sustentou produção acima de 67 milhões de cabeças no último ano.

A produção mensal de frangos em Santa Catarina apresentou oscilações significativas entre outubro de 2024 e outubro de 2025, segundo dados da Cidasc. O período revela estabilidade em um patamar elevado, sempre acima de 67 milhões de cabeças, mas com movimentos de queda e retomada que refletem tanto fatores sazonais quanto ajustes de mercado.
O menor volume do período foi registrado em dezembro de 2024, com 67,1 milhões de cabeças, possivelmente influenciado pela desaceleração típica de fim de ano e por ajustes de alojamento. Logo no mês seguinte, porém, houve forte recuperação: janeiro de 2025 alcançou 79,6 milhões de cabeças.

Ao longo de 2025, o setor manteve relativa constância entre 70 e 81 milhões de cabeças, com destaque para julho, que atingiu o pico da série, 81,6 milhões, indicando aumento da demanda, seja interna ou externa, em plena metade do ano.
Outros meses também se sobressaíram, como outubro de 2024 (80,3 milhões) e maio de 2025 (80,4 milhões), reforçando que Santa Catarina segue como uma das principais forças da avicultura brasileira.
Já setembro e outubro de 2025 mostraram estabilidade, com 77,1 e 77,5 milhões de cabeças, respectivamente, sugerindo um período de acomodação do mercado após meses de forte atividade.
De forma geral, mesmo com oscilações, o setor mantém desempenho sólido, mostrando capacidade de rápida recuperação após quedas pontuais. O comportamento indica que a avicultura catarinense continua adaptável e resiliente diante das demandas do mercado nacional e internacional.
Avicultura
Setor de frango projeta crescimento e retomada da competitividade
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, produção acima de 2024 e aumento da demanda doméstica impulsionam perspectivas positivas para o fechamento de 2025, com exportações em recuperação e espaço para ajustes de preços.

O setor avícola brasileiro encerra 2025 com sinais de recuperação e crescimento, mesmo diante dos desafios impostos pelos embargos que afetaram temporariamente as margens de lucro.
De acordo com dados do Itaú BBA Agro, a produção de frango deve fechar o ano cerca de 3% acima de 2024, enquanto o consumo aparente deve registrar aumento próximo de 5%, impulsionado por maior disponibilidade interna e retomada do mercado externo, especialmente da China.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a competitividade do frango frente à carne bovina voltou a se fortalecer, criando espaço para ajustes de preços, condicionados à oferta doméstica. A demanda interna tende a crescer com a chegada do período de fim de ano, sustentando a valorização do produto.
Além disso, os custos de produção, especialmente da ração, seguem controlados, embora a safra de grãos 2025/26 ainda possa apresentar ajustes. No cenário geral, os números do setor podem ser considerados positivos frente às dificuldades enfrentadas, reforçando perspectivas favoráveis para os próximos meses.
Avicultura
Avicultura do Paraná sofre com desequilíbrio entre custos e remuneração
Levantamento do Sistema Faep mostra que, mesmo com a liderança nacional em abates, a maioria dos produtores opera abaixo dos custos, acumulando prejuízos e enfrentando dificuldades para manter e modernizar os aviários.

O Paraná é uma superpotência nacional na produção de frangos de corte. Os números falam por si: o Estado responde por um terço dos abates do país, produzindo quase 2,3 bilhões de cabeças em 2024, movimentando cifras da ordem de R$ 31 bilhões. Toda essa pujança do setor, no entanto, não tem chegado aos produtores rurais. As receitas dos avicultores mal cobrem os custos diretos, o que representa um risco para a atividade em médio e longo prazos.
Confira todas as planilhas do levantamento de custos de produção da avicultura
É o que aponta o levantamento de custos de produção elaborado pelo Sistema Faep. O estudo é elaborado seguindo a metodologia própria e embasado por dados fornecidos por avicultores de todas as regiões do Estado. Os produtores foram ouvidos em painéis realizados em cada uma das 14 Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) do Paraná, abrangendo os polos produtivos do Estado. Os resultados representam as médias por tamanhos de modais e classificação do frango, pesado ou griller, conforme o cenário das integrações.

Segundo os técnicos Caroline da Costa e Fábio Mezzadri, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep, os dados “revelam um cenário preocupante para a sustentabilidade da atividade”. Segundo o relatório, em praticamente todas as integrações, ALERTA as receitas obtidas pelos avicultores com a entrega das aves e com a venda de cama de aviário cobriram apenas os custos variáveis – ou seja, os desembolsos para produzir o lote de frangos.
O levantamento revelou que os produtores rurais ficaram no vermelho no que diz respeito ao custo fixo (que leva em conta as depreciações de máquinas, equipamentos e instalações) e o custo total (que se consolida como um índice de longo prazo para a atividade). Isso implica em saldos negativos anuais para cada produtor, que variam entre R$ 89 mil e R$ 217 mil, o que compromete a depreciação de instalações e a capacidade de investimento. “Ano após ano, as condições dos produtores estão se complicando, com a atividade ficando mais no vermelho”, diz o presidente da Comissão Técnica de Avicultura do Sistema Faep, Diener Santana. “Os reajustes que os produtores estão recebendo não acompanham os custos de produção, que têm aumentado acima. Isso agrava o vermelho”, acrescenta.
Ainda, o DTE do Sistema Faep estabelece uma comparação com os resultados de 2024. Segundo os técnicos, ao longo de um ano, houve um aumento nos custos variáveis, que oscilou entre 5% e 15%, conforme a região. O que mais pesou foram os valores da mão de obra, dos custos de manutenção e da energia elétrica. “Esses fatores [de aumento] são influenciados pela inflação, demandas regulatórias e exigências de bem-estar animal”, destaca Caroline, do DTE. “Esta realidade ameaça a viabilidade da cadeia produtiva paranaense, um dos pilares do agronegócio brasileiro, com potencial impacto em empregos rurais, suprimento de insumos e exportações”, complementa Mezzadri.
O presidente da CT de Avicultura ressalta uma distinção dentro da atividade. Os aviários mais novos, em regra, recebem adicionais. Os galpões mais antigos, no entanto, não ganham qualquer complementação. “Os modais novos têm incentivo para que o produtor se viabilize. Os mais antigos não têm. É só a remuneração seca”, aponta Santana.
Há oito anos na atividade, o avicultor Luís Guilherme Geraldo mantém quatro galpões, alojando 160 mil aves, em Jaguapitã, no Norte do Paraná. Além dele, o pai e dois colaboradores atuam diretamente na produção de frangos de corte, na propriedade. “Realmente, a avicultura está em bom momento, principalmente no mercado de exposições. Mas o lucro fica todo na integração”, ressalta.

Ao longo do ano, por meio de negociações na Cadec, os produtores conseguiram reajustes de 7,5%, que minimizaram os prejuízos acumulados em anos anteriores. Geraldo pretende ampliar a produção para diluir os custos, mas sabe dos riscos implicados na operação. “Apesar dos cenários econômico e político desafiadores, o produtor continua investindo. Esperamos que a avicultura siga em alta. O frango brasileiro é bem-visto no mercado internacional por nossas boas práticas sanitárias. Continuamos realizando diversos estudos para auxiliar nossos produtores rurais”, afirma o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette. “Nosso papel é dar esse suporte aos avicultores nas negociações de preços e custos junto às empresas integradoras em reuniões das Cadecs”, complementa.
Empresas cobram investimentos de produtores, mas remuneração é insuficiente
Um agravante à condição dos avicultores integrados envolve as exigências das empresas em relação a investimentos constantes nos aviários. Segundo os produtores rurais ouvidos pela reportagem do Boletim Informativo, as integradoras têm demandado atualizações constantes nos aviários, principalmente no que diz respeito a automação dos galpões e a aspectos sanitários. O valor pago aos produtores, no entanto, inviabiliza tais investimentos, pressionando cada vez mais os avicultores. “Há uma pressão enorme por investimentos e melhorias nos aviários justamente para proporcionar lucros à integradora e manter a excelência do padrão sanitário na criação das aves”, diz o produtor Maurício Gonçalves Pereira. “Temos que investir somas significativas para manter a ótima qualidade dos frangos, o que proporciona um primor sanitário e a conquista do produto em países que bem remuneram a carne de frango, mas não somos remunerados na mesma medida”, acrescenta.
Os aviários na propriedade de Pereira têm 11 anos, em São Tomé, município vizinho a Cianorte, Noroeste do Paraná. Apesar de ter feito inúmeras melhorias, ainda há uma série de investimentos que precisa ser feita. “Em um dos fornos, preciso substituir o sistema de aquecimento e nos outros é necessária a substituição das cortinas para a melhoria na circulação. Fora isso, constantes são os gastos com a manutenção da estrutura dos aviários”, aponta o avicultor. “Dada a necessidade incessante de investimentos, esta manutenção tem sido um problema sério para o produtor, visto que a remuneração não tem sido suficiente para que façamos todos os desembolsos necessários e exigidos pela integradora”, aponta.

Avicultor há 12 anos, Pereira mantém dois aviários com capacidade global de alojar 65 mil aves. Ele detalha que a renda dos produtores está diretamente relacionada à questão estrutural e às exigências das integradoras. Ele está prestes a fazer novos investimentos. “Preciso investir mais no aumento da capacidade de geração de energia fotovoltaica, já que a produção atual está sendo insuficiente. O valor da energia elétrica oscila e isto impacta diretamente no custo de produção”, diz.
Outro produtor, Eliandro Vegian Carneiro, também aponta que as instalações são determinantes para a equalização da atividade. Ele administra uma propriedade localizada em Éneas Marques, no Sudoeste do Paraná, em que mantém um aviário com capacidade para alojar 27 mil aves. Ele avalia os riscos que os elevados custos e necessidades constantes de investimentos implicam ao setor. “Tem que buscar por tecnologia e formas de reduzir os custos entre os lotes para poder se manter na atividade. É ‘bruto’ investir aproximadamente R$ 1,5 milhão em um barracão e saber que terá essa dívida por longos dez anos ou mais”, aponta Carneiro. “Em aviários mais novos, com mais tecnologia ou onde se tem mais de um aviário, consegue equilibrar, mas os custos de manutenção subiram muito”, diz.
De acordo com Luiz Guilherme Geraldo, quem tem estrutura mais defasada passa a ser pressionado a modernizar os galpões, mesmo que a remuneração não permita novos investimentos. “Os donos de aviários mais novos recebem um incentivo para estar sempre melhorando os galpões. Mas quando se trata de um aviário mais antigo, o produtor é cobrado a investir um dinheiro que não tem. Só se fizer essa modernização é que vai receber algum incentivo”, afirma. “Desejamos a melhoria das condições de remuneração para que possamos nos manter vivos e ativos na produção”, diz Pereira. “O próximo ano é uma incógnita. Com os juros altos em ano de eleição, não vejo uma melhora a curto prazo”, conclui Carneiro.



