Suínos
Especialistas apontam inimigos invisíveis que desafiam a imunidade e o desempenho dos suínos
Microbiota e micotoxinas são apontadas como fatores-chave para o desempenho e bem-estar dos suínos.

A relação entre a microbiota intestinal e a imunidade dos suínos foi o foco da palestra de abertura do bloco Proteger – Imunidade, no 2º SSIN. A doutora em Medicina Veterinária Ana Paula Peconick apresentou um panorama científico do que já se sabe sobre a influência da microbiota no desenvolvimento do sistema imunológico e no desempenho zootécnico dos animais.
Segundo a especialista, a imunocompetência, que é a capacidade do sistema imunológico de montar uma resposta apropriada frente a um desafio, é influenciada por diversos fatores, como ambiente, manejo, nutrição, vacinação e biosseguridade. Nesse contexto, a microbiota intestinal exerce um papel fundamental, atuando na modulação da resposta imune e na saúde geral do organismo. “A microbiota benéfica contribui para o fortalecimento da barreira epitelial, o amadurecimento do sistema imunológico, melhor aquisição de nutrientes e aumento dos índices produtivos. Além disso, animais com microbiota equilibrada apresentam melhor eficiência alimentar, menor incidência de doenças e resposta vacinal mais eficaz”, evidenciou.

Doutora em Medicina Veterinária Ana Paula Peconick: “Estratégias que promovam a manutenção de uma microbiota saudável, aliadas às práticas de biosseguridade, são fundamentais para otimizar a saúde e o desempenho dos suínos em todas as fases da produção”
Por outro lado, desequilíbrios na microbiota, mesmo em animais aparentemente assintomáticos, podem alterar marcadores imunológicos, reduzir a diversidade bacteriana e comprometer a saúde intestinal, elevando os riscos de doenças, mortalidade e perdas econômicas.
Ana Paula apresentou estudos que evidenciam como a nutrição pode modular a microbiota e impactar de forma positiva a imunidade dos suínos. Entre os efeitos observados estão o ganho de peso diário, a melhora da digestibilidade, o aumento de citocinas anti-inflamatórias, a redução de citocinas pró-inflamatórias e a melhora da função da barreira intestinal. A fermentação microbiana também foi apontada como estratégica no aprimoramento do perfil nutricional.
Ana Paula também reforçou que a microbiota intestinal evoluiu em simbiose com seu hospedeiro ao longo do tempo e atua como imunomodulador, exercendo efeitos benéficos ou maléficos de acordo com seu equilíbrio. “Estratégias que promovam a manutenção de uma microbiota saudável, aliadas às práticas de biosseguridade, são fundamentais para otimizar a saúde e o desempenho dos suínos em todas as fases da produção”, ressaltou.
Ameaça invisível à saúde dos suínos
Na sequência, o médico-veterinário e doutor em Imunopatologia Álvaro Menin apresentou uma análise detalhada sobre a resposta de diferentes espécies animais às principais micotoxinas presentes no ambiente. Segundo o estudo, os suínos são altamente sensíveis a todas as toxinas avaliadas – zearalenona (ZEA), fumonisinas (FUM), aflatoxinas (AFLA), desoxinivalenol (DON) e tricotecenos do tipo T-2.
Impactos das micotoxinas em suínos
Focando nos efeitos tóxicos específicos em suínos, Menin frisou que as micotoxinas podem comprometer diversos sistemas do organismo. “As fumonisinas, por exemplo, são hepatotóxicas, imunossupressoras e provocam edema pulmonar, além de disfunções intestinais. A zearalenona também afeta o fígado e os rins, tem ação estrogênica e causa necrose epitelial, levando a diarreia, perda de peso, abortos e leitegadas pequenas”, explicou.

Médico-veterinário e doutor em Imunopatologia Álvaro Menin: “Para as agências regulatórias, a presença de micotoxinas é uma questão de saúde única. Por isso, adotar estratégias de mitigação é inegociável”
Já as aflatoxinas apresentam efeitos severos, como hepatotoxicidade, imunossupressão, diarreia, perda de peso e até morte súbita. A ocratoxina compromete o sistema renal e imunológico, enquanto os tricotecenos do tipo T-2 e o DON causam necrose epitelial, distúrbios reprodutivos e gastrointestinais.
Além dos danos diretos aos órgãos, Menin alertou para o impacto das micotoxinas na imunidade dos suínos. “A imunossupressão generalizada, causada pelas toxinas FUM, AFB, OCRA, ZEA, T-2 e DON, reduz a atividade celular, prejudica a imunidade inata entérica e pulmonar e compromete tanto a resposta imune adaptativa humoral quanto a celular. Com isso, os animais ficam mais suscetíveis a infecções entéricas e respiratórias, além de apresentarem alterações em parâmetros hematobioquímicos”, pontuou.
As consequências incluem ainda problemas circulatórios e pulmonares, como edema e disfunções cardíacas, lesões hepáticas e renais, além de graves alterações reprodutivas, como abortos, leitegadas pequenas e anomalias genitais em machos e fêmeas. “As micotoxinas representam um desafio silencioso global”, alertou Menin, acrescentando: “Não existe tratamento. Quando os sinais clínicos aparecem, as perdas econômicas já estão garantidas”.
Imunidade e produtividade comprometidas
O especialista destacou que as micotoxinas afetam tanto a imunidade inata quanto a resposta imune adaptativa, o que agrava quadros infecciosos, especialmente os de origem entérica e respiratória. “Para as agências regulatórias, a presença de micotoxinas é uma questão de saúde única. Por isso, adotar estratégias de mitigação é inegociável”, afirmou Menin.

Doutora em Ciência Animal e consultora técnica nacional de Aditivos da Cargill, Thays Quadros: “Leitões de creche são mais vulneráveis aos efeitos do DON devido a uma microbiota intestinal imatura. Em contrapartida, animais adultos possuem microbiota capaz de degradar parcialmente a toxina, reduzindo seus impactos”
Complementando essa análise, a doutora em Ciência Animal, Thays Quadros, abordou em sua palestra o impacto das micotoxinas sobre a imunidade e o desempenho animal. “Os impactos nos animais dependem do tempo de exposição e da interação entre diferentes micotoxinas”, explicou Thays, ressaltando o efeito sinérgico dessas substâncias. “Uma micotoxina potencializa a outra e agrava outros problemas”.
Prevalência e concentração de micotoxinas
Dados de mais de 400 mil análises realizadas em 43 países mostram alta prevalência e concentração de micotoxinas em matérias-primas, rações, fazendas e locais de armazenamento. Em especial, a fumonisina liseia é a mais presente, o que se intensifica em países tropicais como o Brasil, devido às oscilações de temperatura e umidade.
Leitões são mais vulneráveis
Thays ainda demonstrou que leitões de creche são mais vulneráveis aos efeitos do DON devido a uma microbiota intestinal imatura. Em contrapartida, animais adultos possuem microbiota capaz de degradar parcialmente a toxina, reduzindo seus impactos.
Para minimizar os riscos, a especialista defendeu uma abordagem integrada de gestão, que inclua controle rigoroso da qualidade das matérias-primas, utilização de adsorventes eficientes e monitoramento contínuo dos animais. “Características essenciais de um adsorvente eficaz são a composição e tecnologia adequadas, alta velocidade de adsorção e segurança alimentar, com aplicação prática no campo”, reforçou.
Thays acredita que, no futuro, o foco deverá ser ampliado para avaliar o impacto das micotoxinas nos consumidores finais dos produtos de origem animal. “Até agora falamos apenas dos efeitos das micotoxinas no animal. Mas precisamos pensar também no que chega até nós”, expôs.
Mesa de debate
O bloco foi encerrado com uma mesa-redonda moderada pela médica-veterinária e mestre em Ciência Animal, Fernanda de Almeida Teixeira, que reuniu os três especialistas para responder dúvidas do público e debater estratégias práticas de controle e mitigação de micotoxinas.
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



