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Extrato da planta Artemisia annua melhora imunidade e ganho de peso da tilápia
Dieta contendo a planta Artemisia annua para a tilápia-do-Nilo modificou a microbiota intestinal dos peixes e melhorou a sua imunidade.

Estudos inéditos conduzidos por cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Embrapa Meio Ambiente (SP) concluíram que a dieta contendo a planta Artemisia annua para a tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) modificou a microbiota intestinal dos peixes, promovendo maior ganho de peso e melhora na sua imunidade. A pesquisa abre caminhos para a formulação de rações para peixes que usem a planta como ingrediente oferecendo ao setor um novo bioproduto. Originária das regiões temperadas da Ásia, a artemísia é encontrada em todo o mundo.

Produto extraído da planta Artemisia annua melhora a saúde intestinal dos peixes – Fotos: Michely Soares
Há um interesse crescente em estratégias para manipular a microbiota intestinal de peixes e proporcionar uma comunidade benéfica para aumentar o crescimento, melhorar o metabolismo lipídico, estimular a resposta imune e melhorar o estado fisiológico da tilápia. As substâncias fitogênicas, como o extrato de artemísia, são compostos naturais considerados ideais como promotores de crescimento, ao mesmo tempo em que melhoram a morfologia intestinal, garantindo maior eficiência produtiva.
Conforme a pós-doutoranda da UFSCar Michelly Soares, dentre os aditivos fitogênicos, a Artemisia annua tem se destacado por seu uso na produção animal, melhorando o desempenho de crescimento, morfologia intestinal e capacidade antioxidante de frangos de corte e leitões desmamados. Para peixes, o extrato da planta mostrou potencial considerável como promotor de crescimento para o cultivo de carpas e trutas. A tilápia-do-Nilo é a espécie mais difundida mundialmente na aquicultura, e a sua popularidade continua aumentando devido aos excelentes resultados produtivos.
Benefícios
Os pesquisadores relatam que os potenciais benefícios da suplementação de artemísia em tilápia-do-Nilo pelos 30 dias do experimento foram evidentes. Soares explica que o extrato da planta modificou as comunidades microbianas intestinais, resultando em uma comunidade mais eficiente e promoveu alterações na morfologia, proporcionando melhor conversão alimentar e eficiência proteica, levando ao ganho de peso e crescimento.

Produto extraído da planta Artemisia annua é capaz de minimizar a necessidade de uso de antibióticos ao fortalecer o sistema imunológico do animal03
Para peixes cultivados, a alimentação é vital na formação do microbioma do trato gastrointestinal, e a sua diversidade se reflete em ganho de peso, desenvolvimento imunológico, inibição de patógenos e várias atividades metabólicas dos hospedeiros. Os compostos bioativos de plantas podem modular a microbiota do trato intestinal, ao mesmo tempo em que promovem o crescimento de bactérias benéficas. Além disso, a modulação da microbiota inibe o crescimento de bactérias patogênicas (que provocam doenças).
“Assim, sugerimos que a suplementação de Artemisia annua, além de atuar como um modulador da microbiota, também desempenha um papel na renovação e maturação do epitélio intestinal, uma vez que proporcionou aumento na altura, perímetro, espessura e relação de vilosidades em intestinos de tilápia. Ambos estão relacionados ao efeito da suplementação de artemísia, que melhorou o desempenho de crescimento da tilápia-do-Nilo”, relata a pesquisadora da Embrapa Fernanda Sampaio.
O pesquisador da Embrapa Claudio Jonsson conta que o intestino é o principal responsável pela digestão e absorção em peixes. Consequentemente, ele também contribui para o crescimento saudável. Jonsson explica que as alterações na morfologia intestinal, como vilosidades mais longas e aumento do perímetro das vilosidades, indicam uma maior capacidade de absorção de nutrientes e uma melhor barreira mecânica no intestino dos peixes. A suplementação de Artemisia annua também proporcionou aproveitamento energético eficiente da ração.
Todos os procedimentos envolvendo os animais do estudo foram realizados seguindo princípios éticos em experimentação animal aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal (CEUA) da Embrapa Meio Ambiente. O CEUA segue a Resolução Normativa nº 44, do Guia Brasileiro de Produção, Manutenção e Uso de Animais para Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea).
Conforme a pesquisadora da Embrapa Sonia Queiroz, os resultados permitiram a obtenção de uma patente para os autores, e no momento a Embrapa, em conjunto com a Terpenia Bioinsumos, empresa dedicada ao desenvolvimento de produtos fitogênicos, está trabalhando na obtenção do produto comercial para ser ofertado ao mercado.
Produção nacional
A produção de tilápia é a que mais cresce no Brasil, que já é o quarto maior produtor mundial da espécie. Segundo o Anuário da Peixe BR, a tilápia está presente em todas as regiões do País. O protagonismo da espécie na piscicultura vem se confirmando ano a ano no Brasil. Em 2021, foram produzidas 534 mil toneladas, um salto de 9,8% ante o ano anterior (486 mil toneladas). Esse resultado representa 63,5% da produção nacional de peixes de cultivo, conforme os dados do Anuário 2022, da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).
Produção mundial
Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que, em 2018, a pesca e a aquicultura juntas atingiram, em todo o mundo, uma produção de cerca de 179 milhões de toneladas, excluindo a produção de algas. A pesca produziu 96,4 milhões de toneladas e a aquicultura produziu 82,1 milhões de toneladas, mas, ao incluir a produção de algas, a aquicultura atingiu uma produção de 114,5 milhões de toneladas. Esses números confirmam a tendência dos últimos anos do incremento de produção da aquicultura, superando o volume produzido pela pesca.
Sobre a pesquisa
O trabalho é assinado por Michelly Pereira Soares, Israel Cardoso, Fabrício Araújo, Carolina De Angelis, Lucas Mendes, Marisa Fernandes, Francisco Rantin, Marta Cristina Duarte, Rodrigo Mendes, Claudio Jonsson, Sonia Queiroz e Fernanda Sampaio. A pesquisa completa você encontra clicando aqui.

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Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.
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Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.



