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Especialista elenca alternativas aos antimicrobianos na avicultura

Uso continuado de antimicrobianos exerce pressão de seleção na população bacteriana, afirma especialista Marisa Cardoso

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A redução ou mesmo o banimento do uso de antimicrobianos na produção animal é um dos temas mais requisitados dos últimos tempos. Um desafio que se apresenta muito forte também na avicultura. A professora doutora Marisa Cardoso, do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) falou sobre o assunto no Simpósio Brasil Sul de Avicultura 2018. A palestra “Uso racional de antibióticos e novas alternativas” foi realizada em abril, em Chapecó, SC.

O tema envolvendo a resistência de antimicrobianos é uma preocupação mundial, entende a pesquisadora. “Impacta tanto na medicina humana quanto na produção animal”, destaca Marisa. Na produção animal, o uso de antimicrobianos assume papel de destaque como melhoradores de desempenho e que estão sendo banidos ou retirados em diversos países.

Na palestra, Marisa tratou ainda do uso responsável de antimicrobianos. “Inclui critérios para o uso, controle e busca de alternativas, principalmente no que diz respeito à utilização para ganho de desempenho”. A retirada de antimicrobianos como aditivos zootécnicos impacta no custo de produção, por essa razão medidas alternativas têm sido investigadas. “Do ponto de vista sanitário, os aspectos relativos ao manejo e ao desenvolvimento de vacinas eficazes são muito importantes”.

Ainda conforme a especialista, o tema é muito atual na produção animal e na saúde pública mundial, e demandará alterações no setor produtivo. A redução ou o banimento de antimicrobianos tem apresentado impacto na produção animal em diversos países, segundo ela. Recomendações para controle de resistência e uso responsável de antimicrobianos já foram publicadas pela Organização Mundial da Saúde e Organização Mundial para Saúde Animal; e as recomendações do Codex Alimentarius serão revistas no decorrer de 2018. “A partir disso, é possível prever que esse tema, em algum momento, poderá influenciar as questões relativas ao mercado internacional”, destaca Marisa.

Gestão de uso

Conforme Marisa, o médico veterinário deveria ser o gestor do uso dos antimicrobianos na cadeia produtiva animal. “Dentro dessa estratégia, o uso de antimicrobianos é baseado em testes e diagnóstico do que está causando o problema ou qual problema busca-se efetivamente evitar”.

O correto é aplicar antimicrobianos apenas quando necessário e na dose apropriada, acredita Marisa. “Apenas princípios ativos permitidos”, amplia. Ela destaca a necessidade de manter um banco de registros dos perfis de resistência, das populações bacterianas que circulam numa determinada granja, na indústria e manter os registros do que foi utilizado e em qual quantidade.  

A questão da resistência de antimicrobianos vem sendo observada nos últimos 20 anos, lembra Marisa, nas populações bacterianas de importância animal e humana. “Não diz respeito apenas às bactérias que causam algum tipo de doença, mas também àquelas que habitam sem doenças, o que é mais preocupante”, alerta. Segundo ela, populações permanentemente expostas aos antimicrobianos tendem a desenvolver maior resistência.

Quais as causas da resistência?

A especialista explica que o conceito de bactéria resistente envolve a multiplicação de um dado antimicrobiano em concentrações maiores do que o esperado para a população. “A resistência é um processo, não é algo súbito”. A resistência antimicrobiana, explica, pode ser acompanhada pela concentração inibitória mínima de determinada população bacteriana. “Isso pode ser verificado através de testes de laboratório, da análise de uma dada bactéria em concentrações crescentes do antimicrobiano em questão”, explica.

O ponto crucial, de acordo com Marisa, é a causa da resistência. Ela divide a resistência antimicrobiana em dois grupos: aquela que ocorre por mutações espontâneas nas bactérias ou através da aquisição de genes exógenos. “A maioria dos eventos de resistência é associada a genes exógenos”. Por isso, afirma a professora, a resistência pode ter um impacto no curto prazo dentro de uma determinada população bacteriana. “Seria mais lento se fosse apenas pelos eventos de mutação, que ocorrem naturalmente nas populações”, esclarece.

Já o uso continuado de antimicrobianos, comenta Marisa, exerce uma pressão de seleção na população bacteriana. “O problema da resistência abrange todos os cenários: indústria, saúde humana, agricultura, produção animal e até mesmo o ambiente aquático”, alerta.  Ela cita a preocupação com os antimicrobianos ainda ativos eliminados via resíduos ou por desperdício – medicamentos acrescidos à ração ou na água não consumidos, por exemplo. Há ainda o caso do individuo tratado que elimina uma parcela desses antimicrobianos não metabolizados de forma ativa. 

Saúde animal X Saúde humana

Para Marisa, o controle do uso de antimicrobianos está mais focado nos efeitos para a saúde humana. “A maioria dos produtos utilizados em animais não tem impacto na saúde humana”. Neste âmbito, o uso do promotor de crescimento é o mais visado. “Porque não tem viés de proteção da saúde animal, mas sim de produção propriamente dita”, esclarece.

A maior suscetibilidade da saúde humana a bactérias resistentes é através da alimentação. “Via cepas mais resistentes selecionadas na produção animal e chegando ao consumidor não só como bactéria patogênica, mas carreando genes de importância para o próprio tratamento dessa pessoa”, afirma. Outra forma de contaminação humana por bactérias resistentes pode ocorrer através do contato direto dos trabalhadores com animais submetidos ao tratamento com antimicrobianos.

A terceira forma de contaminação é através do ambiente: água, solo, chegando de alguma forma na população humana. “Mas é de difícil comprovação, ainda não é possível responder com segurança o quanto e como isso acontece”.

A OMS – Organização Mundial da Saúde – alerta para a prescrição excessiva de antibióticos para a população, o abandono de tratamento e o controle deficiente de infecções hospitalares, permitindo que superbactérias se disseminem entre pessoas hospitalizadas. “Higiene e saneamento deficiente, tanto de efluentes como de resíduos hospitalares também são preocupantes”, complementa.

Além de todas as dúvidas quanto à resistência, Marisa destaca a carência de pesquisa em novos antimicrobianos. “Sabemos que, nas últimas décadas, a pesquisa foi descontinuada pela indústria farmacêutica, principalmente por razões econômicas”, lamenta.

Alternativas aos antimicrobianos

Marisa desconhece alternativas a antimicrobianos para uso terapêutico. “Os antimicrobianos ainda são uma ferramentas de alta efetividade para o tratamento de doenças em animais e humanos”, afirma. Com relação a profiláticos, ela cita manejo, biosseguridade, vacinas atuais ou novas vacinas a serem desenvolvidas, entre outras providencias que possam ser tomadas.

Marisa acredita que a busca por alternativas esteja mais relacionada ao uso de antimicrobianos como promotores de crescimento. “As alternativas devem ser focadas num maior entendimento da microbiota intestinal e sua relação com o hospedeiro”, diz. O mecanismo de ação dos promotores de crescimento, afirma, ainda está direcionado a uma alteração da microbiota intestinal e menor inflamação local. “Mas ainda não temos total clareza a respeito dos mecanismos”. Conforme Marisa, cientistas sugerem que moduladores da microbiota e do processo imune teriam maior potencial alternativo a esses promotores.

Ela aponta algumas alternativas já conhecidas, como ácidos orgânicos, que agem eliminando os microrganismos por efeito pH. Outra alternativa são os probióticos, que visam estimular o sistema imune. Os prebióticos geralmente são ingredientes que regulam a microbiota e favorecem bactérias benéficas. Mais recentemente, surgem os fitobióticos, que incluem uma série de óleos essenciais derivados de plantas, cujo mecanismo de ação envolve um estímulo seletivo de crescimento. “As alternativas existem, mas precisamos analisar a efetividade e o custo-benefício”, pondera.

A produção animal contribui para a seleção de bactérias resistentes, mas não é o único ator envolvido nessa cadeia, esclarece Marisa. “Existem outros importantes, mas isso não nos exime da responsabilidade de participar dessa ação global para o controle do uso de antimicrobianos e contra a resistência”. A possibilidade do não uso de antimicrobianos como promotores de crescimento poderá vir a ser uma realidade, e é preciso considerá-la.  “Alguns países já tomaram essa atitude”, destaca.

Mais informações você encontra na edição de Aves de julho/agosto de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Avicultura

Indústria avícola amplia presença na diretoria da Associação Brasileira de Reciclagem

Nova composição da ABRA reforça a integração entre cadeias produtivas e destaca o papel estratégico da reciclagem animal na sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

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A Associação Brasileira de Reciclagem (ABRA) definiu, na última sexta-feira (12), a nova composição de seu Conselho Diretivo e Fiscal, com mandato até 2028. A assembleia geral marcou a renovação parcial da liderança da entidade e sinalizou uma maior aproximação entre a indústria de reciclagem animal e setores estratégicos do agronegócio, como a avicultura.

Entre os nomes eleitos para as vice-presidências está Hugo Bongiorno, cuja chegada à diretoria amplia a participação do segmento avícola nas decisões da associação. O movimento ocorre em um momento em que a reciclagem animal ganha relevância dentro das discussões sobre economia circular, destinação adequada de subprodutos e redução de impactos ambientais ao longo das cadeias produtivas.

Dados do Anuário da ABRA de 2024 mostram a dimensão econômica do setor. O Brasil ocupa atualmente a terceira posição entre os maiores exportadores mundiais de gorduras de animais terrestres e a quarta colocação no ranking de exportações de farinhas de origem animal. Os números reforçam a importância da atividade não apenas do ponto de vista ambiental, mas também como geradora de valor, renda e divisas para o país.

A presença de representantes de diferentes cadeias produtivas na diretoria da entidade reflete a complexidade do setor e a necessidade de articulação entre indústrias de proteína animal, recicladores e órgãos reguladores. “Como único representante da avicultura brasileira e paranaense na diretoria, a proposta é levar para a ABRA a força do nosso setor. Por isso, fico feliz por contribuir para este trabalho”, afirmou Bongiorno, que atua como diretor da Unifrango e da Avenorte Guibon Foods.

A nova gestão será liderada por Pedro Daniel Bittar, reconduzido à presidência da ABRA. Também integram o Conselho Diretivo os vice-presidentes José Carlos Silva de Carvalho Júnior, Dimas Ribeiro Martins Júnior, Murilo Santana, Fabio Garcia Spironelli e Hugo Bongiorno. Já o Conselho Fiscal será composto por Rodrigo Hermes de Araújo, Wagner Fernandes Coura e Alisson Barros Navarro, com Vicenzo Fuga, Rodrigo Francisco e Roger Matias Pires como suplentes.

Com a nova configuração, a ABRA busca fortalecer o diálogo institucional, aprimorar práticas de reciclagem animal e ampliar a contribuição do setor para uma agropecuária mais eficiente e ambientalmente responsável.

Fonte: O Presente Rural com Unifrango
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Avicultura supera ano crítico e pode entrar em 2026 com bases sólidas para crescer

Após enfrentar pressões sanitárias, custos elevados e restrições comerciais em 2025, o setor mostra resiliência, retoma exportações e reforça a confiança do mercado global.

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O ano de 2025 entra para a história recente da avicultura brasileira como um dos anos mais desafiadores. O setor enfrentou pressão sanitária global, instabilidade geopolítica, custos de produção elevados e restrições comerciais temporárias em mercados-chave. Mesmo assim, a cadeia mostrou capacidade de adaptação, coordenação institucional e resiliência produtiva.

A ação conjunta do Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e de entidades estaduais foi decisiva para conter danos e recuperar a confiança externa. Missões técnicas, diplomacia sanitária ativa e transparência nos controles sustentaram a reabertura gradual de importantes destinos ao longo do segundo semestre, reposicionando o Brasil como fornecedor confiável de proteína animal.

Os sinais de retomada já aparecem nos números do comércio exterior. Dados preliminares indicam que as exportações de carne de frango em dezembro devem superar 500 mil toneladas, o que levará o acumulado do ano a mais de 5 milhões de toneladas. Esse avanço ocorre em paralelo a uma gestão mais cautelosa da oferta: o alojamento de 559 milhões de pintos em novembro ficou abaixo das projeções iniciais, próximas de 600 milhões. O ajuste ajudou a equilibrar oferta e demanda e a dar previsibilidade ao mercado.

Para 2026, o cenário é positivo. A agenda econômica global tende a impulsionar o consumo de proteínas, com a retomada de mercados emergentes e regiões em recuperação. Nesse contexto, o Brasil – e, em especial, o Paraná, líder nacional – está bem-posicionado para atender ao mercado interno e aos principais compradores internacionais.

Investimentos contínuos para promover o bem-estar animal, biosseguridade e sustentabilidade reforçam essa perspectiva. A modernização de sistemas produtivos, o fortalecimento de protocolos sanitários e a adoção de práticas alinhadas às exigências ESG elevam o padrão da produção e ampliam a competitividade. Mais do que reagir, a avicultura brasileira se prepara para liderar, oferecendo proteína de alta qualidade, segura e produzida de forma responsável.

Depois de um ano de provas e aprendizados, o setor está ainda mais robusto e inicia 2026 com fundamentos sólidos, confiança renovada e expectativa de crescimento sustentável, reafirmando seu papel estratégico na segurança alimentar global.

Fonte: Assessoria Sindiavipar
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Avicultura

Avicultura encerra 2025 em alta e mantém perspectiva positiva para 2026

Setor avança com produção e consumo em crescimento, margens favoráveis e preços firmes para proteínas, apesar da atenção voltada aos custos da ração e à segunda safra de milho.

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O setor avícola deve encerrar 2025 com desempenho positivo, sustentado pelo aumento da produção, pelo avanço do consumo interno e pela manutenção de margens favoráveis, mesmo diante de alguns desafios ao longo do ano. A avaliação é de que os resultados permanecem sólidos, apesar de pressões pontuais nos custos e de um ambiente externo mais cauteloso.

Para 2026, a perspectiva segue otimista. A expectativa é de continuidade da expansão do setor, apoiada em um cenário de preços firmes para as proteínas. Um dos principais pontos de atenção, no entanto, está relacionado à segunda safra de milho, cuja incerteza pode pressionar os custos de ração. Ainda assim, a existência de estoques adequados no curto prazo e a possibilidade de uma boa safra reforçam a visão positiva para o próximo ano.

No fechamento de 2025, o aumento da produção, aliado ao fato de que as exportações não devem avançar de forma significativa, tende a direcionar maior volume ao mercado interno. Esse movimento ocorre em um contexto marcado pelos impactos da gripe aviária ao longo do ano e por um desempenho mais fraco das exportações em novembro. Com isso, a projeção é de expansão consistente do consumo aparente.

Para os próximos meses, mesmo com a alta nos preços dos insumos para ração, especialmente do milho, o cenário para o cereal em 2026 é considerado favorável. A avaliação se baseia na disponibilidade atual de estoques e na expectativa de uma nova safra robusta, que continuará sendo acompanhada de perto pelo setor.

Nesse ambiente, a tendência é de que as margens da avicultura se mantenham em patamares positivos, dando suporte ao crescimento da produção e à retomada gradual das exportações no próximo ano.

Já em relação à formação de preços da carne de frango em 2026 e nos anos seguintes, o cenário da pecuária de corte deve atuar como fator de sustentação. A menor disponibilidade de gado e os preços mais firmes da carne bovina tendem a favorecer a proteína avícola. No curto prazo, porém, o setor deve considerar os efeitos da sazonalidade, com maior oferta de fêmeas e melhor disponibilidade de gado a pasto, o que pode influenciar o comportamento dos preços.

Fonte: O Presente Rural com Consultoria Agro Itaú BBA
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