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Estudo aponta dificuldades e alternativas para adoção da ILP
Resultados vão subsidiar a construção de cenários futuros para ampliar a adoção de sistemas de produção integrada
Pesquisadores mapearam os principais desafios para adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) em quatro estados: Acre, Pará, Mato Grosso e Rondônia. Fatores como a falta de mão de obra capacitada para a lavoura e pecuária, necessidade de elevado investimento inicial, dificuldade de acesso a crédito, problemas estruturais de logística e obstáculos ligados ao mercado estão entre as principais dificuldades relatadas por produtores rurais e profissionais ligados às cadeias produtivas. O trabalho também mostrou quais os caminhos para que os sistemas integrados possam ser mais adotados.
Os resultados vão subsidiar a construção de cenários futuros para ampliar a adoção de sistemas de produção integrada, considerando condições de mudanças climáticas e variações de preços de insumos nessas localidades.
Desconhecimento das vantagens
De acordo com a pesquisa, embora haja entendimento entre os produtores que adotam a tecnologia sobre seus benefícios, a maior parte dos que não fazem ILP desconhecem as vantagens dessa estratégia de produção.
“Conhecer a percepção dessas pessoas em relação às motivações e dificuldades da produção integrada e entender suas perspectivas quanto aos benefícios e impactos desses sistemas é essencial para internalizar a importância dessa forma de produzir e criar mecanismos eficazes para vencer os desafios para adoção dessa tecnologia”, diz a pesquisadora Rachael Garret, professora da Universidade de Boston (BU) à época da pesquisa e atualmente vinculada ao Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ).
Desafios para a adoção
Os resultados também mostraram que os produtores, sobretudo aqueles que já fazem a integração lavoura-pecuária, reconhecem como benefícios da tecnologia o aumento da competitividade e da renda, a maior produtividade do gado e a redução de riscos de mercado. Porém, muitos obstáculos também foram relatados.
Entre os principais desafios para a consolidação da ILP em localidades amazônicas, apontadas pelo estudo, destacam-se as pendências em relação à regularização fundiária e ambiental das propriedades rurais – aspecto que limita o acesso a linhas de crédito rural – a ausência de assistência técnica continuada, o alto investimento inicial necessário para a aquisição de máquinas e implementos agrícolas e a falta de informação sobre esses sistemas.
Infraestrutura é fundamental
Além disso, o estudo mostrou que os elevados preços dos produtos agropecuários e problemas na logística da produção – ocasionados pela precariedade ou ausência de estruturas de armazenamento e pela má condição das estradas para escoamento da produção – também dificultam a adoção da ILP. Os entrevistados mencionaram ainda as limitações agroclimáticas de algumas localidades amazônicas, como a baixa capacidade de drenagem e encharcamento dos solos e o excesso ou escassez de chuvas.
Outro ponto relevante é a questão cultural. Muitos produtores, principalmente os pecuaristas, preferem permanecer em uma única atividade e não assumir o risco de novos financiamentos para iniciar uma atividade incerta.
“Percebemos, nesses atores sociais, certa relutância para adotar sistemas mais complexos como ILP e ILPF. Entretanto, isso não ocorre com produtores com espírito mais inovador. Para incentivar esses perfis de produtores inovadores, muitas barreiras precisam ser quebradas”, informa Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA).
Inovação na troca de gerações
A pesquisa mostrou que uma questão-chave para driblar essa dificuldade tem sido a sucessão familiar. De acordo com o relatório final, os filhos que assumem as propriedades tendem a ser mais abertos às novidades. Entre elas, a adoção da integração lavoura-pecuária. Além disso, o acesso à informação e à assistência técnica é fundamental para a maior adoção.
A proximidade com centros de pesquisa e Unidades de Referência Tecnológica também foi apontada como fator motivador para uso da ILP. Os pesquisadores destacam ainda que, de modo geral, no Acre e no Pará as dificuldades para adotar sistemas de produção integrada são semelhantes. Já em Mato Grosso, por ser um estado com forte tradição agrícola e melhor infraestrutura de fornecedores de insumos, armazenagem e transporte, há maior tendência de uso dessa tecnologia.
Mas ao mesmo tempo em que existe um contexto favorável ao uso dessa alternativa de produção, regiões mato-grossenses que se destacam pela tradição agrícola também apresentam limitações para adoção da ILP, devido à garantia de retorno financeiro em monoculturas de soja, milho e algodão.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Júlio César dos Reis, os resultados obtidos com pecuaristas de Acre, Mato Grosso e Pará podem servir de parâmetro para toda a Amazônia. Porém, ele acredita que o cenário poderia ser um pouco diferente se abordasse agricultores, ou mesmo pecuaristas de outras regiões.
“No caso de agricultores, o ranqueamento das dificuldades e benefícios poderá divergir daqueles identificados na pesquisa, por serem mais ligados à questão da produção como negócio. Sendo assim, o aspecto cultural importaria menos. Se eles percebem a possibilidade de aumento de ganhos com a ILP, ficam mais propensos a mudar o sistema. Perfil semelhante pode ser encontrado com pecuaristas da Região Sul”, avalia o pesquisador.
Fatores que podem aumentar uso da ILP
De acordo com a pesquisa, a ampliação da adoção da integração lavoura-pecuária passa pela intensificação de ações de pesquisa e transferência de tecnologia e, sobretudo, por medidas no âmbito político e financeiro.
Entre as alternativas recomendadas pelos pesquisadores está a regularização da situação fundiária de um grande número de propriedades rurais; a disponibilidade de crédito mais barato, com maior carência e segurado; aumento no número de Unidades de Referência Tecnológica com ILP e ILPF; capacitação de extensionistas para ampliar os serviços de assistência técnica no campo; melhoria na infraestrutura de estradas rurais e silos; melhor acesso a maquinários e silos públicos; modernização das cadeias de valor, com recompensas aos produtores pela produção sustentável; e fornecimento de incentivos por meio do pagamento por serviços ecossistêmicos e estímulo à mudança de cultura.
“Tínhamos o entendimento de que a deficiência de assistência técnica e o distanciamento da pesquisa científica eram as maiores limitações para uso da tecnologia. Mas o estudo evidencia que contar com linhas de financiamento adequadas é tão importante quanto os demais pontos”, analisa Reis.
Segundo o especialista, os resultados da pesquisa servirão como indicadores da necessidade de mudança nas linhas de crédito existentes, como o Programa ABC, ou de criação de novas modalidades de apoio financeiro à produção.
“Em sistemas ILP e ILPF, o retorno financeiro é gradativo e a capacidade de pagamento do produtor aumenta aos poucos. Seria interessante, então, disponibilizar alternativas de crédito com maior prazo de carência e com parcelas maiores a partir de três ou quatro anos”, declara o pesquisador.
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Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
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Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.