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Estudo da Epagri mostra evolução das agroindústrias familiares catarinenses
Novos empreendimentos fundados a partir de 2010 apontam para essa tendência, que vem acompanhada da crescente presença das mulheres como proprietárias
As agroindústrias familiares catarinenses têm sido usadas cada vez mais com uma estratégia importante para ampliação da renda e permanência das famílias no meio rural. Os novos empreendimentos fundados a partir de 2010 apontam para essa tendência, que vem acompanhada da crescente presença das mulheres como proprietárias, sobretudo nos empreendimentos de processamento de produtos de origem vegetal.
Estudo aponta crescente presença das mulheres como proprietárias
Essas são algumas das conclusões do documento Evolução recente das agroindústrias familiares em Santa Catarina: Análise a partir dos levantamentos realizados pela Epagri em 2010 e 2017, publicado pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa). No estudo, os empreendimentos foram divididos em três grupos: 515 que iniciaram as atividades até o final de 2009 e continuaram ativos em 2016; 418 ativos em 2009 e que encerraram suas atividades entre 2010 e 2016; e 578 empreendimentos que iniciaram suas atividades após 2009 e estavam ativos em 2016.
O tempo de existência, a conformidade com as legislações sanitárias e jurídicas, a diversificação de mercado e o nível de gestão foram alguns dos pontos que marcaram a diferença entre permanecer aberto ou fechar as portas no período do estudo. A maior participação de agroindústrias de produtos de origem vegetal, que são menos suscetíveis às exigências de regulação para inspeção e formalização, também explica parte considerável da consolidação dos empreendimentos existentes em 2009 e ainda operando em 2016, e das constituídas a partir de 2010.
Agroindústrias que iniciaram após 2009 e estavam ativas em 2016
O estudo da Epagri/Cepa avaliou 578 empreendimentos que iniciaram suas atividades após 2009 e estavam ativos em 2016. O objetivo da análise deste grupo foi delinear o perfil destas novas agroindústrias e verificar em que medida elas diferem das que se mantiveram ativas entre os dois períodos analisados, ou mesmo daquelas que encerraram suas atividades antes de 2016.
Cerca de 42% dos empreendimentos novos se declararam pessoa física, indicando que a informalidade ainda era expressiva. Destaca-se, também, a existência de 14% de empreendimentos na modalidade Microempreendedor Individual (MEI), que vem ganhando força no meio. O documento avalia que a não formalização inicial dos empreendimentos pode ser vista como uma estratégia dos agricultores familiares, que preferem experimentar o novo negócio antes de fazer altos investimentos necessários para a sua legalização.
Massa e panificação, aipim e derivados e frutas e derivados (geleias, sucos, compotas, etc) foram as cadeias que tiveram maior número de novos empreendimentos no período. Juntas, elas representam cerca de 69%. Esta expansão de agroindústrias de produtos de origem vegetal está associada, também, com o maior protagonismo das mulheres, que se manifesta, sobretudo, pelo crescimento da agroindústria de massas e panificados.
Considerando todos os empreendimentos pesquisados em 2009, a participação das mulheres era de 30,8%, enquanto no grupo das agroindústrias criadas a partir de 2010 elas representavam 43,9% dos proprietários ou sócios. O estudo detectou ainda que 23% dos empreendimentos têm como proprietários pessoas com menos de 34 anos e 51,8% têm de 35 a 54 anos.
Os empreendimentos novos têm 1.891 pessoas ocupadas, representando 36,9% do total da mão de obra empregada nas agroindústrias pesquisadas no Estado. Destas, 1.565 são pessoas da família do proprietário, cerca de 83%.
Empreendimentos ativos entre 2009 e 2016
Outros dos grupos do estudo é formado por 515 agroindústrias familiares existentes em 2009 e que permaneciam ativas em 2016. Os resultados mostram que o grupo teve evolução positiva, em função da busca por uma maior formalização, inserção crescente no mercado formal e institucional, com ampliação do faturamento.
O valor total bruto comercializado das principais cadeias de produtos apresentou um aumento expressivo de 77,6% no período analisado. Todas as cadeias produtivas tiveram aumento no valor comercializado, embora com percentuais diferentes. As cadeias de frutas e derivados (geleias, sucos, compotas, etc) ovos, mel e derivados (cera, própolis, etc) e cana-de-açúcar e derivados (açúcar mascavo, melado, etc) foram as que apresentaram maior aumento, enquanto a cadeia do aipim, mandioca e derivados foi a que apresentou menor aumento percentual no valor comercializado.
A maior parte do valor comercializado pelas agroindústrias continua ocorrendo através das vendas no município sede do empreendimento e municípios vizinhos. No entanto, em 2016 observou-se um aumento na participação das vendas para outras regiões do Estado e para outros estados da federação.
Entres os empreendimentos abordados pela análise, 81% vendiam parte de seus produtos diretamente para o consumidor em 2009, passando para 79% em 2016, indicando que, embora este segmento de clientes tenha mostrado um leve declínio, está intrinsecamente associado à natureza da agroindústria familiar, onde se valorizam as relações sociais entre produtores e consumidores. Também foi identificado aumento expressivo no percentual de empreendimentos que comercializam para pequenos mercados, como padarias, armazéns, restaurantes, casas coloniais e eventos. Em 2009 eram cerca de 65%, passando para 88,5% em 2016.
Um segmento que vem crescendo em importância nos últimos anos é a venda para os mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). De 25% em 2009, a participação do mercado institucional passou para 38% dos empreendimentos em 2016.
De modo geral, observa-se movimento, muito embora não expressivo, na direção da formalização jurídica no intervalo estudado. A participação de empreendimentos que se declaram como pessoa física, ou seja, sem nenhum tipo de formalização jurídica, diminuiu de 49,9% em 2009 para 40,8% em 2016. Este processo de formalização foi ancorado na crescente participação em cooperativas e na utilização da estratégia de microempreendedor individual (MEI) e de microempresa.
Em 2009, cerca de 75% dos empreendimentos utilizavam rótulos em seus produtos, percentual que alcançou 84,0% em 2016. O uso de marca pelos empreendimentos apresentou um crescimento ainda maior, passando de 31,2% em 2009 para 75,3% em 2016. “O uso de marcas e rótulos em maior proporção é um fator bastante positivo, apontando para uma maior preocupação dos empreendedores com a adequação à legislação”, descreve o documento.
A participação da mão de obra familiar no total de trabalhadores pesquisados diminuiu de 78% em 2009 para 76,4% em 2016. Já a participação de trabalhadores contratados passou de 22% para 23,6%.
Em 2009, cerca de 18% dos empreendimentos não possuíam serviços de inspeção para produtos de origem animal, passando para cerca de 11% em 2016. Para os produtos de origem vegetal, houve um aumento de 15,2% dos empreendimentos em conformidade com a legislação sanitária, embora ainda 23,9% não possuía esta conformidade.
Agroindústrias que fecharam antes de 2017
Outro grupo foi formado por 418 empreendimentos ativos em 2009 e que encerraram suas atividades entre os anos de 2010 e 2016. O estudo mostrou que empreendimentos mais jovens tiveram maior dificuldade de se estabelecer e continuar no mercado: 57,6% dos empreendimentos que fecharam tinham menos de cinco anos de existência e 19,4% tinham de seis a 10 anos.
A pesquisa identificou ainda que exigências de legalização sanitária e legal podem estar associadas à necessidade de maiores escalas de produção e processamento para viabilizar economicamente o empreendimento, o que pode se tornar um entrave para os empreendimentos menores.
Neste aspecto, a informalidade chama atenção: 61,2% não possuíam formalização jurídica, ou seja, se declararam pessoas físicas; 15,8% eram empresas e 14,4% eram unidades de cooperativas descentralizadas. Além disso, 55,5% não usavam marcas e 40% não usavam rótulos.
Das 231 agroindústrias que comercializavam produtos de origem animal e que foram fechadas, 41,6% não possuíam qualquer tipo de inspeção, o que pode ter sido um entrave na manutenção das suas atividades. No entanto, 45,5% possuíam o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), o que as habilitava para venda de produtos no município. “Estes dados permitem levantar a hipótese de que a restrição de seus mercados somente ao município pode ter contribuído para o encerramento das atividades de parte dessas agroindústrias”, descreve o documento. Quanto aos produtos de origem vegetal, constatou-se que 55,8% das agroindústrias não possuíam qualquer registro ou inspeção, e que cerca de 37,5% tinham certificado de vigilância sanitária.
Do total das agroindústrias que fecharam as portas, 80,9% comercializava diretamente ao consumidor, 43,5% em pequenos mercados e 28% em supermercados. Cerca de 69% do valor bruto comercializado pelas agroindústrias deste grupo era oriundo de vendas para o município e regiões circunjacentes.
Cerca de 85% das agroindústrias fechadas declararam que a forma como faziam seus controles administrativos e econômicos eram insatisfatórias. Cerca de 28% declararam, ainda, não ter qualquer forma de controle e 57,1% apenas o controle dos principais itens.
Notícias
Abiove projeta números recordes para complexo da soja em 2025
Expectativa é de que a produção de soja alcance 167,7 milhões de toneladas, enquanto o esmagamento deve chegar a 57 milhões de toneladas.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) projetou o balanço de oferta e demanda para 2025 com números recordes para o complexo da soja. A expectativa é de que a produção de soja alcance 167,7 milhões de toneladas, enquanto o esmagamento deve chegar a 57 milhões de toneladas.
Para o farelo de soja, a estimativa de produção é de 44 milhões de toneladas, e para óleo de soja, 11,4 milhões de toneladas. As exportações também devem atingir novos patamares, chegando a 104,1 milhões de toneladas de grãos. Para o farelo, as estimativas indicam aumento para 22,9 milhões de toneladas, enquanto a comercialização de óleo de soja deve se manter em torno de 1 milhão de toneladas. Ao todo, as exportações devem gerar receitas totais da ordem de US$ 50,8 bilhões. Além disso, espera-se um aumento na importação de óleo de soja, alcançando 150 mil toneladas, e de 500 mil toneladas de soja para suplementar o mercado.
Atualizações de 2024
As estatísticas mensais do complexo da soja até setembro de 2024 também foram atualizadas. A produção de soja se manteve estável, encerrando o ciclo em 153,3 milhões de toneladas e um esmagamento de 54,5 milhões de toneladas. A produção de farelo e óleo de soja permanece inalterada.
Processamento Mensal
Em setembro de 2024, o processamento foi de 4,1 milhões de toneladas, representando uma queda de 5,5% em relação a agosto, mas um aumento de 2,4% em comparação com setembro de 2023 quando ajustado pelo percentual amostral de 90,6%. No acumulado do ano, houve uma redução de 0,3% em relação a 2023, considerando a correção amostral.
Exportação e Importação
O volume de exportação de soja projetado para 2024 cresceu 0,5%, totalizando 98,3 milhões de toneladas; as de farelo e de óleo estão mantidas em 22,1 milhões de toneladas e 1,3 milhão de toneladas, respectivamente.
Notícias
Elevadas doses de calcário no solo aumentam produtividade da soja no Matopiba
Prática não causa desbalanceamento na fertilidade do solo.
A utilização de altas doses de calcário para cultivo de soja de primeira safra, na região do Matopiba, garante um aumento de até 30% na produtividade, em relação às doses recomendadas pelos documentos oficiais. A prática não causa desbalanceamento na fertilidade do solo, embora possa ocorrer uma diminuição dos nutrientes, que pode ser corrigida com adubação. Estas são as principais conclusões dos estudos que vêm sendo conduzidos pela Embrapa Meio-Norte (PI) nos estados do Piauí, Maranhão e Pará desde o ano de 2019. O Matopiba abrange parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
As pesquisas foram iniciadas a partir de uma demanda da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí (Aprosoja-Piauí), que identificou, junto a alguns produtores, a utilização de doses de calcário mais elevadas em algumas áreas. O pesquisador da Embrapa Henrique Antunes explica que a prática tem sido adotada pelo valor dessa commodity. “Os produtores vêm abrindo áreas com doses mais altas de calcário e já plantando soja, que traz um certo retorno. Em outras situações, começam com forrageiras e no segundo ano entram com a soja”, afirma.
A adoção dessa prática, sem respaldo técnico-científico, dificulta o acesso dos produtores ao crédito bancário, “por isso, a pesquisa ajuda a gerar novos critérios que tragam mais segurança para o agricultor”, avalia Antunes. Ele afirma que grande parte dos documentos oficiais sobre fertilidade do solo foram elaborados com base em pesquisas das décadas de 1980 e 1990 e que hoje os agricultores utilizam cultivares de soja com características e demandas nutricionais diferentes, sistemas de manejo do solo mais intensivos e maior quantidade de insumos biológicos e nutricionais. “Tudo isso justifica a necessidade de revisão das documentações oficiais, sobretudo para regiões de fronteira agrícola com condições peculiares”, defende.
O primeiro estudo da Embrapa sobre o tema, realizado em parceria com a Universidade Federal do Piauí (UFPI), buscava avaliar os efeitos da aplicação de altas quantidades de calcário e gesso em áreas de abertura, na fertilidade do solo, no estado nutricional das plantas e na produtividade da soja no Cerrado piauiense. O gesso combinado com o calcário ajuda na melhoria das características do solo reduzindo sua acidez.
A pesquisa
O experimento foi conduzido por duas safras agrícolas (2019/2020 e 2020/2021) utilizando a cultivar de soja BRS 9180. Foram testadas cinco doses de calcário (zero, 5, 10, 15 e 20 toneladas por hectare) e quatro de gesso (zero, 1, 2 e 4 toneladas por hectare), em parcelas com dimensões de 13,2 m x 6,6 m. As doses de 5 toneladas por hectare de calcário e 1 tonelada por hectare de gesso são as mais próximas do padrão atualmente recomendado. Os resultados indicam que doses de calcário próximas a 15 toneladas por hectare praticamente neutralizam a toxicidade do solo por alumínio. Doses entre 10 e 15 toneladas por hectare aumentaram as concentrações de fósforo e potássio, mas quantidades maiores (entre 15 e 20 toneladas por hectare) reduziram as concentrações desses elementos e de micronutrientes, o que ocasionou perda de rendimento dos grãos.
O engenheiro-agrônomo Doze Batista de Oliveira, que escreveu sua tese de doutorado na UFPI a partir dos resultados do projeto, explica que a aplicação de uma dose de 10 toneladas de calcário por hectare resultou em aumentos significativos na produtividade da soja, com incrementos de 18% e 12% nas safras de 2019/2020 e 2020/2021, respectivamente. “Isso demonstra que a calagem promoveu melhorias na fertilidade do solo, o que impulsionou a produção de grãos. O uso combinado de gesso e calcário proporcionou uma rápida melhoria nas características químicas do solo, com a redução da acidez em profundidade”, detalha o agrônomo.
Após os estudos iniciais em parceria com a IFPI, Antunes vem conduzindo outras ações de pesquisa na região do Matopiba e no Pará com o apoio da Rede FertBrasil e recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Segundo ele, dados posteriores revelam um aumento de 20% e até 30% na produção da soja em áreas onde foram utilizadas altas doses de calcário e gesso.
Ele explica que, quando se corrige as características do solo com a aplicação desses corretivos e há uma boa incorporação, as raízes das plantas conseguem explorá-lo melhor, atingindo camadas nas quais não conseguiam chegar anteriormente. Ali elas encontram água e nutrientes e passam pelo período sem chuvas sob uma condição de estresse menor. “O uso de corretivos cria um ambiente propício para o pleno desenvolvimento das plantas, algo fundamental principalmente em regiões de fronteira agrícola, como o Matopiba, que tem uma condição climática um pouco mais sensível, e onde ainda se está criando a fertilidade do solo”, ressalta Antunes.
O pesquisador chama a atenção para a diminuição das concentrações de fósforo, potássio e micronutrientes no solo, quando se utiliza elevadas doses de calcário. Isso se reflete na redução de macro e micronutrientes nas plantas; assim, é necessário que o produtor se atente para uma adubação que corrija essas deficiências.
A experiência do consultor Diógenes Brandalize tem sido positiva. Ele trabalha com uma propriedade de 3 mil hectares no município de Água Branca (PI), na qual planta soja, milho, sorgo e milheto e costumava utilizar 4 toneladas de calcário e meia tonelada de gesso por hectare. Há três anos, passou a empregar doses mais elevadas visando maior produção. O resultado foi um ganho de 20% na produtividade.
Há agricultores que participam do projeto, seguem com o manejo tradicional e aguardam os resultados definitivos das pesquisas. É o caso de Luís Fernando Devicari, que produz soja e milho, além de criar bovinos e ovinos numa propriedade de 1.020 hectares, na Fazenda Barbosa, em Brejo (MA). Devicari relata que costuma utilizar cerca de três toneladas de calcário por hectare, em áreas de abertura e, a cada dois ou três anos, acrescenta uma tonelada por hectare. “Em algumas áreas mais deficitárias aqui na região, os produtores usam doses maiores. Aqui na fazenda, fazemos análise do solo todos os anos e, quando necessário, a gente coloca calcário”, declara.
O engenheiro-agrônomo e consultor Christofer Andre Garanhani, de Paragominas (PA), afirma que os estudos têm ajudado o produtor a tomar decisões sobre o volume de calcário a ser utilizado nas propriedades. “Com a extensão de áreas bastante argilosas que a gente tem, as doses de calcário precisam ser revistas. E os trabalhos aqui têm comprovado que a gente precisa de doses crescentes, principalmente para a composição, formação do perfil e depois, logicamente, para as reposições.”
Ele conta que havia uma expectativa para o uso de doses até mais elevadas, mas com os resultados das pesquisas compreenderam como deve ser utilizado o calcário, buscando equilíbrio para a qualidade do solo. Garanhani acredita que a maior barreira para a adoção dessa prática é o custo mais alto. “Em uma região de fronteira, a gente tem muito custo de abertura, construção e infraestrutura, mas acredito que a maioria dos produtores sabe que doses baixas já não fazem o mesmo efeito, principalmente quando a gente trata de cultivares que já têm alto potencial genético”, analisa.
Brandalize acredita que os produtores da região estão começando a adotar essa prática. “Está ocorrendo uma migração lenta e gradual; em alguns casos, os produtores parcelam a dose total mais alta. A dificuldade de acesso ao crédito atrapalha de certa forma”, conta.
Colunistas
CAR e interesse público
Com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Uma situação está gerando ansiedade e impaciência no universo rural catarinense. O motivo é o imbróglio em que se tornou a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em Santa Catarina. A inscrição do CAR é perene e obrigatória para todas as propriedades ou posses rurais do país.
Criado pela Lei nº 12.651/2012, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Por decisão administrativa do Governo do Estado, a gestão do CAR foi entregue ao Instituto do Meio Ambiente (IMA), mas não evoluiu como seria necessário. Por essa razão, atendendo apelo das principais entidades do agronegócio de Santa Catarina, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador sancionou lei que inclui a Secretaria da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente – SISEMA.
Efetivamente, a lei nº 18.973, de 11 de julho de 2024, incluiu a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente, permitindo que participe da gestão do Cadastro Ambiental Rural, do Programa de Regularização Ambiental (PRA), da Certificação das Cotas de Reserva Ambiental (CRA) e nas políticas de desenvolvimento rural sustentável.
O principal resultado prático esperado dessa medida era a homologação dos 397.731 cadastros ambientais rurais existentes. Mas isso não ocorreu.
Como se sabe, a inscrição no CAR é o primeiro passo para obtenção da regularidade ambiental do imóvel, e contempla: dados do proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural; dados sobre os documentos de comprovação de propriedade e ou posse; e informações georreferenciadas do perímetro do imóvel, das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública, com a informação da localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente (APP), das Áreas de Uso Restrito, das Áreas Consolidadas e das Reservas Legais.
Os proprietários rurais fizeram o CAR em um processo autodeclaratório, mas faltava – e ainda falta – a revisão e homologação desses cadastros pelo Governo do Estado, tarefa que deveria ter iniciado em 2021.
Por que é importante estar com o CAR regularizado? A inscrição no Cadastro Ambiental Rural e a homologação pelo órgão oficial estatal permitem acessar os benefícios do Programa de Regularização Ambiental (PRA) e garantem redução de juros nas operações de crédito rural para custeio e investimentos.
Aparentemente, os órgãos estatais (IMA e SAP) não se entenderam ainda – e quem sai prejudicado é o produtor/proprietário rural. Isso porque o PRA possibilita a suspensão de sanções em função de infrações jurídicas por supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal (RL) e uso restrito, além da regularização das áreas sem autuação por infração administrativa ou crime ambiental.
De outro lado, com o PRA, o produtor também consegue acesso facilitado ao crédito rural, contratação do seguro agrícola em condições melhores e prazo de 20 anos para recomposição do passivo ambiental. São benefícios importantes para nossos agricultores, que são verdadeiros protetores do meio ambiente.
Precisamos correr contra o tempo. Os órgãos da Administração estadual – IMA, Secretaria da Agricultura etc. – devem urgentemente criar grupos de trabalho para homologar o CAR de cada produtor/proprietário rural, levando os benefícios que a lei prevê, como jurídicos e financeiros aos produtores.
A burocracia deve estar subordinada ao interesse público. E não o contrário.