Notícias Cooperativismo
Governança e compliance abrem espaço para cooperativas no mercado internacional
Exportação exige mais profissionalização e cuidados administrativos por parte das cooperativas de modo a suprir as exigências dos clientes internacionais

Em 2020, as cooperativas agropecuárias do Paraná responderam por 33,8% do valor exportado pelo agronegócio do estado. É o equivalente a R$ 1 de cada R$ 3 obtidos com a venda de produtos para clientes estrangeiros, segundo levantamento realizado pela Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), com base em dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No total, os embarques somaram US$ 13,3 bilhões, com destaque para a soja (45,6%), carnes (21%) e produtos florestais (16,7%).
O exemplo paranaense ilustra a capacidade das cooperativas brasileiras em exportar, especialmente em um momento difícil da economia. O agronegócio brasileiro responde por pouco mais de 20% do PIB do Brasil – que foi de R$ 7,4 trilhões em 2020. As cooperativas assumem metade da capacidade produtiva do agronegócio – ou seja, pode-se estimar que cerca de R$ 740 bilhões se devem às cooperativas. Atualmente, o segmento conta com 1.223 cooperativas, quase 1 milhão de cooperados e 207 mil empregados, segundo o anuário 2020 da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB).
“As cooperativas são o principal meio de assistência técnica, comercialização e relação com o comércio internacional. A maioria dos agricultores estaria afastado das exportações se não fossem as cooperativas”, explica o professor do ISAE Escola de Negócios, Mauri Alex de Barros Pimentel, especialista em cooperativismo. Dessa forma, elas contribuem com a economia: R$ 6,5 bilhões foram recolhidos em impostos e R$ 5,3 bilhões pagos em salários e benefícios aos funcionários, sem contar cerca de R$ 5 bilhões de resultados, que retornam para a economia.
Governança e Compliance
Para se fazer presente no mercado internacional, as cooperativas precisaram investir em governança e compliance, seguindo o exemplo do ramo de crédito do próprio Brasil. “As cooperativas agropecuárias foram sábias e perceberam os ganhos que as de crédito tiveram ao investir em governança e gestão, obtendo um crescimento estratosférico”, ressalta Pimentel.
Para o agronegócio, o benefício veio em abrir novos mercados, cuja exigência por compliance (em relação às matérias-primas, aos processos e à legislação) é muito mais elevada. “Governança é uma discussão mais recente no Brasil, mas nos Estados Unidos, Europa e China vem de muito tempo. O valor que o compliance tem nesses mercados é maior. Se não houver implementação de boas práticas, torna-se um empecilho para o comércio internacional”, analisa.
Esse investimento se reverte em benefícios para a cooperativa, segundo o especialista: melhoria de competitividade; profissionalização da gestão, com a contratação de pessoas mais capacitadas; qualificação dos associados (educação cooperativa para entender o propósito da instituição); melhorias de controle, com alinhamento ao que é legal e necessário para o negócio, incluindo regras regimentais e estatutárias; e a redução de conflitos entre cooperados, compreendendo o seu papel na cooperativa.
Além disso, o compliance auxilia as empresas a cumprirem as demandas de responsabilidade e sustentabilidade, especialmente no mercado internacional, onde os consumidores demandam essa informação. “O Brasil tem seguidamente as maiores safras de grãos e é um dos principais exportadores de carne. Essa grande potência agrícola precisa estar intrinsecamente ligada às boas práticas de governança e gestão da produção, especialmente para as exportações”, diz.
Desafios
Simplificação de crédito, cuidados com o seguro rural, garantia de renda durante a sazonalidade rural, regularidade de abastecimento e, sobretudo, infraestrutura e logística para melhoria de armazenamento, transporte e escoamento estão entre os principais problemas a serem superados para alavancar a produção e a exportação. Contudo, o principal desafio para as cooperativas está na falta de pessoas qualificadas para assumir vagas que estão sendo abertas, incluindo na área de tecnologia.
As maiores feiras do setor agropecuário são grandes promotoras de tendências, visando a melhoria da qualidade técnica da produção. “O céu tem sido o limite no uso de tecnologias: uso de drones e equipamentos aéreos não tripulados para fazer georreferenciamento, além de análises de performance”, conta. “Temos necessidade de mão de obra especializada para estes novos modelos de produção, o que é uma deficiência do Brasil. Quanto mais a tecnologia avança, mais difícil é preparar esses profissionais para assumir essas vagas”, complementa Mauri Alex de Barros Pimentel.

Notícias
Brasil explora inovação agrícola na Coreia do Sul
Delegação visita LG e CJ Bio para conhecer tecnologias de bioinsumos e soluções sustentáveis que podem transformar o futuro do agro brasileiro.

Em missão oficial à Coreia do Sul, a delegação brasileira liderada pelo secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Goulart, realizou, na segunda-feira (24), visitas técnicas a fábricas e centros de pesquisa das empresas LG e CJ Bio.
A agenda teve como objetivo aprofundar a cooperação entre os dois países nas áreas de inovação em agrotóxicos, bioinsumos e tecnologias voltadas à agricultura sustentável, com foco no desenvolvimento de produtos mais modernos, seguros e eficientes.
Para o secretário Goulart, as visitas reforçam o interesse mútuo do Brasil e da República da Coreia em ampliar a parceria técnica e comercial no setor agropecuário. “A agricultura brasileira é baseada em inovação. Somos a potência que somos por conta da inovação. Por isso, estreitar relações entre os países é essencial para manter a competitividade do agro”, afirmou.
Compõem a delegação pelo Mapa o coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins, José Victor Torres, e a coordenadora de Registro, Tatiane Nascimento. Pela Anvisa, participam a gerente-geral de Toxicologia, Cassia Fernandes, a gerente de Avaliação de Segurança Toxicológica, Marina Aguiar, o gerente de Produtos Equivalentes, Juliano Malty e a assessora da Terceira Diretoria, Letícia Filier.
Visita ao parque de inovações da LG
Na LG, a delegação conheceu a estrutura global do grupo, que atua em setores como eletrônicos, telecomunicações, química e soluções para agricultura. A empresa apresentou sua visão de gestão baseada em inovação, sustentabilidade e governança, além dos investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento.
A LG também destacou o papel da LG Chem e da FarmHannong, divisão agrícola líder na Coreia em proteção de cultivos, sementes e fertilizantes. A companhia reforçou o interesse em ampliar sua atuação no Brasil e dar continuidade às parcerias com o Mapa e a Anvisa.
CJ Bio apresenta avanços em biotecnologia e soluções sustentáveis
A delegação visitou ainda a CJ Bio, referência mundial em biotecnologia aplicada à agricultura, nutrição e biomateriais. A empresa apresentou seus laboratórios e plataformas de desenvolvimento de microrganismos, fermentação, purificação e produção de bioinsumos.
Foram demonstradas tecnologias voltadas à produção de inoculantes, pesticidas e bioestimulantes, com foco em soluções de baixo impacto ambiental, redução de emissões e recuperação de solos. A CJ Bio também reforçou o interesse em desenvolver produtos biológicos para soja, milho e outras culturas estratégicas para o Brasil.
Colunistas
Saiba por que fungos e nematoides seguem tirando bilhões do agro
Organismos invisíveis avançam silenciosamente sobre as raízes, derrubam a produtividade e já geram prejuízos acima de R$ 35 bilhões por ano, enquanto a biotecnologia ganha espaço no manejo.

No agronegócio brasileiro, algumas das maiores ameaças à produtividade estão escondidas sob os nossos pés. Fungos e nematoides do solo são organismos microscópicos que, muitas vezes, sem darem sinais aparentes, comprometem as raízes, reduzem a absorção de água e nutrientes e minam o vigor das plantas. Quando os sintomas se tornam visíveis, os prejuízos já estão instalados.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), doenças fúngicas radiculares, como as causadas por Rhizoctonia, Fusarium e Sclerotium, podem permanecer no solo por longos períodos graças às suas estruturas de resistência, dificultando o controle e impactando culturas como soja, milho, feijão e hortaliças.

Artigo escrito por Bruno Arroyo, engenheiro agrônomo, com pós-graduação em Agronegócio.
Entre os inimigos invisíveis do solo, os nematoides ocupam lugar de destaque. Esses vermes microscópicos parasitam as raízes, formando galhas ou causando lesões que reduzem a eficiência do sistema radicular. Os reflexos são diretos: menor absorção de nutrientes, estresse hídrico precoce e queda na produtividade.
Pesquisas da Embrapa apontam que áreas infestadas por Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares) podem ter perdas médias de 21% na soja, o equivalente a 12 sacas por hectare. Além das evidências experimentais, estimativas da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) indicam que os prejuízos anuais no agro superam R$ 35 bilhões, sendo cerca de R$ 16,2 bilhões apenas na soja.
O desafio do manejo
O controle de nematoides e doenças fúngicas é particularmente complexo porque não existe uma solução única. A própria Embrapa recomenda o manejo integrado, combinando práticas, como rotação de culturas com espécies não hospedeiras, para reduzir a população de patógenos no solo; o uso de cultivares resistentes, quando disponíveis; adubação equilibrada e correção do solo, que fortalecem as defesas naturais da planta; e o controle biológico, por meio de microrganismos benéficos (bactérias e fungos), que competem com fungos patogênicos e estimulam o crescimento vegetal. Essas práticas, quando aplicadas em conjunto, aumentam a resiliência do sistema produtivo e reduzem a dependência exclusiva de defensivos químicos.
Biotecnologia como aliada

Foto: SAA SP
A biotecnologia vem se consolidando como parceira estratégica do produtor. O uso de bioinsumos, seja via aplicação direta ou tecnologia On Farm, permite ampliar populações de microrganismos benéficos e fortalecer a saúde do solo.
Já desde 2023, dados da Spark Inteligência Estratégica citados pela Embrapa, indicam que o uso de bionematicidas no Brasil ultrapassou o de nematicidas químicos em importantes culturas. Na soja, os produtos biológicos já representavam cerca de 94% do mercado de nematicidas, enquanto no milho esse índice chegava a 100%, consolidando a liderança dos biológicos no controle de nematoides.
Esse movimento continua se ampliando em outras cadeias produtivas. Levantamento da Kynetec mostra que, em 2024, mesmo com a retração de 18% no mercado de defensivos para cana-de-açúcar, os produtos de matriz biológica já respondiam por 7% do total financeiro do setor, com bionematicidas e bioinseticidas representando 75% desse segmento. Esses números confirmam que a biotecnologia deixou de ser apenas uma alternativa e passou a ocupar papel central nas estratégias de manejo do solo e de controle de nematoides no agronegócio brasileiro.
Quando adotamos práticas integradas e combinamos biotecnologia com as recomendações científicas, damos passos importantes para preservar a produtividade e a sustentabilidade do agro. Em um cenário de custos crescentes de insumos, pressão por sustentabilidade e exigência de maior eficiência, deixar de lado esses inimigos invisíveis também significa renunciar margens que fazem diferença no resultado da safra.
A boa notícia é que hoje temos conhecimento científico e tecnologias biológicas robustas para transformar esse desafio em oportunidade. O futuro do agronegócio passa pela capacidade de unir ciência, inovação e sustentabilidade. Não se trata apenas de controlar patógenos, mas de preservar o potencial produtivo de cada hectare, garantindo alimento de qualidade e competitividade para o Brasil no cenário global.
Notícias 02, 03 e 04 de dezembro
Dia de Campo da C.Vale estreia formato antecipado em dezembro
Mudança busca evitar conflito com a colheita de soja e reforça a participação dos produtores.

Para evitar a coincidência com o início da colheita de soja no Oeste do Paraná, a C.Vale decidiu antecipar seu principal evento técnico. A primeira edição do Dia de Campo no novo formato será realizada nos dias 02, 03 e 04 de dezembro, no Campo Experimental da cooperativa, em Palotina (PR).
A programação inclui lançamentos de máquinas e implementos com condições diferenciadas de compra, além da apresentação de novilhas leiteiras, gado de corte, caprinos e ovinos. O evento também mostrará resultados de trabalhos técnicos conduzidos no local. Entre as novidades estão concurso de receitas, maior interação com o público, ações ampliadas das empresas parceiras e mais áreas de sombra para quem aguarda o deslocamento nos ônibus internos.
A edição realizada em janeiro de 2025 reuniu 12 mil visitantes nas proximidades do complexo agroindustrial da C.Vale.
Antecipação estratégica
A decisão de mudar o calendário para dezembro ocorreu porque o plantio mais cedo das lavouras vinha aproximando o início da colheita da soja do período tradicional do evento, em meados de janeiro. A sobreposição afetava a participação dos produtores, levando a cooperativa a estabelecer, a partir de 2025, a realização do Dia de Campo sempre no último mês do ano.
Raio X – Dia de Campo 2025/26
147 empresas participantes
45 cultivares de soja
58 híbridos de milho
16 cultivares de mandioca
65 parcelas de agroquímicos
17 parcelas de produtos biológicos
63 parcelas de programas nutricionais
17 parcelas com tratamento de sementes
14 parcelas de tecnologia de aplicação
16 espécies forrageiras
9 parcelas de plantas de cobertura de solo
4 instituições de pesquisa
1 instituição de ensino
4 instituições financeiras



