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Estresse por calor ainda é desafio nas fazendas brasileiras

Produtor deve ficar atento quanto ao conforto do animal, uma vez que quantidade e qualidade do leite, além da saúde do rebanho dependem disso

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Arquivo/OP Rural

Um animal confortável e em um ambiente que permite que ele se sinta bem é garantia de dinheiro no bolso do pecuarista. Isso porque vacas nestas condições, além de produzir mais leite também são menos suscetíveis a doenças. E que de forma o produtor pode avaliar na sua propriedade se está oferecendo aos animais todo este conforto? O pós-doutor em Nutrição de Ruminantes e consultor técnico em Bovinos de Leite da Nutron, Alexandre Pedroso, respondeu a esta e outras perguntas durante o Seminário Anual de Produtores de Leite da Cooperativa Copagril, que aconteceu no final de maio de forma online.

Pedroso explica que um animal que não fica doente tem chance de permanecer na fazenda por uma lactação a mais do que animais que adoecem. “A vaca que fica doente faz três lactações em sua vida. Já a que não fica faz quatro. Então, aquela que não fica doente é mais lucrativa para o produtor”, diz. Ele afirma que o que permite a vaca ter mais saúde é o conforto que é oferecido para ela na propriedade. “Vacas eficientes são aquelas que tem saúde. Uma vaca doente produz pouco e não tem bons índices de reprodução”, afirma.

De acordo com ele são quatro principais elementos que promovem uma boa saúde do animal: higiene, manejo sanitário, alimentação e conforto. E foi sobre este último que o profissional deu destaque na sua apresentação. Ele destaca que quando se pensa em conforto para as vacas, alguns dos principais problemas vistos em propriedades de Norte a Sul do país é quanto ao estresse por calor, ventilação e tempo de descanso inadequados. “Quando falamos em tempo para a vaca descansar, dois dos elementos principais e que independem do sistema de produção é a qualidade da cama e a taxa de lotação”, diz.

Pedroso afirma que o impacto do estresse por calor nos animais é amplo. “Em linhas gerais, podemos dizer que o calor em excesso derruba o consumo dos animais, aumenta a demanda por alguns nutrientes, diminui a produção de leite, uma vez que animais comem menos e daí também tem o desafio com a umidade, além de aumentar a incidência de doenças”, conta. Além disso, o profissional destaca que os problemas são ainda piores para vacas que estão no final da gestação. “O calor tem um impacto muito grande, pois prejudica a regeneração da glândula mamária no período seco, além de prejudicar a qualidade do colostro que as vacas vão produzir e ainda elas terão bezerros em piores condições. Os impactos são amplos e temos que olhar com mais atenção essa questão”, comenta.

Segundo o profissional, não há nenhum investimento feito na pecuária de leite que se pague mais rápido do que o resfriamento das vacas. “Notadamente no verão, mas em boa parte do país o ano inteiro é preciso resfriar as vacas, porque isso tem impacto na questão da saúde e desempenho dos animais da fazenda”, diz.

Uma dica dada por Pedroso é que para o pecuarista ter uma ideia se as vacas estão sofrendo com o calor é medir a eficiência respiratória dos animais. “Toda vez que a frequência passa de 60 batimentos respiratórios por minuto, os animais estão em uma situação de estresse”, afirma. De acordo com ele, o pecuarista não pode subestimar o impacto que o estresse térmico pode gerar nos animais. “Um problema que vejo muito, principalmente em sistemas de barracão, é o produtor desligar o ventilador a noite achando que está fresco e que as vacas estão resfriadas. Isso é um erro e os animais passam por estresse se não tiverem uma ventilação adequada”, alerta.

Impactos do calor na produção

O profissional afirma que o impacto do calor na qualidade do colostro é muito grande. “Estudos mostram claramente que vacas que passam pelo período seco sofrendo por calor produzem um volume menor de colostro. São três litros a menos na primeira ordenha e um colostro com menor quantidade de imunoglobulinas. É uma diferença grande que tem um impacto significativo”, comenta.

Outro ponto é que o estresse por calor também pode prejudicar na reprodução dos animais. “Pesquisas nos mostram que animais que são menos resfriados no verão tem uma reprodução menor do que aqueles que são resfriados adequadamente”, diz. E Pedroso alerta que que situações como estes significam um grande prejuízo para a fazenda.

O estresse por calor prejudica ainda o desempenho das bezerras quando elas ainda estão no útero da vaca, especialmente aquelas que sofrem por calor no final da gestação. “As bezerras nascem e quando tem a primeira lactação elas produzem menos leite, assim como nas lactações seguintes. Mesmo o animal tendo uma carga genética boa, o fato dela ter passado dentro do útero por uma situação de estresse calórico faz com que ela se torne um animal pior do ponto de vista do desempenho. É uma diferença de 7 a 8 litros de leite a menos. É possível que até as netas venham a sofrer com problemas”, alerta.

Minimizar e diminuir o estresse por calor é fundamental não somente para a vaca ser reprodutiva, mas para ela produzir um leite de melhor qualidade, ter um colostro melhor e para que as filhas delas sejam bezerras melhores, recomenda Pedroso. “Muita coisa pode ser feita na fazenda para aliviar o estresse calórico sem significar um investimento alto. Alguns exemplos são água de beber de qualidade e em quantidade suficiente, sombra para os animais descansar, reduzir a distância que os animais tem de caminhar durante o dia, minimizar o tempo de espera na sala de ordenha, implementar um sistema de resfriamento na sala de espera, priorizar os lotes de vaca de pré e pós-parto, entre outros”, aconselha. “Mas eu volto a falar, não existe investimento que se pague mais rapidamente do que investir em resfriamento das vacas para promover alívio do estresse calórico”, diz.

Outro ponto destacado por Pedroso foi quando a necessidade do produtor ofertar aos animais água de boa qualidade e em quantidade. “É fundamental para que as vacas possam aliviar o estresse calórico. Os animais precisam se refrescar, é fundamental, porque isso impacta na saúde e produtividade dessas vacas. Realmente não da para ser eficiente sem refrescar os animais. O pecuarista deve olhar isso, seja qual for o sistema de produção”, afirma.

Sistema de descanso também é essencial

Outro ponto essencial que o produtor deve se atentar quando o assunto é conforto dos animais é quanto ao sistema de descanso ofertado, independente do sistema de produção. “Por que é tão importante as vacas descansarem bastante? Porque quando a vaca está deitada, ela manda mais sangue para o úbere e o leite é produzido no úbere a partir de nutrientes que chegam pelo sangue. Então quanto mais sangue chegar mais matéria-prima para produzir leite”, comenta.

Pedroso ainda destaca que quanto mais tempo a vaca passa deitada mais ela produz a somatotropina bovina (bST), um hormônio produzido pelo animal naturalmente. “Quanto mais tempo ela ficar deitada e mais produzir esse hormônio naturalmente vai fazer com que ela coma mais, produza mais leite, além de diminui a chance de ela ter problemas de casco”, diz. Além do mais, um aspecto comprovado pela ciência, explica o especialista, mais tempo estando deitada, mais a vaca come. “Dessa forma, perder tempo de descanso significa sacrificar tempo de alimento. E quanto mais ela descansa, mais a vaca vai comer, quanto mais ela comer mais saúde vai ter, menores são as chances de ficar doente e mais leite e de melhor qualidade ela vai produzir”, afirma. Pedroso destaca que a cada hora a mais que a vaca passa deitada, ela tem um potencial de produzir até 1,5 kg de leite a mais. “É fundamental promover o descanso para que os animais produzam mais leite e de melhor qualidade”, comenta.

O profissional dá uma dica aos pecuaristas de como avaliar se as vacas estão em boas condições de conforto. “Cerca de duas horas após a ordenha, é recomendável ir até o lugar onde as vacas ficam. O ideal é que 80% delas estejam deitadas. Isso vale para qualquer tipo de sistema de produção”, afirma.

Outro ponto crucial para ofertar o melhor descanso é quanto ao espaço ofertado aos animais. “Temos que lembrar que a vaca precisa de espaço, ela é um bicho grande. Quando ela se levanta e se deita, ela se projeta e ocupa espaço”, explica. “As camas também precisam ser de qualidade. Oferecem um ambiente e condições de conforto aos animais, para quando você chegar ao galpão ver grande parte deles deitados”, diz.

Pedroso explica que quem manda na fazenda é a vaca, porque é ela quem paga as contas. Por isso, é importante o pecuarista oferecer para elas as melhores condições. “Elas são a unidade produtora de leite e temos que dar para elas as melhores condições para produzir bem e com boa qualidade. Temos que atender as necessidades das vacas para que as fazendas possam ser eficientes”, conclui.

Outras notícias você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de junho/julho de 2021 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Probióticos e a promoção da saúde intestinal: potencial ferramenta em rebanhos leiteiros

Os mecanismos de ação dos probióticos são frequentemente baseados em três modalidades, incluindo o antagonismo sobre microrganismos residentes da microbiota intestinal, tanto comensais quanto patógenos; modulação da imunidade inata e adquirida; inibição de toxinas produzidas por microrganismos patógenos, oriundos da alimentação ou água contaminada.

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Foto: Shutterstock

Os probióticos compreendem aditivos alimentares compostos por microrganismos vivos que beneficiam o hospedeiro através da melhora da microbiota intestinal. Quando o animal recebe uma dosagem oral efetiva, esses microrganismos são capazes de se estabelecer no trato gastrointestinal e efetivar a microbiota natural, prevenindo a proliferação de microrganismos patogênicos e melhorando o aproveitamento de nutrientes. Dentre as espécies que possuem propriedades probióticas, ressalta-se as bactérias láticas, grupo de espécies já existentes na microbiota do trato gastrointestinal e urogenital dos animais, onde o gênero Lactobacillus é um dos mais importantes na produção de produtos probióticos. Além deste, destacam-se as bactérias dos gêneros Bifidobacterium, Lactococcus, Propionibacterium e Bacillus, assim como as leveduras Saccharomyces, Pichya e Kluyveromices.

Os mecanismos de ação dos probióticos são frequentemente baseados em três modalidades, incluindo o antagonismo sobre microrganismos residentes da microbiota intestinal, tanto comensais quanto patógenos; modulação da imunidade inata e adquirida; inibição de toxinas produzidas por microrganismos patógenos, oriundos da alimentação ou água contaminada.

O antagonismo também é conhecido por exclusão competitiva, onde há competição dos sítios de ligação na mucosa intestinal, dos fatores de crescimento e nutrientes para os microrganismos, e também competição pela atividade metabólica (Figura 1). Ou seja, os microrganismos “bons” que constituem o probiótico impedem o desenvolvimento de outros microrganismos indesejáveis. Desse processo são originados produtos como o ácido lático, acético e fórmico, que ajudam a inibir o crescimento de bactérias maléficas e participam da produção de vitamina B e ácido fólico, compostos fundamentais para a vaca.

Figura 1- Mecanismos de ação das espécies probióticas que resultam na melhora da saúde intestinal.

Além disso, muitas espécies probióticas produzem bacteriocinas, substâncias compostas por peptídeos ou complexos proteicos que agem contra bactérias geneticamente semelhantes, como é o caso da nisina, bacteriocina que inibe o crescimento de bactérias patogênicas de alto risco, como Staphylococcus aureus, além de atuar na modulação ruminal. Trabalhos também mostram que o uso de probióticos melhora a digestão e absorção de nutrientes da dieta através da produção de enzimas como amilase, protease, lipase, maltase, sacarase e lactase.

Por exemplo, a amilase produz ácidos graxos de cadeia curta que são transformados em butirato, lactato e acetato, fontes de energia para a mucosa do intestino. Em um estudo, Nocek et al. (2003), observou que vacas que possuíam fonte de probiótico na dieta, entre 20 dias pré-parto até 70 dias pós-parto, aumentaram o consumo de matéria seca, a produção de leite e teor de proteína do leite, em relação ao grupo não suplementado. Estudando rebanhos da Virgínia, Estados Unidos, foi contabilizado que, de 45 rebanhos onde foi introduzido o probiótico, 31 apresentaram aumento na produção de leite. Frente a isso, fica evidente o efeito benéfico da suplementação com probióticos em dietas de vacas leiteiras. A pesquisa mostra que é possível observar, além do melhor aproveitamento da dieta e consequentemente aumento na produção leiteira, a melhora do estado geral de saúde do animal que recebe uma fonte de probiótico diariamente.

Probióticos e imunidade animal

Todo o processo descrito anteriormente auxilia na melhora da saúde do animal, uma vez que limita o desenvolvimento e proliferação de microrganismos maléficos ao hospedeiro, evitando o aparecimento de enfermidades, e também atua na digestão, oferecendo melhores condições para seu desenvolvimento.  Esses mecanismos de ação fazem parte das reações inespecíficas de defesa, ou seja, imunidade inata. Mas os probióticos também são capazes de influenciar a imunidade específica do animal.

As espécies probióticas realizam a modulação do sistema imune do hospedeiro, auxiliando no controle de infecções e inflamações. O processo de imunomodulação ocorre através da interação entre os microrganismos do probiótico e as células epiteliais e imunes do intestino do animal. Quando esses microrganismos se aderem às células intestinais, há a estimulação da produção de células de defesa, como macrófagos, monucleócitos, células dendríticas e citocinas pró-inflamatórias. Isso acontece porque componentes das paredes celulares dos microrganismos probióticos, como peptidoglicanas, ácido teicóico e lipoteicóico (LTA), reagem com as placas de Peyer presente no intestino e induzem os fatores pró-inflamatórios nas células intestinais do animal.

Em 2017 foi realizado um estudo onde dois grupos de animais foram vacinados, sendo que um deles recebeu, além da vacina, suplementação com probiótico a base de Lactobacillus. Posteriormente o autor observou que o grupo dos animais tratados com o probiótico apresentou níveis superiores de anticorpos específicos e de forma mais duradoura, auxiliando no controle de infestações por carrapatos atrelados a imunização. Adicionalmente, estudiosos mostraram que o tratamento com probióticos apresentou melhores benefícios quando comparados aos tratamentos convencionais da mastite bovina, evidenciando a influência desse aditivo na resposta imunológica das vacas.

Probióticos em uma abordagem preventiva e sua implicação em bezerreiros

Cerca de 75% das mortes de bovinos leiteiros ocorre em seu primeiro mês de vida. Em função disso, muitas pesquisas são realizadas a fim de elucidar os cuidados necessários no bezerreiro, assim como controlar as enfermidades mais comuns na rotina das fazendas leiteiras. A principal enfermidade relacionada a morte de bezerras leiteiras é a diarreia, que leva o animal a óbito em razão ao severo desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base. A diarreia corresponde a uma enfermidade multifatorial, porém, frequentemente é resultante da combinação de agentes infecciosos como o rotavírus, coronavírus, Escheria Coli, Salmonella spp., Clostridium perfringens e Eimeria spp., além de ser comum se deparar com infecções causadas por mais de um agente concomitantemente. Esses agentes possuem tendência em afetar os animais em determinada faixa etária (Figura 2), justamente quando esses apresentam suscetibilidade a infecção, por isso a importância da utilização de técnicas nutricionais e de manejo que proporcionem melhores condições para que as bezerras leiteiras não tenham seu desenvolvimento afetado.

Figura 2- Incidência de agentes etiológicos causadores de diarreias em bezerros de acordo com sua idade em dias.

Os probióticos contribuem para o desempenho zootécnico de bezerras leiteiras devido sua influência na permeabilidade intestinal, oferecendo maior eficiência de digestão e evitando o desenvolvimento de microrganismos patógenos. As principais bactérias probióticas associadas a prevenção de diarreia em bezerros são a Lactobacillus acidophillus e a Lactobacillus casei. Ambas são produtoras de ácido lático, ou seja, atuam diminuindo o pH intestinal e tornando o ambiente inadequado para o crescimento de algumas bactérias patogênicas, além de produzirem peptídeos que agem especificamente contra Salmonella typhimurium e acidofilina que inibe o crescimento de Escherichia coli e Salmonella panamá.

Outro microrganismo probiótico que recebe destaque quando o assunto é bezerros é a Saccharomyces boulardii, levedura que além do efeito diarreico, auxilia no desenvolvimento da flora intestinal fisiológica, na síntese de vitaminas complexo B e principalmente, realiza uma complementação enzimática, assim, aumenta a capacidade digestiva do animal jovem, impactando diretamente o seu desempenho.  Autores que utilizaram probióticos em bezerros observaram melhora do ganho de peso corporal total, sendo que os bezerros suplementados apresentaram ganho de 31,4kg, comparado a 25,4kg do grupo controle. Corroborando com esses dados, outro pesquisador mostrou que bezerros suplementados com probióticos, do nascimento aos 30 dias de idade, foram capazes de ganhar de 10 a 40% a mais de peso em relação aos animais não tratados.

Os probióticos apresentam grande potencial de uso nas fazendas leiteiras, sendo uma alternativa para restabelecer ou efetivar a saúde intestinal das vacas, aumentando o aproveitamento da dieta e potencializando sua imunidade. Além disso, é uma ótima opção para ser introduzida nos bezerreiros, uma vez que oferece melhores condições para o animal conseguir superar os desafios existentes nessa fase, influenciando seu ganho de peso e gerando bezerras maiores e mais produtivas futuramente.

As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: luiza.carneiro@laboratorioprado.com.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Luiza de Souza Carneiro, médica-veterinária, mestra em Produção de Ruminantes e consultora Técnica Comercial no Laboratório Prado.
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Entidades querem restringir a importação de leite

Em razão dos transtornos que a cadeia produtiva do leite tem enfrentado, com estiagens, enchentes e excesso de importação, as federações estaduais recomendam a formulação de uma nova política pública para o desenvolvimento do setor, priorizando a matéria-prima local e o trabalho dos produtores brasileiros.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Mobilização contra o aumento do volume de importação de leite subsidiado, principalmente da Argentina, está sendo estimulada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com apoio da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc).

Presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo: “Não podemos deixar nenhum produtor desamparado, por isso a mobilização das  federações estaduais de agricultura e união de todo o setor são fundamentais para mudar o cenário de baixos preços pagos pelo litro de leite e altos custos de produção” – Foto: Divulgação/MB Comunicação

O presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, diz que os transtornos que a cadeia produtiva do leite tem enfrentado – estiagens, enchentes e excesso de importação – recomendam a formulação de uma nova política pública para o desenvolvimento do setor, priorizando a matéria-prima local e o trabalho dos produtores brasileiros.

Nesse sentido, “é muito importante que cada Estado tome uma iniciativa para reduzir a compra do leite de outros países em uma atuação coordenada do setor em todo País”. Alguns Estados elevaram a alíquota de 0% para 12% aos importadores de leite em pó e de 2% para 18% na venda de produto fracionado. Em  outros, os lácteos importados foram excluídos da cesta básica, com aumento de ICMS sobre o leite importado.

Pedrozo informa que a CNA está elaborando um estudo para a aplicação de direitos antidumping à Argentina, com o objetivo de proteger o setor lácteo nacional. O dirigente lembra  que a excessiva importação de leite iniciada no primeiro semestre do ano passado achatou a remuneração do produtor nacional, impactando negativamente a competividade do pequeno e médio produtor de leite. As importações brasileiras de lácteos da Argentina e do Uruguai, em 2023, praticamente dobraram.

O presidente observa que grande parte dos produtores rurais atua na área de lácteos e que a crise no setor derruba a renda das famílias rurais. A forte presença de leite importado no mercado brasileiro provocou queda geral de preços, anulando a rentabilidade dos criadores de gado leiteiro.

Pedrozo defende um debate do setor produtivo com o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar para a definição de medidas de fortalecimento da pecuária leiteira no País com foco no aumento da produção e no fortalecimento do pequeno e do médio produtor de leite. Dessa forma será possível estimular, simultaneamente, a produção e o consumo, abrangendo a redução da tributação, combate às fraudes, criação de mercado futuro para as principais commodities lácteas, manutenção de medidas antidumping e consolidação da tarifa externa comum em 35% para leite em pó e queijo, além da utilização de leite e derivados de origem nacional em programas sociais. “Não podemos deixar nenhum produtor desamparado, por isso a mobilização das  federações estaduais de agricultura e união de todo o setor são fundamentais para mudar o cenário de baixos preços pagos pelo litro de leite e altos custos de produção”, defende.

Pedrozo alerta que a crise na cadeia do leite afeta diretamente a agricultura familiar, levando milhares de produtores a abandonar a atividade, que já registra forte concentração da produção em Santa Catarina. “Talvez uma das soluções seja regular a importação, criando gatilhos e barreiras para que seu exagero não destrua as cadeias produtivas organizadas existentes”, sugere.

Fonte: Assessoria
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Paraná tem 55 premiados no Mundial do Queijo; melhor queijeiro também é do estado

Entre os paranaenses premiados, são 12 medalhas Super Ouro, 14 Ouro, 14 Prata e 15 Bronze. Além do Brasil, participaram do concurso Itália, Espanha, México, Argélia, Polônia, Irlanda, Colômbia, Argentina, Inglaterra, Suíça, França e Uruguai.

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Foto: Guilherme White/Foosstudiobrasil

O Paraná teve 55 queijos e produtos lácteos de 23 municípios premiados na 3ª edição do Mundial do Queijo do Brasil, que aconteceu entre os dias 11 e 14 de abril, no Teatro B32, em São Paulo. No total, 1.900 produtos de 13 países foram avaliados por 300 jurados, e 598 queijos e produtos lácteos receberam medalhas. O júri foi presidido pelo queijista Laurent Dubois, um dos melhores artesãos da França na categoria queijo.

Foto: Divulgação/Mundial do Queijo

Entre os paranaenses premiados, são 12 medalhas Super Ouro, 14 Ouro, 14 Prata e 15 Bronze. A competição, organizada pela associação SerTãoBras, avaliou de forma anônima queijos, iogurtes, doces de leite e coalhadas, pela sua aparência exterior e interior, textura, aromas e sabores. Além do Brasil, participaram do concurso Itália, Espanha, México, Argélia, Polônia, Irlanda, Colômbia, Argentina, Inglaterra, Suíça, França e Uruguai.

Os produtos premiados são de Cantagalo (2), Carambeí (1), Cascavel (2), Chopinzinho (1), Curitiba (3), Diamante D’Oeste (1), Guarapuava (1), Jaguapitã (2), Jandaia do Sul (1), Lapa (1), Londrina (6), Manfrinópolis (1), Marechal Cândido Rondon (4), Maringá (1), Nova Laranjeiras (1), Palmeira (6), Palotina (2), Paranavaí (2), Ponta Grossa (2), Ribeirão Claro (3), Santana do Itararé (3), São Jorge D’Oeste (2) e Toledo (7). Confira a lista completa de premiados neste link .

A Cooperativa Witmarsum, de Palmeira, na região dos Campos Gerais, conquistou quatro medalhas. Ganhador do Ouro, o queijo Witmarsum Colonial Natural possui o selo de Indicação Geográfica (IG) – que indica a procedência do produto, respeitando os saberes e fazeres dos produtores locais.

“Conquistar uma premiação como a do Mundial é bem mais do que um reconhecimento da qualidade dos nossos produtos, é reconhecer a força dos nossos cooperados que se empenham de sol a sol na produção leiteira, fortalecer o cooperativismo e também uma prova de que somos capazes de produzir queijos tão bons quanto os Europeus”, diz o diretor de Operações da empresa, Rafael Wollmann.

O Paraná é o segundo maior produtor de leite do Brasil, com cerca de 3,6 bilhões de litros ao ano. O leite é o quarto produto em importância no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) do Paraná, com R$ 11,4 bilhões em 2022, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral). Os queijos paranaenses têm tradição de destaque em concursos nacionais e internacionais

O sistema digital de apuração no 3ª Mundial do Queijo, que soma as notas dos jurados em tempo real, foi desenvolvido pelo Sistema Faep/Senar-PR.

Assistência

Foto: Divulgação/Cooperativa Witmarsum

Entre as queijarias premiadas, algumas recebem assistência técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater (IDR-Paraná). Um exemplo é o Rancho Seleção, de Londrina, no Norte do Paraná, que conquistou uma medalha Super Ouro, três Ouro, uma Prata e uma Bronze.

Outro caso é da Estância Baobá, de Jaguapitã, também no Norte, de Lívia Trevisan e Samuel Cambefort, que recebeu prêmios pelo requeijão de corte (Super Ouro) e pelo baommental (Bronze), um queijo inspirado no emmental, mas com menos maturação e com sabor adocicado.

Na edição passada do Mundial, a queijaria já havia levado sete medalhas. Os prêmios deste ano vieram após um período de muitas dificuldades. Em 2023, a propriedade teve metade de seu rebanho roubado. “Essas medalhas foram uma superação para a gente depois de tanto sufoco”, diz a proprietária. Além do diferencial da produção agroecológica, adotado ainda por poucas propriedades na região, as receitas da Estância Baobá têm valor sentimental. “O requeijão foi o primeiro queijo que fizemos. É uma receita da minha bisavó que foi passada para a minha mãe”.

A Estância Baobá também faz parte da Rota do Queijo Paranaense, iniciativa do IDR-Paraná, e está organizando sua adesão ao Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf-PR), para ampliar a comercialização. Atualmente a pequena propriedade recebe apoio de extensionistas do IDR-Paraná no sistema reprodutivo. “É um acompanhamento incrível”, diz Trevisan.

Melhor queijeiro

Além dos produtos, o Paraná também se destacou no prêmio de Melhor Queijeiro do Brasil, cujo grande campeão foi o engenheiro de alimentos Henrique Herbert, mestre Queijeiro da Queijaria Flor da Terra, de Toledo, no Oeste do Estado. Natural de Poço das Antas (RS), ele vive no Paraná há 10 anos.

Essa modalidade do concurso avaliou os concorrentes quanto ao saber-fazer profissional, à capacidade de produzir queijos em condições que os tiraram de sua zona de conforto e a habilidade em maturar um queijo em condições especiais. “Com esses resultados, cada vez mais deixamos de ser apenas um importante estado produtor de leite, mas também passamos a ser reconhecidos pelos queijos de excelência que são produzidos aqui”, comemora.

Em sua equipe, Herbert contou o apoio do engenheiro de alimentos Kennidy de Bortoli, natural de Foz do Iguaçu, para desbancar os demais candidatos. Ambos atuam no Parque Científico e Tecnológico de Biociências (Biopark), em Toledo, onde conduzem um projeto de pesquisa em queijos finos. O projeto levou oito medalhas, três de Ouro e cinco de Prata.

“Tanto as medalhas conquistadas pelos nossos queijos quanto a medalha conquistada por nós vêm de encontro com o que o Biopark almeja, que é justamente o desenvolvimento da região Oeste do Paraná, com o fator do ensino e a pesquisa”, diz Herbert.

Fonte: AEN-PR
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