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Especialista explica como a nutrição fetal molda bezerros mais saudáveis e produtivos

Desempenha um papel determinando na produção de bezerros de alta qualidade, impactando diretamente o desenvolvimento dos animais desde o início da gestação até o momento do parto.

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A nutrição fetal desempenha um papel determinando na produção de bezerros de alta qualidade, impactando diretamente o desenvolvimento dos animais desde o início da gestação até o momento do parto. Estudos recentes demonstram que uma nutrição adequada durante as fases críticas de desenvolvimento fetal – do segundo ao sétimo mês – não só garante melhores índices de crescimento e saúde dos bezerros, como também influencia o desempenho produtivo ao longo da vida dos animais.

Com a adoção de estratégias nutricionais específicas para vacas prenhes, os pecuaristas podem otimizar os recursos disponíveis, assegurando uma progênie mais saudável, resistente e, sobretudo, produtiva. “Bezerros nascidos de vacas melhor nutridas durante a gestação apresentam maior peso tanto na desmama quanto no abate, além de produzirem carne de qualidade superior e carcaças mais pesadas. Isso acontece porque as vacas que emprenham no início da estação de monta passam grande parte da gestação em melhores condições nutricionais em relação às vacas que emprenham o final do período”, enfatizou o zootecnista, mestre e doutor em Nutrição e Produção de Ruminantes, e gerente Global de Tecnologia Bovinos de Corte na Cargill Animal Nutrition, Pedro Veiga, durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, evento que integrou a programação da ExpoGenética 2024, dia 16 de agosto, no Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG).

A nutrição materna impacta diretamente o desenvolvimento intrauterino do bezerro, influenciando a formação de órgãos, músculos, tecido adiposo e o sistema imunológico. “De acordo com o ambiente intrauterino que o bezerro encontrar será possível garantir o bom desenvolvimento ao longo da sua vida ou comprometer seu desenvolvimento se a nutrição materna não for bem realizada”, mencionou Veiga.

A resistência imunológica dos bezerros ao nascimento está diretamente relacionada à qualidade e quantidade de colostro ingerido nas primeiras horas de vida. Vacas com nutrição deficiente produzem colostro menos rico em imunoglobulinas, retardando a maturação do sistema imunológico intrauterino e comprometendo a saúde dos animais.

Para garantir a qualidade dos bezerros, o profissional frisou a importância de priorizar nutrientes como energia, proteína, minerais e vitaminas durante a gestação. Em ambientes tropicais, como o Brasil, a deficiência proteica durante a época seca pode ser um desafio, exigindo correções na dieta das vacas. “Se a mãe não produz colostro em quantidade e qualidade adequadas, o bezerro não receberá toda a imunidade passiva necessária, aumentando o risco de doenças, especialmente neonatais”, alertou.

Estratégias para nutrição fetal em sistemas extensivos

Em sistemas de produção extensivos, Veiga recomenda a adoção de práticas como o planejamento forrageiro e a suplementação estratégica. “É essencial garantir um balanço positivo de forragem ao longo do ano e desenvolver estratégias para minimizar o vazio forrageiro, como o uso de silagem ou feno. Além disso, um plano suplementar adequado ao estágio de produção da vaca é fundamental para manter a nutrição equilibrada: mineral e vitamínico durante a época das águas; e proteico na época da seca”, frisou, acrescentando: “Garantir a execução deste plano nutricional depende de pessoas treinadas, capacitadas, motivadas na propriedade, além de estrutura de cocho e das estradas para que esse suplemento chegue a boca da vaca”.

Impactos na qualidade do bezerro

O período mais crítico da gestação, em termos de impacto na qualidade do bezerro, é o terço médio, entre o terceiro e o sétimo mês. “É nesse momento que ocorrem as miogêneses secundárias, responsáveis pela formação da maioria das fibras musculares esqueléticas. Se a vaca enfrentar estresse nutricional, ambiental ou sanitário nesse período, o potencial de crescimento do bezerro pode ser comprometido”, detalhou Veiga.

Em relação à qualidade da carne, especialmente no que diz respeito ao marmoreio, o terço final da gestação é de extrema importância, pois é nessa fase que ocorre a adipogênese. “Se a nutrição da vaca não for equilibrada nesse período, a qualidade do bezerro será comprometida, impactando diretamente a capacidade de produzir uma carne de qualidade superior”, afirmou.

O zootecnista reforça ainda que, para melhorar os índices produtivos e o bem-estar na pecuária de corte, é essencial estabelecer um plano nutricional para as fêmeas ao longo do ano, adaptado a cada estágio produtivo. Esse planejamento deve contemplar desde a estação de monta até a gestação e o período pós-desmame, quando o pecuarista deve focar em recuperar a condição corporal da vaca, aproveitando a menor demanda energética após a retirada do bezerro. “O maior desafio atualmente é a execução desse plano, devido à escassez de mão de obra qualificada, o que muitas vezes impede que as estratégias planejadas sejam efetivamente implementadas. Garantir que o plano nutricional seja seguido à risca é um dos principais obstáculos enfrentados pelas fazendas, não apenas na pecuária de cria, mas em todo o setor de modo geral”, salientou.

Veiga explica que as principais diferenças na nutrição fetal entre bezerros destinados à produção de carne de alta qualidade e aqueles voltados para produção em larga escala dependem amplamente do perfil de carne que o pecuarista deseja alcançar. “Para produzir carne com alto marmoreio, é fundamental garantir uma nutrição robusta da vaca no terço final da gestação, fase em que se formam os adipócitos intramusculares, responsáveis pela diferenciação da carne de alta qualidade. Por outro lado, para a produção de carne commodity, essa fase não é tão crítica”, expõe, enfatizando que, independente do objetivo final a nutrição durante a gestação é essencial para maximizar o potencial produtivo do bezerro.

Desafios na nutrição fetal

O mestre e doutor em Nutrição e Produção de Ruminantes aponta que um dos principais desafios na adoção de estratégias de nutrição fetal em diferentes regiões do país e em variados sistemas de produção é a conscientização do produtor sobre a importância desse investimento. Ele destaca a necessidade de uma visão de longo prazo, onde o produtor compreenda que a nutrição fetal não é apenas um custo, mas um investimento que resulta em bezerros mais pesados, com maior potencial de ganho e que agregam valor ao sistema produtivo. “Garantir mão de obra qualificada para a implementação dessas estratégias é outro obstáculo significativo a ser superado pela cadeia produtiva”, reforça.

Em relação ao impacto do manejo nutricional durante a gestação na redução de problemas de saúde neonatais em bezerros, o zootecnista ressalta que a atenção deve ser redobrada com novilhas e primíparas, categorias mais exigentes e sensíveis a variações na nutrição. “A falta de uma nutrição adequada para esses animais pode resultar na produção de colostro em menor quantidade e com menos anticorpos, o que compromete seriamente a saúde dos bezerros. Essa deficiência aumenta a vulnerabilidade dos neonatos, especialmente à diarreia, que é o principal problema sanitário enfrentado por bezerros”, evidencia.

Ele também destacou a importância de inovar nas práticas nutricionais, como o uso de proteinados para vacas, uma abordagem ainda pouco explorada no Brasil, mas com grande potencial para melhorar a qualidade dos bezerros produzidos. “Quando se trata de nutrição para vaca o conceito de sal proteinado ainda é pouco utilizado, normalmente se usa sal com ureia”, mencionou.

A nutrição adequada das vacas ao longo de todo o ano, principalmente na seca, e o uso de biotécnicas reprodutivas como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) são tecnologias que propiciam concentrar prenhezes do cedo e obter bezerros que serão mais pesados à desmama e terão maior capacidade de crescimento ao longo da recria e engorda, tornando o sistema de produção mais eficiente e lucrativo.

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Fonte: O Presente Rural

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Professor Zequinha elenca fatores para desbloquear potencial genético dos bovinos

Explorou os desafios e as oportunidades da gestão genética no rebanho, destacou como as decisões e os manejos reprodutivos influenciam diretamente o futuro da produção animal.

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A expressão da genética reprodutiva tem se tornado uma preocupação central para produtores que buscam maximizar a eficiência e a produtividade de seus rebanhos. Esse tema foi destaque no 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, realizado em agosto, durante o primeiro dia da ExpoGenética 2024, em Uberaba (MG). Um dos mais influentes profissionais da pecuária mundial, José Luiz Moraes Vasconcelos chamou a atenção dos participantes com a provocativa pergunta: Estou preocupado com a expressão da genética reprodutiva?

Durante sua palestra, o professor Zequinha, como é carinhosamente conhecido, explorou os desafios e as oportunidades da gestão genética no rebanho, destacou como as decisões e os manejos reprodutivos influenciam diretamente o futuro da produção animal. O debate levantou questões essenciais sobre a seleção genética, o papel das novas tecnologias e as estratégias necessárias para garantir que o potencial genético dos animais seja plenamente atingido.

Entre os principais fatores que podem interferir na expressão da genética reprodutiva em rebanhos comerciais está a nutrição. “A reprodução com desempenho baixo é altamente influenciada pelo ambiente, e entre os fatores ambientais o que mais interfere é o manejo nutricional, seguido pelo estresse térmico”, explicou o médico-veterinário, doutor em Zootecnia e professor adjunto do Departamento de Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Botucatu (SP).

Manejo nutricional

Zequinha enfatiza que o manejo nutricional é essencial para garantir que o potencial genético reprodutivo dos animais seja plenamente expressado. No caso das novilhas, a nutrição adequada afeta diretamente o peso e a indução da puberdade. “Animais que alcançam maior peso no momento da indução tendem a apresentar taxas de prenhez mais elevadas e menor perda gestacional”, afirma.

Além disso, o doutor em Zootecnia diz que novilhas que entram na puberdade com maior peso também tendem a parir com um peso superior, o que contribui para uma redução significativa nos problemas relacionados ao parto. “Consequentemente, esses animais mais robustos ao parto demonstram uma melhor eficiência produtiva subsequente, o que reforça a importância de um manejo nutricional bem estruturado para garantir o máximo aproveitamento do potencial genético reprodutivo”, expõe.

Maximização da expressão genética

Tecnologias de monitoramento e sensores, software de gestão reprodutiva, uso de suplementos nutricionais específicos, nutrigenômica, ultrassonografia reprodutiva, genômica, inseminação artificial e inseminação artificial em tempo fixo (IATF) estão desempenhando um papel fundamental na maximização da expressão genética, especialmente as voltadas para o aumento do ganho de peso e a melhoria do score de condição corporal dos animais. “Essas tecnologias são muito importante para garantir que o potencial reprodutivo das fêmeas, tanto jovens quanto adultas, seja plenamente alcançado”, frisa o médico-veterinário

No entanto, a correlação entre a seleção genética para características reprodutivas e a performance observada no campo depende diretamente da qualidade do manejo nutricional. “Mesmo com uma genética de alta qualidade, sem uma nutrição adequada, o potencial genético não será expressado em sua totalidade. Quanto melhor a genética dos animais, maior será a demanda por um manejo nutricional eficaz”, exalta o professor Zequinha.

Os produtores enfrentam o desafio contínuo de garantir uma nutrição adequada para seus rebanhos durante todo o ano. O fornecimento constante de volumoso, alimentação e suplementação de qualidade é fundamental para que os animais possam atingir um bom score de condição corporal e expressar plenamente seu potencial genético. “O conhecimento do potencial dos animais é fundamental para que o pecuarista possa ajustar o manejo e, assim, obter maior produtividade e eficiência reprodutiva”, enaltece o médico-veterinário.

O estresse ambiental é outro fator que afeta de forma significativa a expressão da genética reprodutiva. Todo estresse aumenta as exigências nutricionais dos animais, o que, por sua vez, impacta negativamente sua produtividade. “Para mitigar esses impactos, é essencial que os produtores adotem práticas de manejo que minimizem os fatores de estresse, garantindo que os animais possam se desenvolver em condições favoráveis”, salienta.

Sinais de alerta

Sinais de alerta, como resultados insatisfatórios de prenhez ou baixa eficiência em programas de IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), podem indicar que a genética reprodutiva do rebanho não está sendo plenamente expressada. “Esses problemas podem estar ligados tanto à genética quanto ao manejo nutricional, sanitário e ambiental. A genética é uma ferramenta poderosa, mas sua eficácia depende de um manejo eficiente na fazenda, especialmente no que diz respeito à reprodução, que é altamente influenciada pelo ambiente. Assim, a reprodução se torna um termômetro da qualidade do manejo aplicado na propriedade, refletindo diretamente na eficiência e na rentabilidade da produção”, afirma.

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Fonte: O Presente Rural
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Reajustes de setembro na pecuária de corte compensam perdas do ano

Levantamento do Cepea mostra que, no acumulado de setembro, o Indicador do boi gordo Cepea/B3 teve forte acréscimo de 14,4%, fechando em R$ 274,35 no dia 30. No comparativo com a média de agosto, a de setembro (R$ 255,45) foi 8,7% maior.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

As cotações máximas do ano têm se renovado dia a dia tanto para o boi quanto para os animais de reposição e também para a carne no atacado.

Levantamento do Cepea mostra que, no acumulado de setembro, o Indicador do boi gordo Cepea/B3 teve forte acréscimo de 14,4%, fechando em R$ 274,35 no dia 30.

No comparativo com a média de agosto, a de setembro (R$ 255,45) foi 8,7% maior.

No mercado atacadista de carne com osso da Grande São Paulo, a carcaça casada de vaca/novilha se valorizou 15,2% no balanço do último mês, com o quilo chegando a R$ 17,73 no dia 30; a carcaça casada de boi avançou 12,2%, a R$ 18,70.

Pesquisadores do Cepea explicam que, em julho e agosto, as cotações pecuárias ensaiaram o início da recuperação das quedas que se sucederam ao longo de todo o primeiro semestre.

Mas foi em setembro que os reajustes compensaram as perdas do ano.

Segundo pesquisadores do Cepea, a forte estiagem agravada por queimadas reduziu significativamente as ofertas de animais a pasto em setembro, ao mesmo tempo em que a demanda esteve aquecida.

 

 

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Saiba o que esperar sobre clima, mercado e a produção de soja

No Brasil, a perspectiva é de uma nova expansão na produção, impulsionada tanto pelo aumento da área plantada quanto pela elevação da produtividade.

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A safra 2023/24 no Brasil teve seu desenvolvimento prejudicado devido a condições climáticas adversas em várias regiões. Após o início do plantio em meados de setembro, a forte influência do El Niño sobre o clima trouxe ondas intensas de calor, afetando especialmente o Centro-Oeste, Sudeste e Norte do país no final de 2023. Essas ondas de calor, aliadas a períodos de chuva abaixo da média, resultaram em prejuízos expressivos na produtividade. “O clima irregular provocou a maior quebra histórica de produtividade em Mato Grosso, o maior produtor de grãos do país, com uma redução de cerca de 15% em relação à safra 2022/23”, afirma Francisco Queiroz, responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA.

Foto: José Fernando Ogura

No entanto, o retorno das chuvas entre o final de dezembro de 2023 e janeiro de 2024, beneficiaram especialmente as lavouras mais tardias. Esse fator, junto com a expansão de área cultivada, que cresceu 2,7%, ou seja, 1,2 milhão de hectares, ajudou a amenizar a queda na produção.

A Consultoria Agro do Itaú BBA projeta que a produção brasileira de soja na safra 2023/24 chegue a 153 milhões de toneladas, um volume inferior ao potencial de 163 milhões de toneladas estimado no início da temporada. “Essa redução na safra brasileira, entretanto, foi mais que compensada pela recuperação da produção na Argentina. O país vizinho, que havia sofrido grandes perdas devido à seca na safra 2022/23, conseguiu dobrar sua produção em 2023/24, graças às chuvas favoráveis trazidas pelo El Niño”, aponta Queiroz.

Segundo as projeções mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Argentina deve encerrar a safra com uma oferta de 50 milhões de toneladas. “Com isso, o balanço global de oferta e demanda de soja apresentou um crescimento importante dos estoques, da ordem de milhões de toneladas, o que resultou também em um incremento da relação estoque/consumo da oleaginosa, que saiu de 27% para 29% em 2023/24”, afirma Queiroz.

Diante do panorama de maior conforto para o balanço mundial de soja, as cotações do grão em Chicago apresentaram redução de 19,2% no primeiro semestre de 2024 sobre o mesmo período do ano anterior. Em Sorriso (MT), Rio Verde (GO) e Paranaguá (PR), a desvalorização apresentada no semestre foi de 16,7%, 18,1% e 17,6%, respectivamente. “A queda dos preços, somada a uma produtividade mais baixa e custos ainda em patamares elevados, resultou em menor rentabilidade para o produtor brasileiro”, avaliou o profissional.

2024/25

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O cenário para a temporada 2024/25 começou a tomar forma a partir do início do plantio da safra nos Estados Unidos, trazendo perspectivas otimistas para a produção global de soja. Segundo as primeiras estimativas do USDA, a produção mundial da oleaginosa deve atingir 422 milhões de toneladas, um aumento de 7% em relação à safra anterior, estabelecendo um novo recorde de oferta. O órgão projeta crescimento na produção dos três maiores produtores globais: Brasil, EUA e Argentina, com expectativas de expansão de 10% para o Brasil, 6% para os EUA e 3% para a Argentina. “O plantio da safra americana iniciou em meados de abril e veio em ritmo acelerado até o início de maio, quando desacelerou devido ao excesso de chuva.

O ritmo de plantio em 2024 ficou abaixo do observado no ano passado, porém na maior parte do tempo, à frente da média dos últimos cinco anos”, analisa Queiroz. Nos Estados Unidos, onde a safra 2024/25 está em desenvolvimento, a área plantada de soja deve crescer, impulsionada por preços mais atrativos em comparação ao milho, observados no momento de definição do plantio por parte do produtor americano. O USDA prevê que a área plantada deverá alcançar 34,9 milhões de hectares, enquanto a área colhida é estimada em 34,5 milhões de hectares, com uma produtividade média projetada de 3,5 toneladas por hectare, resultando em uma produção total de 120,7 milhões de toneladas.

Do ponto de vista climático, Queiroz diz que o panorama até o momento é bastante positivo para a safra americana e segue sustentando a expectativa de aumento da produção. “Não faltou chuva na maior parte das áreas e, apesar das temperaturas acima da média, o calor não chegou a afetar as lavouras até agora”, ressaltou, acrescentando: “Ainda estamos (início de agosto) no meio do período de desenvolvimento e a consolidação dos números está sujeita a revisões, ainda dependendo da evolução do clima nas próximas semanas. Entretanto, os modelos seguem projetando um clima favorável nos próximos meses para os EUA, ou seja, a expectativa é de safra americana cheia e preços que devem seguir pressionados em Chicago”.

América do Sul

Responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz: “A volatilidade contínua, influenciada por fatores climáticos e políticos, pode complicar a gestão de risco para as tradings, tornando essencial uma estratégia cuidadosa” Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Para a Argentina, após o bom desempenho na safra 2023/24, a expectativa é de mais um aumento na área de cultivo de soja. O USDA projeta um crescimento de 2,4% na área plantada para a safra 2024/25, o que, aliado a uma produtividade média semelhante à da última safra, deve resultar em uma produção de 51 milhões de toneladas.

No Brasil, a perspectiva é de uma nova expansão na produção, impulsionada tanto pelo aumento da área plantada quanto pela elevação da produtividade. O USDA prevê uma área de 47,3 milhões de hectares, com uma produtividade média estimada em 3,6 toneladas por hectare, o que resultaria em uma produção de 169 milhões de toneladas de soja.

No entanto, a Consultoria Agro do Itaú BBA projeta uma expansão mais modesta, de apenas 2% na área plantada, alcançando 46,7 milhões de hectares. “Considerando a influência de um possível fenômeno La Niña, que está se formando, adotamos uma postura mais conservadora em relação à produtividade, estimando uma média de 3,5 toneladas por hectare. Dessa forma, a safra brasileira de soja para 2024/25 seria de aproximadamente 163 milhões de toneladas”, expõe Queiroz, enfatizando que o El Niño, fenômeno que influenciou a safra 2023/24, chegou ao fim na virada do semestre, dando lugar ao processo de resfriamento do Oceano Pacífico, típico de uma La Niña.

Influência do La Niña

Os modelos climáticos indicam a atuação de um La Niña entre julho e setembro. Esse fenômeno, oposto ao El Niño, é caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e exerce uma influência significativa no clima global. No Brasil, conforme Queiroz, seus efeitos resultam em menos chuvas na região Sul e em um aumento nos volumes de precipitação na região do Matopiba. “Os efeitos do La Niña são potencializados de acordo com a intensidade. Fenômenos de forte intensidade tendem a registrar as consequências clássicas, enquanto os mais fracos podem ter os reflexos no clima atenuados”, explica o analista de mercado.

Atualmente, os modelos de projeção climática apresentam divergências quanto à intensidade do La Niña. O modelo americano (CFSv2) prevê um fenômeno de intensidade moderada, com resfriamento próximo a -1,5°C, enquanto o modelo europeu (ECMWF) sugere um La Niña mais fraco, com resfriamento em torno de -0,5°C. Entretanto, independentemente dessas diferenças, climatologistas alertam para a possibilidade de atraso nas chuvas para a safra de verão devido à formação do fenômeno. “As previsões atuais indicam boas chuvas chegando até a região central do Brasil apenas na segunda metade de outubro, um atraso de cerca de 30 dias em relação à época habitual. No entanto, as perspectivas para novembro, dezembro e janeiro são de boas precipitações em praticamente todas as regiões produtoras”, aponta Queiroz.

O profissional diz que é importante ressaltar que o La Niña tende a reduzir as chuvas não apenas no Sul do Brasil, mas também em partes da Argentina, Paraguai e Uruguai. “É fundamental monitorar a evolução da intensidade do La Niña nos próximos meses e seus impactos nas áreas agrícolas desses países, com especial atenção para a Argentina, o terceiro maior produtor mundial de soja”, salienta.

Mercado da soja

Segundo Queiroz, a análise do mercado de soja para a safra 2024/25 deve considerar vários fatores além das condições climáticas. Dois aspectos essenciais para o balanço de oferta e demanda da commodity são a demanda global e os estoques.

A demanda por soja é influenciada por diversos fatores, como o crescimento econômico global, o aumento da produção de proteína animal e políticas governamentais e comerciais. Queiroz expõe que entre as safras 2012/13 e 2022/23, a demanda global por soja cresceu, em média, 3,3% ao ano, enquanto a safra 2023/24 deve registrar um crescimento de 4,4%, e a safra 2024/25, um aumento de 5%. “Esse crescimento acima da média observado em 2023/24, e esperado para 2024/25, está diretamente ligado à expansão da produção global de biocombustíveis”, assegura.

Nos últimos anos, o mundo tem visto um aumento gradual na produção de biocombustíveis, impulsionado principalmente por incentivos financeiros governamentais em países que buscam acelerar esse processo. “A necessidade de descarbonizar as economias tem levado a uma expansão significativa dos investimentos nesse setor, aumentando a capacidade de produção de biocombustíveis”, frisa Queiroz, acrescentando: “O óleo de soja é a principal matéria-prima para dois dos três biocombustíveis mais produzidos no mundo – biodiesel e diesel renovável. Esse avanço na produção de biocombustíveis está elevando a demanda por óleo de soja, o que, por sua vez, impulsiona a demanda pelo grão”.

Estoques globais

Os níveis de estoques globais de soja desempenham um papel importante na determinação dos preços da commodity. Estoques baixos tendem a aumentar a volatilidade das cotações, enquanto estoques elevados podem trazer maior estabilidade. “Para a safra 2024/25, espera-se um novo crescimento dos estoques finais mundiais de soja, mesmo diante do forte aumento projetado para o consumo”, afirma Queiroz.

Foto: Claudio Neves

Com base nas estimativas do USDA para a produção global e na previsão de 163 milhões de toneladas para o Brasil, os estoques mundiais devem variar entre 122 e 128 milhões de toneladas, representando um aumento de 9% a 15% em relação à safra 2023/24. A relação estoque/uso da oleaginosa subiria de 29% para um intervalo entre 30% e 32%.

Além dos estoques, políticas governamentais relacionadas ao comércio internacional, subsídios, biocombustíveis, acordos comerciais e questões ambientais também podem impactar o mercado de soja. Neste contexto, é importante observar o cenário político, especialmente a eleição presidencial nos Estados Unidos, prevista para novembro, onde Donald Trump é o candidato do Partido Republicano. “Em seu primeiro mandato, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021, Trump assumiu uma postura combativa com a China, o que culminou com uma guerra comercial entre as duas nações, cenário que beneficiou os produtores de soja do Brasil”, admite Queiroz.

Com o início da guerra comercial, em março de 2018, diante da imposição de tarifas comerciais sobre produtos chineses por parte dos EUA e desgaste das relações entre os dois países, a demanda de soja do gigante asiático saiu dos americanos e veio para o Brasil. “O reflexo disso foi uma queda dos preços em Chicago, diante da redução da demanda pela soja americana, mas uma explosão dos prêmios no Brasil, com as cotações alcançando US$ 2,75/bushel em outubro de 2018, o que mais do que compensou a queda na CBOT”, menciona o especialista, ampliando: “As chances de Trump assumir a presidência subiram após o atentado de 13 de junho e, com isso, o mercado já começa a especular sobre a possível retomada da guerra comercial com a China, o que seria bastante negativo para a demanda de exportação dos EUA, mas potencialmente positivo para os prêmios no Brasil”.

O panorama de produção global recorde, aumento dos estoques finais e elevação da relação estoque/consumo desenha um cenário de preços pressionados para a soja na Bolsa de Chicago (CBOT), que ainda pode ser potencializado por uma hipotética vitória de Trump e retomada da guerra comercial com a China. No Brasil, a queda em Chicago poderá ser contrabalanceada por uma valorização dos prêmios e por um real mais depreciado.

Fertilizantes favorecem as margens dos produtores

Os custos de produção para a safra 2024/25 devem apresentar uma redução em comparação à safra anterior, impulsionados pela queda nos preços dos fertilizantes e pela diminuição nas cotações de alguns defensivos agrícolas. A expectativa é de que os custos com fertilizantes caiam cerca de 25%, sendo este o principal fator na redução do custo operacional, que deve registrar uma queda de aproximadamente 12% em relação à safra 2023/24.

A desvalorização do Real pode proporcionar um alívio financeiro maior do que o previsto para os produtores, que enfrentaram margens reduzidas nas últimas duas safras. Essa situação permitiria a manutenção do pacote tecnológico, incluindo sementes e insumos, o que, aliado a condições climáticas favoráveis, pode resultar em um aumento da produtividade.

No que diz respeito aos preços, a previsão de um balanço global de oferta e demanda mais equilibrado, junto com a expectativa de mais um recorde de safra no Brasil, tende a pressionar negativamente as cotações da soja na CBOT. No entanto, a valorização dos prêmios e uma taxa de câmbio mais alta devem favorecer a precificação da soja em reais. Com isso, se espera um aumento na rentabilidade para a safra 2024/25, decorrente da redução dos custos e do potencial de melhora na produtividade.

Os preços na CBOT, o câmbio e os prêmios influenciam diretamente a formação do preço da soja para os produtores brasileiros. “Diante da perspectiva de queda nos preços em Chicago e de um câmbio volátil e imprevisível, é essencial que os produtores estejam atentos às oportunidades de hedge, considerando as expectativas de um mercado global mais bem abastecido”, sugere Queiroz.

Foto: Claudio Neves

Volátil, mas positivo

O aumento da oferta interna de soja deve beneficiar as tradings, promovendo um retorno mais robusto. Nos últimos 10 anos, as exportações brasileiras de soja cresceram 138% segundo a Secex, passando de 42,8 milhões de toneladas na safra 2013/14 para 101,8 milhões de toneladas em 2023/24.

A China, principal importadora global, recebeu 73% das exportações brasileiras de soja no ano passado. O USDA prevê um aumento de 4,2% no consumo global e de 1% nas importações chinesas, atingindo 109 milhões de toneladas, o que deve manter o impulso nas exportações brasileiras. “Apesar dos prêmios para exportação atuais serem positivos devido à alta demanda projetada, a grande quantidade de soja ainda a ser comercializada pode pressionar esses prêmios”, analisa Queiroz, mencionando que a comercialização antecipada da nova safra está em torno de 15%, com 138 milhões de toneladas ainda por negociar.

Embora as vendas antecipadas estejam acima do ano passado, há um atraso de seis pontos percentuais em relação à média histórica. “A volatilidade contínua, influenciada por fatores climáticos e políticos, pode complicar a gestão de risco para as tradings, tornando essencial uma estratégia cuidadosa”, aponta.

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Fonte: O Presente Rural
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