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Estudo com participação paranaense aponta crescimento da agricultura sustentável
Tecnologias que diminuem a emissão de gases de efeito estufa na agropecuária fazem do Brasil um dos principais protagonistas no debate sobre mudanças climáticas

O agronegócio brasileiro vem se comprometendo cada vez mais com a adoção de práticas que poupam os recursos naturais e diminuem a emissão de carbono para a atmosfera. Essa é a conclusão do artigo Desenvolvimento da agricultura de baixo carbono no Brasil, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério da Economia.
“A adoção de tecnologias que diminuem a emissão de gases de efeito estufa na agropecuária faz do Brasil um dos principais protagonistas no debate mundial sobre mudanças climáticas”, aponta Tiago Santos Telles, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) e um dos autores da pesquisa.
Como exemplos dessas tecnologias, aponta o pesquisador do IDR-Paraná, está o plantio direto, uso de estratégias que aproveitam a fixação biológica de nitrogênio pelas plantas e, ainda, a exploração conjunta de espécies florestais em áreas de pastagens e de cultivo de grãos.
O estudo foi realizado com o objetivo de aferir o cumprimento das metas estabelecidas no Plano ABC, de 2010, e partiu da reunião e análise de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Embrapa, Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas) e do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg).
A pesquisa também aponta desafios. “É necessário ampliar os investimentos na recuperação de pastagens degradadas e no tratamento de dejetos animais”, alerta Telles.
Plano ABC
O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, ou simplesmente Plano ABC, foi elaborado em 2010 como parte da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
A PNMC, por sua vez, foi um desdobramento interno da participação brasileira na 15ª Conferência das Partes (COP 15), realizada na Dinamarca em dezembro de 2009. Desse evento resultou o Acordo de Copenhague, em que o Brasil, país signatário, se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) – principalmente metano, dióxido e monóxido de carbono – até 2020.
No Brasil, cerca de 31% do total desses gases são gerados na agropecuária, aponta Telles, principalmente a emissão de metano na criação de bovinos, a liberação de carbono em certas práticas de manejo do solo e, ainda, o desmatamento para a liberação de novas áreas.
O Plano ABC definiu como principais diretrizes a recuperação de pastagens degradadas, a disseminação da produção integrada de lavouras, pecuária e florestas, o incremento do plantio direto, a difusão da fixação biológica de nitrogênio, a ampliação das florestas plantadas e a ampliação no tratamento de dejetos animais.
Resultados
Telles explica que o estudo avaliou a evolução do uso da terra entre 2010 e 2020, juntamente com a adoção das tecnologias preconizadas no Plano ABC. “A maior parte das metas foi alcançada”, afirma.
Os dados indicaram aumento no plantio de árvores em estabelecimentos agropecuários. “Os agricultores se dedicaram ao reflorestamento, cresceu a área de florestas destinadas à preservação permanente ou reserva legal”, acrescenta Tiago Telles.
Quanto à disseminação de tecnologias conservacionistas, o destaque foi a adoção de sistemas integrados de lavouras, pecuária e florestas. Segundo Telles, a meta do Plano ABC era expandir a adoção desse modelo de produção para 4 milhões de hectares. “Foram convertidos 13,76 milhões de hectares”, diz o pesquisador.
A expansão do plantio direto no período é outra importante constatação do estudo. A meta do Plano ABC era expandir em 8 milhões de hectares a área com esse sistema de cultivo. Foram alcançados 16,74 milhões de hectares, um incremento de 209,22% sobre a proposta inicial.
Houve importante crescimento de áreas dedicadas às florestas plantadas – 140% acima da meta – e adoção de estratégias para a fixação biológica de nitrogênio, que alcançou 14,55 milhões de hectares e superou em mais de 260% o objetivo inicial definido pelo Plano ABC.
A baixa adoção do tratamento de dejetos animais e o pequeno incremento na recuperação de pastagens degradadas foram os pontos negativos verificados no estudo.
Frente à meta de tratar 4,4 milhões de metros cúbicos de dejetos animais, obteve-se 1,7 milhão, cerca de 39%. Dos 15 milhões de hectares de pastagens recuperados inicialmente previstos, meros 5,44 milhões de hectares, ou 36,30%, foram alcançados.
Políticas públicas
O pesquisador José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, do Ipea, destaca a importância de avaliar as políticas públicas. Para ele, o estudo permitiu verificar o esforço brasileiro em busca de maior sustentabilidade na produção. “Os resultados destacam o Brasil como líder mundial na construção de uma economia de baixo carbono”, conclui.
Autoria
Juntamente com Telles e Vieira Filho, integram o conjunto de autores do artigo as pesquisadoras Ana Júlia Righetto e Marina Ronchesel Ribeiro, ambas ligadas ao IDR-Paraná. A íntegra do texto pode ser acessada aqui.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



