Notícias Safra de inverno
Expectativa de safra nacional recorde e mudanças no comportamento do consumidor ditam os rumos do setor do trigo no Brasil
Temas foram debatidos ao longo da 28 ª edição do Congresso Internacional da Indústria do Trigo
As perspectivas e desafios do mercado da cadeia da triticultura brasileira foram os temas que nortearam a abertura da 28ª edição do Congresso Internacional da Indústria do Trigo, organizado pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo – Abitrigo, na manhã de hoje, 21 de setembro.
As discussões começaram pelas impressões trazidas pelo presidente do conselho deliberativo da associação, João Carlos Veríssimo, que deu as boas-vindas aos participantes, seguido por um panorama geral sobre o setor. “Após 19 meses de pandemia começamos a ver sinais de controle da Covid-19, assim como seus efeitos nos mais diversos setores. O aumento expressivo dos fretes marítimos e nacionais, que reflete diretamente no preço do produto que entregamos aos consumidores traz, ao mesmo tempo, um retorno do investimento ao produtor, mas também um gasto pesado ao consumidor final”, apontou.
O Deputado Federal e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Sérgio Souza, alerta que o grande gargalo do setor é o custo de produção. “A principal meta da FPA é reduzir o valor do trigo no mercado e só conseguiremos isso ao baixar o custo da produção e dos gastos com equipamentos”, argumentou.
Ainda na abertura do evento, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Guilherme Bastos Filho, que na oportunidade representou a Ministra Tereza Cristina, destacou a perspectiva de produção recorde de trigo no território nacional. “De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), entregaremos cerca de 8,15 milhões de toneladas. Isso mostra o excelente resultado do setor, mesmo diante de tantas dificuldades que tivemos frente à pandemia. Há uma expectativa de que tenhamos a segunda safra mais produtiva dos últimos 40 anos, demonstrando a grande expressividade da triticultura brasileira”, comemorou.
A consultora econômica e colunista do jornal O Globo, Zeina Latif, fez uma análise das perspectivas econômicas brasileiras e mundiais e do cenário político para 2022, ao longo da palestra inaugural do evento. Segundo ela, tanto no cenário internacional quanto no cenário doméstico não podemos usar o passado como modelo para o futuro. “São várias forças atuando que limitam a recuperação da economia. Todos os esforços foram feitos para a recuperação do mercado, mas junto a eles a semente da instabilidade, associada a inflação elevada deve, por exemplo, fazer com que o banco central dos Estados Unidos suba os juros antes do previsto, o que refletirá em uma pressão nas moedas. Existe um movimento mundial e nós não estamos alheios a ele”, explicou.
Zeina também falou sobre os reajustes nos rumos da economia e a necessidade de aceleração das reformas. “Não sabemos o que esperar do próximo mandato presidencial e isso gera incerteza. Não há dúvidas que o setor associado às commodities sentem menos as oscilações do ciclo econômico, mas não dá para tomar como exemplo as condições passadas com inflação baixa e a renda crescendo e projetar o futuro. O quadro será muito mais desafiador”, garantiu.
O mercado do trigo no Brasil e o mundo
O presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Celso Luiz Moretti, em sua participação no painel “A dinâmica do mercado do trigo”, falou sobre a contribuição da instituição para o desenvolvimento da triticultura brasileira, que viabilizou, por meio da parceria dos setores público, privado e do produtor, em cinco décadas ao Brasil ser capaz de criar um modelo sustentável e competitivo de agricultura tropical, sem paralelo no mundo.
“Saímos da década de 70 de um importador de alimentos para sermos um dos maiores players globais na produção de alimentos, fibras e bioenergia, exportando para mais de 200 países e alimentando mais de 800 milhões de pessoas. Nesse período, a Embrapa desenvolveu 123 cultivares de trigo e hoje 75% da genética do cereal disponível no Brasil tem tecnologia da Embrapa e de seus parceiros embarcada”, detalhou o presidente.
Para o futuro, Moretti destacou as novas ações em andamento para o setor triticultor. “Estamos trabalhando com estudos prospectivos em novas fronteiras nos estados de Alagoas, Ceará e Pernambuco; agricultura regenerativa (ESG), que está no centro da nossa agenda para a cadeia produtiva do trigo; os bioinsumos; o trigo longa vida, e projeto ‘Good Wheat’, o trigo de melhor digestão, maior teor de fibra e menor teor de glúten”, enumerou Moretti.
O presidente do sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasilerias), Márcio Lopes de Freitas, ressaltou a importância da cadeia do trigo, que tem a sua base produtiva composta, em sua maioria, por pequenos e médios produtores organizados em cooperativas. “Uma das mais fortes características da cadeia do trigo é esse poder de agregação. A maior parte da originação do trigo – cerca de 75% – é feita por agricultores ligados a cooperativas, o que melhora o processo de agregação de valor e de redução de custos, além de fazer o processo de armazenagem e industrialização de maneira mais eficiente”.
“Acreditamos muito nessa cadeia organizada do trigo e temos que romper alguns desafios de política pública e de incentivos para que possamos bater mais uma meta, que é a autossuficiência do trigo brasileiro e, quem sabe, nos tornarmos um exportador mais líquido desse cereal tão importante para o mundo”, acrescentou Freitas.
O consultor privado do mercado do trigo, Pablo Maluenda explicou que o Brasil tem um enorme potencial de produção de trigo, principalmente considerando que o cereal é uma excelente rotação para as lavouras de soja e milho. “Onde a produção de soja cresce, deve ser acompanhada, na medida do possível, por uma extensão da produção de trigo para a rotação de culturas. Deve ser dada grande importância ao desenvolvimento de variedades que possam acompanhar outras lavouras de milho e soja e em climas e condições de terreno diferentes daquele em que o trigo é semeado no Brasil. Variedades que atendam às necessidades decididas pela indústria de alimentos deveriam ser a primeira prioridade no desenvolvimento de novas variedades”, destacou Maluenda.
Segundo o jornalista especializado em agronegócio, José Luiz Tejon, o Brasil não cabe no seu PIB (Produto Interno Bruno), pois tem capacidade para dobrar o seu tamanho. “Para isso é preciso prestar atenção às cadeias produtivas, e o trigo é a cultura que possui a maior cadeia capilar do planeta Terra, e, portanto, tem um papel fundamental nessa meta de contribuição para o PIB brasileiro como um todo”.
O futuro no negócio trigo
O segundo painel da manhã, mediado pelo jornalista William Waack, abordou os fatores que influenciarão o futuro do setor tritícola nacional e as novas tendências de consumo, que ditarão a forma que as empresas atuam no mercado.
O Diretor Geral do Grands Moulins de Paris, Pierre Garcia Benque, ressaltou a influência que a pandemia da Covid-19 teve sobre o mercado. “A crise sanitária que atravessamos há um ano e meio permitiu destacar a importância e determinação de todos da cadeia produtiva trigo-farinha-pão para não só alimentar a população, mas também atender às expectativas dos consumidores que buscam comer bem e de forma saudável”.
Os consumidores foram peças centrais na discussão do painel “O Futuro do Negócio Trigo”, que contou com a participação da Gerente de Novos Negócios da NielsenIQ, Andrea Stoll, da Presidente do Fundo JBS pela Amazônia, Joanita Karoleski, e do Diretor Presidente do Moinhos Cruzeiro do Sul, Antonio Celso Bermejo.
Novos hábitos alimentares e culturais gerados principalmente pela pandemia estão criando uma nova tendência de consumo, segundo Andrea Stoll. “O isolamento social fez com que as pessoas mudassem a dinâmica de compras, passando a realizar compras abastecedoras. Esse hábito causou prejuízos a alguns canais de venda, como mercearias, mas beneficiou outros, como o e-commerce”.
Andrea também aponta saudabilidade e praticidade como fatores que influenciam essa nova tendência. “Quando pensamos no impacto verificamos que houve um aumento no consumo de produtos integrais, sem lactose, veganos, vegetarianos, zero gordura e zero açúcar. Falando sobre farinhas, a integral é o grande destaque”, salienta. Para ela, o consumidor será o principal elemento a ser considerado pelo setor. “O comportamento do consumidor será determinante para o futuro do trigo. Em momentos de alta na inflação e incerteza econômica, ele pode optar por produtos mais baratos, pode buscar embalagens maiores de produtos, como vem sendo o caso dos bolos, ou pode optar por consumir marcas de confiança”.
Ao complementar os desafios enfrentados pelo segmento, Antonio Celso Bermejo traçou um panorama com as características atuais do setor tritícola nacional. “O setor de trigo no Brasil é muito pulverizado. O país conta com 156 plantas industriais de 120 empresas. Ou seja, são pequenas empresas, monoempresas e monoplantas que se dedicam à produção do cereal. Estão inseridas em um mercado dinâmico, mas que tem enfrentado dificuldades com a rentabilidade nos últimos anos”.
Nesse sentido, a gestão será essencial para as empresas do setor tritícola prosperarem no futuro, em meio à inflação. “O setor, em sua maioria, se entende somente como uma indústria e deixa a gestão e a visão de mercado de lado. Se uma empresa não fizer a sua própria gestão, alguém fará por ela”, sentenciou.
Umas das saídas apresentadas para o futuro dos negócios, com ênfase no setor tritícola, é a inovação, um dos pilares do conceito de ESG (sigla para Governança Ambiental, Social e Corporativa). “O ESG é o tripé da sustentabilidade que tem norteado e vai continuar guiando no futuro investidores e consumidores, cada vez mais preocupados com o papel social que as empresas têm, principalmente em relação à sustentabilidade”, explica Joanita Karoleski.
A programação do Congresso seguiu na parte da tarde com a realização de seis painéis temáticos focados em atualidades de mercado e tendências na Europa; como melhorar a rentabilidade do moinho; soluções para atender as legislações vigentes na panificação e da nova rotulagem nutricional; tendências para a cadeia do trigo, além dos temas “Da imunização ao crescimento: as tendências do ‘novo’ normal se tornarão o ‘novo’ hábito?” e “Promovendo conexões convergindo interesses e desenvolvendo a digitalização da indústria do trigo”.
“Estamos vivendo um momento de muitos desafios para a indústria e toda a cadeia do trigo. São vários os elementos que tornam o mercado, nesse ano e nos futuros, muito desafiador. Esse Congresso tem como objetivo debater esse momento para a indústria. Tivemos um número recorde de inscritos e participantes, de 17 países, que reforça a importância que o trigo tem na sociedade”, pontuou o presidente-executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa.
A íntegra do 28º Congresso Internacional da Indústria do Trigo está disponível no canal da Abitrigo, no YouTube.
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Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
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Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.