Suínos
Impacto dos inibidores de tripsina no desempenho zootécnico de suínos, análise de resultados e como mitigar seus efeitos negativos
Artigo detalha como os inibidores de tripsina afetam a digestibilidade proteica em suínos e aponta soluções nutricionais eficazes para minimizar perdas no desempenho zootécnico.


Artigo escrito por: Débora Reolon Médica-veterinária, doutora em Nutrição Animal Gerente Sênior de Serviços Técnicos da Novus
Os inibidores de tripsina (IT) são compostos antinutricionais presentes principalmente na soja capazes de interferir negativamente na digestibilidade proteica e, consequentemente, no desempenho produtivo dos suínos. A formulação de dietas para essa espécie enfrenta o desafio da variação nos níveis de IT no farelo de soja, os quais são fortemente influenciados pelas condições do processamento térmico. Farelos submetidos a tratamentos inadequados podem apresentar concentrações elevadas desses inibidores, resultando na redução da disponibilidade de aminoácidos essenciais e na piora da conversão alimentar. Assim, é imprescindível implementar um rigoroso controle de qualidade das matérias-primas e realizar ajustes contínuos nas formulações nutricionais. Níveis elevados de IT podem comprometer a digestibilidade ileal dos aminoácidos, afetando diretamente o aproveitamento dos nutrientes e o crescimento dos suínos. Também, o aumento na concentração de inibidores de tripsina (IT) tem impacto direto sobre a digestibilidade dos aminoácidos. Especificamente, para cada incremento de 1 mg/g de IT na dieta, observam-se reduções de 2% na digestibilidade da lisina, 3,7% da metionina e 3,4% da treonina. Essas perdas comprometem a eficiência alimentar e prejudicam o desempenho zootécnico, especialmente o crescimento dos animais.

Nos suínos, os IT atuam inibindo a ação da tripsina, enzima pancreática fundamental para a digestão de proteínas. Essa interferência reduz a digestibilidade dos aminoácidos, podendo provocar desequilíbrios nutricionais, menor ganho de peso e pior eficiência alimentar. Conforme demonstrado em um estudo do ano de 2025, altos níveis de IT (1,83 mg/g) em dietas à base de soja quando comparados a dietas com baixo teor (0,96mg/g), comprometem significativamente a digestibilidade resultando em uma queda de desempenho que pode chegar a quase dois kg de peso final aos 28 dias pós desmame. Neste mesmo trabalho os efeitos negativos dos IT puderam ser mitigados com o uso de uma protease exógena, devolvendo o desempenho aos animais tratados.
Estudos têm indicado que a suplementação com proteases exógenas representa uma estratégia promissora para mitigar os efeitos negativos dos IT. Essas enzimas auxiliam na degradação dos inibidores e complementam a atividade da tripsina endógena, melhorando a digestibilidade dos aminoácidos. Resultados de outro estudo, embora inicialmente voltados para aves, sugerem um potencial efeito benéfico também em suínos. Nele, aves alimentadas com farelo de soja contendo 4,24 mg/g de IT apresentaram redução na digestibilidade de lisina, metionina e treonina. No entanto, a suplementação com protease melhorou significativamente a digestibilidade desses aminoácidos, aproximando-se dos níveis ideais para melhor desempenho.
Os benefícios do uso de protease exógena incluem a degradação direta dos inibidores, maior aproveitamento dos aminoácidos, redução da fermentação proteica nociva, regulação da taxa de passagem intestinal e melhoria da conversão alimentar e do ganho de peso. Ensaios laboratoriais demonstraram que existe grande diferença entre as proteases na degradação. A enzima mais eficiente foi capaz de degradar entre 50% e 65% do inibidor de tripsina Bowman-Birk (BBTI), enquanto outras enzimas mostraram eficiência limitada, com degradação máxima de apenas 23%. Esses dados reforçam a importância da escolha correta da protease na formulação de dietas para suínos.

Além disso, pesquisas em leitões evidenciam que a modulação da microbiota intestinal por meio de aditivos enzimáticos pode reduzir a presença de patógenos como E. coli, ao mesmo tempo em que favorece o crescimento de bactérias benéficas, como Lactobacillus. Esse equilíbrio contribui para a integridade intestinal e otimiza a absorção de nutrientes, aspectos críticos na fase de creche e crescimento dos suínos. Outro aspecto relevante é que a presença excessiva de proteína não digerida no intestino delgado, consequência da inibição da tripsina, pode estimular fermentações proteicas indesejadas, aumentando o risco de diarreias pós-desmame, inflamações intestinais e proliferação de microrganismos patogênicos.
A determinação de níveis seguros de inibidores de tripsina (IT) nas dietas ainda é um desafio, uma vez que os efeitos adversos podem variar conforme a idade dos animais e a composição nutricional da dieta. Recomenda-se que a concentração de IT no farelo de soja não exceda 3,5 mg/g, a fim de evitar prejuízos à digestibilidade dos nutrientes. Estima-se que em suínos esse limiar seja ainda mais baixo, dadas as condições fisiológicas pós desmame, sendo recomendado que não exceda os 2,5mg/g. Atualmente testes que detectam fatores antinutricionais são aplicados como rotina. O teste de atividade ureásica, por exemplo, mede a atividade residual da urease e indica se o processamento térmico foi adequado; o intervalo ideal de pH está entre 0,05 e 0,20. A avaliação da atividade dos inibidores de tripsina, embora menos rotineira, é igualmente relevante. Estudos recentes demonstram a baixa correlação entre os resultados de atividade de urease e atividade de IT, observando que 40% das amostras com atividade de urease dentro do padrão estão com padrões inadequados de IT, corroborando com a necessidade de testes mais específicos para verificação do teor de atividade destes fatores antinutricionais.
Coclusão
Em síntese, os inibidores de tripsina representam um desafio significativo na nutrição de suínos, pois reduzem a digestibilidade das proteínas e comprometem o desempenho produtivo, especialmente nas fases iniciais. No entanto, seus efeitos podem ser mitigados por meio de estratégias nutricionais eficazes, como o controle do processamento térmico do farelo de soja, a escolha criteriosa de proteases exógenas com alta capacidade de degradação dos IT e o suporte à integridade intestinal por meio de manejos e aditivos adequados. A aplicação integrada dessas abordagens contribui para maximizar a eficiência alimentar e garantir melhores resultados na produção suinícola.
As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: debora.reolon@novusint.com.
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



