Conectado com
VOZ DO COOP

Notícias Dia Mundial do Solo

Especialistas apontam avanços e desafios na Ciência do Solo no Paraná

Para enfrentar esses problemas e apontar possíveis soluções, o Núcleo Estadual Paraná da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Nepar-SBCS) tem realizado um trabalho de divulgação e sensibilização sobre a relevância do solo e da água para o desenvolvimento sustentável.

Publicado em

em

Fotos: Divulgação/IDR-PR

O uso racional dos recursos naturais desempenha um papel crucial no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos em 2015 pela Organização das Nações Unidas. Nesse mesmo ano, foi decretada a Década Internacional do Solo, uma iniciativa da FAO para sensibilizar e mobilizar a sociedade mundial sobre a importância do solo para o futuro do planeta.

Para este ano, a FAO deu mais um passo e lançou a campanha “Solo e água: fontes da vida” para celebrar o Dia Mundial do Solo, nesta terça-feira, 5 de dezembro. A data é uma oportunidade para refletir e agir sobre esse tema tão relevante. Ambos são fundamentais para a produção de alimentos, a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas e o bem-estar humano.

Segundo o relatório lançado pela FAO, em 2015, globalmente o solo enfrentava diversas ameaças que comprometiam o desempenho de suas funções. A erosão era o principal problema. Outras ameaças incluíam a redução do carbono e da biodiversidade, a salinização, a acidificação e o manejo inadequado de agroquímicos. Algumas dessas ameaças se manifestavam no estado do Paraná.

Para enfrentar esses problemas e apontar possíveis soluções, o Núcleo Estadual Paraná da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Nepar-SBCS) tem realizado um trabalho de divulgação e sensibilização sobre a relevância do solo e da água para o desenvolvimento sustentável. Nesta reportagem, o Nepar ouviu especialistas, que atuam no estado do Paraná em diversas áreas da Ciência do Solo, para compartilhar suas experiências e apontar os avanços e retrocessos nesses quase 10 anos de campanha da FAO. Eles analisam os problemas e propõem as soluções para uma perspectiva mais sustentável, apontando medidas efetivas tanto no meio rural como urbano.

Para a professora Aline Marques Genú, da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro, em Guarapuava, primeiramente é importante melhorar o conhecimento sobre os solos e sua distribuição espacial no Estado. Ainda hoje grande parte dos municípios não possui mapa de solos em escala compatível para definição do melhor uso e manejo.

Em contrapartida, a professora reconhece as iniciativas que têm levado tecnologia ao campo. “A criação da Rede Agropesquisa, a qual tem como objetivo principal desenvolver pesquisas sobre a conservação do solo e da água em todas as regiões do Paraná, é uma iniciativa inovadora e os resultados preliminares têm demonstrado a importância das práticas conservacionistas na sustentabilidade dos sistemas agrícolas”, afirma Aline.
Outro exemplo é o PronaSolos, projeto nacional para o mapeamento de solos do país, em escalas que vão de 1:25.000 a 1:100.000, que conta com a participação de pesquisadores e instituições do Paraná, e que trará informações de grande valia para a garantia da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável.

Na opinião da professora, uma forma de valorizar o solo é investir em pesquisa e na formação de profissionais qualificados que possam ampliar e divulgar o conhecimento sobre solos, em todas as suas áreas, bem como disseminar, para a população em geral, a importância da saúde do solo para a sobrevivência humana . “É preciso que todos se conscientizem da importância do solo para a manutenção da vida no planeta”.

Integração e Regionalização – Para o pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Arnaldo Colozzi, com a decretação da Década Internacional do Solo o estado do Paraná, conhecido por sua agricultura intensiva e tecnificada viu-se desafiado a repensar suas práticas em prol da conservação do solo e da água.

“Ao longo dos anos, a agricultura paranaense enfrentou e ainda enfrenta desafios relacionados ao controle da erosão, um problema agravado pelo aumento da intensificação das práticas agrícolas de forma inadequada”, afirma Colozzi, acrescentando que o Paraná tem adotado práticas de manejo sustentável, porém, há muito o que se fazer para garantir um solo sustentável.

“A pesquisa, a extensão e os agricultores têm buscado integrar o conhecimento sobre os aspectos químicos, físicos e biológicos dos solos para melhorar a produtividade e a qualidade ambiental, no entanto, é preciso também ter uma visão integrada e regionalizada dos cuidados com o solo”, afirma o pesquisador.

Segundo Arnaldo Colozzi, o conceito de solo fértil não se limita mais à simples prevenção da erosão e à adição de nutrientes. “A perspectiva moderna exige que o solo seja vivo, com uma atividade biológica robusta. Solos aparentemente ricos em nutrientes, nem sempre traduzem em produtividade”, pondera o pesquisador. O conceito de solo fértil se iguala a solo saudável, entendendo o solo como um sistema vivo.

A mudança no paradigma sobre a funcionalidade do solo evidencia que um solo vivo é essencial para ciclagem de nutrientes, agregação do solo, matéria orgânica e infiltração de água. “A FAO teve uma habilidade enorme de chamar a atenção para a capacidade de armazenamento de água do solo. As pessoas começam a ter exatamente a noção do que é um solo capaz de armazenar água. No solo que tem água todos os processos funcionam bem, o solo é vivo”, pontua.

Ao abordar as transformações ocorridas no Paraná ao longo da última década, Colozzi aponta para uma mudança na maneira de enxergar o solo. “Essa década de evolução no entendimento e prática da conservação do solo no estado serve como um marco importante, indicando o caminho para uma abordagem mais integrada e sustentável da agricultura no futuro”, complementa.

Para os próximos 10 anos, acrescenta ele, a ciência precisa continuar avançando por meio de parcerias fortes entre instituições públicas e privadas com efetiva interação entre ensino, pesquisa e extensão. “A regionalização das soluções é crucial para enfrentar os desafios únicos de diferentes regiões do Paraná”, afirma Colozzi.

Processo erosivo

O descuido no controle da erosão hídrica nesta última década, no Paraná, é outro ponto que merece atenção na opinião do especialista em manejo de conservação dos solos, Oromar Bertol, que integra o time de sócios do Nepar. “Embora tenham ocorrido melhorias em algumas regiões nesses quase 10 anos, o período também testemunhou retrocessos, especialmente no controle do processo erosivo”, opina Oromar.

“Não se pode esquecer da relação entre solo e água na agricultura. Para conseguir boas produções é necessário que o solo possua qualidade com disponibilidade de água. Estocar água no solo é estratégico para controlar a erosão e é fundamental para o processo produtivo”, afirma.

No entanto, o especialista alerta para o aumento das perdas de solo e água em algumas regiões do Paraná, indicando a necessidade de um manejo mais adequado desses dois recursos naturais.

“Com as mudanças climáticas, caracterizadas por chuvas intensas, medidas como rotação de cultura, cobertura do solo, mobilização mínima do solo e aumento da matéria orgânica são essenciais para conter a degradação, mas não são suficientes”, diz ele, acrescentando que muitos solos têm capacidade de infiltração reduzida e, nesta condição, não conseguem armazenar todo o volume de água das chuvas que se precipitam. Neste caso, o ideal é implantar um sistema de terraceamento integrado com as estradas rurais, como forma de controle do escoamento superficial mesmo em sistema plantio direto”, sugere Oromar.

Contudo, um dos principais desafios enfrentados pela assistência técnica e pela extensão rural é convencer o agricultor sobre a importância de preservar os recursos naturais. “Temos produtores em níveis diferentes no Estado. Enquanto há aqueles que detêm conhecimento e recursos suficientes para manejar corretamente o solo e a água, há um número expressivo da agricultura, que não está neste mesmo nível”.

Segundo ele, as recomendações precisam chegar de forma adequada para o agricultor perceber a necessidade de preservar os recursos naturais. “Pode-se afirmar que as instituições de pesquisa e de ensino já produziram informações suficientes para o uso saudável do solo e da água. Porém, a comunicação com o mundo rural deve se dar de tal forma que facilite ao agricultor entender e internalizar as estratégias apropriadas que deve adotar para preservar tais recursos, considerando as particularidades da sua propriedade”, afirma Oromar, lembrando que o solo e água são o patrimônio mais importante na propriedade.

Para os próximos anos, Oromar Bertol avalia que será preciso ter mais informações numéricas do significado das perdas de solo e água e entender o custo que terá ao não adotar medidas conservacionistas. “A Rede Paranaense de Agropesquisa está trabalhando neste sentido. Entendo que ela dará uma grande contribuição ao estado nos próximos anos”, destaca.

Ele afirma, entretanto, que o Sistema Plantio Direto (SPD) é considerado a ferramenta mais eficiente para controle da erosão em áreas de culturas anuais, porém, poucos agricultores aplicam os três pilares: revolvimento mínimo do solo, cobertura permanente do solo e rotação de culturas.
Oromar Bertol considera que a agricultura conservacionista, quando feita de forma completa e não parcial, garante a proteção do solo e a produtividade com lucratividade. Hoje em dia, somente entre 10% e 20% dos produtores seguem os três pilares do SPD. Os demais 80% a 90% adotam apenas parte dos princípios do SPD.

A professora Mônica Sarolli, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioste) – Campus de Cascavel, observa que existem regiões no Paraná onde os agricultores ainda recorrem à escarificação para facilitar a infiltração da água no solo. “Essa prática revela que o sistema plantio direto precisa ser efetivamente implementado. A sucessão de culturas, prática comum no Paraná, não favorece a escarificação biológica em que plantas com sistema radicular profundo criam canais para infiltração da água”, afirma Mônica.

Além disso, ela diz que a sucessão de culturas também não promove acúmulo de matéria orgânica, principalmente nas regiões mais quentes do Estado. “Maiores aportes de matéria orgânica via diversidade de plantas ainda são necessários no estado do Paraná”, defende.

Ela afirma que a crise de fertilizantes químicos, que atinge vários países, pode ser uma oportunidade para valorizar os compostos orgânicos como fonte de nutrientes para as culturas. “Esses resíduos orgânicos, provenientes de processos biológicos podem ser aplicados no solo para aumentar a fertilidade e a produtividade agrícola”.

Segundo a professora, o Plano Nacional de Fertilizantes, lançado pelo governo federal, com destaque para os bioinsumos, “traz luz a uma alternativa de reciclagem de nutrientes e matéria orgânica”.

O estado do Paraná apresenta grande potencial para aproveitamento dos resíduos orgânicos provenientes do meio rural, urbano e agroindustrial. A professora entende que a disseminação da valorização dos processos de tratamento dos resíduos orgânicos como compostagem, vermicompostagem e digestão anaeróbia, para destinação ambientalmente adequada dos resíduos, favorece o uso agrícola dos produtos gerados.

Poluição do solo

A professora Eloana Bonfleur, da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, que trabalha na área de poluição dos solos, observa que em relação a contaminação dos solos, o relatório de 2015 da FAO menciona que os avanços em países desenvolvidos ocorreram devido ao rigor e cumprimento da legislação acerca dos limites máximos permitidos para substâncias químicas em solos. “Em outras palavras, a sociedade entendeu que a adoção de políticas públicas de fato diminui o problema com a poluição dos solos. No Brasil, a resolução do Conama 420/2019 instruiu que os Estados são responsáveis pela determinação dos valores orientadores de referência de qualidade. O Estado do Paraná ainda não dispõe desses valores para os diferentes tipos de solos do território, o que inviabiliza o avanço de ações para atenuar os efeitos da poluição dos solos”, afirma Eloana.

Para ela, nos últimos 10 anos foram determinados valores orientadores de 13 elementos para os solos da planície litorânea e serra do mar e, parte do extremo oeste paranaense por grupos de pesquisa independentes dentro de universidades paranaenses. Entretanto, as regiões avaliadas representam menos de 5 % da área total do Estado. “Portanto, para os próximos 10 anos é essencial a conclusão da determinação de valores orientadores para todo território paranaense. Esta ação demanda, além do trabalho dos pesquisadores das universidades, apoio do poder público estadual”, salienta a professora.

Modelos atuais de produção estão ameaçados

O professor Fabrício Tondello Barbosa, do Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), em Ponta Grossa, alerta que a compactação dos solos agrícolas, que vem ocorrendo e sendo verificada sistematicamente pela pesquisa, incluindo áreas sob plantio direto, tem reduzido drasticamente a infiltração de água e contribuindo para o aumento das enxurradas e da erosão. “Eventos de chuvas intensas serão cada vez mais recorrentes em função das mudanças climáticas, é preciso um planejamento para enfrentar este cenário”, comenta.

Para o professor, além da continuidade da pesquisa é preciso formar mão-de-obra qualificada, mas para isso é necessário investimentos em ciência e tecnologia.

Até agora os sistemas de produção foram capazes de atender demandas colocadas sobre eles, devido ao aumento do uso de insumos e incorporação de tecnologias. No entanto, existe a preocupação de que os modelos atuais de produção sejam insuficientes para um futuro próximo, frente às mudanças climáticas e escassez de recursos naturais não renováveis. “Não podemos esquecer que as taxas de erosão continuam em níveis elevados e que os solos não se renovam na escala de vida humana”, salienta o professor.

Outro ponto relevante, segundo ele, é que a ciência do solo está em um patamar que precisa romper barreiras e produzir um maior efeito social e político. “Os dados técnico-científicos precisam embasar políticas públicas voltadas para a preservação do solo e da água. Existe muito conhecimento acumulado que não está sendo aproveitado para esta finalidade.”

Educação e bonificação

O professor Marcos Rafael Nanni, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), não vê mudanças significativas no solo paranaense nesses últimos 10 anos. “Os agricultores continuam repetindo as mesmas práticas agrícolas. Eles têm feito algumas correções locais, pontuais, mas não houve muitas mudanças”.

O professor compreende que a degradação do solo no Paraná é um problema grave, que afeta a produtividade e a sustentabilidade dos sistemas produtivos agrícolas. “Muitos agricultores não seguem as recomendações de melhores práticas de manejo. Isso compromete a qualidade física, química e biológica do solo, reduzindo sua capacidade produtiva e sua resiliência”, avalia Nanni.

Ele aponta duas alternativas para conscientizar o agricultor: fiscalização e bonificação. “A fiscalização bem como a bonificação mexem no bolso dos agricultores e podem ser um incentivo significativo para a adoção de práticas mais sustentáveis. Ele sugere a ideia, por exemplo, de bonificação por créditos de carbono. “Quando o agricultor for bonificado, ele vai perceber que a matéria orgânica do solo pode se tornar uma fonte de renda por meio da venda de crédito de carbono”, complementa Nanni.

Analisando a questão por outro viés, o professor Marcelo Augusto Batista, também da Universidade Estadual de Maringá (UEM), defende uma abordagem educativa em relação à conservação da natureza. “A educação deve preceder qualquer penalização, embora em alguns casos a multa é que de fato normatiza e educa, temos que partir primeiro da educação e depois a cobrança”, argumenta Marcelo.
Segundo ele, nem sempre as práticas adequadas são adotadas pelos agricultores, embora haja muita pesquisa e tecnologia disponíveis para orientá-los.

Marcelo Batista destaca a importância contínua da educação para garantir práticas sustentáveis na agricultura, lembrando que a preservação do solo é uma responsabilidade compartilhada que impacta não apenas os produtores, mas toda a sociedade.

Educação em solos desperta a consciência ambiental nos estudantes

A educação em solo nas escolas é fundamental para despertar a consciência ambiental nos estudantes e incentivá-los a participar de ações de conservação e recuperação do solo.

De acordo com o professor Marcelo Ricardo de Lima, da disciplina Solos na Educação Básica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, a educação em solos no Paraná teve alguns avanços, especialmente na área da Educação Básica.

“Durante a década houve a implantação ou ampliação de atividades de iniciativas de educação em solos no estado. Essas iniciativas produziram materiais didáticos e cursos, voltados a docentes do ensino fundamental e médio, que puderam atingir docentes em diferentes regiões do estado”, avalia.

“Percebo também uma maior sensibilização de secretarias estadual e municipais de educação em relação à temática solos, facilitando a troca de experiências entre as instituições de ensino superior e técnico, bem como instituições de pesquisa, e os docentes da educação básica. Contudo, obviamente, ainda há um longo percurso a ser trilhado”, complementa.

A pesquisa na Educação em Solos no Paraná, diz ele, assim como no país e no resto do mundo, ainda é incipiente, estando em processo de amadurecimento e consolidação. Mesmo assim, algumas pesquisas geraram monografias, dissertações, teses e artigos científicos que ajudaram a compreender o alcance das ações de Educação de Solos produzidas no estado.

“A boa notícia é que os resultados destas pesquisas têm mostrado que o esforço das iniciativas de educação em solos, embora não atinjam igualmente todos os docentes da educação básica, tem indicado uma mudança de percepção e, até mesmo, de comportamento em relação ao solo”, comemora, destacando o desafio de desenvolver projetos e iniciativas permanentes ou de longo prazo que atuem na informação e sensibilização sobre a importância do solo para a sociedade, tanto na área rural quanto urbana.

Fonte: Assessoria Nepar

Notícias

Sete anos de promessas: A Rota do Milho e a falta de avanços

“O diálogo entre as lideranças políticas precisa ser retomado imediatamente, mas com uma diferença: dessa vez, é preciso seriedade e ação concreta.”

Publicado em

em

Fotos: Divulgação

Setembro de 2024 marca um triste aniversário: sete anos desde o encontro em Encarnación, no Paraguai, onde representantes políticos e setoriais de Brasil, Argentina e Paraguai se reuniram para abordar a implantação da Rota do Milho.

A proposta, tão simples quanto necessária, era estabelecer uma rota de transporte que reduziria drasticamente os custos logísticos para trazer milho do Paraguai até Santa Catarina, passando por Major Otaño, entrando na região de Misiones, na cidade de Eldorado, e chegando no Estado por Dionísio Cerqueira.

Naquele momento, acreditávamos que estávamos diante de uma solução definitiva para um problema que afeta diretamente a competitividade de nossa produção agropecuária. No entanto, passados sete anos, a Rota do Milho permanece como um projeto esquecido, engavetado pela inércia política.

Em 2016, Santa Catarina enfrentava um déficit de 3,5 milhões de toneladas de milho. Hoje, essa necessidade cresceu para 6 milhões de toneladas, tornando a situação ainda mais insustentável. A dependência do cereal, fundamental para a produção de proteína animal — especialmente suínos, aves e gado leiteiro — tornou-se um dos principais gargalos para o setor produtivo.

Apesar das inúmeras promessas e da presença de autoridades influentes naquela reunião, entre governadores, deputados e prefeitos, a verdade é que nada foi feito. Seguimos pagando caro para trabalhar, sacrificando a rentabilidade dos nossos produtores e a competitividade das nossas indústrias.

Chegou o momento de cobrar de forma incisiva. É inadmissível que as lideranças políticas, que juraram defender os interesses do setor agropecuário, tenham permitido que esse projeto caísse no esquecimento.

Onde estão os políticos que estavam em Encarnación em 2016? O que foi feito desde então? São perguntas que merecem respostas claras e objetivas. O agronegócio catarinense, que é a base da economia de tantas regiões, não pode continuar refém de uma política desinteressada, que só se mobiliza em tempos de interesse, mas não entrega resultados práticos para quem trabalha no campo.

Mas a janela de oportunidade foi aberta novamente. Hoje, tanto o Paraguai quanto a Argentina são governados por líderes de direita, que entendem a importância do agronegócio. O Paraguai, em especial, tem ampliado sua produção de milho e possui um governo comprometido com o crescimento do setor. E o que estamos esperando?

O diálogo entre as lideranças políticas precisa ser retomado imediatamente, mas com uma diferença: dessa vez, é preciso seriedade e ação concreta. Chega de discursos vazios e promessas que se perdem no tempo. Temos de ver resultados práticos. Não podemos mais aceitar que a Rota do Milho siga apenas no sonho, enquanto produtores e indústrias pagam um preço altíssimo pela falta de milho mais acessível.

A abertura dessa rota não só reduziria os custos logísticos — que chegam a ser cinco vezes menores em comparação com o cereal vindo do centro do Brasil —, como também impulsionaria o desenvolvimento das regiões por onde o milho passaria. Todos os envolvidos sairiam ganhando: os produtores, as indústrias e as economias locais e nacionais.

Como representante do setor suinícola, vejo que o tempo das promessas vazias tem que acabar. Precisamos de ação, e precisamos agora. Chega de pagar caro pela ineficiência política. Se não houver uma mobilização séria, o agronegócio catarinense, que já atravessou três anos de crise severa, continuará sofrendo e perdendo competitividade.

Portanto, aos políticos que prometeram e não cumpriram, a mensagem dos nossos produtores é clara: a paciência acabou. Precisamos que vocês cumpram seu papel e coloquem em prática o que foi discutido em 2016.

Caso contrário, estarão condenando não apenas o setor agropecuário, mas também a própria credibilidade perante aqueles que vocês deveriam e dizem representar.

Fonte: Por Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da ACCS e da Coasc
Continue Lendo

Notícias

Eduardo Berbigier assume comitês na Sociedade Rural Brasileira

A posse, conduzida pelo presidente da SRB, Sérgio Bortolozzo, reforça o compromisso de Berbigier com a defesa dos interesses do agronegócio.

Publicado em

em

Advogado tributarista Eduardo Berbigier e presidente da SRB, Sérgio Bortolozzo - Foto: Reinaldo de Maria

O advogado tributarista Eduardo Berbigier, com vasta experiência no setor tributário e do agronegócio, foi empossado nos comitês Jurídico e Tributário da Sociedade Rural Brasileira (SRB).

A posse, conduzida pelo presidente da SRB, Sérgio Bortolozzo, reforça o compromisso de Berbigier com a defesa dos interesses do agronegócio. “É uma honra colaborar com o agronegócio nacional e contribuir para o desenvolvimento de políticas que beneficiem esse setor fundamental para a economia do país” afirmou Berbigier, cujo escritório O Berbigier Sociedade de Advogados,  acumula 84 anos de atuação jurídica.

Fonte: Assessoria
Continue Lendo

Notícias Safra 2024/2025

Conab aponta perspectiva com cenário positivo para milho e soja, além de novo aumento na área de arroz e feijão

Produção de grãos na temporada 2024/2025 tem potencial para atingir 326,9 milhões de toneladas, o que seria um novo recorde na série histórica.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

Em meio aos desafios climáticos que se apresentam a cada nova safra, arroz e feijão devem apresentar novo crescimento no volume a ser colhido no ciclo 2024/2025. A alta é influenciada pela ligeira recuperação na área plantada dos dois principais produtos de consumo dos brasileiros, como mostra a 12ª edição das Perspectivas para a Agropecuária. A publicação, divulgada nesta terça-feira (17) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em parceria com o Banco do Brasil (BB), aponta ainda que a produção de grãos na temporada 2024/2025 tem potencial para atingir 326,9 milhões de toneladas, o que seria um novo recorde na série histórica.

Foto: Divulgação/Freepik

De acordo com a análise da Conab, a projeção é de um incremento na área destinada ao arroz na temporada 2024/2025 mais intenso do que o identificado na safra 2023/2024. Os preços e a rentabilidade da cultura encontram-se em um dos melhores patamares históricos para o produtor. Com isso, a perspectiva é de uma alta expressiva de 11,1% na área destinada para o grão, e uma produção que deve ficar em torno de 12,1 milhões de toneladas, recuperando o volume obtido na safra 2017/2018. Para a safra de 2024/2025, a perspectiva de maior disponibilidade interna do grão, aliada à demanda aquecida do mercado internacional pelo arroz brasileiro, e a projeção de arrefecimento dos preços internos, abre espaço para um possível aumento das exportações do produto, que podem chegar a 2,0 milhões de toneladas.

Dupla do arroz no prato dos brasileiros, o feijão também tende a apresentar aumento na área no próximo ciclo. Projeta-se um incremento de 1,2% em relação a 2023/2024. Como a produtividade das lavouras tende a apresentar ligeira queda, a colheita da leguminosa deverá se manter dentro de uma estabilidade próxima a 3,28 milhões de toneladas, a maior desde 2016/2017. Com isso, a produção segue ajustada à demanda e deverá continuar proporcionando boa rentabilidade ao produtor.

Cenário positivo

A Conab também prevê um novo aumento para a área destinada à cultura do algodão, podendo chegar a dois milhões de hectares, elevação de 3,2% em relação à safra 2023/2024. Na região do Matopiba, que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, é onde se espera o maior crescimento em termos proporcionais. Os produtores têm investido na fibra, uma vez que o produto apresenta boa rentabilidade em relação a outros grãos, grande facilidade de comercialização antecipada e excelente competitividade em termos de preço e de qualidade da pluma brasileira no mercado internacional. Esses fatores influenciam na expectativa de produção da temporada 2024/2025, quando se espera uma colheita de 3,68 milhões de toneladas apenas da pluma.

Cenário positivo também é previsto para a produção de soja. Mesmo com a pressão baixista nos preços nacionais e os desafios de rentabilidade, a oleaginosa continua a ser uma cultura lucrativa e com alta liquidez. A crescente demanda global, impulsionada pelo aumento do esmagamento e pela expansão da produção de biocombustíveis, tanto no Brasil quanto internacionalmente, alimenta expectativas de crescimento nas exportações e no esmagamento interno. Esse panorama influencia na projeção de aumento da área plantada, podendo chegar a 47,4 milhões de hectares. A produtividade tende a apresentar recuperação, após problemas climáticos nos principais estados produtores brasileiros. A combinação de maior área e melhor desempenho nas lavouras resulta na projeção de uma colheita em torno de 166,28 milhões de toneladas, 12,82% superior à safra 2023/2024.

Já para o milho, o cenário é de manutenção da área a ser cultivada. Apesar disso, a produtividade deve apresentar recuperação, o que contribui para uma expectativa de alta na produção, estimada em 119,8 milhões de toneladas. Mesmo com o crescimento na safra do cereal, as exportações estão projetadas em 34 milhões de toneladas no ciclo 2024/2025, queda de 5,6%, se comparada com as vendas da safra 2023/2024. No mercado interno, a demanda pelo grão deverá se manter aquecida, uma vez que o bom desempenho do mercado exportador de proteína animal deverá sustentar o consumo por milho, especialmente para composição de ração animal. Além disso, é esperado um aumento da procura do grão para produção de etanol, sendo estimado um crescimento de 17,3% para a produção do combustível produzido a partir do milho.

Parceria com Banco do Brasil

Pela primeira vez, a Perspectivas para a Agropecuária é realizada em parceria com o Banco do Brasil. Trata-se da materialização do início de parceria inédita firmada entre a Companhia e o Banco do Brasil, por meio de Acordo de Cooperação Técnica, que abrangerá atividades de pesquisa, de desenvolvimento, de treinamento, de intercâmbio de tecnologias e de metodologias, de produção de informações agropecuárias e de ações promocionais conjuntas em feiras e eventos estratégicos para as instituições.

No trabalho, a instituição financeira abordou a importância do crédito rural como fomentador de uma agricultura que visa ao desenvolvimento dos negócios por meio de ações ambientais, sociais e de governança; de forma que haja adequação dos processos produtivos ao comportamento climático atual, diversificação da matriz energética, rastreabilidade, certificado de origem da produção, práticas conservacionistas, certificação, crédito para a recuperação ambiental, custeio anual ou que melhorem toda a gestão da atividade rural.

Outras informações sobre o panorama dos principais grãos cultivados no país estão disponíveis na publicação Perspectivas para a Agropecuária na Safra 2024/2025. O documento também traz a projeção de produção e de mercado para carnes bovinas, suínas e aves em 2025.

Fonte: Assessoria Conab
Continue Lendo
IFC

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.