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Ferrovias para Santa Catarina: fatos que alimentam a esperança
Se o projeto de ferrovias não se tornar realidade os empresários podem concluir ser mais barato transferir as indústrias frigoríficas para a região produtora de milho e soja do que ficar despejando bilhões de reais no crescentemente caro transporte rodoviário.

O multifacetado agronegócio catarinense representa um dos maiores orgulhos para Santa Catarina não apenas porque ostenta números altissonantes, mas também porque é um setor inovador, tecnologicamente avançado e ambientalmente sustentável. Ele representa 31% do PIB estadual e contribuiu com 70% das exportações. Santa Catarina é o maior produtor brasileiro de suínos e detém a vice-liderança na produção de aves.
Ancorado no grande Oeste catarinense, o parque agroindustrial sustenta 60 mil empregos diretos e 480 mil indiretos. Nos últimos dois anos gerou 2.000 novos empregos e, atualmente, tem seis mil postos de trabalho a preencher. Em 2022 os investimentos diretos totalizaram R$ 5 bilhões e a geração de movimento econômico chegou a R$ 7 bilhões – dinheiro que irriga a economia de centenas de municípios catarinenses.
A base produtiva no campo é formada por 19 mil propriedades rurais de avicultores e suinocultores, além de 24.000 criadores de bovinos de leite. O volume anual de animais criados, processados e industrializados é de quatro milhões de frangos e 34 mil suínos por dia. Isso representa um bilhão de aves e nove milhões de suínos por ano.
A nutrição desse formidável plantel exige cerca de seis a sete milhões de toneladas de milho por ano, na formulação de rações, mas Santa Catarina vem produzindo cada vez menos esse cereal. Na última safra ficou em torno de 2 milhões de toneladas. E ainda há um detalhe: 40% do milho vão para silagem, portanto, não saem da propriedade e 60% vão para o mercado de grãos.
Cerca de cinco milhões de toneladas que faltam são obtidas no centro-oeste brasileiro e, suplementarmente, no Paraguai e na Argentina – com imensas despesas com o transporte rodoviário. As agroindústrias desembolsam entre 6 bilhões e 7 bilhões de reais por ano em fretes para buscar o milho no centro-oeste (basicamente Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) em uma operação rodoviária economicamente cada vez mais inviável e ambientalmente cada vez mais desaconselhável.
A saída para esse drama é a construção de uma ferrovia ligando o oeste catarinense ao centro-oeste brasileiro. Pela primeira vez em 40 anos está surgindo a consciência, no empresariado, de que o desenvolvimento e o futuro do grande oeste catarinense dependem de uma ferrovia ligando essas duas regiões.
O Governo Federal anterior muito acertadamente instituiu o novo marco legal das ferrovias através da MP 1065/2021, mas ainda falta leiloar vários trechos. A alternativa que surge vem do Paraná, onde a Ferroeste – uma estatal de economia mista – pretende construir ou estimular que consórcios empresariais construam os ramais Cascavel-Chapecó (SC), Cascavel-Maracaju (MS) e Cascavel-Paranaguá (PR). Essas rotas são exatamente aquelas que o oeste precisa para buscar matéria-prima vegetal, transformá-la em proteína animal e depois levá-la aos portos.
Para estimular investidores a se interessar pelo ramal Chapecó-Cascável um grupo de entidades catarinenses – Sindicarne/Acav, Acic, CEC, Faesc, Fiesc, Facisc e Ocesc, além da ABPA – patrocinou estudo de viabilidade econômica, técnica e ambiental para demonstrar a racionalidade do empreendimento. A execução desses projetos tornará suportável a megaoperação de transferência de grãos para Santa Catarina e dos produtos acabados para os portos do Paraná. Terá cerca de 280 quilômetros de extensão, o trajeto será indicado pelo estudo técnico e o custo gira em torno de R$ 6 bilhões.
Os portos catarinenses não serão prejudicados. Uma reivindicação simultânea é a obra que já foi chamada de “Ferrovia do Frango” – a ferrovia intraterritorial que ligará o extremo-oeste com os portos marítimos, com mais de 600 quilômetros de extensão. Atraiu a atenção e está na pauta do governo barriga-verde, que contratou o projeto do trecho Correia Pinto-Chapecó. As duas ferrovias são complementares, uma não exclui a outra e ambas são necessárias.
Pouca gente conhece a dimensão e a complexidade da operação logística para o transporte de insumos (grãos, ativos biológicos etc.) e de produção acabada para os portos e os centros de consumo. O Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados de SC apurou que são realizadas 5.240 viagens diárias de veículos de carga. Aos portos marítimos são enviados diariamente 344 containeres, o que representa 90.000 containeres por ano. Executar essa operação significa um dispêndio, para as empresas, de R$ 3,069 bilhões ao ano.
Há fatos novos e, portanto, uma esperança racional, para a construção de uma ferrovia ligando o oeste catarinense ao centro-oeste brasileiro. O recém-encerrado Simpósio da Integração Logística do Sul que a ACIC e entidades parceiras realizaram durante a Mercoagro 2023, em setembro, lançou a carta Movimento Pró-Ferrovias (ver abaixo) e mostrou que – muito além do proselitismo que imperou até agora – há, concretamente, um caminho sendo construído. Surgiram, efetivamente, vários sinais alvissareiros na atual contextura, como o estudo de viabilidade já concluído, o Governo Federal que deve licitar/leiloar o trecho em 2024, uma gigante empresa chinesa com tecnologia e capital financeiro que quer executar a obra em consórcio com empresas brasileiras e o Rio Grande do Sul que já reivindica o trecho Chapecó-Passo Fundo. Só falta a classe política se engajar mais entusiasta e convictamente nesse movimento.
Ferrovias, como se sabe, são obras caras e cuja execução é de longa duração – por isso são revestidas de incertezas e demorada maturação. A única certeza que se tem, hodiernamente, é que as agroindústrias catarinenses se transferirão para outras regiões se as ferrovias não viabilizarem no horizonte próximo o oxigênio que necessitam, ou seja, o suprimento de grãos. Se o projeto de ferrovias não se tornar realidade os empresários podem concluir ser mais barato transferir as indústrias frigoríficas para a região produtora de milho e soja do que ficar despejando bilhões de reais no crescentemente caro transporte rodoviário.
Carta movimento pró-ferrovias
As Entidades Empresariais do Estado de Santa Catarina, em conjunto com as Entidades Empresariais dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul não têm medido esforços para viabilizar o crescimento do país, através do setor produtivo. Discutir a competitividade do setor empresarial e a logística de transportes é uma questão emergente para sustentar o desenvolvimento dos Estados do Sul e suas inter-relações com o Centro-Oeste brasileiro, notadamente na área da agroindústria. Essas regiões gozam de ampla integração cultural-territorial, elevado índice de desenvolvimento e uma admirável complementariedade econômica, mas carecem de uma crônica deficiência de infraestrutura. Debater essa problemática tornou-se crucial para a busca de uma solução que terá grande impacto econômico e extraordinários efeitos sociais.
Ampliar os modais logísticos brasileiros, com olhar integrador e desenvolvimentista sobre o futuro que se quer, é o propósito de um grupo de entidades catarinenses denominado pró-ferrovias, que propõe um transporte ferroviário integrado, com o objetivo de garantir e viabilizar a continuidade de uma das maiores cadeias produtivas do Brasil – o Agronegócio, entre outros setores ameaçados pela falta de competitividade com outros mercados.
Neste 12 de setembro de 2023, referendando o trabalho iniciado em 2019, o Movimento Pró-Ferrovias, formado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Comercial e Industrial do Município de Chapecó (Acic), Centro Empresarial de Chapecó (CEC), Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) e Sindicarnes, busca a adesão dos representantes públicos dos Estados que compõe o Codesul para fazer com que o pró-ferrovias seja uma realidade, resgatando assim o esquecido modal ferroviário tão necessário ao desenvolvimento regional e nacional.
Os Estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul possuem contingente de mais de 12 milhões de empregos diretos e, por consequência, postos indiretos surgidos destes, com saldo acumulado de crescimento no IBC-Br do ano 2023, referenciando-se 2022, de 2,3%, 13,4%, 2,8% e 7,4% respectivamente.
A produção industrial destes Estados concentra um indicador de pleno emprego, com sazonalidades quanto ao crescimento ou decréscimo do número de vagas, sendo que o índice de desemprego fica em 3,2%, 5,4%, 3,8% e 5,4% respectivamente, enquanto a média nacional é de 8,8%, porém com alguns Estados com baixa atividade industrial ou agroindustrial chegando a mais de 14% de taxa de desemprego da população economicamente ativa.
Nos municípios em que há presença de atividade industrial ou agroindustrial, nos Estados supramencionados, o IDH é de 0,8>, sendo que o máximo da meta é 1,0, e quando comparamos aos municípios que não possuem atividade industrial ou agroindustrial o IDH fica em torno de 0,6<, demonstrando assim a importância da atividade econômica industrial e/ou agroindustrial.
Apenas como referência, em SC a atividade agroindustrial é responsável por 70% do volume de exportação e 50% da arrecadação com exportações, o que não difere dos demais Estados aqui mencionados. O movimento econômico gerado no mercado interno catarinense por meio da produção agroindustrial é de mais de R$10 Bilhões e soma-se a este os mais de US$4 Bilhões das exportações para mais de 150 países. São valores injetados diretamente na economia local e regional e que serão consideravelmente ampliados com a integração intermodal que se busca, singularmente com a chegada da ferrovia, em momento desafiador, em que há uma burocratização na legislação do sistema rodoviário, bem como com a drástica diminuição do número de motoristas profissionais dos últimos anos.
O projeto logístico intermodal, ora com foco no ferroviário, para que se integre ao rodoviário e marítimo, movimentará insumos e produtos acabados para a indústria e comércio de alimentos e bebidas, móveis, combustíveis e biocombustíveis, madeira e aço, grãos, construção, têxtil, equipamentos elétricos, cerâmico, fármaco, metalmecânico, plástico, dentre outros.
Assim repassamos aos Excelentíssimos representantes dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental confeccionado e financiado pelas entidades que compõe o pró-ferrovias, solicitando o apoio à Vs. Exas. e o compromisso de auxiliar na viabilização de tão importante projeto, bem como estimular e fomentar todas as conexões possíveis através de ferrovias que impactem esta região.
Chapecó/SC, 12 de setembro de 2023.
Acic– Associação Comercial e Industrial de Chapecó, Lenoir Antônio Broch – presidente.
ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal, Ricardo José Santin – presidente.
CEC – Centro Empresarial de Chapecó, Marcos Antônio Barbieri – presidente.
Facisc – Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina, Sérgio Rodrigues Alves – presidente.
Faesc – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina, José Zeferino Pedrozo – presidente.
Fiesc – Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, Mário Cezar de Aguiar – presidente.
Ocesc – Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina, Luiz Vicente Suzin- presidente.
Sindicarnes – Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina, José Antônio Ribas Junior – presidente.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

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compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



