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Avicultura Sistema de produção

Especialista destaca técnicas de controle de contaminantes em carnes

A segurança do alimento requer controles capazes de gerenciar riscos zoonóticos em toda as fases da cadeia agroindustrial e devem ser factíveis, práticos e econômicos. Além disso, esses controles precisam determinar prioridade e alocar recursos adequados, informar a persistência de risco residual na rotulagem do produto e a violação aos padrões devem ser gerenciadas, incluindo o recolhimento quando cabível.

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Arquivo/OP Rural

O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal do mundo e o terceiro maior produtor de carne de frango, com 14,3 milhões de toneladas, atrás somente dos Estados Unidos e da China.

Do total produzido no país, 69% são destinados ao mercado interno e o restante é exportado para mais 150 países, especialmente da Ásia, África, Oriente Médio e União Europeia.

Diante do volume e da dimensão da produção brasileira, o assunto contaminação em carnes se torna de extrema relevância para todo o setor, pois pode afetar toda a cadeia, inclusive os consumidores.

Por conta de tamanha pertinência, o tema foi debatido por profissionais da área durante o Simpósio de Atualização em Avicultura, organizado pela Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta). Os debates ocorreram em março de maneira 100% online na plataforma da instituição.

Marisete Cerutti, gerente de qualidade da Seara Alimentos: “Abater um frango é uma arte, isso porque é preciso retirar toda a porção muscular comestível de uma área externa contaminada e de uma área interna onde devem ser mitigados os riscos de rompimento” – Foto: Arquivo pessoal

Durante o encontro virtual, a gerente de qualidade da Seara Alimentos, Marisete Cerutti, palestrou sobre o “Controle de Contaminantes Químicos e Biológicos em Carnes – Legislação global e nacional”.

Na ocasião, a palestrante destacou a importância em oferecer um produto de qualidade para os consumidores, para isso, de acordo com Marisete, a provisão de alimento segura está avançando e internalizando cada vez mais no sistema produtivo, tendo com princípio a base na ciência. “Quando se trabalha dessa forma existe um objetivo a ser conquistado para que ele se torne mais viável economicamente”, destaca. Isso permite a locação de recursos de forma mais eficiente por parte dos agentes envolvidos no sistema de produção e fiscalização.

Principais riscos

Os principais perigos relacionados a carne de aves são estudados e apresentados à comunidade mundial pela Comissão do Codex Alimentarius, criada em 1963 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). A instituição desenvolve normas, diretrizes e códigos de práticas alimentares internacionais para proteger a saúde dos consumidores e garantir práticas comerciais justas no comércio de alimentos. Também promove a coordenação de todo o trabalho de padrões alimentares realizado por organizações governamentais e não governamentais internacionais.

De acordo com os últimos relatórios, os principais perigos em carnes de aves estão relacionados a contaminantes químicos como Anticocidianos, antimicrobianos e sulfonamidas, nitrofuranos e metabólicos de nitrofuranos, antiparasitários, betagonistas, pesticidas organoclorados e PCB’S, contaminantes inorgânicos, micotoxinas e anabolizantes.

Os contaminantes biológicos mais recorrentes acontecem por meio da Salmonela spp, Campylobacter spp, Escherichia coli, Clostridium perfringens, Staphylococcus aureus e Listeria Monocytogenes.

Conforme Marisete, esses microrganismos podem ser decorrentes de doenças ou de uma infecção silenciosa. “Ou mesmo de uma contaminação cruzada no abatedouro”, comenta.

Diretrizes

A profissional ressalta o trabalho desenvolvido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), referentes às diretrizes regulatórias que servem como base para a segurança dos consumidores, e têm como princípios a rastreabilidade, a transparência, a integração das informações, as decisões verticalizadas e a governança. “Essa nova trilha é sem dúvida uma base para a segurança dos consumidores e orientação aos produtores e de uma fiscalização cada vez mais segura”, menciona.

Certificação sanitária

Os acordos internacionais de importação e exportação são operados pelo embasamento de certificação por meio de modelos. Atualmente, existem no Brasil dois modelos de certificação que foram definidos pela portaria número 431 de outubro de 2021. Trata-se dos modelos de Certificado Sanitário Internacional CSI BR e CSI específico.

CSI BR

O CSI BR é usado para a comercialização dentro do país e também na exportação para países que não possuem requisitos sanitários específicos. “Quando não há modelo disponível o estabelecimento pode consultar a autoridade sanitária do país sobre a autorização para poder usar o CSI BR”, comenta. Se aceito o pedido, a empresa exportadora precisa formalizar a declaração junto ao Serviço de Inspeção Federal (SIF), se responsabilizando então pelo envio e a integralização do produto no país. Uma vez que o estabelecimento estiver registrado sob SIF, ele se torna apto para exportar para países que não possuem esses exigências. “E da mesma forma ele não é alvo de suspensão dessas habilitações dos países signatários”, menciona Cerutti.

Segundo ela, o modelo CSI BR possui determinações consistentes, desde a necessidade dos produtos serem submetidos a inspeção ante e post mortem considerados aptos ao consumo, como também a necessidade de abate que respeite preceitos de bem-estar de acordo com normativas ou verificação sistemática. “O estabelecimento precisa participar do Plano de Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), estar em conformidade com os parâmetros microbiológicos e com o monitoramento de salmonela na granja e no abate, dentre outros”, explica.

CSI específico

O modelo CSI específico é particular de cada país. Existem atualmente, cerca de 50 países que possuem esse tipo de certificação. Os requisitos mais comuns são referentes a saúde e alimentação animal, cadeia primária de produção, autocontrole, requerimentos microbiológicos e controles químicos. “Muitas vezes existem também alguns pontos da legislação nacional”, menciona.

Para Marisete, é fundamental que as legislações internacionais sejam internalizadas também e transformadas em planejamento e entendimento para o embasamento de certificação. “E para as garantias de que o produto não será rejeitado nas alfândegas ou mesmo pelos clientes”, enaltece.

Notificação de doença

A Instrução Normativa 50 de setembro de 2013 norteia as doenças de notificação obrigatória e prevê a notificação imediata para casos suspeitos ou confirmados de patologias já erradicadas do Brasil, como, influenza aviária, rinotraqueite do peru e hepatite do pato. Por sua vez, mesmo em casos suspeitos de newcastle e laringotraqueite a notificação também precisa ser feita imediatamente.

Os casos de Clamidiose aviária, Mycoplasma (M. Gallisepticum; M. melleagridis; M. synoviae), Salmonella (S. enteritidis; S. gallinarum; S. pullorum; S. typhimurium) devem ser comunicados quando forem confirmados.

Já em casos de adenovírus, anemia infecciosa das galinhas, bronquite infecciosa aviária e tuberculose aviária, entre outras doenças, a notificação deve ocorrer mensalmente para casos confirmados. “Esses comunicados são importantes por que essas doenças fazem parte do comércio nacional e internacional e podem ter impacto quando as carnes cruas são comercializadas a nível mundial, ou mesmo carnes não processadas”, aponta.

Segurança do alimento

Os pontos de prevenção de contaminações químicas e biológicas precisam ser considerados em toda a cadeia produtiva. Segundo Marisete, a ave é a expressão da sua origem, de como ela foi criada, da água e alimento consumido, da higiene das instalações, ou seja, do bem-estar animal como um todo. “A ave somatiza todo esse conjunto para se apresentar saudável, com uma infecção inaparente como é o caso de uma salmonella, ou mesmo com uma doença”, enfatiza.

A segurança do alimento requer controles capazes de gerenciar riscos zoonóticos em toda as fases da cadeia agroindustrial e devem ser factíveis, práticos e econômicos. Além disso, esses controles precisam determinar prioridade e alocar recursos adequados, informar a persistência de risco residual na rotulagem do produto e a violação aos padrões devem ser gerenciadas, incluindo o recolhimento quando cabível.

De acordo com Marisete, o swab pré abate, a inspeção do lote e o jejum hídrico são determinantes, pois essas informações são transmitidas para o boletim sanitário. “A inspeção de lote é uma das etapas mais importantes, onde se começa bem para terminar bem”, salienta.

Abate

No processo de abate das aves a evisceração é vista como um dos pontos-chave, onde a eficiência dos equipamentos é decisória para que não ocorra a contaminação interna e nem externa da carcaça. “A aspiração dos pulmões é importante para que não haja contaminação no sistema de pré-resfriamento”, comenta.

Cerruti destaca o avanço ocorrido nos últimos anos no processamento das aves, e segundo ela, quando compreendido o que acontece com a microbiota que entra com a ave e sobre a eficiência de cada etapa do processo. “Assim, é possível chegar a um produto mais seguro, com chance maior de inocuidade e redução de perdas”, afirma Cerutti.

Ela destaca os importantes avanços ocorridos em 2016 com a Instrução Normativa 20 para a cadeia produtiva. “O Brasil evoluiu muito, antes disso havia uma incidência muito grande de salmonella e outros contaminantes de relevância para a saúde pública”, comenta.

De acordo com a profissional, alguns pontos como a implementação de 100% dos lotes pré-abate, a informação e o gerenciamento do PRP, as ações tomadas pelas empresas e o “sistema de fiscalização do Brasil, elevam a qualidade do produto na mesa dos consumidores brasileiros e internacionais”, destaca.

Cerutti ressalta ainda a importância dos controles oficiais realizados pelo Mapa, entre eles, o Programa de Avaliação de Conformidade (PACPOA), que analisa as carnes pelos princípios físico-químico e microbiológico. “Observa-se uma melhora desde 2016 no grau de conformidade dos produtos de carnes de aves no Brasil”, salienta.

Marisete destaca também o Programa Nacional de Controle de Patógenos (PNCP) que traz a listéria monocytogenes como indicadora regulamentada pela Instrução Normativa 9 de abril de 2009 que apresentou em 2020 um percentual de 2.69 sobre 223 produtos avaliados e 12,81% de positividade para Salmonella spp nas carcaças.

Segundo Marisete, o histórico de 2017 a 2020 observa-se uma tendência de melhora. No resultado publicado pelo Mapa nota-se a identificação de 30 diferentes sorovares e ausência de Salmonella Enteritidis em 370 amostras e apenas 0,54% de Salmonella Thyphimurium. “Um cenário bastante promissor e positivo para o Brasil”, ressalta.

No entanto, de acordo com ela, o fator preocupante é a presença de Salmonella Minesota e Salmonella Heidelberg como persistentes na avicultura brasileira. “A resolução 459 solicita que a gente rotule e se comunique com o consumidor, para que ele também, como elo participante, faça os procedimentos adequados para prevenção de contaminação cruzada e da conservação adequada do produto”, menciona.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura.

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Congresso APA debate avanços e desafios na avicultura de postura

Em uma maratona de 30 horas de conteúdo técnico, mais de 850 congressistas de vários estados brasileiros e países tiveram acesso a uma variedade de temas através de 25 palestras distribuídas nos painéis sobre Genética, Influenza aviária e Inspeção.

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Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

Considerado um dos maiores eventos avícolas do Brasil, o Congresso APA de Produção e Comercialização de Ovos foi mais uma vez sucesso absoluto de público. Realizado pela Associação Paulista de Avicultura (APA), a 21ª edição reuniu produtores, fornecedores, academia, profissionais da área e grandes nomes do setor no mês de março, em Ribeirão Preto (SP).

Coordenador do congresso e diretor técnico da APA, José Roberto Bottura: “O sucesso do nosso evento é resultado de cada um que trabalha, acredita e confia em nós para sua realização”

Em uma maratona de 30 horas de conteúdo técnico, mais de 850 congressistas de vários estados brasileiros e países tiveram acesso a uma variedade de temas através de 25 palestras distribuídas nos painéis sobre Genética, Influenza aviária e Inspeção. Além disso, 75 trabalhos científicos foram expostos em pôsteres, enriquecendo ainda mais o ambiente acadêmico e profissional do evento.

O coordenador do congresso e diretor técnico da APA, José Roberto Bottura, destaca a evolução do evento. “A cada ano o congresso tem crescido em tamanho, o que muito nos orgulha. Superamos todas as nossas expectativas”, enfatizou. “O sucesso do nosso evento é resultado de cada um que trabalha, acredita e confia em nós para sua realização”, frisou.

Debates

Na edição 2024 temas essenciais do cotidiano do setor foram abordados, incluindo sanidade, inovação, evolução genética, exigências nutricionais, qualidade da água na granja, práticas de manejo, uso de minerais e aditivos alternativos, qualidade de casca, análise de dados, vacinação contra coccidiose, nutrição de precisão, vacina autógena, Influenza aviária, entre outros. “O fato de estarmos em um evento que não tem um espaço de feira de negócios em paralelo contribui muito para a interação dos participantes, que aproveitam os momentos de intervalo para tirar dúvidas, compartilhar opiniões, adquirir novas ideias, até por estarmos ainda no início do ano muitos dos assuntos discutidos no congresso podem ser bem utilizados ao longo de 2024”, salientou o zootecnista Diogo Ito, membro da Comissão Organizadora.

Responsável pelo controle de qualidade na Granja Odan, localizada em Pindamonhangaba (SP), Raquel Marques: “Esse congresso oferece uma riqueza de informações que muitas vezes são difíceis de encontrar no nosso cotidiano”

Riqueza de informações

Responsável pelo controle de qualidade na Granja Odan, localizada em Pindamonhangaba (SP), Raquel Marques compartilha suas impressões sobre o congresso e destaca os aspectos que mais a impressionaram: “Esta foi a primeira vez que participei deste congresso e foi uma experiência enriquecedora. Ele oferece uma riqueza de informações que muitas vezes são difíceis de encontrar no nosso cotidiano, especialmente dada a especificidade da nossa área. Foi uma experiência repleta de aprendizados, oportunidades de networking e compartilhamento de conhecimento”, frisou.

Trabalhos premiados

Durante o evento, os melhores trabalhos científicos em cada categoria foram premiados. O estudante Felipe Dilelis, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, recebeu o prêmio na categoria Outras Áreas pelo trabalho intitulado “Biofilmes proteicos para manutenção da qualidade interna de ovos caipiras armazenados em temperatura ambiente”. Na categoria Sanidade, o prêmio foi para Viviane Amorim Ferreira, da Unesp Jaboticabal, pelo trabalho “Deleção do gene mgtC em Salmonella Gallinarum resulta em progressão retardada do Tifo Aviário”. Raully Lucas Silva, da Unesp de Jaboticabal, levou o 1º lugar na categoria Nutrição com o trabalho “Modelos não-lineares de efeito misto para predição das exigências de energia metabolizável e líquida em galinhas poedeiras na fase de postura”. Na categoria Manejo, o principal prêmio foi conquistado por Ednardo Rodrigues Freitas, da Universidade Federal do Ceará, com o trabalho “Programa de luz e forma física da ração pré-inicial sobre o desempenho de pintainhas até 35 dias de idade”.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Desafios na integridade estrutural de frangos de corte e intervenções nutricionais

Investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para identificar e implementar estratégias sustentáveis que promovam a saúde e o bem-estar das aves, ao mesmo tempo em que garantam a produção eficiente e de alta qualidade na indústria avícola.

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Fotos: Shutterstock

Nas últimas décadas a indústria avícola tem feito avanços significativos, especialmente no que diz respeito às melhorias genéticas e ao manejo, resultando na produção de frangos de corte altamente eficiente e de crescimento rápido. O manejo e a nutrição foram meticulosamente ajustados para suprir as necessidades genéticas e produzir aves maiores em um período de tempo reduzido.

No entanto, os frangos modernos tendem a priorizar a deposição muscular em detrimento do desenvolvimento do esqueleto e dos tecidos moles, o que pode resultar em desafios à integridade estrutural. Este artigo resume os desafios emergentes da integridade estrutural enfrentados pela indústria de frangos de corte, propondo intervenções nutricionais que podem mitigar esses problemas, incluindo pododermatite, questões relacionadas à qualidade da carcaça e incidência de claudicação.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Qualidade da carne 

O peito amadeirado (WB) é uma miopatia degenerativa observada em frangos de corte, resultando na degradação da qualidade dos filés de peito e rechaço/repúdio do consumidor. Os filés afetados exibem maior resistência antes e depois do cozimento, além de menor capacidade de retenção e absorção de água.

Apesar do significativo número de estudos conduzidos, a etiologia precisa ainda permanece obscura, indicando que a condição está associada a aves com taxas de crescimento mais aceleradas ou com filés de maior peso.

Uma das hipóteses sobre a etiologia da WB e de miopatias semelhantes é que frangos de corte com uma taxa de crescimento muscular hipertrófico demanda mais metabolicamente, o que pode resultar em maior risco de acúmulo de resíduos metabólicos, desencadeando assim um aumento do estresse oxidativo.

Os radicais livres acumulados são altamente reativos e podem danificar o DNA, RNA, proteínas e lipídios presentes nas células musculares, desencadeando inflamação e distúrbios metabólicos, que eventualmente levam à degeneração das fibras musculares. Quando os danos causados pelo aumento do estresse oxidativo excedem a capacidade regenerativa das células musculares, resulta em um acúmulo de tecido fibroso e gordura, contribuindo para miopatias como o WB.

Pododermatite

A pododermatite é uma inflamação da pele que resulta em lesões necróticas na superfície plantar das patas em aves. Foi observado que a umidade na cama é o principal fator que predispõe o desenvolvimento de pododermatite em aves. Sabe-se que minerais como Zn, Cu e Mn, desempenham um papel fundamental na manutenção da integridade estrutural de vários tecidos, incluindo a pele. Além disso, nutracêuticos como probióticos, prebióticos ou enzimas melhoram a integridade intestinal e promovem melhora na consistência fecal, consquentemente na qualidade da cama, podendo reduzir as lesões nas patas.

Diversas pesquisas foram conduzidas para investigar o papel dos minerais orgânicos na prevenção de lesões nas patas. Em um estudo conduzido em 2017 foi constatado que a suplementação de uma combinação dos oligoelementos Zn, Cu e Mn, na forma de quelato metal metionina hidroxi (MMHAC), não apenas melhorou o desempenho, mas também reduziu as lesões nas patas, aprimorando o processo de cicatrização de feridas.

Estratégias de intervenção

Diversas estratégias de intervenção estão sendo consideradas para diminuir a incidência de WB na indústria avícola, incluindo restrição alimentar, redução da densidade de nutrientes e diminuição de lisina durante a fase de crescimento. Essas estratégias têm o intuito de diminuir ou desacelerar a taxa de crescimento, no entanto, se não forem aplicadas adequadamente, essas abordagens apresentam o risco de comprometer o desempenho.

Por outro lado, estratégias baseadas em antioxidantes, como a inclusão de arginina, vitamina C, selênio e minerais na dieta, têm sido avaliadas para reduzir miopatias. O uso de antioxidantes reduz o estresse oxidativo em tecidos animais. Com o intuito de reduzir as miopatias, pesquisadores avaliaram o efeito de várias intervenções dietéticas (antioxidante dietético, mineral orgânico Zn-Cu-Mn- MMHAC e selênio) na incidência de WB quando as aves foram expostas ao estresse oxidativo.

Em resumo, sob diferentes condições de estresse oxidativo, programas de intervenção dietética podem aprimorar o desempenho e promover a integridade da carcaça, reduzindo problemas como o WB. Este efeito é provavelmente alcançado ao melhorar simultaneamente o status antioxidante, tanto exógeno quanto endógeno, reduzindo o estresse oxidativo e aprimorando o processo de cicatrização dos tecidos da ave.

Incidência de claudicação

A incidência de claudicação vem aumentando nas últimas décadas e está correlacionado com o rápido crescimento e peso corporal. Os machos mostram maior suscetibilidade à claudicação em comparação com as fêmeas. Ainda não está claro se a claudicação é um efeito direto do rápido aumento da taxa de crescimento e do peso corporal ou se é um efeito indireto do desenvolvimento inadequado dos ossos e tendões, ou mesmo da falha da barreira intestinal, provável é que seja uma junção dos fatores citados.

As aves com claudicação enfrentam dificuldades para acessar ração e água, o que pode levá-las à desidratação e, eventualmente, à morte. As significativas perdas econômicas atribuídas à claudicação são resultados do aumento da taxa de mortalidade e das condenações durante o processamento no frigorífico. A necrose da cabeça femoral (NCF) é uma

condição metabólica mais prevalente em frangos de corte com crescimento acelerado, sendo reconhecida como a principal causa de claudicação.

Há evidências que mostram que as bactérias associadas ao NCF se originaram no intestino Enterococcus (E.) spp. Estudos demonstraram que a fonte de infecção por Enterococcus (E.) spp pode ser tanto de transmissão vertical quanto horizontal. A ventilação inadequada no aviário cria um ambiente propício, o que leva a rápida proliferação de bactérias afetando o intestino. Além disso, o estresse oxidativo ou doenças entéricas anteriores podem comprometer a integridade mucosa intestinal.

A falha na barreira intestinal pode facilitar a invasão de bactérias patogênicas, levando à translocação dessas bactérias para os ossos. Os ácidos orgânicos e óleos essenciais podem interferir no desenvolvimento da NCF, atenuando ou reduzindo a população de bactérias patogênicas, melhorando a função da barreira intestinal e reduzindo a translocação de bactérias através da parede intestinal. Os minerais desempenham um papel crucial no desenvolvimento ósseo e na saúde das articulações.

Descobertas recentes indicam que o Zn-Cu-Mn-MMHAC são fontes orgânicas eficazes para atender às necessidades de frangos de corte, melhorarando a saúde estrutural dos ossos, tendões, patas e intestino, e reduzindo a incidência de claudicação em aves.

Conclusão

Em resumo, enfrentar os desafios emergentes na integridade estrutural de frangos de corte requer uma abordagem multifacetada que combina práticas de manejo adequadas, intervenções nutricionais eficazes e uma compreensão aprofundada dos mecanismos subjacentes aos problemas observados. Investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para identificar e implementar estratégias sustentáveis que promovam a saúde e o bem-estar das aves, ao mesmo tempo em que garantam a produção eficiente e de alta qualidade na indústria avícola.

As referências bibliográficas estão com as autoras via e-mail manara.grigoletti@novusint.com.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Mercedes Vázquez-Añón, zootecnista, doutora em Ciência Animal e diretora de Iniciativas Estratégicas e Colaboração de Contas na Novus; e Kelen Zavarize, zootecnista, doutora em Nutrição e gerente de Serviços Técnicos na Novus.
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Avicultura Artigo

A importância das monitorias sanitárias no incubatório de aves

A qualidade dos pintos com um dia de vida é determinada pela interação de múltiplos fatores inerentes ao incubatório

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Divulgação Zoetis

Artigo escrito por: Beatriz Silva Santos, médica veterinária, assistente técnica da Zoetis na divisão de Aves para as regiões Sudeste e Centro-oeste*

A avicultura brasileira se destaca pelo uso de tecnologia avançada, controle de qualidade e constante monitoramento microbiológico nas diversas etapas da produção. Entre essas etapas, os incubatórios de aves têm o papel fundamental de conectar diferentes origens de ovos embrionados e o destino das aves recém-nascidas em um mesmo ambiente.

A qualidade dos pintos com um dia de vida é determinada pela interação de múltiplos fatores inerentes ao incubatório, que podem gerar condições ideais para a disseminação de patógenos, com consequentes perdas embrionárias e de pintinhos, má qualidade das aves e enfermidades que levarão a grandes prejuízos.

As bactérias, de modo geral, podem penetrar no ovo pelos poros em menos de 30 minutos após a postura. Esta penetração é facilitada, nos primeiros minutos após a postura, pela umidade e temperatura natural do ovo. Durante a incubação, a umidade e a temperatura também favorecem o rápido aumento da população microbiana.

As fontes de contaminação em uma planta de incubação, além de ovos contaminados e penugem dos pintinhos, podem estar associadas a vários fatores como a qualidade do ar e da água, o fluxo de pessoas (funcionários e visitantes) e de veículos, a presença de pragas (roedores e insetos), pássaros, a remoção e tratamento de resíduos (biológicos, químicos e físicos) e a higienização de ambientes e equipamentos.

Os incubatórios de aves e os nascedouros também são uma área de alto risco, pois fornecem temperatura e umidade ideais para muitos microrganismos sobreviverem e se reproduzirem.

Os patógenos mais prejudiciais aos pintos de um dia que podem causar mortalidade embrionária, mortalidade ao nascer, aumento de refugos e mortalidade nas primeiras semanas de idade são: Escherichia coli, que serve como parâmetro quantitativo da contaminação bacteriana em um incubatório; Salmonella e Pseudomonas e fungos da espécie Aspergillus.

Pesquisas realizadas demostraram que 70% dos casos de onfalite e morte embrionária são causadas por Escherichia coli e quando estes embriões não morrem, os pintinhos apresentam má reabsorção do saco vitelino, não ganham peso e apresentam baixo desempenho.

O Aspergillus fumigatus é o fungo de maior importância que pode crescer em um ambiente de incubatório de aves. Existe uma associação entre a presença de grande número de colônias de Aspergillus fumigatus com o desenvolvimento de aspergilose clínica nos primeiros dias de vida do pintinho. No entanto, grande quantidade destes indica que há necessidade de uma melhor higienização dos ovos na granja ou no incubatório.

Programa sanitário

Um programa sanitário deve ser elaborado para minimizar os riscos relacionados as fontes de contaminação que prejudicam a qualidade dos produtos da “granja ao prato”, desde os ovos férteis até a carne servida a mesa do consumidor, pois afetam a saúde das aves e/ou a saúde pública, com ênfase especial aos microrganismos causadores de ETA (Enfermidades transmitidas por alimentos), como Salmonella spp, Escherichia coli, Campylobacter jejuni, Staphylococcus aureus e Clostridium sp.

O programa deve ser rotineiramente realizado e os resultados regularmente conferidos e interpretados usando processos-padrão contínuos de validação e monitoramento da população microbiológica.

Para que as aves possam expressar seu potencial genético e produtivo elas devem estar dentro de padrões de genética, nutrição, manejo, ambiente e microbiológico desde o primeiro dia de vida. A avaliação microbiológica qualitativa e quantitativa funciona como um termômetro dos processos relacionados as reprodutoras e as medidas de biosseguridade dos incubatórios a fim de conferir se o programa sanitário adotado está sendo eficaz no controle destes microrganismos.

Entre os principais itens a ser monitorados nos incubatórios estão: qualidade dos ovos, limpeza do ambiente e equipamentos utilizados nos processos (carrinhos, bandejas de ovos, caixas de pintos, triturador), limpeza e fluxo de caminhões de transporte de ovos e pintos, qualidade da água, contaminação de ovos bicados, mecônio, pintos de 1 dia, vacinas de aves, mãos dos sexadores, troca de filtros, entre outros, de acordo com a especificidade das plantas, sempre buscando cumprir as exigências sanitárias do Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) e legislações do mercado brasileiro e internacional.

Outras análises utilizadas são: pesquisa de Salmonella spp. em swabs de superfícies; pesquisa de salmonellas e/ou outras bactérias em penugens, ovos bicados, mecônio e pintos de 1 dia; análise microbiológica de solução vacinal; análise bacteriológica e físico-química da água de abastecimento e água destilada; monitoramento e diagnóstico de enfermidades através de exames sorológicos, histopatológicos, biologia molecular; entre outras análises extras.

Ao analisar os resultados é possível agir na causa do problema, em casos de amostras fora dos padrões de qualidade estabelecidos. Pode ser necessário revisar o manejo dos ovos na granja, melhorar o processo de desinfecção deles e/ou do incubatório, verificar os procedimentos de sanitização de ambientes e equipamentos, avaliar a limpeza do sistema de climatização de aviários, controlar a qualidade da água e conferir a desinfecção em incubadoras e nascedouros, conforme o mapeamento das falhas encontradas.

Tão importantes quanto as análises microbiológicas, treinamentos regulares dos funcionários, a avaliação da qualidade dos ovos (AQO), embriodiagnóstico realizado por pessoas especializadas e checklists frequentes dos procedimentos de boas práticas de produção são monitorias sanitárias que garantem o sucesso do programa de biosseguridade, e consequentemente, a qualidade do produto final do incubatório de aves, os pintinhos de um dia.

Fonte: Assessoria
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