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FPA debate pacote anti-invasão, tarifaço americano e modernização do seguro rural
Produtores pedem mais segurança jurídica, previsibilidade no crédito e cautela nas negociações comerciais com os EUA.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se reuniu, na terça-feira (02), para debater três temas centrais para o setor: a modernização do Seguro Rural, o impacto do tarifaço americano e o avanço da criminalidade no campo, que envolve desde invasões de propriedades privadas até fraudes bilionárias no mercado de combustíveis reveladas pela operação Carbono Oculto.
Para o presidente da FPA, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), o Brasil vive sob ameaça constante do crime organizado, inclusive nas cadeias produtivas. Esse cenário, segundo ele, é agravado pela multiplicação das invasões de terras, muitas vezes lideradas por grupos que se escondem atrás de bandeiras políticas para legitimar práticas ilegais. “A gente denuncia com firmeza esse processo de desorganização social e econômica que fragiliza a segurança dos produtores, coloca em risco a soberania alimentar e compromete a imagem internacional do país. O que está acontecendo gera muita preocupação para todo o setor”, destacou.

Senadora Tereza Cristina (PP-MS): “É uma provocação e uma falta de responsabilidade com a economia brasileira”
Para enfrentar esse problema, a FPA defende a aprovação do pacote anti-invasão, um conjunto de medidas legislativas que tem por objetivo devolver segurança jurídica, transparência e respeito à lei na política fundiária. “O pacote anti-invasão se torna muito importante diante de tudo isso. O campo brasileiro não pode ser refém do crime organizado e vamos seguir trabalhando fortemente para aprovar projetos que fechem as portas para o crime. O produtor protegido é um Brasil forte”, disse.
Entre os principais pontos do pacote estão:
- Transparência no cadastro: vedação expressa ao uso de listas paralelas de movimentos sociais, com agravante por fraude processual em caso de utilização.
- Critérios objetivos de “demanda social” (Lei nº 8.629/1993): tempo de solicitação, situação socioeconômica, aptidão produtiva e vulnerabilidade familiar, evitando manipulação política.
- Cadastro eletrônico universal e público, permanente e acessível, proibindo listas externas ou paralelas.
- Proteção ao direito individual do assentado: titulação coletiva caracterizada como fraude processual por suprimir o título direto da família.
- Titulação definitiva como regra: prioridade da escritura plena sobre a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), que fragiliza a autonomia das famílias.
- Clareza na classificação de terras: diferenciação em lei entre “florestas públicas” e “glebas públicas”, evitando interpretações que inviabilizam a regularização fundiária.
- Responsabilidade fiscal nas desapropriações: exigência legal de previsão orçamentária, sob pena de crime de responsabilidade, impedindo promessas sem lastro financeiro.
- Sustação de atos ilegais do Executivo (Decretos nº 11.637/2023, nº 11.688/2023, nº 11.995/2024 e Portaria MMA/MDA nº 1.309/2025) que abriram brechas para invasores, fragilizaram a titulação individual e até autorizaram a desapropriação de propriedades médias, em afronta à Lei nº 8.629/1993.
Tarifaço americano
No que diz respeito às tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) analisou que o tema traz preocupação contínua e demandará tempo no radar dos parlamentares. Para ela, o governo errou quando colocou a lei de reciprocidade em uma abertura de processo. “É uma provocação e uma falta de responsabilidade com a economia brasileira. O governo precisa entender o momento estratégico e as consequências de um embate no atual cenário, especialmente em relação ao setor agropecuário brasileiro. Se torna fundamental manter um bom diálogo”, afirmou a vice-presidente da FPA.
Lupion corroborou e alertou para a necessidade de se ter “sensatez” nas conversas e relações comerciais. “A avaliação prematura de contramedidas neste momento pode enviar sinalizações equivocadas e comprometer a própria estratégia de negociação internacional do Brasil”.
O especialista em comércio internacional, Marcos Troyjo, relatou que das 20 maiores economias do mundo, a única que não conseguiu entrar em um diálogo foi o Brasil. “Hoje, entre os 192 países que mantêm relação comercial com os EUA, o Brasil é o que apresenta um maior percentual de tarifa. Houve pouco empenho da parte do governo do Brasil e dos EUA para tentar arrefecer essas barreiras tarifárias desde o dia 9 de julho. É uma situação difícil”, comentou.
Seguro Rural
Em relação ao seguro rural, a bancada demonstrou preocupação com a falta de previsibilidade para os trabalhadores rurais. A senadora Tereza Cristina ressaltou que “quando não se tem seguro não se tem crédito”. Mais que isso, ela acrescenta que o próximo plano safra será impactado com a situação atual. “Hoje, com as dificuldades na economia brasileira, não sabemos como esse crédito virá no próximo plano safra. Precisamos ter esse tema sempre em mente, pois facilitaria a vida do trabalhador rural. Nosso PIB só é positivo por causa do agro, mas até quando vamos conseguir vencer sem previsibilidade no crédito?”, questionou.

Senador Jayme Campos (União-MT): “Esta lei vem, com certeza, para modernizar”
Para o senador Jayme Campos (União-MT), integrante da FPA, trata-se de um projeto muito oportuno, diante das dificuldades na cobertura do seguro rural. Ele afirma que apenas 21% do território brasileiro possui cobertura. “Esta lei vem, com certeza, para modernizar. Queremos melhorar esse ambiente diante das mudanças climáticas e tragédias. Precisamos atender a essa demanda do trabalhador do campo. Espero que esse seguro seja aprovado o mais rápido possível”.
Na visão de Lupion, precisa de uma modernização legislativa. “Nós viajamos o mundo buscando boas práticas para implementar no Brasil e o projeto está no Senado sendo debatido. Precisamos de celeridade neste tema”. “A questão econômica do Brasil não auxilia em nada e o recurso de investimento diminuiu absurdamente. O último plano safra foi uma peça de ficção que nem teve o seguro rural mencionado e não vai chegar na ponta para o produtor. Precisamos achar uma saída para isso e estamos conversando para que entre na Lei de Diretrizes Orçamentárias esse recurso fundamental”, finalizou.

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Expansão agroindustrial faz C.Vale projetar salto de 84% na demanda por energia elétrica
Cooperativa estima que necessidade instalada chegue a 70 MW em dez anos e cobra reforço no fornecimento para sustentar novos investimentos no campo e na indústria.

Impulsionada pela ampliação da agroindustrialização e por novos projetos produtivos de seus cooperados, a C.Vale projeta um crescimento expressivo na demanda por energia elétrica na próxima década. A cooperativa estima que a carga instalada saltará de 38 para 70 megawatts (MW) até 2036, uma alta de 84%. No mesmo intervalo, o consumo anual deve avançar 79%, alcançando cerca de 429 gigawatts-hora (GWh).

Reunião realizada na última terça-feira (16), em Palotina (PR), entre dirigentes da C.Vale e da Companhia Paranaense de Energia (Copel)
O avanço do consumo energético está diretamente ligado à expansão das indústrias da cooperativa, das unidades de recebimento de grãos e, sobretudo, à intensificação da produção nas propriedades dos associados. Para viabilizar esse crescimento, a C.Vale avalia como fundamental o reforço da infraestrutura elétrica, tanto nas plantas industriais quanto no meio rural.
O tema foi tratado em reunião realizada na última terça-feira (16), em Palotina (PR), entre dirigentes da C.Vale e da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Durante o encontro, representantes da concessionária visitaram o complexo agroindustrial da cooperativa e tiveram acesso ao Plano Decenal Energético, apresentado pelo supervisor de Gestão de Energia e Comercialização, Felipe Ferreira. O documento detalha os investimentos previstos até 2036 e os impactos esperados sobre a demanda.
Segundo a cooperativa, parte relevante desse crescimento está associada a projetos dos associados nas áreas de piscicultura, suinocultura e avicultura, atividades intensivas em energia e dependentes de fornecimento estável para manter sistemas de climatização, automação, alimentação e biossegurança.
O presidente do Conselho de Administração da C.Vale, Alfredo Lang, destacou que a sinalização da Copel em ampliar e qualificar o atendimento energético é decisiva para destravar novos investimentos. “A preocupação da Copel em nos atender nos encoraja a investir ainda mais”, afirmou.
Participaram da reunião o presidente da Copel, Daniel Slaviero, o diretor-geral da companhia, Marco Antônio Villela Abreu, diretores da C.Vale e demais representantes da concessionária. O encontro reforçou a necessidade de alinhamento entre planejamento energético e expansão do agronegócio, em um cenário de crescente demanda por proteína animal e processamento de alimentos.
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Codesul defende integração da Malha Sul diante da nova política ferroviária federal
Estados do Sul avaliam que a fragmentação da concessão compromete escala, investimentos e competitividade logística em uma região estratégica para o agro e a indústria exportadora

O lançamento da Política Nacional de Concessões Ferroviárias e da Carteira de Projetos 2026, anunciado pelo Ministério dos Transportes, marca um dos mais relevantes movimentos de reestruturação do modal ferroviário brasileiro nas últimas décadas. A iniciativa prevê a modernização das regras de outorga, a possibilidade de aportes públicos em concessões e a estruturação de uma carteira inédita, com oito leilões e investimentos estimados em cerca de R$ 140 bilhões, voltados à ampliação da malha, à recuperação de trechos degradados e à criação de novos corredores logísticos.

Diretor de ferrovias da Associação Comercial, Industrial, Agronegócio e Serviços de Chapecó (ACIC), Lenoir Antonio Broch – Foto: Divulgação/Acic
O diretor de ferrovias da Associação Comercial, Industrial, Agronegócio e Serviços de Chapecó (ACIC), Lenoir Antonio Broch, observa que embora o anúncio represente um avanço importante na agenda logística nacional, o Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) avalia que a modelagem proposta para a Malha Sul não atende às necessidades estratégicas de integração ferroviária dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A fragmentação da malha em três concessões distintas: Corredor Paraná – Santa Catarina, Corredor Rio Grande e Corredor Mercosul é vista como um fator que compromete a coerência logística regional, reduz escala, desestimula investimentos e fragiliza a atratividade privada.
Atualmente, a concessão da Rumo Malha Sul compreende 7.223,4 quilômetros de ferrovias nos três estados, mas aproximadamente 50% desse total encontra-se fora de operação. No Rio Grande do Sul, após as cheias de 2024, a extensão efetivamente operante caiu de cerca de 1.680 km para apenas 921 km, com interrupções adicionais no transporte de líquidos devido a danos estruturais. Em Santa Catarina, dos 1.210 km de trilhos da Malha Sul, apenas 210 km permanecem em operação. Apesar de concentrar cerca de 20% da movimentação nacional de contêineres e contar com importantes terminais de grãos, apenas cerca de 6% das cargas portuárias do estado utilizam o modal ferroviário.
No Paraná, especialmente no Oeste, a limitação da infraestrutura e gargalos como o da Serra da Esperança, entre Guarapuava e Ponta Grossa, reduzem a fluidez do transporte ferroviário e comprometem o escoamento de grãos, proteínas e insumos industriais. Esse cenário evidencia um declínio progressivo da capacidade operacional da malha, com impactos diretos sobre a competitividade agroindustrial e exportadora da região Sul.

Foto: Divulgação
Broch destaca que o desafio logístico é estrutural. A dependência do transporte rodoviário, que responde por cerca de 65% do transporte doméstico no País, somada à baixa participação das ferrovias fora do segmento de minério, eleva custos, pressiona rodovias saturadas e expõe o sistema a riscos crescentes. Cadeias produtivas estratégicas, como aves, suínos, lácteos, carnes e alimentos processados, além de projetos futuros de biocombustíveis, são diretamente afetadas.
Diante desse contexto, os estados do Codesul defendem a concessão integrada da Malha Sul como única alternativa capaz de garantir escala, coerência logística e eficiência operacional. A atuação conjunta junto ao Governo Federal baseia-se em três diretrizes centrais: a solução dos passivos históricos da concessão atual, com recuperação de trechos degradados; a garantia da continuidade operacional durante a transição entre contratos; e a defesa firme da concessão em bloco, assegurando a plena integração da região à malha ferroviária nacional.
Além de medidas imediatas para recompor trechos danificados e restabelecer a conectividade logística, o Codesul propõe uma estratégia de médio e longo prazo alinhada à visão nacional de ampliação da competição, atração de novos players e inserção efetiva do Sul nos grandes corredores ferroviários de exportação. O objetivo é assegurar que a região continue contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento econômico do Brasil, com uma infraestrutura ferroviária contínua, moderna e competitiva.
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Safra 2025/26 de soja registra avanço precoce da cercospora
Doença surge nos primeiros estágios da cultura no Sul e Cerrado, com potencial de reduzir produtividade em mais de 20% se o manejo preventivo não for adotado.

A safra 2025/26 de soja começa com sinais de alerta vindos do campo: em diversas áreas do Sul e do Cerrado, técnicos e redes de monitoramento registram aumento na severidade dos casos de cercospora desde os primeiros estágios da cultura. O avanço precoce da doença tem sido associado ao conjunto de fatores observado nesta temporada, alternância de calor intenso, alta umidade em períodos pontuais e estresse hídrico em janelas curtas, condições que favorecem a manutenção do inóculo e a aceleração dos sintomas.
Instituições como Embrapa e Fundações de Pesquisas vêm chamando atenção em seus boletins regionais para a necessidade de reforçar o manejo preventivo, sobretudo em áreas que já apresentaram pressão significativa na safra passada.

A cercospora afeta principalmente as folhas, encurtando a longevidade do dossel, antecipando a queda da parte aérea e reduzindo o enchimento dos grãos. De acordo com análises recentes de centros de pesquisa regionais, as perdas podem ultrapassar 20% da produtividade em condições de alta severidade, um impacto relevante em regiões de clima variável, onde o estresse hídrico pontual tem sido mais frequente e tende a agravar a manifestação dos sintomas.
Para o engenheiro agrônomo Marcelo Gimenes, o comportamento mais agressivo da doença observado nas últimas safras reforça a importância das estratégias iniciadas logo nos primeiros estágios da cultura. “A cercospora tem deixado de ser um problema restrito ao final do ciclo. Em muitas áreas, ela está aparecendo cedo, reduzindo a capacidade fotossintética e comprometendo diretamente o potencial produtivo. A prevenção se torna decisiva, especialmente em ambientes sujeitos a oscilações climáticas e pressão histórica de doenças”, afirma.

O cenário demanda ainda mais atenção onde cercospora e mancha-alvo convivem na mesma lavoura, combinação que tem sido registrada com maior frequência, segundo consultorias técnicas e redes de monitoramento do Sul e do Cerrado. “Quando essas duas doenças avançam em paralelo, o produtor perde capacidade de recuperação foliar. Por isso, é fundamental adotar ferramentas com amplo espectro de controle e residual, evitando brechas que favoreçam a evolução dos sintomas”, destaca Gimenes, completando: “O produtor está diante de uma doença que evoluiu em agressividade e distribuição nos últimos anos. Garantir proteção foliar contínua e decisões técnicas fundamentadas será essencial para atravessar esta safra com segurança e minimizar perdas. O manejo da cercospora exige estratégia, precisão e ferramentas compatíveis com a complexidade do desafio”.



