Conectado com

Suínos

Evolução dos genótipos de PCV2 no Brasil: um desafio para a sanidade suína

Predomínio do PCV2d e emergência do PCV3 reforçam a necessidade de vacinas atualizadas, vigilância genômica e reforço nas práticas de biosseguridade nas granjas.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

Artigo escrito por Equipe técnica da Unidade de Suínos da Ceva Saúde Animal

O Circovírus Suíno tipo 2 (PCV2) é amplamente reconhecido como um dos principais agentes virais responsáveis por perdas sanitárias e econômicas na suinocultura global. Desde sua identificação na década de 1990, o vírus tem afetado suínos em diversas fases produtivas.

O PCV2 pertence à família Circoviridae e é caracterizado por um genoma de DNA de fita simples e circular, envolto em um capsídeo proteico. Apesar de sua simplicidade estrutural, o vírus apresenta elevada resistência ambiental e capacidade notável de resistência nos plantéis. As manifestações clínicas da infecção são variadas, incluindo síndromes sistêmicas, enterites, distúrbios respiratórios, falhas reprodutivas e síndrome de dermatite e nefropatia por circovírus. Deve-se salientar que, em muitos casos, o PCV2 atua como agente oportunista, agravando quadros clínicos já existentes. Além disso, infecções subclínicas, ainda que silenciosas, podem comprometer significativamente o desempenho zootécnico, elevando os custos de produção e o tempo de abate dos animais.

No tocante à evolução genética, destaca-se a alta variabilidade do PCV2, o que favorece o surgimento de múltiplos genótipos. De acordo com pesquisas, nove genótipos distintos foram identificados, denominados de PCV2a a PCV2i, com base nas diferenças na região codificadora da proteína do capsídeo (ORF2). Historicamente, o PCV2a predominou no campo, sendo a cepa utilizada nas primeiras vacinas comerciais. Contudo, a partir dos anos 2000, o PCV2b emergiu e tornou-se o genótipo dominante, associado a surtos clínicos mais severos e maiores cargas virais. Mais recentemente, o genótipo PCV2d tem se expandido globalmente, inclusive em planteis vacinados.

Brasil

No Brasil, a situação não é diferente. Das amostras analisadas, 106 (43,09% – 106/246) foram genotipadas, sendo 75,47% (80/106) identificadas como PCV2d e 22,64% (24/106) como PCV2b, conforme observado em 2021.

Observa-se que o PCV2a, embora tenha sido o genótipo original, não tem sido detectado nas amostras clínicas recentes, o que configura um desafio relevante para a imunização efetiva dos animais. Ademais, a ocorrência de coinfecções entre diferentes genótipos de PCV2, bem como entre PCV2 e o Porcine Circovirus type 3 (PCV3), agrava o cenário clínico e sanitário nas granjas.

Neste contexto, cabe ressaltar que o PCV3, embora seja um vírus geneticamente distinto do PCV2, vem sendo cada vez mais detectado em rebanhos suínos. Identificado pela primeira vez em 2016, o PCV3 tem sido associado a manifestações clínicas diversas, incluindo falhas reprodutivas e miocardite. No entanto, muitos aspectos da sua biologia, epidemiologia e impacto clínico ainda permanecem pouco compreendidos. Embora coinfecções de PCV2 com PCV3 sejam relatadas e possam agravar os quadros clínicos, o real significado da infecção isolada por PCV3 na produção suína continua a ser tema de investigação. A expansão dos estudos sobre o PCV3 será essencial para esclarecer seu papel e para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle mais eficazes.

A vacinação foi um divisor de águas no combate à circovirose suína. Com a introdução das vacinas baseadas no PCV2a, as perdas causadas pela doença despencaram. Conforme evidenciado por estudiosos, a vacinação reduziu significativamente a incidência da patologia e melhorou os índices produtivos. Todavia, a evolução dos genótipos circulantes impõe novos desafios. Torna-se, portanto, necessário atualizar as formulações vacinais, incorporando antígenos representativos dos genótipos emergentes, para garantir uma proteção abrangente e efetiva.

Adicionalmente ao programa vacinal efetivo, é fundamental fortalecer os programas de biossegurança e manejo sanitário, práticas essenciais para minimizar a circulação viral. O monitoramento genético dos vírus em circulação, através da genotipagem de rotina, é igualmente essencial para identificar precocemente alterações na dinâmica viral e orientar estratégias de controle mais eficazes.

Vacinas multivalentes e biosseguridade

Diante desse cenário, a suinocultura brasileira deve investir na inovação e na vigilância contínua. A adoção de vacinas multivalentes, capazes de oferecer proteção contra múltiplos genótipos, representa uma tendência inevitável para o futuro. Combinadas a práticas sanitárias rigorosas e programas de monitoramento eficientes, essas medidas permitirão preservar a competitividade da produção suína nacional frente aos desafios sanitários emergentes.

As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: gisele@assiscomunicacoes.com.br.

O acesso à edição digital do jornal Suínos é gratuita. Para ler a versão completa online, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

Publicado em

em

Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
Continue Lendo

Colunistas

Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Publicado em

em

Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
Continue Lendo

Suínos Imunização inteligente

Gel comestível surge como alternativa para reduzir estresse e melhorar vacinação de suínos

Tecnologia permite imunização coletiva com menos manejo, mantém eficácia contra Salmonella e ganha espaço como estratégia para elevar bem-estar animal e eficiência produtiva.

Publicado em

em

Fotos: Divulgação/American Nutrtients

Artigo escrito por Luiza Marchiori Severo, analista de P&D na American Nutrients do Brasil e acadêmica do curso de Farmácia; e por Daiane Carvalho, médica-veterinária e coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento e Responsável Técnica da American Nutrients do Brasil.

A suinocultura enfrenta desafios complexos na busca por eficiência produtiva, controle sanitário, escassez de mão de obra e bem-estar animal. Doenças infecciosas, como a salmonelose, ainda figuram entre as principais preocupações sanitárias em granjas comerciais, exigindo estratégias de imunização compatíveis com práticas alinhadas a maior eficiência na aplicação e menos estresse aos animais. Nesse contexto, o debate sobre métodos alternativos de vacinação ganha cada vez mais força.

Vacinas orais compostas por microrganismos vivos podem ser administradas aos suínos tanto individualmente, utilizando o método de drench, quanto coletivamente por meio da água de bebida. A aplicação coletiva via bebedouros apresenta a vantagem de reduzir significativamente o estresse dos animais e dos operadores, pois é um procedimento rápido e que demanda pouca mão de obra. Por outro lado, a administração oral individual, como o drench frequentemente empregado em leitões na maternidade, exige contenção um a um para garantir a ingestão adequada, tornando o processo mais trabalhoso e potencialmente mais estressante para os suínos.

Neste contexto, a aplicação oral de vacinas exige soluções tecnológicas que assegurem maior praticidade, estabilidade do imunógeno, homogeneidade da distribuição e, principalmente, aceitação espontânea pelos animais. É neste ponto que o conhecimento dos aspectos relacionados à fisiologia sensorial dos suínos é fundamental no desenvolvimento de produtos que possam atuar como veículos de alta atratividade para vacinas via oral, garantindo maior eficiência nos processos vacinais, bem-estar animal e praticidade.

Gel Comestível

O gel comestível é uma matriz semissólida, palatável e nutritiva, que contém componentes seguros e atrativos ao consumo dos suínos. Esse veículo possibilita a administração coletiva da vacina diretamente em comedouros auxiliares – sem a necessidade de manejo individualizado. Ao ser disponibilizado em áreas acessíveis das baias, o gel é consumido de forma espontânea pelos leitões, respeitando seu comportamento natural e reduzindo drasticamente o estresse associado ao processo de vacinação.

Em estudo conduzido em 2024 avaliou-se a eficácia da vacinação oral contra Salmonella Typhimurium por meio da aplicação através do gel, comparando-se os resultados com a administração tradicional por drench oral. Os leitões vacinados com o gel apresentaram desempenho zootécnico semelhante ao grupo que recebeu a vacina por drench. Além disso, os animais vacinados com o gel apresentaram menor incidência de lesões intestinais após o desafio com cepa virulenta do agente patogênico. Estes resultados comprovam a eficiência do processo de vacinação com a utilização do gel palatável. Da mesma forma, outros pesquisadores, ao avaliar a eficiência de acesso a um gel comercial comestível, evidenciaram que de 10 leitegadas avaliadas, 92% dos animais acessaram o gel, sendo 89% em até 6 horas. Como conclusão os autores afirmaram que o alto percentual de leitões consumidores observados neste estudo demostrou ser uma via de aplicação promissora na vacinação na suinocultura.

Além de favorecer o bem-estar animal, o gel comestível oferece benefícios operacionais significativos: economia de tempo, redução de mão de obra e maior biosseguridade, visto que que se reduz consideravelmente a necessidade de uma equipe externa de vacinadores.

Qualidade, Eficiência e Sustentabilidade

Para que a vacinação via gel comestível seja efetiva, é essencial garantir a homogeneidade da distribuição da vacina no veículo, assegurando que todos os animais recebam uma dose adequada. Ensaios realizados em laboratórios e granjas já demonstram que essa tecnologia é capaz de manter a viabilidade do imunógeno por períodos compatíveis com a recomendação de consumo de vacinas via oral após diluídas, mantendo sua eficácia mesmo em condições ambientais variáveis.

Além disso, o uso de veículos comestíveis está alinhado às boas práticas de fabricação e aos princípios de biosseguridade preconizados por legislações nacionais e internacionais. Com isso, a alternativa se mostra viável tanto técnica quanto economicamente, oferecendo à suinocultura uma ferramenta inovadora para o controle sanitário.

Considerações Finais

A adoção de métodos alternativos à vacinação tradicional representa um avanço estratégico para a suinocultura brasileira, ao aliar eficiência imunológica a práticas mais humanizadas e sustentáveis. Soluções como a vacinação oral, os dispositivos sem agulha e o uso de veículos comestíveis – como o gel – permitem reduzir significativamente o estresse animal, simplificar rotinas de manejo e minimizar riscos operacionais. Investir nessas tecnologias é essencial para fortalecer um modelo de produção alinhado aos princípios do bem-estar animal, da biosseguridade e da competitividade no mercado global.

As referências bibliográficas estão com as autoras. Contato: cq@americannutrients.com.br

Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.