Suínos
Especialista cita falhas no uso de antimicrobianos
Médico-veterinário e gerente executivo de produção animal suínos da BRF, Edilson Caldas, também propõe união da suinocultura em torno do tema.

A utilização de antimicrobianos na produção animal é um assunto que dá, há muito tempo, bastante “pano para a manga”, conforme diz o ditado popular. Porém, é preciso que toda a cadeia se una, converse entre si e trace estratégias para avançar na redução da utilização deles. De acordo com o médico-veterinário e gerente executivo de produção animal suínos da BRF, Edilson Caldas, os antimicrobianos são utilizados na suinocultura há mais de seis décadas e tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do setor. No entanto, o uso racional ainda é um grande desafio, apesar dos avanços ocorridos na cadeia produtiva, e ainda existem oportunidades de melhoria nesse sentido.
“Vale lembrar que os antimicrobianos são importantes ferramentas de trabalho do médico veterinário, pois auxiliam para o bem-estar e a saúde dos animais. Porém, ocasionalmente presenciamos, de forma geral, em nível de Brasil, o uso excessivo, falta ou falhas de diagnóstico, uso sem prescrição veterinária, prescrições equivocadas, subdosagens, pressão econômica para o uso de antimicrobianos, falta ou disponibilidade limitada de alternativas, uso como promotor de crescimento e falta de conscientização e educação para o uso mais adequado”, elenca o especialista.

Médico veterinário e gerente executivo de produção animal suínos da BRF, Edilson Caldas – Foto: Arquivo Pessoal
Para Caldas, o mais importante é existir um diálogo e conscientização entre todos os elos da cadeia produtiva: produtores, médicos veterinários, agroindústrias, órgão fiscalizadores, instituições de ensino e pesquisa e outros profissionais da cadeia. “Todos têm sua importância para buscar o uso racional de antimicrobianos. Os produtores na implementação de boas práticas de manejo, bem-estar animal e biosseguridade em estruturas adequadas, os órgãos fiscalizadores na regulamentação e normatização de uso de produtos e práticas de manejo, instituições de ensino e pesquisa no avanço de novos produtos para substituir os antimicrobianos, empresas farmacêuticas e de nutrição no desenvolvimentos de vacinas com diferentes tecnologias, como vacinas vetorizadas, novos produtos aditivos alimentares (eubióticos) e enzinas para facilitar o aproveitamento dos alimentos fornecidos”, cita.
E mais. “Zootecnistas e nutricionistas com formulações de rações que fortaleçam a imunidade dos animais e uso de eubióticos. E eu gostaria de destacar o papel do médico veterinário: esse profissional deve ser protagonista no uso racional de antimicrobianos, pois é ele que deve prescrever os medicamentos, deve conscientizar e treinar os produtores para o uso correto e trabalhar de forma preventiva com monitorias sanitárias e diagnóstico correto das enfermidades, bem como identificar as causas primárias para evitar recorrências”, comenta.
Tríade epidemiológica
O médico-veterinário explica que as estratégias que devem ser adotadas são direcionadas para todos os elos da cadeia produtiva. “Para pensar nas estratégias temos que lembrar do conceito da tríade epidemiológica que descreve a interação entre os três elementos principais na ocorrência de doenças: o agente causador, o hospedeiro afetado e o ambiente em que essa interação acontece. A ocorrência de uma doença não é determinada apenas pela presença de um agente patogênico, mas também pela interação complexa entre o agente, o hospedeiro e o ambiente. Alterações em qualquer um desses componentes pode influenciar o surgimento, a transmissão e a gravidade das doenças”, explica.
Ele traz, dessa forma, estratégias relacionadas a cada elemento. Quanto aos agentes, o método deve ser um programa e processo de vacinação adequados, diagnósticos corretos e programa de monitoria de enfermidades do rebanho. Já quanto ao hospedeiro, ou seja, o suíno, a genética tem evoluído muito em performance, e é preciso ter em mente que esses animais de alta performance precisam de cuidados diferentes daqueles de décadas atrás. “Isolamento e aclimatação de animais de reposição, garantir um bom manejo de colostro e idade de desmama adequados, avaliação dos índices zootécnicos e produtivos, reduzir número de origens alojadas, alojamento clusterizado, qualidade e disponibilidade de água, implementação de um programa nutricional que fortaleça a imunidade natural dos animais, uso de eubióticos (blends de ácidos orgânicos, probióticos, prebióticos, posbióticos e óleos essenciais, entre outros) com eficiência comprovada”, diz.
Já as estratégias relacionadas ao ambiente, ou seja, às granjas, são investir em infraestrutura, ambiência e qualidade de ar, qualidade e disponibilidade de água, normas e gestão da biosseguridade, reduzir a pressão de infecção com vazio sanitário adequando, limpeza e desinfecção das instalações, densidade adequada e adequar as instalações para medicação via água. “De forma geral, é a adoção de boas práticas de produção, alguns ajustes na infraestrutura quando necessário, programa preventivo adequado (vacinas e monitorias uso de alternativos) e biosseguridade que passam muito pela conscientização e colaboração de todos os elos da cadeia produtiva. Acredito que somente desta forma poderemos reduzir o uso de antimicrobianos sem prejuízo para o desempenho, saúde e bem-estar de nosso rebanho”, afirma.
De acordo com Caldas, há exemplos de bons resultados com redução significativa no uso de antimicrobianos, ou seja, é possível acreditar que uma preparação prévia e adoção de estratégias corretas podem mitigar as perdas com a redução. “Mas não necessariamente é a realidade de todos, pois os desafios são distintos e para ter sucesso é necessária uma preparação prévia. A suinocultura tem evoluído nos últimos anos nesse tema, mas claro que dado o tamanho e complexidade da cadeia, considerando que ainda existem produtores sem um suporte veterinário adequado, é fato que temos oportunidades para evoluir ainda mais. Além do que, ainda tem espaço para novas ferramentas preventivas com novas vacinas, eubióticos e enzimas”.
Dinheiro no bolso
O especialista aponta que a redução da utilização dos antimicrobianos traz grandes vantagens. “O uso racional pode contribuir para a manutenção da eficácia e ação dos antimicrobianos utilizados na cadeia, assim como proteger a saúde do consumidor, garantindo a segurança dos alimentos de origem animal em relação aos resíduos de antimicrobianos. Além disso, contribui ainda para a sustentabilidade do setor. Evitar o uso desnecessário ou inadequado desses medicamentos reduz o impacto ambiental associado à produção de suínos. Sem contar que a prevenção de doenças e a promoção da saúde animal podem levar a uma redução na necessidade de tratamentos antimicrobianos, resultando em custos menores para os produtores”.
Caldas afirma que o uso racional pode impactar no custo de produção e na sanidade do rebanho. “Não é surpresa para ninguém do setor que temos vivido um período bem desafiador em termos de custo de produção e principalmente preço de venda, estamos em um ciclo de baixa que parece interminável. Na minha experiência, tenho visto resultados bons e ruins em desempenho e custo, na busca do uso racional de antimicrobianos, que depende muito da preparação de cada granja, de cada produtor e empresa. De acordo com a forma e do nível de preparação que um produtor ou uma empresa decide adotar o uso racional de antimicrobiano, essa prática pode trazer prejuízos em desempenho zootécnico e consequentemente em custos”, afirma.
Ele comenta que é importante um planejamento prévio em todas as fases da cadeia de produção: preparando bem todas as pessoas que estarão envolvidas no processo, garantindo comprometimento e engajamento para garantir as rotinas e o básico bem-feito com boas práticas de produção, ter um programa e processo de vacinação adequados para cada situação, ter programa de biosseguridade ativo e uma boa gestão.
Além disso, outro ponto reforçado por Caldas, considerado essencial, e que está entre as áreas de nutrição e sanidade, é o uso de eubióticos. “Nos últimos anos foram lançados muitos produtos deste segmento, e eu acredito que para a redução do uso de antimicrobianos temos sim que usar alguns produtos desses na substituição de antibióticos e, felizmente, temos bons produtos no mercado. Mas uma dica que eu acho importante, pensando em custo, é buscar o uso de produtos com eficiência comprovada ou fazer testes próprios, uma vez que os desafios podem ser diferentes quando se compara produtores ou regiões e, até mesmo, empresas. Assim é necessário buscar a ferramenta adequada para cada situação”.
Para ele, é importante o setor falar sobre esse tema, trazer para a discussão e buscar uma conscientização coletiva que o uso pode ser feito de forma mais apropriada e sem prejuízo em desempenho, produtividade e custo. “Estamos falando em reduzir e não em eliminar o uso. Os antimicrobianos vão continuar sendo uma ferramenta muito importante para promover a saúde e bem-estar dos animais”.
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



