Bovinos / Grãos / Máquinas
Estratégias para o controle de mastite no período seco de vacas leiteiras
Medidas de manejo, nutrição, higiene e terapias específicas durante a secagem reduzem infecções e garantem melhor qualidade do leite na próxima lactação.

Artigo escrito por Fabricio Benetti, Consultor Técnico Ruminantes da Elanco
No mundo todo, a mastite é uma das doenças mais prejudiciais para a produção leiteira. Ela é a principal doença responsável por afetar de forma direta a qualidade do leite, reduzir consideravelmente a produção e causar grandes prejuízos para os produtores.
A mastite é caracterizada pela inflamação da glândula mamária. Essa inflamação geralmente é causada por agentes infecciosos, como bactérias, fungos e algas, podendo se manifestar de duas principais formas: clínica, com sinais evidentes como inchaço do úbere e presença de grumos no leite, facilmente observadas ao olho nu; ou a forma subclínica, onde não são notados sinais visíveis, mesmo assim, prejudicam significativamente a produção e a qualidade do leite. Desta forma, medidas de controle e prevenção são fundamentais, onde podemos destacar o período seco como um momento oportuno para impedir novas infecções, ou ainda, para tentar combater infecções crônicas pré-existentes.
O período seco compreende o intervalo entre duas lactações. Nesse período, as vacas estão suscetíveis às infecções intramamárias, uma vez que alterações de manejo, rotina, dieta e ambiente, associadas ao alto potencial produtivo dos animais, desencadeia um quadro estressante ideal para o comprometimento da imunidade local e colonização por agentes infecciosos na glândula mamária.
Esse momento, em que a vaca se prepara para uma nova lactação, é o principal período para que a saúde da glândula mamária se restaure e esteja protegida para a próxima fase de produção de leite. O controle da mastite durante o período seco é fundamental para garantir a saúde e o bem-estar do rebanho leiteiro, além de garantir a qualidade do leite produzido na próxima lactação. Fisiologicamente, a glândula passa por três fases distintas durante o processo de secagem.
Involução ativa: esta fase ocorre logo após o último período de ordenha. A síntese de leite cessa e a glândula começa a reabsorver o leite residual. As células secretoras sofrem apoptose (morte celular programada) e as estruturas do tecido glandular começam a encolher. Este processo dura cerca de duas a três semanas.
Estágio de repouso ou quiescência: nesta fase, a glândula mamária entra em um estado de repouso em que o tecido glandular é substituído por tecido conjuntivo e adiposo. É um período de regeneração e preparação para a próxima lactação, quando a glândula deve estar em seu melhor estado para produzir leite com eficiência.
Regeneração pré-parto: nas últimas semanas antes do parto, inicia-se a reativação da glândula mamária. As células secretoras de leite começam a se proliferar novamente e as estruturas do tecido glandular iniciam o processo de renovação para se preparar à próxima lactação.
Estratégias de Controle

Foto: Jaelson Lucas
Manejo Nutricional: uma dieta equilibrada e adequada durante o período seco é essencial para fortalecer o sistema imunológico das vacas e reduzir a suscetibilidade à mastite. A oferta de água limpa e fresca é imprescindível, não apenas nesse período, mas em toda vida da vaca. A fim de garantir a hidratação adequada, promovendo a saúde geral do animal.
Higiene e Limpeza: manter as instalações limpas e secas, em paralelo com práticas de higiene rigorosas, ajuda a prevenir a contaminação bacteriana durante o período seco. Essa prática inclui a limpeza e manutenção constante das camas quando os animais estiverem em sistema confinado, evitar acúmulo de barro e fezes nas áreas de alimentação e descanso dos animais. Medidas de higiene e limpeza, além de contribuir para a prevenção de infecções, proporcionam maior conforto e bem-estar aos animais.
Terapia de Secagem: a terapia de secagem, que envolve o uso de antibióticos intramamários após a última ordenha antes do período seco, é uma das principais estratégias que apresenta eficácia para prevenir e controlar infecções por mastite durante esse período. Os antibióticos selecionados devem ter um amplo espectro de atividade contra as principais bactérias causadoras de mastite. A terapia de secagem elimina em média 80% das mastites subclínicas existentes e previne até 80% das novas infecções intramamárias durante o período seco.
Selagem do Teto: a selagem dos tetos com produtos específicos após a aplicação da terapia de secagem é crucial para evitar a entrada de bactérias no úbere durante o período seco, além de evitar o gotejamento excessivo de leite residual. Esses selantes formam uma barreira física que impede a colonização bacteriana, reduzindo assim o risco de infecção.
Monitoramento e Identificação de Vacas de Alto Risco: é fundamental identificar precocemente as vacas com histórico de mastite ou com maior suscetibilidade à infecção. Essa prática faz com que possam ser implementadas medidas preventivas adicionais, como por exemplo, o uso de tratamentos específicos ou a segregação de animais crônicos do rebanho. Esse monitoramento permanente da saúde do úbere aliado com a análise dos dados de produção auxiliará na identificação e tratamento dos problemas de mastite de forma antecipada.
Implementação e impacto
Para que a implementação de um programa de controle de mastite no período seco seja bem-sucedido é necessário compromisso, dedicação e colaboração de toda equipe de manejo e profissionais veterinários da fazenda. Podemos citar algumas etapas-chave para criar e manter um programa eficaz:
1. Educação e Treinamento:
Fornecer treinamento regular para a equipe de manejo sobre as práticas adequadas de prevenção de mastite e manejo do úbere, a fim de que todos saibam a importância do período seco na saúde das vacas e o impacto na qualidade do leite.
2. Implementação de Protocolos:
Desenvolver protocolos claros e objetivos para o manejo do período seco, incluindo procedimentos de secagem, monitoramento de saúde e tratamento de infecções, garante que os protocolos sejam seguidos de forma consistente por todos os membros da equipe.
3. Avaliação e Ajustes:
Realizar avaliações periódicas do programa de controle de mastite para identificar áreas de melhoria e ajustar os protocolos conforme for necessário, com base nos resultados das avaliações e nas recomendações veterinárias.
Controle eficaz

Foto: Divulgação/Agência SP
Diante disso, podemos afirmar que para a implementação das estratégias de controle de mastite durante o período seco necessitamos do compromisso contínuo por parte de todos os envolvidos no manejo do rebanho, sejam eles proprietários, funcionários e equipe veterinária. Para isso, a formação adequada em práticas de higiene, o uso responsável de antibióticos e a adoção de medidas preventivas baseadas em evidências científicas são fundamentais para o sucesso do plano de controle.
A adoção das medidas para controle de mastite no período seco gera um impacto positivo que pode ser visto não apenas na saúde individual das vacas, mas também na produtividade e rentabilidade geral de toda a fazenda, através da redução da incidência de mastite que resulta em menos tratamentos veterinários, o menor descarte de leite devido a contaminação bacteriana e uma melhor qualidade do leite comercializado.
Ter um controle eficaz da mastite durante o período seco das vacas leiteiras é fundamental para garantir a saúde e o bem-estar do rebanho, e assim poder maximizar a produtividade e rentabilidade da fazenda. Quando as estratégias de manejo nutricional, higiene, terapia de secagem e monitoramento proativo são adotadas de forma ativa, é possível reduzir significativamente o risco de infecções na glândula mamária e oportunizar uma produção de leite com alta qualidade.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: pedro.sbardella@elancoah.com
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Amapá amplia VBP em 2025 com forte avanço da soja e crescimento do milho
Produção agropecuária atinge R$ 235,65 milhões, com expansão puxada pela soja e estabilidade das culturas tradicionais.

O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária do Amapá alcançou R$ 235,65 milhões em 2025, resultado que representa crescimento de 4,3% frente a 2024 (R$ 225,88 milhões), de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em 21 de novembro. O desempenho confirma a retomada após o recuo do ano anterior e reflete, sobretudo, o avanço das culturas comerciais, com destaque para soja e milho, que ganharam espaço na composição do VBP estadual.
Enquanto o VBP do Brasil avançou 11,4%, passando de R$ 1.267.385,28 milhões para R$ 1.412.203,57 milhões, o Amapá seguiu em trajetória positiva, ainda que em ritmo mais moderado. A participação do estado no total nacional manteve-se em 0,02%, evidenciando um crescimento real, porém concentrado e ainda dependente de poucas atividades.

Entre as atividades agropecuárias, a soja foi o movimento mais relevante de 2025. O VBP da cultura saltou de R$ 41,8 milhões em 2024 para R$ 52,8 milhões em 2025, crescimento de 26,3%, a maior variação percentual entre os produtos do ranking estadual. O avanço reforça o papel da soja como principal vetor de dinamismo recente do agro amapaense e indica ampliação de escala e maior inserção da cultura no estado.
O milho, embora ainda com participação modesta no total do VBP, também apresentou desempenho positivo. A cultura passou de R$ 2,1 milhões para R$ 2,3 milhões, alta de 9,5%, sinalizando estabilidade com leve expansão, mesmo partindo de uma base pequena. O resultado aponta para um processo gradual de fortalecimento das lavouras de grãos no estado.
Mandioca e banana sustentam a base produtiva
Apesar do protagonismo da soja no crescimento, o VBP do Amapá segue sustentado por lavouras tradicionais. A mandioca, principal produto do estado, avançou de R$ 110,3 milhões para R$ 111,2 milhões (+0,8%) e manteve a liderança isolada. A banana, segunda colocada, passou de R$ 60,6 milhões para R$ 61,0 milhões (+0,7%), reforçando a estabilidade da base produtiva local.
Quedas pontuais
No ranking, a laranja registrou recuo expressivo, de R$ 7,2 milhões para R$ 5,3 milhões (-26,4%). Também apresentaram queda o feijão (-21,1%) e o arroz (-27,3%), enquanto a cana-de-açúcar permaneceu estável, em R$ 0,8 milhão. Apesar das variações, essas atividades têm peso reduzido no VBP total e não alteraram o resultado agregado do estado.
Recuperação após recuo em 2024
A série histórica apresentada (2018–2025) mostra um VBP que cresce no longo prazo, mas com oscilações: depois de atingir R$ 242 milhões em 2023, o estado caiu para R$ 226 milhões em 2024 e voltou a R$ 236 milhões em 2025.
O comportamento reforça que, apesar do ganho no último ano, o Amapá ainda depende de poucos motores produtivos e que avanços pontuais, como o salto da soja, ainda não se traduzem em mudança de patamar no ranking nacional.
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Pará assume protagonismo global com a primeira carne bovina 100% rastreada
Primeira exportação com identificação individual reconhecida internacionalmente inaugura um novo patamar de exigência, valor e governança na pecuária brasileira.

O embarque de 108 toneladas de carne bovina com rastreabilidade individual completa, realizado pelo Pará em 2025, não foi apenas uma operação comercial inédita. Foi um movimento calculado de política agropecuária, que reposiciona o Estado no tabuleiro global da carne e responde, com dados e tecnologia, às pressões crescentes por transparência ambiental, sanitária e produtiva.

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará
Mais de 350 animais da raça Nelore, identificados individualmente ao longo de toda a vida produtiva, deram origem ao primeiro lote de carne bovina do Brasil com rastreabilidade plena reconhecida por mercados internacionais. O destino foi a Ásia, mas o recado foi direcionado a todos os grandes compradores globais: o Pará quer competir no segmento premium da carne, onde exigência e valor caminham juntos.
A operação marca a entrada em funcionamento do Sistema de Rastreabilidade Bovina Individual do Pará (SRBIPA), uma plataforma que conecta identificação animal, bases sanitárias oficiais e comprovação ambiental. Na prática, cada animal passa a ter um histórico auditável desde o nascimento, permitindo verificar não apenas sanidade e desempenho produtivo, mas também a conformidade da origem com critérios ambientais cada vez mais rígidos.
Para um Estado que concentra cerca de 26 milhões de cabeças de gado, a decisão tem peso econômico e simbólico. A rastreabilidade individual surge como instrumento para reduzir barreiras comerciais, antecipar exigências regulatórias e ampliar o acesso a mercados que remuneram melhor produtos com origem comprovada, como União Europeia, Estados Unidos e China.
A primeira remessa já sinalizou o potencial do modelo. Os animais certificados apresentaram ganho médio de 592 quilos, totalizando mais

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará
de 7,2 mil arrobas rastreadas com precisão. O desempenho reforçou o interesse da indústria frigorífica local, que passou a avaliar novos investimentos para ampliar a oferta de carne apta a contratos de maior valor agregado.
Mais do que atender compradores externos, o SRBIPA foi desenhado como uma política estrutural de longo prazo. O governo estadual estabeleceu, por decreto, a meta de alcançar 100% do rebanho rastreado até 2030. Caso o cronograma seja cumprido, o Pará se tornará o primeiro Estado da Amazônia Legal a controlar individualmente toda a produção bovina — um diferencial competitivo em um cenário internacional no qual a origem da carne se tornou tema central de negociações comerciais e debates climáticos.
A estratégia também mira dentro da porteira. Pequenos e médios produtores, que respondem por mais de 70% das propriedades rurais do Estado, passam a ter acesso a oportunidades antes restritas a grandes operações. A certificação individual abre portas para programas de compra pública, cooperativas com maior valor agregado e linhas de crédito que exigem comprovação sanitária e ambiental.
Para viabilizar essa transição, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) estruturou uma agenda contínua de capacitação, com foco em manejo, identificação animal e processos de certificação. A lógica é combinar inclusão produtiva com qualificação da base, elevando renda no campo e padronizando práticas ao longo da cadeia.

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará
No centro do debate está a relação entre custo, responsabilidade e mercado. A rastreabilidade individual exige investimento, mudança de rotina e adaptação tecnológica por parte do produtor. Por isso, o governo paraense tem insistido que a sustentabilidade só se consolida quando é economicamente reconhecida. Em declaração que sintetiza essa visão, o governador Helder Barbalho destacou que boas práticas precisam ser remuneradas de forma objetiva. Sem esse reconhecimento, argumenta, não há incentivo econômico suficiente para que o produtor assuma sozinho os custos adicionais do sistema.
O desafio, portanto, não é apenas técnico, mas comercial. A consolidação do SRBIPA depende da disposição dos mercados em transformar transparência em preço, governança em contratos e sustentabilidade em diferencial competitivo real.
Até 2030, o plano do Estado prevê a integração de novos frigoríficos, o fortalecimento dos mecanismos de auditoria, a ampliação da cobertura tecnológica e o avanço da qualificação no campo. A meta é clara: fazer da rastreabilidade não um requisito imposto de fora, mas uma ferramenta de valorização da pecuária local.
A primeira exportação totalmente rastreada funciona como um marco inicial. Demonstra que a tecnologia é viável, que o setor produtivo respondeu e que o Pará enxerga na rastreabilidade uma alavanca de mercado. Em um contexto global cada vez mais atento à origem da proteína animal, o Estado aposta que controlar, provar e comunicar como se produz pode ser o caminho mais curto para crescer, atrair investimentos e liderar uma nova agenda para a carne brasileira.
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Embrapa mapeia tecnologias e tendências das PecTechs na pecuária brasileira
Estudo aponta avanço de soluções digitais voltadas à gestão monitoramento e sustentabilidade enquanto startups enfrentam desafios para ganhar escala e ampliar a presença no mercado.

Pecuaristas brasileiros têm hoje à disposição soluções tecnológicas para aumentar a produtividade, otimizar o uso de recursos e reduzir os impactos ambientais e incertezas de mercado. Parte destas soluções vêm de Agtechs, startups focadas no agronegócio.
Para entender um pouco mais sobre quais tecnologias estão sendo disponibilizadas para o segmento pecuário, perfil dessas empresas, desafios e tendências, a Embrapa fez um panorama sobre a atuação dessas PecTechs no país. A publicação “Estudo de caracterização de agtechs com atuação no setor de pecuária” está disponível gratuitamente aqui.
De acordo com a pesquisadora Claudia De Mori, da Embrapa Pecuária Sudeste, que coordenou o trabalho, a transformação digital está redefinindo os sistemas de produção pecuária no Brasil e essas PecTechs oferecem soluções customizadas para os problemas e perfil da pecuária. No entanto, essas startups enfrentam obstáculos para consolidar seus negócios. O principal desafio é a inserção no mercado, como barreiras de entrada, necessidade de definição de um modelo de vendas escalável, expansão dos clientes e competição.
O estudo, realizado pela Embrapa Pecuária Sudeste, Embrapa Agricultura Digital e pela Diretoria de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa, foi baseado em dados do Radar Agtech Brasil 2023 e analisou 100 Agtechs que atuam no segmento de pecuária. Mais da metade dessas empresas encontra-se nas regiões Sudeste (54%) e outra parte no Sul (35%).
A atuação está mais concentrada na oferta de soluções “Dentro da Porteira” (79% das categorias). As principais soluções desenvolvidas por essas Agtechs são plataformas de integração e sistemas de gestão zootécnica, econômica e financeira, que incluem softwares e aplicativos. Monitoramento e sensoriamento estão em expansão e são empregados para controlar desempenho, saúde animal, bem-estar e outros indicadores produtivos.
O segmento “Antes da Porteira” destaca-se em soluções de crédito, permuta, seguro e créditos de carbono, utilizando softwares de análise e controle. Quando se trata de tecnologias para “Depois da Porteira”, soluções de rastreabilidade se sobressaem.
Futuro
Para as Agtechs, o futuro será focado na digitalização e na sustentabilidade. Para isso, as empresas apostam em soluções baseadas em Inteligência Artificial (IA), automação, blockchain e Internet das Coisas.
Segundo a pesquisadora, para superar os desafios, as startups vão precisar transpor as barreiras culturais e financeiras para levar as soluções digitais de ponta ao produtor rural.



