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Glifosato: em jogo a sobrevivência da agricultura do Brasil
O que está em jogo é a sobrevivência econômica da Agricultura e a competitividade dos produtores rurais brasileiros

Artigo escrito por Marcel Micheletto, deputado estadual no Paraná
Nosso relacionamento com os produtores rurais do Paraná, um dos estados que lidera a produção agropecuária brasileira, vem desde quando acompanhávamos meu pai, Moacir Micheletto, que na condição de deputado federal participava de todas as discussões em torno das demandas do homem do campo. Ou seja, há tempos temos defendido as principais pautas do sistema cooperativo e de toda a cadeia produtiva, seja da produção de grãos, seja do setor de carnes. E continuamos atentos ao que preocupa o produtor rural, pois o agronegócio precisa se manter altamente produtivo e bastante competitivo, o que contribui sobremaneira para a balança comercial brasileira, especialmente em momentos de crise econômica como a que vivemos.
Nesse contexto, algo que está preocupando os produtores de soja, milho e algodão, é o debate em torno da proibição no Brasil do glifosato, o principal ingrediente ativo de diversos agrotóxicos usados nas plantações agrícolas.
No caso da soja, que no mês passado foi o maior componente das exportações das commodities brasileiras, com quase 50% do volume de exportações do agronegócio, o Brasil tem condições facilmente de duplicar a sua produtividade devido às condições climáticas serem favoráveis, ideais para o desenvolvimento dessa cultura, que pode ser fundamental para o suprimento alimentar mundial.
Cerca de 50% da área plantada com culturas anuais no Brasil utilizam sistema de plantio direto. E isso somente foi possível pelo desenvolvimento de tecnologia de plantio e manejo e, acima de tudo, ao uso de herbicidas, sendo o glifosato o principal responsável.
Sem entrar no campo técnico, observamos que desde 2008 o Brasil vinha fazendo uma reavaliação toxicológica do glifosato, e o resultado dessa reavaliação do herbicida foi divulgado no último dia 26 de março, através de uma Nota Técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. A conclusão foi de que não foram encontradas evidências de que a substância cause câncer, ou má formação em fetos. Também não foram encontradas evidências de que o produto interfira na produção de hormônios. Portanto, não há critérios para proibição do glifosato no Brasil, apesar da ação nesse sentido movida pelo Ministério Público Federal.
Além da Anvisa, desde 2016 as agências dos Estados Unidos, Suíça, Canadá, França e da Comunidade Europeia também apresentaram estudos semelhantes, de que resíduos de glifosato nos alimentos investigados não representam um risco de câncer, quando o produto é utilizado conforme o rótulo do pesticida.
Nesse cenário, o que está em jogo é a sobrevivência econômica da Agricultura e a competitividade dos produtores rurais brasileiros!
Senão vejamos: um estudo que traça o impacto econômico de um cenário sem glifosato para a agricultura nacional, traz dados assustadores. Para o campo, sem o produto, dois impactos potenciais imediatos chegariam ao agricultor: o custo de produção se elevaria, imediatamente, porque o agricultor teria que aumentar o dispêndio por hectare com herbicidas alternativos; e o agricultor colheria menos por hectare plantado. Ou seja, o produtor rural perceberia imediatamente uma redução da rentabilidade esperada de sua atividade e, consequentemente, haveria retração de área plantada e queda de produção agrícola. Somente na cultura da soja, o cenário sem o glifosato tenderia a acarretar queda de 15,4% na produtividade e redução de 11,8 pontos percentuais de rentabilidade.
Ao longo de uma década, o setor agrícola seria impactado com perdas equivalentes a R$ 221,8 bilhões na produção da soja. Na produção de milho, prevê-se perdas de R$ 184,9 bilhões, com o maior impacto concentrado na safrinha. No algodão, o prejuízo é estimado em R$ 21,4 bilhões. Somando-se os efeitos nessas três culturas, a perda direta chegaria à R$ 428,2 bilhões em 10 anos.
Para a indústria, os impactos não seriam diferentes: prejuízo anual de R$ 4,9 bilhões imediato referente à produção doméstica do produto ao longo de toda a cadeia industrial de produção de glifosato no Brasil. E perda de 36,6 mil empregos ao longo de 10 anos se houver a impossibilidade do uso do produto no Brasil. Por fim, para toda a cadeia, em dez anos, a perda pode chegar a mais de R$ 1,5 trilhão, com eliminação de 2,8 milhões de empregos. Um cenário assustador!
Nessa rápida análise podemos concluir que um cenário sem o glifosato prejudicaria nossas lavouras, e por extensão um dos pilares da economia do Brasil, talvez o único setor produtivo realmente competitivo no País, o agronegócio. E que a competitividade internacional do Brasil ficaria gravemente impactada, já que outros países produtores de commodities continuariam a utilizar o glifosato e a se beneficiar de sua comprovada eficácia.
Logicamente que o Brasil precisa avançar na legislação de defensivos agrícolas para levar ainda mais tecnologia e inovação às lavouras, incorporar ao campo novos produtos, mais eficientes, mais seguros e mais econômicos para o produtor, o que irá baratear o preço do alimento na mesa do consumidor e tornar o País ainda mais competitivo no mercado mundial.
Por outro lado, sabemos que a agricultura sem defensivos é o sonho de todo agricultor, porque o uso de defensivos gera custos. Um cenário onde o ataque de pragas não cause prejuízos seria ideal, porém não existe. E como as pragas continuam a atacar, é preciso que haja uma forma eficiente de manter a produção. Nesse sentido, os defensivos agrícolas são ferramentas imprescindíveis na agricultura para garantir alimento ainda mais seguro e barato na mesa da população.
Para finalizar, é triste ver como os produtores rurais são tratados muitas vezes no Brasil: há quem os culpe de levar quilos de veneno per capta para a mesa; outros os culpam por degradar o meio ambiente; também, por supostamente fazerem analogia à escravidão, de maltratar os animais, etc. Bem diferente é a realidade que vimos no campo, onde há muita pesquisa, inovação e pesados investimentos em tecnologia de ponta para garantir nosso alimento à mesa!
Se existem algumas coisas a serem corrigidas, também já passou a hora de os produtores rurais serem devidamente valorizados, pois se eles parassem de plantar ou de vender as suas produções, por uma safra apenas, isso provocaria um verdadeiro caos no País. Por isso, precisamos ter uma visão mais apurada do que está acontecendo no meio do agro, e que sejam impedidas ações que coloquem em risco a produção do Paraná e do Brasil!

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



