Suínos
Genômica permite até dobrar a produção em apenas uma geração
A produção e comercialização de peixes geneticamente editados variam de região para região no mundo, com cada país adotando suas próprias regulamentações e políticas em relação a esses organismos modificados.
A crescente exploração da tecnologia de edição genômica, como a CRISPR, está abrindo novas perspectivas na piscicultura brasileira. Os peixes pelas características da fisiologia reprodutiva são candidatos ideais para a aplicação dessas técnicas inovadoras. A prolificidade inerente aos peixes é um dos fatores que facilitam o uso desta tecnologia. Com a capacidade de liberar milhares de ovos em cada desova, os peixes oferecem uma ampla gama de oportunidades para experimentação genética.
A fertilização externa, com protocolos já estabelecidos ao longo do tempo, simplifica ainda mais o uso desta tecnologia. “A domesticação de cada espécie levou ao desenvolvimento de protocolos de reprodução, eliminando a necessidade de adaptação para aplicar a edição genômica. As principais espécies já têm a reprodução dominada pela fertilização externa. Os reagentes da CRISPR têm que ser injetados nos oócitos e sêmen coletados quando o ovo ainda está na fase unicelular para fazer a ruptura do DNA. Após esse processo todas as células daquele embrião vão manter a mesma mutação”, explicou a médica-veterinária, mestre em Reprodução Animal, PhD em Biologia Celular e pesquisadora da Embrapa Pesca e Aquicultura, Fernanda Loureiro de Almeida O’Sullivan, durante o Inovameat, um dos principais eventos de proteína animal do Paraná, realizado no início de abril, em Toledo, na região Oeste.
O tamanho dos ovos é outro aspecto que favorece a manipulação genômica em peixes. Com ovos visíveis a olho nu em muitas espécies, não são necessários equipamentos sofisticados para a injeção dos reagentes da CRISPR. Além disso, o desenvolvimento embrionário e larval ocorre fora do corpo da mãe, eliminando a necessidade de receptoras, como nos mamíferos. “A injeção dos componentes genéticos seguida pela incubação dos ovos aproveita protocolos já estabelecidos na piscicultura”, salienta a pesquisadora.
Outro aspecto que ajuda bastante, principalmente na geração das linhagens, é o ciclo de vida curto, que faz com que o intervalo entre gerações seja muito menor, acelerando a fixação do fenótipo das linhagens geradas. “Tem sido muito utilizada a edição genômica em peixes principalmente por estas características, lembrando que nós temos quase 500 espécies de peixes em cultivo produzidas comercialmente e, para cada uma temos que fazer um estudo específico”, ressalta.
De acordo com a médica-veterinária, os principais países impulsionadores da edição genômica na piscicultura são a China e o Chile, sendo que o país asiático está na vanguarda do desenvolvimento desta tecnologia. “No Brasil, pesquisas de edição genômica são realizadas apenas em espécies de relevância econômica, com muitos trabalhos sendo desenvolvidos com a tilápia”, aponta a especialista.
Os fenótipos mais abordados nos estudos incluem reprodução, pigmentação, desenvolvimento muscular, resistência a doenças, toxinas e infecções virais, resposta imune, biomarcadores (como GFP) e metabolismo de ômega 3.
Exemplos de edição genômica na aquicultura
A PhD em Biologia Celular expõe que um dos avanços mais expressivos na edição genômica animal é explicado pela raça bovina Belgian Blue, conhecida por seu fenótipo de musculatura dupla. “O estudo do genoma dessa raça revelou a ausência de um gene que codifica a proteína miostatina, responsável por regular o crescimento muscular estriado. Quando ausente, resulta em uma regulação reduzida, permitindo um crescimento muscular contínuo e exponencial”, aponta a palestrante.
Essa descoberta tem sido aplicada em diversas espécies de peixes, com resultados promissores para o knockout da miostatina na carpa comum, bagre do canal, linguado oliva (coreano), dourada, dourada de Wuchang, bagre amarelo e tilápia do Nilo. “Na carpa comum foram observadas um aumento significativo de 49% na hiperplasia muscular. Esse aumento é evidente desde a fase juvenil, com peixes editados exibindo uma massa muscular consideravelmente maior em comparação com os peixes não editados da mesma idade e desova”, avalia Fernanda.
Em outros casos, como na dourada de Wuchang, a pesquisadora conta que o knockout da miostatina resultou em um aumento de 11% na densidade muscular, enquanto no bagre amarelo, os peixes editados chegaram entre 1.3 a 1.4 vezes mais peso do que os não editados, principalmente devido ao aumento no número de fibras musculares. E a tilápia editada para o knockout da miostatina por CRISPR/Cas9 apresentou quase o dobro do ganho de peso de uma tilápia não editada. “Todos os peixes de corte que passaram pela edição genômica estão explorando a edição da proteína miostatina, e isso é essencial”, destaca a pesquisadora. “Ao considerar uma produção mais eficiente e uma maior produtividade por hectare de lâmina de água, a edição da miostatina desempenha um papel essencial nesse avanço”, ressalta.
Coloração
Outro avanço da indústria da aquicultura é a manipulação genômica da coloração em diversas espécies, incluindo a carpa prussiana branca, a botia, o salmão do Atlântico e a tilápia vermelha, esta altamente valorizada na Malásia. “Esta variedade de tilápia alcançou uma eficiência de 98.9% na edição genômica”, expôs Fernanda, complementando: “Estratégias avançadas como a coinjeção de genes relacionados ao albinismo e à miostatina estão sendo exploradas em espécies como o tambaqui, que já aos sete dias de vida se observa a manifestação inicial da pigmentação, sinalizando a possibilidade de supressão da miostatina”.
Fernanda relata que na parte de reprodução, a esterilidade já foi trabalhada com a edição genômica na tilápia do Nilo, no bagre do canal e no salmão do Atlântico. E adiantou que está em andamento um projeto para estudo no tambaqui, principal espécie nativa brasileira, uma vez que as espinhas intermusculares representam cerca de 20% de perdas no processo de beneficiamento da espécie. “É um fenótipo interessante para se estudar e tentar aplicar na principal espécie nativa brasileira para a remoção das espinhas intermusculares”, menciona.
A mestre em Reprodução Animal conta que uma pesquisadora chinesa realizou modificações genéticas na carpa prussiana, na carpa crussiana e na dourada de Wuchang, todas pertencentes à família dos ciprinídeos, interrompendo na terceira geração o desenvolvimento das espinhas em forma de Y desses peixes. “A tecnologia CRISPR é uma técnica altamente eficiente e o ciclo de vida desses peixes é curto acelera ainda mais o processo de obtenção de linhagens com fenótipo definitivo, uma vez que essas mutações são herdáveis. Quando um peixe mutado produz espermatogônias e óvulos, essas características são transmitidas para a prole, facilitando assim o estabelecimento das linhagens de peixes”, aponta.
Fernanda diz ainda que uma outra aplicação da edição genômica pode ser feita em linhagens celulares in vitro. “As células-tronco de uma espécie são coletadas para realizar a mutação nas células, seguida pelo transplante. O genoma de um oócito ou embrião em estágio unicelular é ‘desativado’ e um núcleo é transplantado para uma placa que contenha várias células, realizando assim a edição genômica. São numerosas as aplicações que podemos explorar com a tecnologia CRISPR/Cas9”, enfatiza a pesquisadora.
Da edição genômica à mesa
A produção e comercialização de peixes geneticamente editados variam de região para região no mundo, com cada país adotando suas próprias regulamentações e políticas em relação a esses organismos modificados. “O Brasil se destaca como um país avançado nesse campo, com uma estrutura consolidada para lidar com organismos geneticamente modificados e transgênicos. Enquanto isso, a Europa tende a ser mais cautelosa e restritiva em relação a essas tecnologias, resultando em diferentes regulamentações e legalizações de acordo com o país”, compara Fernanda.
Em alguns países europeus, a pesquisadora menciona que a edição genômica pode ser usada apenas para fins de pesquisa, não sendo permitida para cultivo comercial.
Atualmente, apenas duas espécies de peixes geneticamente modificados estão disponíveis no mercado para o consumidor final, ambas produzidas e regulamentadas no Japão: o fugu (similar ao baiacu) e o pargo vermelho japonês (Madai 22).
Vantagens
A edição genômica na aquicultura oferece diversas vantagens, destacando-se pela sua aplicação fácil, de baixo custo e oferece uma abordagem sustentável (redução de ração, esterilidade, diminuição de resíduos e manutenção da sanidade). “A técnica CRISPR/Cas9 representa uma revolução na edição genômica devido à sua alta eficiência. Além de cortar precisamente a dupla fita de DNA, sua precisão é excepcionalmente alta, ao contrário de técnicas mais antigas que ocasionalmente resultavam em cortes incorretos. Agora, com a CRISPR/Cas9, ao desenhar uma guia, é possível realizar cortes exatos no local desejado do genoma, permitindo a criação de fenótipos específicos. Uma das maiores vantagens dessa técnica é a sua velocidade, pois pode dobrar a produção em apenas uma geração, representando um avanço considerável e não apenas um efeito cumulativo”, destaca Fernanda.
Desafios
Fernanda relata que ainda existe muita confusão entre o paralelismo do melhoramento genético e a seleção genômica. Ela enfatiza que não é possível realizar edição genômica em material genético que já foi selecionado, pois este já possui características de produção superiores. “É essencial compreender que ambas as modalidades de aprimoramento e aumento da produção devem progredir de forma simultânea. É importante ressaltar que trabalhamos com genes únicos; portanto, quando se deseja um efeito fenotípico que envolve múltiplos genes ou é somático e aditivo, é necessária a aplicação do melhoramento genético. Assim, é fundamental alinhar essas duas tecnologias. No entanto, ainda persiste a falta de compreensão por parte de muitas empresas e pesquisadores em relação à convergência dessas duas abordagens”, pontua.
A pesquisadora também aponta uma série de desafios, incluindo segurança biológica, contaminação e competição com estoques naturais, bem-estar animal, regulamentação, registro e legalização de linhagens como gargalos do setor. “No Brasil essas questões já estão estabelecidas por meio de leis existentes, além da necessidade de aceitação pelo mercado consumidor, que ainda possui pouco conhecimento sobre essa técnica e suas potenciais vantagens. É de suma importância proporcionar maior acesso à informação sobre edição genômica à população”, salienta.
Trabalhos em andamento
Em 2023, foi criado o Núcleo de Edição Genômica para Peixes de Aquicultura (CNPASA) e em 2024 a Embrapa realizou a produção dos primeiros tambaquis geneticamente modificados.
Atualmente, o centro de pesquisa está envolvido em dois projetos com as espécies de tambaqui e tilápia. Conforme detalha Fernanda, o primeiro visa a criação de tambaquis sem espinhas intermusculares (IBs), identificando o gene responsável para sua supressão, considerando que as perdas chegam a 20% no rendimento de filés, representando um dos principais desafios enfrentados pela indústria, e fazer o nocaute da miostatina, visando um crescimento acelerado e maior rendimento de filé.
E para a tilápia, o foco do trabalho também está voltado ao nocaute da miostatina, visando um crescimento mais eficiente e rendimentos superiores de filé. “Embora já existam linhagens de tilápia disponíveis no mercado com edição genômica, nosso objetivo é desenvolver genéticas adaptadas pela Embrapa para diferentes regiões do Brasil”, reforça.
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Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.