Suínos
Estratégias para o posicionamento de uma vacina autógena baseada em Streptoccocus suis sorotipo 9
Apesar de relatos da presença do S. suis sorotipo 9 no Brasil há mais de 20 anos, nos últimos anos os surtos de infecções pelo agente têm sido frequentemente descritos nas regiões oeste do Paraná e meio oeste de Santa Catarina.
O Streptococcus suis é um coco Gram-positivo e é a espécie de Streptococcus mais comum em suínos. É uma bactéria comensal do trato respiratório superior e atualmente são descritos 29 sorotipos de S. suis, os quais podem ser classificados molecularmente como patogênicos, possivelmente oportunistas e comensais. Infecta leitões jovens e pode causar doenças que geram impactos econômicos, sanitários e de bem-estar animal.
Apesar de relatos da presença do S. suis sorotipo 9 no Brasil há mais de 20 anos, nos últimos anos os surtos de infecções pelo agente têm sido frequentemente descritos nas regiões oeste do Paraná e meio oeste de Santa Catarina, gerando taxas de mortalidades de até 20% na fase de creche, fase em que se encontra fatores estressantes e predisponentes a infecções, como mistura de origem de leitões, declínio da imunidade passiva, separação da mãe, troca de alimentação e troca de instalações.
Os leitões podem se infectar no nascimento, provavelmente pela via respiratória, mas a transmissão horizontal durante os surtos é mais frequente, seja por contato direto com animais infectados ou por aerossol. Clinicamente, a doença é caracterizada por sinais nervosos e locomotores agudos, se manifesta em leitões com idades entre 35 e 65 dias de vida, e a evolução para a morte, em muitos animais, é superaguda. Lesões de pneumonia, meningites, polisserosite, endocardites e poliartrites são descritas frequentemente em animais acometidos pelo S. suis sorotipo 9.
A prevenção da estreptococose suína deve ser realizada combinando medidas assertivas de manejo e vacinação. Algumas estratégias de manejos podem ser adotadas na prevenção e controle da infecção pelo S.suis: cuidados de biossegurança externa e internas, introdução de animais de reposição de origens seguras, redução do número de origens na creche, bom manejo de colostro, tratamento de animais doentes com antimicrobianos, redução de fatores estressantes, uso de vacinas, entre outros.
Vacinas autógenas
Atualmente, as vacinas autógenas são a opção utilizada globalmente no controle de infecções por S.suis sorotipo 9. Segundo a IN 31 de 20 de maio de 2003 do Mapa, que rege o Regulamento Técnico para Produção, Controle e Emprego de Vacinas Autógenas, as vacinas autógenas são definidas como: “Vacinas monovalentes ou polivalentes, inativadas, imunogênicas, não tóxicas e inócuas, produzidas a partir de microrganismos isolados e identificados de animais sacrificados ou enfermos, em uma determinada propriedade na qual esteja ocorrendo enfermidades específicas, cultivadas em substratos especiais e utilizadas para controle ou prevenção de enfermidades na espécie alvo, especificamente na propriedade alvo ou propriedades adjacentes”. Ou seja, as vacinas autógenas são preparadas com bactérias inativadas (bacterinas) e formuladas especificamente com o agente isolado em cada granja, com isso, os animais vacinados são protegidos contra o agente e sorotipo presentes naquela propriedade em questão.
Para o preparo de uma vacina autógena, várias etapas são necessárias e indispensáveis. De maneira resumida, há a identificação dos sinais clínicos da infecção pelo de S.suis sorotipo 9 e é fundamental o conhecimento técnico para escolha do animal a ser necropsiado. Após, a colheita dos sítios de lesões causadas pelo agente, as amostras são enviadas ao laboratório. No laboratório, uma série de técnicas são realizadas na identificação e caracterização do agente: isolamento bacteriano, tipificação molecular e identificação dos genes de virulência. Com a cepa escolhida, a vacina autógena é produzida e comercializada somente para a propriedade alvo e suas adjacências.
Para avaliação da eficácia de uma vacina, seja autógena ou comercial, é importante que estudos sobre a interferência da imunidade passiva sejam realizados, para determinação do protocolo ideal de vacinação de matrizes e leitões (números de doses e idade) e estudos sobre a capacidade dessas vacinas em induzir a produção de anticorpos (capacidade imunogênica).
Estudo do ano de 2023
Em um estudo recente, 20 leitões de três semanas de idade foram avaliados quanto a resposta imunológica na produção de anticorpos contra Streptococcus suis sorotipo 9 através da aplicação de uma vacina autógena. O grupo G1 (10 animais) foi vacinado pela via intramuscular aos 21 e 35 dias de idade com 2 mL da vacina autógena Streptococcus suis 9, e o grupo G2 (10 animais) foi inoculado com PBS. Amostras de sangue foram coletadas nos seguintes momentos: D0 (pré-vacinação), D14 (pré-revacinação) e D28. A detecção de IgG (anticorpos) anti-S suis sorotipo 9 (cepa homóloga vacinal) foi realizada por Elisa indireto in house quantitativo. Todos os leitões apresentavam imunidade passiva no momento da vacinação (D0 = 21 dias de vida), o que era esperado, pois as matrizes haviam sido imunizadas durante a gestação com uma vacina autógena baseada nos sorotipos 7, 9 e 14.
Após a vacinação, observou-se que a média dos títulos de IgG aumentou discretamente nos leitões do grupo G1 durante os primeiros 14 dias (D0 = 1:280 e D14 = 1:360), no entanto, após a revacinação uma resposta anamnéstica clara e significativa (p<0.0001) foi observada (D28 = 1:2.240). De maneira contrária, os títulos observados nos leitões do grupo G2 foram diminuindo ao longo do estudo (média dos títulos: D0 = 1:240, D14 = 1:70 e D28 = 1:30), o que demonstra que durante o período avaliado os leitões não sofreram um processo de infecção subclínico por S. suis capaz de estimular uma resposta de anticorpos sistêmicos.
Ainda, observamos que aos 49 dias de vida (D28) o grupo de leitões vacinados (G1) apresentou título médio de IgGs sistêmicas 74 vezes superiores ao encontrado no grupo de leitões não vacinados (G2), sendo esta diferença significativa (p<0.0001). Nesse estudo, foi possível observar que os títulos de IgGs de origem materna eram baixos no momento da vacinação e não interferiram na performance da vacina, a qual demonstrou-se ser imunogênica contra o S. suis sorotipo 9; no entanto, títulos pré-existentes elevados no momento da vacinação podem interferir na resposta vacinal.
Estudos realizados a campo demonstraram que ao comparar um protocolo vacinal precoce (primeira dose com 7 dias de vida e revacinação com 21 dias de vida) contra um protocolo recomendado (primeira dose com 21 dias de vida e revacinação com 35 dias de vida), o grupo de leitões submetidos ao protocolo precoce não desenvolveu uma imunidade ativa prolongada, estando desprotegidos após os 35 dias de vida (período crítico de infecção por S. suis sorotipo 9). Já nos animais vacinados no protocolo recomendado, observou-se uma crescente produção de anticorpos entre a primeira dose e a revacinação, com um pico de titulação de IgGs aos 49 dias, garantindo proteção para os animais na fase de creche.
Portanto, a interferência da imunidade passiva pode ser um problema na vacinação de leitões muito jovens, com potencial efeito inibitório dos anticorpos vacinais pelos anticorpos maternos. Estudos demonstram que a titulação de IgG por imunidade passiva é alta nos sete dias de idade do leitão, mas que a partir dos 18 dias de idade, há um rápido declínio e falha na proteção. Com isso, a sorologia customizada é uma ferramenta que pode ser utilizada para determinar a potência sorológica de vacinas baseadas em S. suis, e os resultados podem orientar racionalmente a tomada de decisões dos médicos veterinários quanto a imunogenicidade da vacina, posicionamento da vacina e interferência de antibióticos na potência sorológica.
As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: mayara.tamanini@vaxxinova.com.br.
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Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.