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Bovinos / Grãos / Máquinas Para pesquisador da Embrapa

Gestão é caminho para dobrar produção de carne no Brasil

Para pesquisador Armindo Kichel, intensificar os sistemas produtivos e profissionalizar as fazendas são fundamentais para quem quer continuar na atividade pecuária nos próximos anos

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Arquivo/OP Rural

A produção nacional de carne bovina é uma das mais importantes do planeta. De acordo com o USDA, departamento dos Estados Unidos similar ao Ministério da Agricultura no Brasil, em 2019 os pecuaristas brasileiros devem produzir cerca de 10,2 milhões de toneladas, mantendo o posto de segundo maior produtor do mundo, atrás apenas norte-americanos, que devem chegar, neste ano, a cerca de 12,7 milhões de toneladas. O detalhe é que enquanto o Brasil tem mais de 230 milhões de cabeças de gado, os estadunidenses mantêm cerca de 95 milhões. Mesmo com o dobro de animais – o número engloba também o gado leiteiro -, o Brasil ainda produz menos. A diferença é o que pode se chamar de eficiência – ou deficiência – produtiva.

 No Brasil, a produtividade de arrobas por hectare, índice mais confiável para saber se a pecuária de corte está sendo bem conduzida, varia de região, até de fazenda para fazenda vizinha, mas de modo geral é inferior a outros países produtores, como Argentina e Estados Unidos. De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, doutor em Agronomia, Armindo Neivo Kichel, a média fica em torno de 5 arrobas por hectare ao ano (5@/ha/ano), índice que, em sua opinião, poderia ser bem maior se o produtor intensificasse a produção. De acordo com ele, o país poderia, em pouco tempo, dobrar a produção de carne ao mesmo tempo em que diminuiria a área utilizada para a atividade. De acordo com ele, as palavras de ordem são intensificação e gestão.

Intensificação

Os ganhos com a intensificação, de acordo com o pesquisador, acontecem em duas frentes: por animal e por área. “Temos grandes oportunidades para os pecuaristas, mas também temos ameaças. Hoje é possível dobrarmos a produção de carne bovina com muita facilidade”, disparou em palestra que fez a produtores durante o Show Rural Coopavel, que aconteceu no início de fevereiro, em Cascavel, PR. “A grande saída do produtor é ele intensificar, quer dizer, ter mais ganho por animal e mais ganho por área. Com o animal é preciso aproveitar o potencial genético que temos, ganhando mais peso por dia, por mês, por ano”, aponta. “O produtor sai de 3, 4 arrobas para 5, 6, 7, até 8 arrobas em um animal de recria por ano”, garante o pesquisador, que também é pecuarista em Mato Grosso do Sul.

Ainda em relação ao animal, outro detalhe é a precocidade, cada vez mais exigida pelo mercado. “É preciso ter uma carne mais precoce. Faz parte da intensificação. Se eu tenho uma fazenda que abate com quatro anos e baixar para três anos eu já estou intensificando. Tudo depende do nível de intensificação, da região, do clima, do potencial da fazenda, entre outros fatores. Depende também do nicho de mercado, mas hoje é possível abater com 12, 18, 24, 30 meses. Eu diria que atualmente, uma pecuária sem restrição alimentar, com forragem de boa qualidade e gado suplementado, é possível abater fêmeas com 18 e machos com 24, mas muitas vezes observamos o abate entre 18 a 32 meses, mas tem que ser com qualidade de carne, visando exportação. Nosso caminho é melhorar a nossa qualidade”, sustenta.

A lotação, na opinião de Kichel, é um índice que precisa ser bastante melhorado no Brasil. De acordo com ele, as fazendas brasileiras possuem, de maneira geral, baixa lotação, muitas vezes por conta das pastagens degradadas e falta de profissionalismo no setor. Primeiro a gente ganha por animal, com mais peso e tendo uma carne mais precoce. Depois a gente ganha aumentando o número de animais por área. Então vou ter um ganho por animal e também por área. Intensificando o produtor pode sair de uma lotação de meio animal para 2, 3, até 8 animais por hectare, dependendo do sistema intensivo que ele vai usar”, argumenta, destacando que na pecuária de corte não existe uma fórmula que se aplique a duas fazendas. “Não existe pacote tecnológico na pecuária de corte. Cada propriedade vai se ajustar a um determinado nível tecnológico. Tem para todos os níveis tecnológicos”, argumenta.

Para ele, ganhar em peso por animal e em animal por área é a chave do sucesso para a pecuária do futuro. “Esse é o potencial da pecuária de corte do Brasil. Queremos ganhar mais por animal para ter mercado interno e externo e aumentar a produção por área”, sustenta.

“Estamos em busca de uma pecuária precoce, com carne de qualidade. Com a intensificação podemos liberar espaço da pecuária para outras atividades, como a produção de grãos, de florestas, de bicombustíveis. O Brasil pode dobrar a produção de carne bovina e aumentar em 40% a produção atual de grãos praticamente sem abrir novas áreas, usando apenas as pastagens degradadas, as áreas que já estão abertas, intensificando a bovinocultura”, menciona o pesquisador da Embrapa.

Gestão profissional

Para Kichel, a intensificação planejada somente vai acontecer se o produtor de carne do Brasil se profissionalizar. “A pecuária também precisa ser profissional como as lavouras são. A lavoura não profissional tem poucos anos de vida e o produtor acaba saindo do sistema. Se o produtor quiser ficar na atividade tem que ser mais pecuarista e menos proprietário. Precisamos que o proprietário se transforme em pecuarista, que entenda do sistema, que se associe. Hoje não intensifica quem não quer, porque acesso à informação, à tecnologia, assistência técnica o produtor á tem. Não intensifica quem não quer ganhar dinheiro”, argumenta.

A falta de uma gestão eficiente da fazenda, de acordo com o doutor Kichel, é o principal limitante para a intensificação do sistema produtivo de carne bovina. “A intensificação passa primeiramente pela gestão da propriedade. É preciso ter planejamento, capacitação da equipe, controle, fazer as contas de custos, ver gargalos, observar ameaças e oportunidades”, aponta.

De acordo com ele, é preciso lançar mão de tecnologias, que estão acessíveis ao produtor. “Para intensificar a pecuária nós temos forrageiras de qualidade, não falta genética, não falta nutrição, não falta sanidade, não falta suplementação alimentar, não falta semiconfinamento nem confinamento. Não está faltando nada para dobrarmos a produção. O que nos falta é tradicionalismo. Ainda temos pessoas que não conhecem o que precisam conhecer para fazer isso (produzir carne)”, sugere o especialista.

Ainda conforme o estudioso, é importante o pecuarista se atentar à escala para que o retorno sobre o investimento seja certo. “Um detalhe importante na intensificação é a escala. Se eu vou investir em tecnologia, adquirir infraestrutura, tenho que ter escala de produção para cobrir o investimento nessa estrutura. A escala é muito importante”, pontua. “Sabemos que dois bons funcionários conseguem recriar e engordar, dependendo da topografia, dois mil animais. Então, se eu tenho dois mil, consigo diluir os custos. Se tenho mil animais, vou diluir os custos desses dois funcionários pelos mil”, exemplifica.

O confinamento, de acordo com Kichel, precisa ser curto, pois esse modelo torna o custo de produção mais alto. “O confinamento tem que ser curto, de 40 a 90 dias, só para botar aquelas três arrobas faltantes. Não pode se empolgar ter um confinamento muito longo porque o custo é alto. As vezes o que o animal ganha no confinamento vai empatar ou dar um pequeno prejuízo (pelo custo confinado)”, diz. “Cada produtor vai escolher o sistema mais indicado”, sugere.

Mudanças em curso

Apesar do alerta dado pelo pesquisador, ele acredita que o Brasil está buscando cada vez mais a intensificação e que novos modelos de negócios, mais profissionais e eficientes, estão aparecendo nas regiões produtoras. “A pecuária brasileira vem mudando muito. Aos poucos a gente consegue observar que está tendo mais profissionalismo. As empresas investem e querem lucro, fazem as contas”, explica.

Em sua visão, uma das alternativas mais viáveis para ampliar os índices de eficiência na pecuária de corte e na produção de grãos é a integração entre lavoura e pecuária (ILP). “Hoje temos uma revolução que é a integração lavoura pecuária. A pecuária vai potencializar muito a área agrícola. Quem planta em cima de lavoura pecuária (palhada) vai colher melhor porque (a planta) sofre menos com o estresse hídrico. A produção chega a ser de cinco a 15 sacas (de soja) a mais quando por hectare quando se usa a ILP”, aponta o pesquisador. “Esses sistemas estão potencializando a pecuária de corte e leite”, amplia.

Para o produtor e pesquisador da Embrapa, além de intensificar, o produtor tem a oportunidade de diversificar sua propriedade para se manter competitivo no agronegócio. “Quem tem baixa produtividade e baixa eficiência, vai ter baixa lucratividade e vai apenas ficar na sobrevivência. Se o produtor quer ser rentável tem que partir para a intensificação, usando pecuária com lavoura, ou com suínos e aves, pecuária silvipastoril. Ele tem que buscar, dentro da propriedade, uma atividade para potencializar a outra”, assinala Armindo Kichel.

Mercado futuro

Para o pesquisador e também pecuarista, os preços baixos estão apertando as margens de lucro do produtor de carne bovina, mas esse cenário tende a melhorar a partir desse ano. Ele acredita, no entanto, que 2019 mostra um cenário para se preparar para 2020, ano em que sua opinião o pecuarista vai ganhar mais com a atividade. “Hoje estamos vendendo animais com o preço da arroba que vendíamos a quatro anos atrás, com um custo 30% maior. Aumentou os custos em todos os setores, dólar, insumos, mão de obra. Mas a gente tem uma tendência de recuperação. Espero bons preços para 2020. Temos que nos preparar agora em 2019, nos estruturar, para ganhar mais dinheiro em 2020”, sugestiona o especialista.

Outras notícias você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de março/abril de 2019 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Bovinos / Grãos / Máquinas Saúde Animal

Tripanossomose x Tristeza Parasitária bovina

Diagnóstico diferencial entre as doenças é indispensável para implementação do tratamento adequado no rebanho

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Foto e texto: Assessoria

As hemoparasitoses representam um desafio significativo para a pecuária bovina em todo o mundo, afetando a saúde do rebanho e causando prejuízos econômicos consideráveis.

Entre as enfermidades causadas por hemoparasitas, a tripanossomose e a tristeza parasitária bovina se destacam. Os agentes causadores dessas enfermidades são distintos. A tristeza parasitária bovina, é classicamente causada por protozoários intracelulares do gênero Babesia (B. bigemina e Babesia bovis) e por bactérias do gênero Anaplasma (A. marginale, é a mais importante em nosso meio, também intracelular). Já a tripanossomose bovina tem como agente, o protozoário extracelular Trypanosoma vivax.

“A tripanossomose tem se mostrado um obstáculo crescente no rebanho bovino brasileiro, com casos relatados tanto no gado leiteiro, como no de corte. Com os sintomas pouco específicos, a doença pode passar despercebida pelos pecuaristas e ser responsável por inúmeros prejuízos. Além da forma aguda (clínica), em que os sinais de doença são evidentes, a tripanossomose também pode se apresentar de forma subclínica e até mesmo crônica”, explica Rafael Queiroz, médico veterinário gerente de produtos da Linha Leite da Ceva Saúde Animal.

Os sintomas da manifestação clínica são mais intensos e podem evoluir para o óbito do animal, sendo um alerta importante a redução do apetite sem motivo aparente e rápida perda de peso, febre intermitente, depressão, anemia intensa, salivação excessiva, diminuição na produção leiteira, aumento dos linfonodos (“ínguas”), incoordenação motora, diarreia, aumento das frequências cardíaca e respiratória, cegueira e dificuldade respiratória.

Quando a tripanossomose se apresenta na forma subclínica, os sintomas são pouco específicos, porém geram um grande impacto na produtividade da fazenda, como o atraso no desenvolvimento corporal, redução nos índices reprodutivos (anestro, reabsorção embrionária precoce, queda na produção leiteira, aumento da ocorrência de outras enfermidades (comorbidades) até então controladas.

Na Tristeza parasitária, os sinais clínicos são muito semelhantes aos da tripanosomose bovina, sendo o diagnóstico diferencial fundamental para a introdução do tratamento e de programas de controle.

Assim, a nível de campo, o diagnóstico diferencial entre as doenças é um desafio, pois ambas compartilham características que as tornam difíceis de distinguir apenas com base nos sinais clínicos. Ainda é importante no estabelecimento do diagnóstico uma avaliação epidemiológica realizada pelo médico veterinário, onde o mesmo fará um estudo das condições que irão favorecer a cada uma das doenças como: presença de vetores (transmissores) específicos, emprego de material compartilhado em aplicações injetáveis, histórico de entrada recente de animais no rebanho ou proximidade de outras propriedades com grande rotatividade de animais, presença de reservatórios silvestres ou domésticos que possam albergar os parasitas, dentre outros fatores. Também é importante mencionar que os animais podem estar expostos a mais de um desses hemoparasitos, agravando ainda mais a situação.  “Em muitas regiões, as áreas de endemia para essas doenças se sobrepõem, o que significa que os produtores podem lidar com ambas as enfermidades ao mesmo tempo. Isso contribui para a demora no reconhecimento do desafio presente no rebanho e aumenta substancialmente os impactos produtivos”, detalha Rafael

Apesar das similaridades existentes é importante esclarecer que as formas de contaminação mais comuns e o tratamento destes patógenos podem ser diferentes.

No caso da tripanossomose, as principais fontes de transmissão incluem, principalmente, e a reutilização de materiais que possam entrar em contato com o sangue de animais portadores e posteriormente utilizados em outros animais, como agulhas para aplicação de medicamentos ou vacinas, bisturis, canivetes, luvas de palpação retal e, picada de moscas hematófagas (mutucas, moscas dos estábulos e moscas dos chifres). Também pode haver a transmissão transplacentária, culminando com perdas de gestação ou nascimento de crias fracas que morrem logo a seguir.

Já no caso de contaminação por Babesia spp. e Anaplasma marginale, o carrapato é o principal agente transmissor. Entretanto o uso de materiais compartilhados sem os devidos cuidados além da presença de moscas hematófagas também pode ser importante. Ambas também podem ser transmitidas de forma transplacentária, e esse fator deve ser levado em conta durante a implementação de programas de controle dessas enfermidades.

“Embora ambas afetem os glóbulos vermelhos dos bovinos e compartilhem sintomas semelhantes, o tratamento e manejo dessas doenças são distintos. Portanto, a identificação correta do agente etiológico é fundamental para um diagnóstico preciso e para garantir um tratamento eficaz e reduzir os impactos negativos na saúde e na produção dos bovinos”, esclarece Rafael.

A utilização de exames laboratoriais é imprescindível para confirmar o tipo de microrganismo responsável pela sintomatologia apresentada pelo rebanho. Para o diagnóstico da tripanossomose podem ser empregados métodos sorológicos (RIFI ou Reação de Imunofluorescência Incompleta; ELISA; Imunocromatografia também denominado Teste Rápido). Há também métodos moleculares (PCR). O diagnóstico direto através da detecção e identificação dos parasitos em amostras sanguíneas são os de “padrão ouro”. Entretanto nos casos da tripanosomose (esfregaços sanguíneos corados, Teste do Microhematócrito o de Woo, análise de gota espessa, por exemplo) podem levar a erros quando os parasitos não são visualizados uma vez que estes testes diretos possuem baixa sensibilidade (capacidade de detectar animais parasitados), pois  necessitam de um número enorme de parasitos circulantes no momento da coleta das amostras. Este momento tem uma janela curta após a infecção.

O diagnóstico diferencial preciso entre a tristeza parasitária e a tripanossomose é indispensável por várias razões. Cada doença requer um tratamento específico, e o tratamento incorreto pode não ser eficaz, e as medidas de controle não serem aplicadas convenientemente. A demora na identificação e, consequentemente na adoção do tratamento adequado pode resultar em perdas econômicas significativas para produtores, incluindo a perda de animais, diminuição da produtividade e custos adicionais com tratamentos desnecessários.

Fonte: Assessoria Ceva
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Bovinos / Grãos / Máquinas

Cultivar de trigo tropical da Embrapa tem rendimento 12% superior em anos secos

Para avaliar a tolerância do trigo à restrição hídrica, pesquisadores da Embrapa Trigo (RS) reuniram dados de desempenho das cultivares de trigo de sequeiro no Brasil Central nos últimos cinco anos

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Lavoura de trigo BRS 404 em Planaltina (DF) - Foto: Jorge Chagas

Um estudo para avaliar a tolerância do trigo ao déficit hídrico mostrou que cultivar BRS 404 pode representar até sete sacos a mais nos anos de pouca chuva no Brasil Central. A pesquisa avaliou o rendimento de trigo tropical das principais cultivares de sequeiro disponíveis no mercado no período 2019-2023.

Para avaliar a tolerância do trigo à restrição hídrica, pesquisadores da Embrapa Trigo (RS) reuniram dados de desempenho das cultivares de trigo de sequeiro no Brasil Central nos últimos cinco anos. Em média, os rendimentos da cultivar BRS 404 foram 12,4% superiores quando comparados às demais cultivares em uso na região, o que pode representar até sete sacos a mais por hectare. A variação ficou entre 5% e 23% superior, considerando que a brusone foi limitação somente em 2019, enquanto nos demais anos o déficit hídrico foi o fator limitante. Nesses cinco anos, os ensaios variaram em função dos locais e com a inserção de novas cultivares que chegaram ao mercado durante o período. Veja na tabela abaixo:

Em 2022, em São Gonçalo do Sapucaí (MG), com apenas 97 mm de chuva da semeadura à colheita, o rendimento de grãos da BRS 404 foi 15,5% superior na comparação com outras sete cultivares. O pesquisador Vanoli Fronza explica que esse desempenho superior da cultivar ocorreu devido ao seu grande potencial de enchimento de grãos, mesmo em condições adversas, como seca e temperaturas mais elevadas. “Para explorar melhor os benefícios da BRS 404, a cultivar deve ser semeada no fechamento do plantio, quando reduz os riscos com brusone e pode se destacar em caso de limitação hídrica”, declara o cientista.

A região tropical conta com mais de 10 cultivares com sementes disponíveis no mercado para cultivo de trigo de sequeiro. No ensaio de cultivares da Coopa-DF de 2023, o destaque de produtividade foi para a cultivar BRS 404, que atingiu 71,9 sacos por hectare (sc/ha) com peso do hectolitro (PH) de 84, superando a segunda colocada que apresentou 68,5 sc/ha e PH 81. Entretanto, o diferencial das cultivares de trigo de sequeiro é ainda mais importante em anos de seca, quando a média de rendimentos não tem ultrapassado 40 sc/ha na região.

Avanço do trigo tropical

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) orienta para o cultivo do trigo em seis estados da região tropical: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia e São Paulo, mais o Distrito Federal. No período de 2018 a 2023, a área com trigo no Brasil Central cresceu 110,7%, enquanto a produção aumentou em 131,5%. Apesar do crescimento da cultura, as produtividades oscilaram bastante ao longo dos anos (veja o gráfico).

A explicação está na variabilidade das condições ambientais, especialmente relacionadas com a disponibilidade hídrica e excesso de calor. “A maioria das áreas indicadas para o cultivo do trigo no Cerrado estão em altitudes acima de 700 metros, onde as temperaturas costumam ser menores à noite. Já nas áreas de menor altitude, em geral, predominam solos mais arenosos, que possuem menor capacidade de armazenar água”, explica o agrometeorologista Gilberto Cunha. Segundo ele, o excesso de chuva explica a queda no rendimento em 2019, uma vez que o ambiente favoreceu epidemia de brusone, doença fúngica favorecida pela umidade e temperaturas elevadas. Por outro lado, a queda nos rendimentos, nas safras 2021 e 2022, foi causada pela redução nas chuvas e o aumento do calor, com temperaturas mínimas acima da média na região. “No Cerrado, não há relação direta entre calor e incidência de chuvas, já que existe um regime hídrico bem definido, como a época das águas – de outubro a março – e a seca no restante do ano. Contudo, o aumento das temperaturas mínimas favorece a maior evapotranspiração das plantas, que tendem a sofrer pelo déficit hídrico na falta de chuvas regulares”, detalha Cunha.

Resposta às mudanças climáticas

Estudos sobre mudanças climáticas indicam agravamento dos problemas relacionados com irregularidades na distribuição das chuvas e o aumento de estresse hídrico durante o ciclo das culturas, principalmente nas regiões do centro, norte e nordeste do País. Nesse cenário, um dos desafios para a expansão da triticultura tropical é o desenvolvimento de plantas com tolerância à restrição hídrica, que sejam capazes de fazer uso mais eficiente da água e que tenham melhor tolerância ao calor. Por ser um problema complexo, envolvendo interações solo-água-planta-ambiente, a seleção de plantas tolerantes à restrição hídrica é um constante desafio para os programas de melhoramento genético.

O desafio da seca é maior no trigo cultivado em sistema de sequeiro, ou trigo safrinha, que representa cerca de 80% da área de cultivo com trigo tropical. De acordo com o pesquisador Joaquim Soares Sobrinho, a região do Cerrado sofre frequentemente com veranicos, trazendo ondas de calor e seca que afetam o trigo em épocas críticas do desenvolvimento da planta, como no perfilhamento e no enchimento de grãos: “O maior impacto é verificado quando falta água no enchimento de grãos, resultando na diminuição do seu peso”, conta Soares.

Além do rendimento, em anos de estresse hídrico a qualidade do trigo também é impactada. “Em anos secos, especialmente nos cutivos de sequeiro, os grãos de trigo ficam enrugados, contendo maior teor de proteína do que em condições hídricas normais. A alteração na composição de proteínas pode resultar em farinhas de maior qualidade e melhor desempenho para produção de pães. Por outro lado, seca e altas temperaturas no momento do enchimento de grãos diminuem o teor de amido nos grãos de trigo”, avalia a pesquisadora Martha Miranda.

O ano de 2023 foi considerado um dos melhores para o trigo tropical. No cultivo de sequeiro, os rendimentos foram cerca de 50% superiores à média do ano anterior. “Além da boa disponibilidade hídrica, a distribuição das chuvas e as temperaturas mínimas mais amenas resultaram no alongamento do ciclo das cultivares, permitindo que a planta aproveitasse melhor os recursos disponíveis no ambiente e convertesse em rendimento de grãos”, relata Soares.

Evolução do melhoramento genético

Os trabalhos com a tropicalização do trigo tiveram início ainda na década de 1920 e foram intensificados nos anos 1980, confirmando a viabilidade dos primeiros cultivos em Minas Gerais e em Goiás. No cultivo de trigo tropical foram definidos pela pesquisa dois sistemas de produção: irrigado e sequeiro. Um esforço conjunto entre produtores, instituições de pesquisa, assistência técnica e poder público resultou em estudos sobre rotação de culturas, épocas de plantio, população de plantas, adubação, manejo integrado de pragas e doenças, viabilidade socioeconômica, entre outros. A aproximação com a indústria permitiu também avançar na qualidade do trigo tropical, atendendo as diferentes demandas do mercado consumidor.

Um marco para a triticultura tropical foi a cultivar BR 18 Terena, lançada pela Embrapa em 1986, que até hoje é utilizada nos programas de melhoramento genético devido à grande capacidade de adaptação, especialmente no cultivo de trigo de sequeiro no Brasil Central. A Embrapa seguiu o caminho na oferta de cultivares de trigo para o ambiente tropical junto com outras instituições pioneiras como Epamig, IAC e Coodetec.

A restrição hídrica ainda é fator limitante para a expansão do trigo na região tropical, mas a pesquisa intensificou os estudos para vencer a seca e o calor, mostrando bons resultados no melhoramento genético. Muitas cultivares chegaram ao mercado nos últimos cinco anos, desenvolvidas principalmente por obtentores privados. “Hoje estão disponíveis ao produtor 33 cultivares de trigo tropical, tanto para o sistema irrigado como para sequeiro, com genética que garantiu aumento de área e produtividade em grãos com qualidade comparada aos melhores trigos do mundo”, conta o pesquisador Ricardo Lima de Castro. Veja abaixo como foi a evolução da oferta cultivares nas últimas quatro décadas:

Para o futuro, os pesquisadores informam que novas estratégias para a seleção de genes, tanto em cruzamento tradicional de plantas de trigo como com plantas transgênicas ou edição gênica, deverão trazer respostas ainda melhores na resiliência do trigo às mudanças climáticas.

Fonte: Assessoria Embrapa Trigo
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Otimismo marca abertura oficial da colheita da soja no Rio Grande do Sul

Evento foi realizado no município de Tupanciretã

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Safra deve resultar em 22,2 milhões de toneladas de soja - Foto: Julia Chagas/Ascom Seapi

Expectativa de uma safra de soja recorde, com incremento de 71%, em relação ao ano passado. É com esse otimismo que a Colheita da Soja no Rio Grande do Sul foi oficialmente aberta na segunda-feira (25), no município de Tupanciretã. O secretário adjunto da pasta da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Márcio Madalena, representou o governo do Estado no ato que reuniu produtores rurais, autoridades, entidades e empresas privadas na Agropecuária Richter.

Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) apontam uma área plantada de cerca de 6,6 milhões de hectares em 426 municípios do Estado. A expectativa é de uma safra que deve resultar em 22,2 milhões de toneladas de soja.

“A frustração das safras nos últimos anos trouxe prejuízos para o município e a região, mas acreditamos que esta deve ser de grande recuperação, com produtividade recorde. Isso reposicionará o Rio Grande do Sul no cenário nacional”, ressaltou o secretário adjunto.

Madalena também citou uma das pautas prioritárias da secretaria, que é a irrigação, e tratou do programa do governo do Estado que vai subsidiar em até R$ 100 mil os projetos de irrigação dos produtores rurais. “A reservação de água e a irrigação devem ser assuntos permanentes, e o governo estadual tem essa discussão como prioridade para que o nosso agronegócio não venha a sofrer no futuro o que já aconteceu em épocas de estiagem”, afirmou.

Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Rio Grande do Sul deve ficar em segundo lugar no ranking de produtividade, atrás apenas do Mato Grosso.

O prefeito de Tupanciretã, Gustavo Herter Terra, destacou que o município sempre liderou o ranking de maior produtor, mas que, no ano passado, em razão da estiagem, a produtividade foi menor. Para 2024, a expectativa é de que a cidade volte a ocupar o primeiro lugar. “Aqui no município produzimos soja em cerca de 150 mil hectares, com produção de 9 milhões de sacas por ano”, contabilizou.

Fonte: Assessoria Seapi
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