Notícias
Fórum Bioinsumos no Agro evidencia liderança do Brasil no cenário global
Evento discutiu o panorama atual do mercado no Brasil e no mundo, políticas públicas e regulamentação, além de debates sobre biofertilizantes, bioinoculantes e biodefensivos sob o ponto de vista de pesquisadores, usuários e indústria.

Com o objetivo de fomentar a discussão sobre as oportunidades de negócio do mercado de bioinsumos e apresentar um panorama atual do Brasil e do mundo, foi realizada a primeira edição do Fórum Bioinsumos no Agro, promovido na segunda-feira (16), na sede da Fiesp, em São Paulo (SP). O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro participou da abertura do evento, que contou com a participação de 600 pessoas, e foi promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), CropLife Brasil, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Fávaro declarou que está pleiteando ao Presidente da República que seja feita uma alteração no decreto presidencial que regulamentou os bioinsumos para incluir uma cadeira para o setor empresarial, especialmente a indústria, no Conselho Estratégico do Programa de Bioinsumos. “Assim poderemos, a exemplo deste evento, debater melhor o setor. Certamente os bioinsumos terão um grande papel no futuro do agro brasileiro, mas este crescimento deve ser embasado em ciência e debates. O nosso País tem competência para caminhar para um futuro e garantir cada vez mais a liderança na produção de alimentos, sempre com sustentabilidade e segurança alimentar”.
Segundo o presidente do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP (COSAG), Jacyr Costa, que também preside o Conselho Consultivo do Fórum Bioinsumos no Agro, o crescimento dos bioinsumos no Brasil em uma taxa acima da registrada mundialmente mostra a posição de vanguarda do País nesse setor. “Contamos com uma biodiversidade que poucos países têm, além de institutos de pesquisa públicos e a iniciativa privada que vêm desenvolvendo um papel fundamental na área de bioinsumos”.
Para incentivar o crescimento, o vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato Nacional de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg), João Sereno Lammel destacou a importância da regulamentação do setor. “A regulamentação é fundamental para estimular o investimento das empresas nessa área para que possam continuar desenvolvendo novidades e produtos que garantam o crescimento continuado no futuro do segmento”.
O presidente da CropLife Brasil, Eduardo Leão, pontuou que o Brasil hoje se destaca como o maior aplicador de produtos biológicos em larga escala no mundo, em áreas abertas. Só no controle de pragas e doenças, o País cobre mais de 20 milhões de hectares. “Se considerarmos os últimos quatro anos, a expansão foi de 60%, quatro vezes maior do que ocorre no resto do mundo”. Para que esse crescimento se consolide, Leão disse ser fundamental um ambiente regulatório que garanta produtos eficazes e seguros no mercado. “Não basta ser natural, é preciso ser eficiente e, o mais importante, é preciso ser seguro para o meio ambiente e para o ser humano. Vale ressaltar que o ambiente de bioinsumos, pelos diferentes níveis de complexidade, é um dos mais regulados do mundo e o Brasil deve acompanhar de forma coerente a depender do tipo e risco de matéria-prima biológica”.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia e Nutrição Vegetal, Abisolo, Roberto Levrero, afirmou que a expansão na utilização dos bioinsumos na produção agropecuária vem contribuindo para a consolidação da produção sustentável de alimentos, proteínas, fibras e combustíveis. “Em 2019, a Abisolo fez o primeiro levantamento mercadológico sobre biofertilizantes. Para nós era muito importante entender o que esse segmento representava para o setor. E a grata surpresa foi que os biofertilizantes e os produtos que contêm biofertilizantes nesse primeiro levantamento representaram um faturamento de R$ 2,1 bilhões”, frisou Levrero. Um segundo levantamento apontou que em 2022 o faturamento foi de R$ 4,8 bilhões e de 2019 para cá, o crescimento foi de 32 % ao ano, sendo a percepção de valor pelos agricultores a maior justificativa para esse crescimento. “Os resultados de produtividade e de qualidade são evidentes e o aumento da adoção desses produtos só vai aumentar”, projetou.
O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), Tirso Meirelles salientou que São Paulo está se consolidando como um centro de excelência de alta tecnologia de bioinsumos, com a participação de startups, para que se possa atender os produtores rurais de forma on-line com inteligência artificial.
Panorama do mercado de bioinsumos
O primeiro painel do Fórum contou com uma apresentação do panorama do mercado brasileiro e mundial de bioinsumos feita pelo diretor da Kynetec para a América Latina, André Dias e a visão da indústria a respeito desse mercado pelo diretor comercial da Koppert Brasil, Gustavo Herrmann.
Segundo Dias, em 2018, o mercado global de bioinsumos era de aproximadamente US$ 4 bilhões e as projeções indicavam um crescimento ao redor de US$ 11 bilhões em seis safras. O mercado brasileiro movimentou na safra 2022/23 montante de US$ 20 bilhões em bioinsumos, um crescimento de 12% de faturamento, muito acima dos 4% estimados para o mercado global. O Brasil também registrou um crescimento de 9% da área tratada com bioinsumos na safra 2022/23 ante 3% registrado na safra 2017/18, o que posiciona o País como altamente eficiente na produção com o uso dessas tecnologias.
O diretor comercial da Koppert Brasil, Gustavo Herrmann destacou que o mercado nacional cresce mais rapidamente do que o internacional em razão, principalmente, da agricultura extensiva. “O Brasil é sine qua non quando se fala de proteção de plantas, mas isso torna o desafio do controle biológico ainda maior, pois precisamos, em alguns momentos, substituir ou complementar os defensivos químicos e mudar o mindset do produtor para que ele trabalhe mais a favor da natureza e não contra”. Ainda, segundo Herrmann, as tendências mostram que os biológicos serão em breve 50% do mercado de proteção.
Políticas públicas: aspectos atuais e perspectivas
O segundo painel teve como debatedores a diretora de Bioindústria e Insumos Estratégicos da Saúde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Cleila Guimaraes; o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Carlos Goulart; e o diretor executivo de Pesquisa e Inovação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Clenio Nailto Pillon, com moderação do vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Arnaldo Jardim.
Cleila Guimaraes, do MDIC, destacou que o marco regulatório brasileiro, no que concerne ao setor de agro, é complexo e precisa ser atualizado considerando a dinâmica das inovações tecnológicas. “Seria interessante aplicar ao setor agro a reestruturação das práticas regulatórias, implementando a Guilhotina Regulatória”, defendeu. A Guilhotina Regulatória é um mecanismo de reforma do marco regulatório que promove a simplificação administrativa por meio da identificação e revogação de atos normativos obsoletos. Seu objetivo é retirar do Estoque Regulatório as normas que não têm mais validade por meio da publicação de um instrumento revogador único, tornando o acervo mais enxuto, organizado e acessível. Outra boa prática, citada por Cleila, seria a adoção de Análises de Impacto Regulatório (AIR) antes da proposição de novas normas.
“Considero a Guilhotina Regulatória e as AIRs boas práticas para regular o setor. É fundamental a ampliação do corpo técnico dos agentes regulatórios e sua atualização periódica. Somando-se a isso, o Estado deveria realizar com uma certa periodicidade a elaboração de roadmaps, utilizando dessas metodologias para definir estratégias, políticas e atualizar os marcos regulatórios com periodicidade definida. Isso traria mais segurança jurídica para os investimentos em inovação tecnológica”, acrescentou a diretora do MDIC.
Para Clenio Pillon, da Embrapa, o tema é muito desafiador, já que, nos anos 90, os biológicos não tinham a atenção necessária. “Hoje ninguém tem dúvidas de que o futuro da agricultura será pautado em uma base biológica, o que não significa o abandono dos defensivos químicos. O interessante é que possamos integrar cada vez mais as diferentes soluções para produzir com eficiência e baixo custo. Químicos e biológicos têm um papel importante e acreditamos em uma sequência de evolução, mas para isso é fundamental que sigamos investindo em ciência no Brasil”.
Já Carlos Goulart, do Mapa, pontuou que a regulação aplicada para os bioinsumos no Brasil é saudável, visto que o País lidera o mundo em crescimento e uso de biológicos. “Isso não seria possível se a regulação não permitisse. Hoje 100% de toda a indústria que está aqui tem uma única reclamação unânime ao Poder Executivo: o tempo de demora entre peticionamento e liberação de registro de base química. A falta de comunicação assusta a sociedade civil, que pensa existir um excesso de registros e que todos os produtos registrados estão em uso na produção de alimentos”, alertou.
Para Goulart, a questão mais urgente e que todos os elos da cadeia, Governo, produtores, usuários do produto e quem oferta concordam é a necessidade de uma regulação e o estabelecimento do rigor sobre ela.
Biodefensivos
O terceiro painel, dedicado aos Biodefensivos, foi moderado pelo CEO do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos e teve a apresentação do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Paulo Arruda e do Líder de Agronomia e Geração de Demanda Brasil e Paraguai da Corteva, Fabricio Passini.
Para Marcos Matos, o setor lida diretamente com as exigências dos clientes em tempos de ESG (Environmental, Social and Governance). “Com as novas regras de desmatamento na Europa, eliminação e limite máximo de resíduos, surgiram muitas questões regulatórias as quais o Brasil precisou atender. Hoje somos referência em sustentabilidade e nosso País é considerado líder mundial no tema bioinsumos, seja biodefensivos ou biofertilizantes. Existe muita pesquisa adicionada a estes produtos sendo colocadas em teste nos campos”, frisou o moderador.
Para ilustrar, Matos detalhou que o café brasileiro é carbono negativo, menos 1.63, porém, quando o produtor utiliza melhores práticas com os bioinsumos e biomassas, esse índice passa de 1.63 para menos 10.5 toneladas de dióxido de carbono emitidos. “Isso mostra como o Brasil tem um enorme potencial para avançar no uso dos bioinsumos e na descarbonização”.
As novas tecnologias no mercado de biológicos foram debatidas pelo professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Paulo Arruda, que trouxe uma visão acadêmica, evidenciando que o crescimento apresentado no setor é decorrente de décadas de pesquisas realizadas independente de investimentos privados e que ajudaram o Brasil a alcançar o atual status de relevância. “Nessa trajetória, os microrganismos surgem como elementos-chave para uma agricultura sustentável, maximizam a produtividade e a resiliência das plantas ao promover aquisição nutricional, tolerância à seca, defesa contra patógenos e hormônios vegetais”.
De acordo com o professor, entre os anos de 1950 e 2023, foram publicados 169.597 trabalhos em revistas científicas, 92% sendo nos últimos 10 anos. Até 2022, mais de 400 produtos foram registrados para uso como controle biológico no Brasil. No entanto, esse número compreende apenas 30% dos microrganismos identificados no meio. “Existem ainda uma infinidade de microrganismos importantes com potencial superior às soluções já existentes no mercado”.
Fabrício Passini evidenciou a importância do mercado biológico para a Corteva como o futuro da agricultura, destacando também o potencial dos bioestimulantes, que pode aumentar ainda mais a produtividade. “Globalmente investimos todos os anos US$ 1,6 bilhões em pesquisas, sendo parte desse valor destinado à área de bioinsumos. Nossos esforços são para garantir que estes produtos tenham uma entrega consistente e comprovada cientificamente, pois eles precisam ser resilientes às diferentes condições climáticas do mundo. Para isso, é preciso levar ao produtor rural mais conhecimento, entregando soluções complementares para agregar na produtividade final”, detalhou Passini.
Biofertilizantes e bioinoculantes
O quarto painel contou com a moderação do presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Caio Carvalho, e teve a presença do professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Átila Mógor, seguido pelas apresentações do diretor Executivo da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), Sólon Cordeiro de Araújo e do professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Fernando Andreote.
Ao abordar o papel dos biofertilizantes na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, o professor Átila Mógor relembrou que o estresse abiótico, causado por elementos não vivos, como o clima e déficit hídrico, principalmente nos períodos de estiagem na fase reprodutiva, foram os principais responsáveis pelas quebras de produção de soja, ocorridas no Brasil entre as safras 2015/2016 e 2019/2020. Entretanto, a planta tem capacidade de se readaptar de algumas formas, seja pelas enzimas ou pelo acúmulo de compostos nas células. “Os biofertilizantes também têm o potencial de mitigar os efeitos do estresse abiótico, pois contêm ingredientes ativos e/ou agentes orgânicos promotores de bioatividade, isentos de substâncias agrotóxicas e de microrganismos capazes de atuar diretamente ou indiretamente no metabolismo das plantas”, explicou Mógor.
O diretor da ANPII, Sólon Cordeiro de Araújo abordou os ganhos econômicos da utilização de inoculantes. “Na cultura de soja, temos hoje duas formas de fornecer o elemento nitrogênio para as plantas: por meio do fertilizante químico, principalmente a ureia, e via inoculante. No caso de uso apenas da ureia, o custo adicional para o agricultor gira em torno de R$ 800,00 por hectare, no entanto, se utilizar o inoculante, o custo será aproximadamente R$ 70,00 por hectare. Se transformamos essa informação em ganho para o País os números serão absurdos”, projetou Araújo.
Atualmente, 70% do fertilizante nitrogenado usado no Brasil no cultivo de soja é importado, conforme explicou o executivo da ANPII. Neste cenário, se houver uma troca de ureia por inoculantes, a economia pode chegar a U$$ 12 bilhões anualmente para o Brasil.
Também neste painel, o professor Esalq/USP, Fernando Andreote abordou a importância dos bioinsumos na construção e na recuperação da fertilidade dos solos.
“O Brasil caminha ao lado do mundo para buscar maneiras de melhor empregar os processos microbianos em diversos segmentos, seja na saúde humana, no meio ambiente ou do solo e agricultura. O nosso País é muito grande e se destaca no tema biodiversidade e, exatamente por isso, precisamos revisar nossa legislação no futuro para acomodar as inovações e conceitos tecnológicos que surgem nas diversas pesquisas realizadas no mundo”. Segundo o professor, no futuro haverá maior desenvolvimento em tecnologias em bioinsumos, necessidade de uma legislação mais abrangente e os avanços em treinamento e conhecimento dos usuários para expandir o uso dessa tecnologia.
O encerramento do evento contou com a apresentação do professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues e do diretor Titular do Departamento do Agronegócio da Fiesp, Roberto Inácio Betancourt. “Ao abordar um tema amplamente discutido em todo o mundo, o Fórum Bioinsumos no Agro nos deu a oportunidade de nos aprofundarmos nos desafios e oportunidades deste mercado que está crescendo muito. A segurança com o trabalho com bioinsumos é fundamental, por isso a legislação precisa ser completa e moderna, que nos permita avançar e garantir a segurança absoluta do trabalho realizado”, destacou Roberto Rodrigues.
“É um orgulho ver o Brasil liderando esse processo, unindo com maestria produtividade e sustentabilidade. Acredito que estamos com uma oportunidade gigante para as startups e empresas. Além disso, os bioinsumos são uma ferramenta que nos aproximam do consumidor final, no sentido de saúde, preservação do planeta e uma vida melhor. O setor está unido, procura tecnologia, sustentabilidade e quer assumir esse protagonismo em nível global”, finalizou Betancourt.

Colunistas
Nova regra transformará o Fiagro no produto perfeito para gestores, investidores e produtores
A medida é importante porque, atualmente, os Fiagros operam provisoriamente com base nas regras dos fundos imobiliários (FIIs), fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) e fundos de investimentos em participações (FIPs).

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) iniciou o processo de consulta pública para debater uma norma específica para o Fiagro. As sugestões serão recebidas pela CVM até o dia 31 de janeiro de 2024 e a ideia é estabelecer parâmetros definitivos para os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio.
A medida é importante porque, atualmente, os Fiagros operam provisoriamente com base nas regras dos fundos imobiliários (FIIs), fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) e fundos de investimentos em participações (FIPs). Isso aconteceu porque o Fiagro é um produto financeiro novo.
Chegou ao mercado em agosto de 2021 e a CVM precisava primeiro testar sua aceitação e viabilidade antes de criar normas específicas. Até porque criar regra primeiro para só depois conhecer as necessidades e funcionamento do segmento não seria muito produtivo, já que necessitaria de revisões sempre que aparecesse algum empecilho.
Pois bem, ao pegar emprestado as normas dos FIIs como base para as operações com Fiagros, a CVM viabilizou um novo produto com bastante segurança jurídica e, nesses dois anos, observou o comportamento do mercado. A conclusão é de que o produto interessa tem futuro e é importante para o desenvolvimento das cadeias produtivas do agronegócio.
Então, vem aquela pergunta. Se usando as regras dos FIIs como base, o segmento de Fiagros tem funcionado muito bem, então, qual a razão de criar uma norma definitiva e específica para eles? Em primeiro lugar, temos de entender que as regras feitas para os FIIs atendem a outro segmento da economia. Os FIIs existem há bastante tempo e estão consolidados dentro da realidade daquele setor.
O agronegócio, por sua vez, tem características próprias, algumas semelhantes ao do setor imobiliário, mas outras totalmente diferentes. Manter os Fiagros dentro das regras dos fundos imobiliários é limitar o potencial de crescimento deste novo e importante produto.
Vou dar um exemplo. A medida provisória da CVM permitiu a constituição de três tipos de Fiagros, o imobiliário, o de direitos creditórios e de participações, mas de forma separada. A aprovação da norma definitiva permitirá que um único fundo possa ser composto por ativos das três classes citadas. Para o investidor, isso significa a possibilidade de diversificar investindo em um único fundo. As possibilidades aumentam conforme a composição de cada Fiagro. Alguns podem conter um percentual maior de direitos creditórios e menor de ativos imobiliários e de participações ou maior de imobiliários e menor de direitos creditórios. Ou simplesmente ser montado com ativos de apenas uma ou duas classes conforme a estratégia adotada pelo gestor.
Outro ponto é que a nova regra tem também como objetivo possibilitar a criação de Fiagros que atendam aqueles investidores que priorizam ativos sustentáveis. Em outras palavras a norma deixará claro o que é necessário para que um Fiagro seja considerado dentro dos parâmetros ESG para que, desta forma, eles possam abranger investimentos em créditos de carbono do mercado voluntário.
A iniciativa é sensacional porque hoje o Fiagro é uma das formas de fomento do agronegócio em geral. Sua adaptação para atender quem só investe em ativos sustentáveis vai ajudar a alavancar projetos, dos mais variados tipos, baseados nos conceitos ESG, o que tornará nosso agro, não apenas pujante, mas também extremamente moderno e alinhado com as necessidades globais de combate ao aquecimento global.
Até o final de junho deste ano, mesmo com as limitações impostas pela regra provisória, a CVM tinha em seus registros 69 Fiagros em operação, totalizando patrimônio de R$ 14,7 bilhões. Desempenho excelente, porém, muito pequeno considerando que o agronegócio representa mais de 25% do PIB brasileiro.
E não é só isso. O agronegócio demanda, segundo especialistas, algo em torno de R$ 800 bilhões em crédito a cada safra. O plano safra 2023/2024, por exemplo, anunciado pelo governo em junho, destina aos produtores R$ 364,22 bilhões, bem abaixo da demanda. O restante é coberto por outras formas de financiamento e o Fiagro ainda participa com um percentual muito pequeno.
Sabemos que isso vai mudar e que logo os Fiagros terão um peso gigantesco no financiamento da produção agropecuária. E essa nova regra, quando entrar em vigor, vai aumentar exponencialmente as possibilidades, atraindo uma enorme quantidade de investidores. Com isso, o “bolo” vai crescer exponencialmente. O importante agora é termos paciência e esperarmos a consulta pública ser concluída. Ela é importante para que os players possam opinar, dar dicas que tornem os fundos de investimento na cadeia do agronegócio a ferramenta perfeita para o trio formado por gestores, investidores e produtores.
Notícias
Sindirações divulga o balanço 2023 do setor de alimentação animal
Cadeias produtivas com desempenho antagônico registram avanço modesto da alimentação animal; • Previsão é fechar o ano com produção estimada de 87 milhões de toneladas de rações e sal mineral e incremento de cerca de 1,5% em relação a 2022.

O Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) divulga o balanço 2023 do setor de alimentação, com avanço modesto do setor, resultado do desempenho antagônico entre as cadeias produtivas. Resumidamente, de janeiro a setembro, a produção de rações avançou quase 2% e somou 62,6 milhões de toneladas. O desdobramento revela que a demanda do segmento de frangos de corte incrementou em 3%, quando comparada ao mesmo período do ano passado. O mesmo raciocínio aplicado estabelece avanço de 1,0% para as poedeiras.
No caso dos suínos, o crescimento foi de 2,4%, enquanto para os bovinos de corte e de leite foram apurados recuos de 5,1% e 1,1%, respectivamente. Para aquacultura, o incremento se deu na ordem de 2,8% e, finalmente, incremento de 6,3% no caso dos cães e gatos. No geral, a previsão é finalizar o ano com produção aproximada de 87 milhões de toneladas de rações e sal mineral e apurar incremento de quase 1,5% em relação ao ano passado.
Ainda em julho, o CEO do Sindirações, Ariovaldo Zani pontuava que a produção acumulada de aproximadamente 62,6 milhões de toneladas de rações e concentrados no primeiro semestre desse ano, revelou-se quase 2% superior àquela do mesmo período do ano passado, muito embora, os montantes alcançados no primeiro e segundo trimestres de 2023 praticamente encontraram equivalência. “A perspectiva no horizonte anual reserva amplas variações, à exemplo do avanço das rações para frangos de corte e alimentos para cães e gatos que caracteriza movimento contrário ao retrocesso apontado na alimentação industrializada do plantel leiteiro, prejudicado pela retração no consumo doméstico dos lácteos e das importações de leite que quase dobraram ainda no primeiro semestre. É importante ressaltar que o provável incremento, tradicionalmente apurado ao longo dos segundos semestres, permite apostar na produção de mais de 83 milhões de toneladas de rações e concentrados (exceto sal mineral) e vislumbrar então um avanço de aproximadamente 2% em 2023”, afirma.
Perspectivas & Planejamento 2024
Para as projeções de crescimento do setor em 2024, Zani reforça que a indústria de alimentação animal, modulada pelo desempenho da cadeia produtiva de proteína animal, “leva em conta as projeções preliminares disponibilizadas pelas entidades representativas dos produtores de carnes bovina, suína, aves, ovos e leite e exportadores, a produção de rações deve avançar algo em torno de 2,5%”, projeta o CEO do Sindirações.
As estratégias da indústria de alimentação animal para enfrentar os desafios e oportunidades de 2024 focam no planejamento apropriado para garantia de suprimento dos macros ingredientes influenciados pelo desempenho das safras de milho, farelo de soja, cereais de inverno etc., e dos micros ingredientes, notadamente as vitaminas, enzimas e demais aditivos importados e precificados em dólar. Já as tendências em nutrição animal e aditivos para rações que devem se destacar são aquelas voltados a mitigação da pegada de carbono, ou seja, da descarga poluidora (nitrificação, eutrofização, matéria orgânica) e da emissão dos gases do efeito estufa.
Frangos de corte
A produção de rações para avicultura de corte contabilizou 27,5 milhões de toneladas no período de janeiro a setembro do corrente ano. Apesar da ameaça do surto de influenza aviária de alta patogenicidade, a apuração no território brasileiro sequer revelou qualquer episódio em granja comercial, e os casos notificados, acometeram apenas poucas aves silvestres e algumas criações de subsistência ou “fundo de quintal”. Ou seja, o status sanitário prevalente no Brasil e a preservação da biosseguridade revelam o esforço reconhecido oficialmente pela Organização Mundial de Saúde Animal/OMSA, não impõe qualquer restrição ao comércio internacional dos produtos avícolas brasileiros. A visão prospectiva dessa cadeia produtiva, inclusive, é otimista por conta do continuado incremento na produção doméstica e na exportação da respectiva proteína animal.
Galinhas poedeiras
A demanda para alimentação de poedeiras comerciais alcançou 5,18 milhões de toneladas nos primeiros nove meses desse ano, quantidade superior àquela consumida durante o mesmo intervalo temporal de 2022. Os produtores de ovos têm garantido suprimento suficiente para atendimento do consumo interno e do potencial incremento oriundo do mercado externo pelas opções “in natura” e processada. Os resultados da Pesquisa Trimestral do IBGE, publicados em setembro passado, registraram que a oferta de ovos avançou 3%, quando comparados os montantes dos primeiros semestres desse e do ano anterior.
Suínos
O consumo de rações para suínos somou 15,9 milhões de toneladas, montante ligeiramente superior àquele apurado durante o mesmo período do ano passado, a saber, de janeiro a setembro. O resultado está alinhado ao ritmo de crescimento da ordem de 2% que revela tendência de estabilidade na produção de suínos. Por sua vez, é importante ressaltar que o arrefecimento do custo para alimentação dos planteis, a eficiência produtiva e a sanidade, contribuíram sobremaneira no fortalecimento da competitividade da carne suína exportada frente aos demais concorrentes internacionais nesse ano e, sobretudo, revelam um cenário bastante favorável no transcorrer de 2024.
Bovinos de corte
A demanda de rações e concentrados para bovinos de corte somou apenas 4,29 milhões de toneladas de janeiro a setembro. Os preços do bezerro e aquele pago pela arroba do animal terminado vem sofrendo acentuada desvalorização por conta do fenômeno denominado “ciclo pecuário”. Ainda no período 2020/2021, os pecuaristas retiveram muitas fêmeas e produziram mais bezerros, estimulados pela arroba valorizada à época, aproveitando a “fase de alta”. Em resposta, já em 2022, a exuberante oferta desses animais jovens culminou na desvalorização do preço deles. Em consequência, durante esse 2023, o “cenário de baixa” tem incrementado o abate de fêmeas, que somado à oferta aos frigoríficos, ainda continua pressionando o preço do boi gordo. A perspectiva de virada do referido ciclo aponta para meados do próximo ano e deve alcançar seu auge em 2025.
Bovinos de leite
A produção de rações e concentrados para bovinos leiteiros alcançou 4,4 milhões de toneladas, montante aquém daquele expedido durante os três trimestres do ano passado. A tendência de recuo da demanda é multifatorial e se deve à redução do rebanho, concentração da atividade em megaempreendimentos, baixos preços pagos aos produtores, má qualidade das pastagens, muito embora relativo alívio se deu no custo da alimentação industrializada dos animais. Além disso, a queda na oferta de leite cru determinou importação recorde de lácteos dos vizinhos Argentina e Uruguai. A perspectiva futura é de melhora no cenário e retomada do consumo doméstico em resposta à tendência de queda da inflação e dos aportes financeiros oriundos dos programas de auxílio às famílias de baixa renda.
Peixes e camarões
A produção de rações para peixes e camarões totalizou 1,24 milhão de toneladas de janeiro a setembro, enquanto o ritmo de avanço da piscicultura diminuiu razoavelmente em resposta à escassez de tilápias, desencadeada pela elevada taxa de mortalidade de causa viral, principalmente dos alevinos e juvenis criados em tanques-rede. No caso da carcinicultura, os produtores de camarões buscaram encurtar os ciclos e baixar o custo de produção com densidade inferior de povoamento e menor peso de despesca.
Notícias
Negociações para acordo com União Europeia devem ser concluídas até fevereiro
Nos últimos dias, líderes dos países e diplomatas intensificaram as negociações, que já duram quase 20 anos. No fim de semana passado, durante a 28ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças do Clima (COP28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o presidente da França, Emmanuel Macron, mostrou-se contrário ao acordo.

Apesar dos esforços do Brasil, a Cúpula do Mercosul terminou na quinta-feira (07) sem um anúncio oficial de acordo entre o bloco e a União Europeia. Mas o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que existe a possibilidade de a negociação ser concluída com sucesso até meados de fevereiro de 2024.
“Continuamos as negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia. Não foram concluídas, mas temos a perspectiva de concluir talvez no mês de janeiro. No início de fevereiro seria o limite, já na presidência paraguaia [no Mercosul], mas podemos concluir tendo em vista a manifestação de interesse de ambas as partes”, disse Vieira.
Nos últimos dias, líderes dos países e diplomatas intensificaram as negociações, que já duram quase 20 anos. No fim de semana passado, durante a 28ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças do Clima (COP28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o presidente da França, Emmanuel Macron, mostrou-se contrário ao acordo. Mas o Brasil promete concentrar esforços para que os dois blocos regionais cheguem a um desfecho positivo.
“Não mudou nada. Nós continuamos conversando e negociando. O Macron expressou as posições dele como presidente da França, tendo em vista as preocupações do setor agrícola francês. Nós continuamos conversando até que se conclua ou se chegue à percepção de que não é possível firmar esse acordo. Mas estamos trabalhando”, garantiu o ministro brasileiro.