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Exportações do agronegócio brasileiro somam US$ 14,29 bilhões em agosto

Crescimento é impulsionado por soja, carne bovina e milho, enquanto produtos recordes destacam estratégia de diversificação.

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Foto: Claudio Neves

As exportações do agronegócio brasileiro atingiram US$ 14,29 bilhões em agosto de 2025, alta de 1,5% em relação ao mesmo mês do ano passado. O desempenho foi impulsionado pelo aumento de 5,1% no volume embarcado, que compensou a queda de 3,4% nos preços médios internacionais, segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Os principais produtos da pauta exportadora — soja em grãos, carne bovina in natura e milho — responderam pela maior parte do crescimento. A soja registrou 9,3 milhões de toneladas exportadas, 16,2% acima de agosto de 2024, gerando US$ 3,88 bilhões em receitas, alta de 11%. A carne bovina atingiu 268 mil toneladas, crescimento de 23,5% e receitas de US$ 1,5 bilhão, aumento de 56%. O milho totalizou 6,8 milhões de toneladas, expansão de 12,9%, movimentando US$ 1,36 bilhão, alta de 17%.

Foto: Rodrigo Félix Leal

Além dos produtos tradicionais, itens como sebo bovino, sementes de oleaginosas (exceto soja), feijões, rações para animais domésticos e óleo de amendoim registraram os melhores desempenhos já observados em agosto. O sebo bovino somou 64,7 mil toneladas (+17,2%), gerando US$ 74,1 milhões (+36,4%). As sementes de oleaginosas atingiram 68,5 mil toneladas (+10%), com receitas de US$ 71,3 milhões (+16,5%). Os feijões registraram 58,4 mil toneladas (+29%) e US$ 49,5 milhões em faturamento (+27,5%). As rações para animais domésticos chegaram a US$ 35,9 milhões, crescimento de 22,6%. Já o óleo de amendoim teve expansão de 358% nas exportações, alcançando 13,3 mil toneladas e US$ 20 milhões em receitas, alta de 573,4% em relação a agosto de 2024.

A China se manteve como maior destino dos produtos agropecuários brasileiros, com US$ 5,12 bilhões, alta de 32,9% e participação de 35,8% na pauta exportadora. A União Europeia segue em segundo lugar, com US$ 1,9 bilhão. Entre os mercados em expansão, destacam-se México (+91,9%, US$ 339 milhões), impulsionado principalmente pelas carnes, e Egito (+14%, US$ 342 milhões), puxado pelo milho. Outros países asiáticos, como Índia (+37,3%) e Tailândia (+9,5%), também registraram crescimento nas compras de produtos brasileiros.

Os resultados refletem a estratégia do Ministério da Agricultura voltada à abertura e diversificação de mercados. Somente em agosto de 2025 foram habilitados 22 novos destinos para exportação, elevando o número total de mercados de 58, em agosto de 2024, para 72. As 55 missões internacionais de negociação e promoção comercial realizadas ao longo do ano contribuíram para ampliar o acesso de diferentes cadeias produtivas.

Fonte: O Presente Rural com informações Mapa

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Balanço anual aponta apreensão de 850 toneladas de sementes suspeitas no Brasil

Prática ilegal já ocupa 11% da área de soja e provoca prejuízos bilionários à cadeia agrícola.

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Fotos: Divulgação/CropLife Brasil

As autoridades judiciais do país determinaram, em decisão preliminar, a apreensão de 848,1 toneladas de sementes suspeitas em 2025. O balanço total dos itens é resultado de cinco processos iniciados pela CropLife Brasil (CLB) no decorrer do ano, que apontaram possível prática de pirataria por produtores rurais em cidades do Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia.

As ações, que visam coibir a prática da ilegalidade no campo, evidenciaram produtos com preço abaixo do mercado, utilização de bags brancas e armazenamento irregular, havendo indicativo de violação de direitos de propriedade intelectual e de práticas em desacordo a legislação agrícola.

Bags apreendidas contendo sementes suspeitas

Os trabalhos de monitoramento e acompanhamento para uma atuação preventiva são realizados por Grupo de Trabalho instituído internamente na CLB, que reúne lideranças das empresas associadas e colaboradores de outras entidades do setor. “As apreensões realizadas esse ano são muito importantes, pois demonstram como a gente consegue engajar o poder judiciário para que olhe para esse problema presente no agronegócio brasileiro com seriedade.

Além de, claro, outros atores importantes no combate à pirataria de sementes, que gera diversos prejuízos para os agricultores, para o campo, para a sociedade e para o desenvolvimento de novos produtos”, avalia a advogada e líder de Propriedade Intelectual na CropLife Brasil, Maria Luiza Barros de Silveira.

Depósito de armazenamento irregular com sementes suspeitas

As apreensões de sementes ocorreram nas cidades de São Mateus do Sul (PR), de 341 toneladas; São Valentim (RS), de 16,6 toneladas; Bozano (RS), de 243 toneladas; Luis Eduardo Magalhães (BA), de 217 toneladas; e Santa Rosa (RS), de 30,5 toneladas.

Os processos terão prosseguimento junto à Justiça para confirmação das condutas suspeitas.

Pirataria de Sementes

A pirataria de sementes de soja no Brasil é uma realidade e a estimativa é que ocupem 11% de área plantada da cultura, o equivalente ao total do plantio em Mato Grosso do Sul. Em valores, gera perdas de R$ 10 bilhões ao ano para agricultores, indústria de sementes, setor de processamento de grãos e exportações. Os dados são resultado de estudo inédito de 2025 realizado pela CropLife Brasil, em parceria com a Céleres Consultoria.

Fonte: Assessoria CropLife Brasil
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Sistemas integrados fortalecem a pecuária bovina no Cerrado

ILP e ILPF elevam o desempenho produtivo, melhoram o solo e ampliam o bem-estar animal, segundo a Embrapa.

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Participantes conheceram a experiência da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), com sistemas de integração e agricultura regenerativa - Foto: Alexandre Veloso

Os benefícios em produtividade e sustentabilidade dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), estratégias de produção da agricultura regenerativa, foram apresentados por pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF) durante visita de campo na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), no último dia 6.

O evento encerrou a Capacitação Gratuita em Pecuária Bovina e Pastagem Regenerativas, promovida pelo LabAgroMinas, programa de agroinovação do centro de pesquisas e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), e pelo Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS).

Iniciada em 16 de setembro deste ano com o apoio da Secretaria de Estado Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG) e da Emater-MG, a capacitação on-line foi estruturada em cinco módulos, totalizando 66 horas/aula. O objetivo foi difundir conhecimentos e soluções que aliam melhoria no desempenho produtivo, responsabilidade ambiental, resiliência climática e inovação, contribuindo para aumentar a competitividade da pecuária mineira. Participaram 840 produtores rurais, profissionais de assistência técnica, estudantes, pesquisadores e outros atores do setor agropecuário.

Benefícios do sinergismo dos componentes da ILP

Foto: Divulgação/Rede ILPF

O pesquisador Lourival Vilela apresentou resultados de pesquisas da Embrapa Cerrados com ILP que comprovam a sustentabilidade e a sustentabilidade desse sistema. De acordo com estudo da Embrapa, dos 177 milhões ha de pastagens no Brasil, 109 milhões ha têm algum nível de degradação e, desses, 28 milhões ha apresentam condições de logística, infraestrutura e topografia para serem recuperados com agricultura.

“A ILP explora o sinergismo das interações solo-planta-animal de áreas que integram as atividades de produção agrícola e pecuária”, explicou Vilela, apontando os três princípios desses sistemas – revolvimento mínimo do solo, cobertura permanente do solo e diversificação de espécies. “O solo é o compartimento centralizador dos processos da ILP. Os benefícios virão se houver balanço positivo de carbono, e este ocorre se os atributos químicos, físicos e biológicos do solo estiverem equilibrados”, disse, acrescentando que é preciso adotar sistemas mais biológicos para garantir a sustentabilidade da agricultura e a vida no planeta.

Entre os benefícios proporcionados pela ILP, estão a melhoria dos atributos químicos, físicos e biológicos do solo, visando à saúde do solo; maior ciclagem e aumento da eficiência de uso de nutrientes; redução de pragas, doenças e plantas invasoras; mitigação do déficit de forragem na estação seca; bem-estar animal; mitigação de gases de efeito estufa (GEE); aumento da produção de grãos e forragem, bem como de carne e de leite; redução de risco pela diversificação de atividades; e intensificação e utilização racional dos fatores de produção.

Vilela mostrou dados de uma pesquisa com o sistema de ILP São Francisco, em que o capim é sobressemeado na soja em final de ciclo, comprovando maiores ganhos em peso dos animais durante a estação seca com o uso de diferentes forrageiras avaliadas.

Um estudo comparou a produção de palhada em milho solteiro e milho consorciado com capim, demonstrando a maior ciclagem de nutrientes no sistema em consórcio, com equivalente em ureia (fonte de nitrogênio) de 140 kg/ha, 230 kg/ha equivalentes em superfosfato simples (fonte de fósforo) e 90 kg/ha equivalentes em potássio.

Para comprovar o aumento da matéria orgânica do solo e a maior eficiência de uso de fósforo, o pesquisador apresentou uma pesquisa da década de 1970 na Embrapa Cerrados que comparou um sistema de rotação soja-milho com um sistema soja-milho que incluía capins braquiária em consórcio com o milho. A área com capim apresentou, além de maior teor de matéria orgânica do solo, mais kg de grãos por kg de fósforo residual, ou seja, utilizou menos fósforo que a área sem consórcio para obter a mesma produção de soja, demonstrando maior eficiência de uso do nutriente.

Outro estudo, comparando milho solteiro e milho consorciado com a forrageira Panicum maximum BRS Zuri, comprovou o melhor controle de plantas invasoras como a buva, com redução de 70% da ocorrência.

O pesquisador destacou intensificação dos usos dos fatores de produção ao longo do ano com a adoção dos sistemas de ILP. Quando a soja era plantada em monocultura, a terra era utilizada em apenas 42% do tempo de um ano agrícola. “À medida que fomos introduzindo o sistema, passamos a produzir o ano todo na fazenda, mantendo o solo coberto. Esse é um dos grandes benefícios desse sistema”, afirmou, mostrando dados de produtividade da soja em primeira safra, milho na segunda safra e animais na terceira safra, sendo a palhada para o Sistema Plantio Direto a quarta safra.

Em uma propriedade em Tocantins, foi feito um trabalho de rotação de soja e milho com Brachiaria brizantha cultivar Marandu e 780 cabeças de novilhas de corte em 139 ha na entressafra (período seco). Entre julho e setembro (55 dias), o animais obtiveram ganho de peso médio de 809 g/dia e 202 kg/cabeça/ha em peso vivo médio.

Foto: Gabriel Faria

Opção de ILP para o Oeste da Bahia, o Sistema Boi Safrinha, avaliado desde 2009 numa fazenda em Formosa do Rio Preto, constitui-se no plantio, após a soja, de milho consorciado com braquiária. De acordo com os dados obtidos entre 2013 e 2015, quando a pastagem formada é pastejada por bovinos, os rendimentos da soja na safra seguinte são superiores aos da soja cultivada após a pastagem sem pastejo. “No final dos três anos, houve uma diferença de 11 sc/ha. Multipliquem isso por hectare e pelo preço (da saca de soja)”, sugeriu Vilela, citando um estudo chinês que afirma que o pastejo é um fator crucial na estruturação das comunidades microbianas do solo por promover a mudança de um sistema dominado por fungos para outro dominado por bactérias. “Há muito o que aprender sobre a dinâmica de microrganismos no solo”, observou.

Segundo o pesquisador, a entrada do componente arbóreo nos sistemas de integração se deu em função do aumento da demanda por madeira para a produção de energia e, ao mesmo tempo, da pressão para não haver a abertura de novas áreas. Ele apresentou dados de um estudo realizado na Embrapa Agrossilvipastoril (MT) comparando pastagem solteira, ILP, ILPF com três linhas de árvores no renque e ILPF após desbaste de uma linha de árvores – esta última apresentou os melhores resultados em ganho de peso dos animais.

Vilela apresentou, ainda, dados da avaliação da temperatura superficial de vacas Gir e Girolando a pleno sol e à sombra durante as estações seca e chuvosa. O bem-estar animal proporcionado pela sombra resultou em maior taxa de reprodução dos animais, com produção de 81% mais ovócitos viáveis e de quatro vezes mais embriões in vitro em relação às vacas a pleno sol.

O pesquisador fez um histórico da implantação dos sistemas de integração na Fazenda Santa Brígida, iniciada em 2006, quando a propriedade praticava pecuária de baixa produtividade em pastagens degradadas e contava com apenas dois vaqueiros. Diferentes sistemas de integração foram então testados, gerando diversos dados que mostram, ao longo dos anos seguintes, os incrementos crescentes de matéria orgânica e do fósforo no solo, na produtividade de soja e de milho e na taxa de lotação dos animais e produtividade de carne. Na safra 2024/25, a soja cultivada em 1080 ha alcançou 78 sc/ha e o milho de primeira safra (255 ha) 195 sc/ha; na safrinha, o milho obteve 110 sc/ha em 185 ha, o girassol 41 sc/ha em 490 ha e o sorgo 86 sc/ha em 250 ha.

“A fazenda saiu de uma área de pastos degradados e chegou à condição atual de ter 20 funcionários registrados e com plano de saúde, e toda a equipe treinada. Hoje, podemos ver uma fila de caminhões que chegam para serem abastecidos com soja. Pensem no impacto disso na economia da região”, sintetizou Vilela. “Temos que intensificar de forma sustentável o uso de nossas áreas, sejam elas grandes ou pequenas”, finalizou.

Vantagens das árvores na ILPF

Fotos: Shutterstock

“Qualquer sistema integrado chama a atenção por três pontos: a diversificação de espécies, de investimentos e de renda; o balanço de carbono e a maior eficiência dos sistemas de produção agropecuários, sobretudo na questão da ciclagem de nutrientes”, destacou o pesquisador Kleberson de Souza ao falar sobre os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.

Para explicar o porquê da inserção de árvores num sistema que já é integrado (ILP), ele listou benefícios exclusivos do componente arbóreo: a ambiência animal promovida pelo sombreamento, que reduz o estresse térmico, melhora o bem-estar animal e pode aumentar a produtividade; a diversificação da produção como ferramenta de diminuição de riscos do sistema com o cultivo de espécies florestais, gerando renda adicional com madeira, frutos ou biomassa, energia, celulose, resinas amêndoas, entre outros; o aumento da biodiversidade, com a criação de habitats para fauna e flora, favorecendo o equilíbrio biológico; e sequestro de carbono, uma vez que as árvores capturam gás carbônico da atmosfera, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.

Souza apresentou um gráfico da evolução do preço médio do metro cúbico da madeira do eucalipto no Mato Grosso do Sul, que valorizou cerca de 150% desde 2020, tendência que deve ser mantida para os próximos anos, assim como o aumento da demanda na região devido à instalação de usinas de etanol de milho, que utilizam a madeira como energia. Por outro lado, os preços do boi gordo têm sofrido grandes oscilações nos últimos 15 anos, enquanto os preços dos fertilizantes tiveram fortes aumentos. “Se conseguirmos diversificar a produção na propriedade, correremos menos riscos. Se precisarmos vender o boi a preços mais baixos do que compramos, uma poupança verde de madeira pode nos salvar. E, ao contrário do boi, que dá prejuízo se permanecer muito tempo no confinamento, a árvore só está ali crescendo”, observou.

Para a implantação do componente florestal na propriedade, alguns critérios devem ser observados: a arquitetura da copa da árvore tem que ser favorável (mais ereta); facilidade de estabelecimento para minimizar a quantidade de tratos culturais; crescimento rápido, para que os animais sejam colocados na área o quanto antes; ausência de efeitos tóxicos para os animais e de efeitos alelopáticos sobre as forrageiras e os cultivos agrícolas; tolerância a ataques de insetos e doenças; resistência ao vento, o que ajuda na manutenção de água no solo; ausência de raízes superficiais, diminuindo assim a competição com outras culturas; e a ausência de caráter invasor.

A forma de distribuição das árvores, segundo o pesquisador, depende da finalidade da produção – energia, serraria, construção civil; da declividade e da face de exposição; da proteção dos demais componentes do sistema; e, principalmente, da conservação de água e solo. A partir de resultados de pesquisas, recomenda-se que o espaçamento entre renques de árvores seja de não menos que 30 m; o alinhamento deve ser preferencialmente Leste-Oeste para maior incidência de radiação solar no espaço entre renques, reduzindo a competição por luz entre os componentes do sistema; e definir o espaçamento múltiplo dos implementos, colocando 1 a 2 m de faixa de segurança. A distância máxima entre os renques deve ser três a quatro vezes a altura das árvores para garantir os benefícios do componente florestal no sistema.

Souza lembrou que com o crescimento das árvores, o sombreamento aumenta e a quantidade de forragem diminui. Ele mostrou um estudo em que uma pastagem com 45% de sombra apresentou densidade volumétrica de 71,6 kg/cm.ha, e de 111,5 kg/cm.ha a pleno sol. “De fato, deve-se ter cuidado com a inserção do componente florestal”, comentou. Também citou uma pesquisa realizada em Sinop em que num sistema de ILPF com desbaste do componente florestal, reduzindo a densidade para 90 árvores/ha e com 37 m de distância entre renques, houve maior ganho de peso dos animais.

Quanto ao estoque de carbono no solo, a presença do componente arbóreo confere superioridade do sistema ILPF em relação ao sistema ILP, como mostrado em estudo que avaliou o acúmulo de carbono (mais 12%) e de nitrogênio (mais 24%) na camada de 0 a 100 cm em área experimental. A biomassa florestal total acumulada durante seis anos num sistema com 130 árvores/ha foi de 60 t/ha, sendo 79% nos troncos (47 t/ha). Considerando-se 50% em carbono no tronco, isso corresponderia a 23,5 t/ha de carbono, o que representa 86 tCO2 eq/ha ou 14 tCO2 eq/ha/ano, ou, ainda, 30 kg C/árvore/ano. “Se fizéssemos 4 milhões ha, que é menos de 10% da área plantada de soja no Brasil, com um sistema ILPF com 50 árvores/ha, seria mais que suficiente para sequestrar toda a emissão de GEE do País”, disse.

O pesquisador destacou a diversificação de renda proporcionada pelo sistema de ILPF – além das safras de soja, milho e animais, a quarta safra são os produtos do componente florestal e, a quinta, os serviços ambientais, entre eles o sequestro de carbono, cujo mercado ainda não está estabelecido no Brasil, e o armazenamento de água no solo.

Outro aspecto destacado é o balanço de carbono do sistema ILPF. Resultados de um estudo comparativo realizado na Embrapa Cerrados em que foram computados as emissões de metano entérico dos animais (sem as excretas), o sequestro de carbono no solo e a fixação de carbono nos troncos, o balanço de carbono do sistema ILPF (21,89 tCO2 eq/ha/ano acumuladas) foi bem superior ao do sistema ILP (0,86 tCO2 eq/ha/ano acumulada) e ao da pastagem de baixa produtividade (0,91 tCO2 eq/ha/ano emitida).

“Com isso, se uma propriedade fizer ILPF com eucalipto em 15% da área, ela vai mitigar todos os GEE dentro da fazenda, tamanho é o potencial de sequestro de carbono do componente arbóreo”, afirmou. “Esse é um sistema muito eficiente quanto ao uso dos recursos naturais e dos insumos utilizados”, completou.

Souza também abordou a questão da substituição versus adição de renda, componente de mercado que deve ser considerado ao se inserir a árvore no sistema de integração. Ele explicou que quando se implanta uma linha simples de árvores seguindo as recomendações da pesquisa, não há competição com o sistema agrícola nem com a pastagem, ocorrendo adição de renda, já que a venda da madeira não trará prejuízo na produção de forragem ou agrícola.

Já no caso de renques duplos de árvores, é preciso atenção ao mercado, pois ocorre uma substituição de renda, em que a venda da madeira ou do produto oriundo do componente florestal terá que compensar a perda com a diminuição da produção agrícola ou de forragem. E em sistemas com renques triplos, a competição das árvores com a parte agrícola ou a pastagem é ainda maior, sendo que a madeira da linha central tende a ter mais valor agregado (para serraria e construção civil) que as das linhas laterais (biomassa para energia, cercas e mourões).

Entre as alternativas ao eucalipto, o pesquisador citou algumas espécies nativas que têm sido avaliadas pela pesquisa em sistemas integrados, como o baruzeiro e as oliveiras.

Ele concluiu a apresentação salientando que demanda e mercado para inserção do componente florestal no sistema de produção são fatores chaves, mas é preciso haver estímulo por parte das instituições de fomento. Nesse sentido, o uso da madeira na serraria e na construção civil, segundo o pesquisador, poderiam ser incentivados devido ao carbono sequestrado.

Papel dos bioinsumos

Maurício Piccin, assessor técnico do GAAS, abordou o papel dos bioinsumos na estratégia de transição para a agricultura tropical regenerativa, modelo que visa transformar agroecossistemas tropicais em sistemas produtivos resilientes, mais eficientes e integrados às dinâmicas naturais, reconectando a agropecuária à natureza, reduzindo a dependência externa de insumos e conferindo maior rentabilidade ao produtor.

Nesse sentido, Piccin apontou como pilares da agricultura tropical regenerativa a manutenção do solo sempre vivo e coberto; a economia regenerativa, com viabilidade econômica sustentável em longo prazo; e o manejo integrado, no qual as tecnologias estão integradas aos processos naturais, como é o caso dos sistemas de ILP e ILPF.

Foto: Gabriel Faria

Ele trouxe a visão de agricultura regenerativa na qual a planta faz parte de um sistema chamado holobionte, em que todos os organismos estão conectados entre si. “Toda a micro, meso e macrofauna do solo está conectada à planta e esse sistema funciona em conjunto. É um único sistema, que precisa ser fortalecido com o aumento da presença desses organismos nos nossos sistemas produtivos. Essa visão traz consequências de manejo”, apontou.

Outra visão apresentada é a de cadeia alimentar do solo, em que os micro e macroorganismos se relacionam em cadeia: a planta produz energia e matéria orgânica, que é utilizada pelas bactérias, fungos e nematoides; os predadores desses organismos (artrópodes, protozoários, nematoides) liberam nutrientes que são prontamente disponibilizados às plantas; e esses predadores, por sua vez, servem de alimento a animais de níveis mais altos da cadeia (artrópodes, nematoides, pássaros, mamíferos).

“O problema na agricultura atual é que desarrumamos essa cadeia. O caminho é buscar reconstitui-la e temos estratégias para isso”, afirmou, citando os sistemas de integração e o uso de bioinsumos para potencializar a biodiversidade do solo no sistema produtivo.

Os bioinsumos podem ser produzidos pela multiplicação de uma comunidade de microrganismos, visando ao equilíbrio da vida no solo e à melhoria sistêmica; ou pela multiplicação de um microrganismo isolado, buscando um efeito específico e pontual, com consequências duradouras.

Piccin explicou como os microrganismos podem ser multiplicados em meios sólido e líquido; os diferentes tipos de comunidades microbianas formados por meio de soluções com mix de microrganismos, por matéria orgânica de plantas de cobertura ou por compostagem a partir de subprodutos da propriedade; e métodos de produção de comunidades de microrganismos.

Ele ponderou que a substituição de tratamentos químicos por biológicos é um processo que deve ser planejado e construído. “Não vamos a uma área que não tenha um processo de transição, de aumento da diversidade biológica e simplesmente substituímos (os produtos)”, afirmou.

Segundo o assessor técnico do GAAS, os bioinsumos cumprem alguns papéis na estratégia de transição para a agricultura regenerativa, como a recomposição da diversidade da biota do solo, potencializando a decomposição da matéria orgânica, a ciclagem de nutrientes e a proteção das plantas; atuação funcional na rizosfera; redução do uso de químicos no sistema de produção e diminuição de custos.

A ideia, segundo Piccin, é olhar mais para os processos e menos para os produtos. “A onda dos bioinsumos vem com um apelo comercial de substituição de produtos químicos por biológicos, mas mantendo a mesma lógica, o que não funciona. Se só trocarmos o químico pelo biológico, ela vai até um ponto, mas não entregará tudo o que pode num processo de mudança manejo”, explicou, salientando o foco nos processos que definem um novo tipo de produção num novo sistema de produção.

Dessa forma, ele ressaltou que os produtos biológicos não são soluções mágicas, mas uma ferramenta de apoio ao manejo na transição que deve ser usada com critérios para evitar ou reduzir as práticas nocivas e recompor a diversidade biológica dos agroecossistemas. “Temos que fazer um diagnóstico do sistema de produção, avaliar qual estratégia utilizar e acertar olhando a diversidade e não a especificidade. É a diversidade que fará o processo de transição”.

Após as palestras, os participantes da capacitação conheceram, em campo, a experiência da Fazenda Santa Brígida, modelo de referência em sistemas de integração e em agricultura regenerativa, apresentada pelo consultor agrícola Roberto Freitas e pelo gerente operacional da propriedade, Alex da Silva.

Promoção da agricultura tropical regenerativa para a sustentabilidade

Ao fomentar práticas de agricultura sustentável em Minas Gerais, o programa LabAgroMinas busca incentivar a adoção, pelos produtores do estado, de novas tecnologias que reduzam as emissões de gases de efeito estufa, promovam a regeneração do solo e garantam alto desempenho das culturas em qualidade e produtividade. As operações do LabAgroMinas no Cerrado mineiro são executadas em sinergia com o programa LabCerrado, uma parceria entre a Embrapa Cerrados e a empresa de logística VLI S/A.

O chefe-geral da Unidade, Sebastião Pedro, lembrou que o LabAgroMinas promove a aceleração da agricultura regenerativa climaticamente inteligente. “Pela primeira vez entre instituições financeiras, o BDMG foi sensível a uma abordagem científica levada pela Embrapa Cerrados. Hoje, estamos mudando o paradigma: de uma agricultura e pecuária muito baseadas em insumos nos últimos 50 anos, para uma agricultura e pecuária de processos biológicos, porque o solo é químico, físico e biológico”, comentou, acrescentando que os solos agrícolas do Cerrado foram química e fisicamente corrigidos ao longo dos anos, mas podem estar ou não biologicamente saudáveis.

Ele explicou que o LabAgroMinas é um programa de aceleração por agregar todas as tecnologias já desenvolvidas e disseminá-las, acelerando o desenvolvimento do setor produtivo. “Temos mais de 750 tecnologias desenvolvidas na Embrapa Cerrados, mas elas não chegam ao agricultor e ao pecuarista sem investimento. Quem investe é o agente financeiro, e ele precisa acreditar. O BDMG é o exemplo disso no Brasil e no mundo”, disse, agradecendo ao Banco pela confiança.

Sebastião Pedro salientou ainda que, além da sustentabilidade social e ambiental, o setor primário brasileiro está buscando a sustentabilidade econômico-financeira, o que para ele sinalizaria o final de um ciclo, já que o País importa 85% dos fertilizantes e praticamente 100% das moléculas de agroquímicos, com elevados custos logístico e cambial.

“Viemos muito bem até aqui, só que a conta não está fechando mais. Está acontecendo na agricultura de commodities e vai acontecer na pecuária: à medida que adubarmos a pastagem e intensificarmos a produção com animais de ciclo curto, o investimento ficará caro. E talvez não estejamos usando bem o principal insumo, que é o capim. O consumidor hoje só fala em sustentabilidade, e estamos aqui trabalhando com um tema que visa à sustentabilidade”, concluiu.

Maria Isabel de Camargos, representante do BDMG, recordou que essa é a terceira capacitação em agricultura regenerativa promovida pelo programa LabAgroMinas. Em 2024, foi realizada uma capacitação focada em cafeicultura e, no ano anterior, o tema foi a introdução de novas tecnologias voltadas à agricultura de baixo carbono em Minas Gerais. “Nessas capacitações, alcançamos 2,4 mil pessoas. Neste ano, o BDMG recebeu um prêmio de inovação financeira da Alide (Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras para o Desenvolvimento) pelo LabAgroMinas”, disse, informando que o banco de fomento já aprovou 19 projetos de agricultura regenerativa, beneficiando 3,5 mil hectares.

“Precisamos desse trabalho de multiplicação e divulgação da agricultura regenerativa, que é algo novo e está revolucionando a nossa agricultura tropical sustentável”, afirmou Ronaldo Trecenti, membro do GAAS, representando o presidente Paulo Bufon.

Aluno da capacitação, o secretário de Agricultura de Ipameri, Plínio Machado, concorda que o atual ciclo da agricultura brasileira está chegando ao final e que, de agora em diante, é preciso pensar no uso das práticas de agricultura regenerativa para ser sustentável tanto do ponto de vista do solo como econômico, garantindo um futuro longevo. “Temos que tentar difundir essas práticas ao máximo possível (no município), aproveitando a bela vitrine que é a Fazenda Santa Brígida, que é pioneira. Muita gente já está se espelhando nela e, cada vez mais, temos que usar os exemplos daqui para que possamos ter sustentabilidade nos nossos negócios”.

Para Cristiano Barros, gestor de sementes na AgroBrasil, empresa com atuação em Minas Gerais, Goiás, Tocantins e no Sul do Pará, foi gratificante participar tanto das aulas curso como das palestras da visita de campo, por terem tratado de temas pontuais. “Estamos passando por um processo que precisa de sustentabilidade, como foi falado hoje. Precisamos de sistemas mais resilientes. O uso das pastagens, das florestas e dos animais foi muito bem abordado e acredito ser o caminho que temos que seguir”, afirmou.

Fonte: Assessoria Embrapa Cerrados
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Safra de soja 2025/26 pode atingir novo recorde no Brasil

Mesmo com clima irregular, produção pode chegar a 178 milhões de toneladas, aponta cenário de mercado.

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Fotos: Jaelson Lucas/AEN

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) manteve inalterados os números do balanço americano de soja para a safra 2025/26, preservando as estimativas de produção, exportações e estoques finais. A decisão ocorre mesmo diante de dados semanais de exportação que indicam a possibilidade de embarques abaixo do volume projetado pelo órgão.

No cenário global, o USDA elevou a projeção de estoques mundiais de soja para 2025/26, agora estimados em 122,4 milhões de toneladas. O volume representa aumento em relação ao relatório anterior, embora ainda fique abaixo do registrado na safra passada.

Foto: Gilson Abreu/AEN

Na América do Sul, a Argentina anunciou a redução permanente das alíquotas de exportação para grãos e derivados. A taxa da soja foi reduzida de 26% para 24%, enquanto a dos subprodutos caiu de 24,5% para 22,5%. A medida busca aliviar a carga tributária do setor agropecuário e estimular as vendas dos produtores, em um momento de forte retração da receita cambial. Em novembro, a entrada de dólares com exportações somou US$ 759,7 milhões, queda de 62% em relação ao mesmo período de 2024. A decisão também visa reduzir a incerteza gerada com o fim da redução temporária das retenciones adotada no início do ano.

No Brasil, apesar das chuvas irregulares e dos atrasos no plantio em algumas regiões, o desenvolvimento das lavouras segue, de forma geral, dentro de um quadro positivo. O mês de dezembro será decisivo para a consolidação do potencial produtivo em diversas áreas. Caso se confirmem as projeções climáticas para os próximos meses, a safra brasileira poderá alcançar um novo recorde, com produção estimada em torno de 178 milhões de toneladas.

Para o ciclo 2025/26, a expectativa é de crescimento tanto da demanda interna quanto da externa, projetadas em 64,2 milhões e 112 milhões de toneladas, respectivamente. Ainda assim, mesmo com o avanço do consumo, os estoques brasileiros devem voltar a crescer ao final da temporada.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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